Com a Bolsa de Valores brasileira apresentando o pior desempenho entre os países mais industrializados do mundo (excetuando, é claro, a Grécia e o Egito, cujas respectivas bolsas de valores estão tendo desempenho ruim por motivos óbvios), o pequeno investidor deve ter muita cautela. Num ambiente financeiro marcado pela alta volatilidade nos preços dos ativos, a coisa mais sensata que você deve fazer nesse momento é elevar o seu grau de educação financeira. Por quê? Porque, ao fazer isso, você estará diminuindo a probabilidade de cometer erros nos seus atos de investimento.
E o que é exatamente elevar o seu grau de educação financeira? Semana passada, ao visitar o site do Clube do Pai Rico, encontrei, nesse artigo, “Educação financeira ao alcance de todos”, uma excelente definição de educação financeira, o qual transcrevo aqui pela clareza de conteúdo:
“Educação Financeira é muito mais do que somente ganhar dinheiro. Educação Financeira é muito mais do que apenas ficar rico. Educação Financeira é a ferramenta que te proporcionará tranquilidade em relação ao dinheiro, e quem sabe, de quebra, te deixar rico. Mas isso não acontecerá se você somente seguir dicas, você precisa aprender a pensar, precisa conhecer as opções, precisa saber distinguir o que é um investimento e o que não é”.
O rebaixamento da nota da dívida dos EUA, anunciado semana passada, como publicamos aqui em primeiríssima mão para nossos leitores, só deve agravar ainda mais uma situação que já é caótica na Bolsa brasileira, com perdas acumuladas de cerca de 10% só nesse mês (que mal começou), e de mais de 22% no ano (e olha que ainda temos quase um semestre inteiro ainda pela frente…).
O problema dessa “crise de 2011” é que ela não atinge apenas os Estados Unidos, mas também a Europa, como alertaram o Finanças Inteligentes e o Investimentos e Finanças. Muita gente diz por aí que estaria havendo injustiça com uma queda tão forte da Bolsa brasileira nesse ano. Mas esse mesmo pessoal está esquecendo o fato de que ela havia subido de uma maneira muito forte em 2009, como bem pontuou o Finanças Inteligentes:
“Muitos economistas e analistas estão dizendo que o mercado está sendo irracional com a bolsa brasileira. Será mesmo? Será que o mercado foi racional ao inflar a Bovespa em 2009 e irracional com todos os demais índices mundiais que subiram bem menos? O mundo estava errado e nós estávamos corretos? Fica aí esta reflexão para avaliarmos se nós realmente somos os ‘injustiçados’ por estarmos caindo mais do que os demais índices mundiais”.
Taí: o Ibovespa está caindo mais do que o restante das Bolsas mundiais simplesmente porque tinha subido (muito) mais do que o restante dessas mesmas Bolsas mundiais.
Portanto, ter conhecimento é fundamental para lidar bem com essas crises financeiras que se alastram pelo mundo, pois só o conhecimento é capaz de modificar o comportamento. Nessas horas de alta volatilidade, é bom saber as razões pelas quais você não deve investir todo seu capital em ações, e, a respeito desse assunto, o blog HC Investimentos produziu excelentes textos.
Também nesses períodos de turbulência, ganha importância a máxima “cash is the king”, que nada mais significa do que ter reservas financeiras líquidas, fluxo de caixa, “money”, para saber aproveitar as oportunidades que aparecem no campo dos investimentos. Como diz Warren Buffett, “a Bolsa é um excelente instrumento de transferência de riqueza dos apressados para os pacientes” e, se “você deve ser ganancioso quando os outros estiverem com medo, e ter medo quando os outros forem gananciosos” (frase também atribuída a Buffett), você também deve agir de forma a evitar que o chamado “efeito manada” o contagie. Leia o artigo os cuidados com a liquidez nos investimentos, em que abordo a importância de ter ativos facilmente conversíveis em dinheiro para aproveitar as oportunidades que aparecem no mercado.
Quem já tem uma estratégia definida em Bolsa de Valores, tais como o DCA (dollar cost averaging), LSI (lump sum investing), VA (value averaging) etc. (um bom sumário desses conceitos pode ser obtido lendo o artigo do Jônatas a respeito), simplesmente vai aproveitar esses momentos de crise para comprar mais ações, a preços mais convidativos, assim como aqueles outros que executam uma consistente política de alocação de ativos, seja essa política dinâmica, seja ela estática.
Agora, se você nunca investiu em Bolsa, esse pode ser um bom momento para comprar ações. É certo que, se você acompanha o noticiário econômico diariamente, ouvirá/lerá/assistirá todos os dias que o momento é bom para comprar ações. E é claro que você não poderá investir seu dinheiro todos os dias em que há pregão na Bolsa de Valores. Como a audiência desse blog é formada por uma parcela grande de leitores que estão iniciando agora seus investimentos, a melhor recomendação é aquela já preconizada por Mauro Halfeld: seja conservador, e invista na Bolsa de forma lenta e gradual.
Para quem já investe na Bolsa, e não sabe bem o que fazer, a melhor orientação a dar é dizer justamente o que não fazer: vender ações. Não venda as ações em hipótese alguma agora. Isso não só causará prejuízo enorme na sua carteira de investimentos, como também fará com que você queira voltar só quando a Bolsa estiver subindo, e aí já será tarde demais. Como eu já disse exaustivamente antes, e volto a repetir agora, o importante na Bolsa não é acertar o fundo do poço, mas sim estar na Bolsa antes dela começar a subir. Daí a importância crucial de alocar em ações somente o capital de que você não precisa resgatar no curto/médio prazos, afinal, você não pode investir em ações com o dinheiro da conta, como dissemos em outro artigo. Ademais, você precisa ter bem fixado em mente que ações são para projetos de longo prazo, como aposentadoria e educação universitária de filhos pequenos.
Como o próprio título desse artigo deixa claro, a coisa mais difícil é agir de forma racional quando os mercados são irracionais. Controlar as emoções é fator-chave para ter sucesso nos investimentos em renda variável. Não passa de um mito, pelo menos em se tratando de Bolsa de Valores, a afirmação de que os seres humanos seriam agentes econômicos racionais. Não são, e a irracionalidade apresenta seus pontos mais fortes de evidência tanto em momentos de euforia – quando a Bolsa estava no pico, perto dos 73 mil pontos -, quanto em momentos de pânico, como agora. Existe um descolamento muito evidente em diversas empresas listadas em Bolsa, no que pertine à relação entre seus preços e seus respectivos fundamentos (os chamados múltiplos fundamentalistas).
Se você não entende nada de análise fundamentalista, o melhor caminho a tomar é o investimento passivo, em fundos de índice, os populares ETFs. Para saber mais sobre o assunto, leiam os artigos: 4 fundos de ações realmente baratos, , 6 vantagens do PIBB11 – e não vou falar da baixa taxa de administração!, [Infográfico BM&F Bovespa] 2 vantagens dos fundos de índices [ETFs], e A melhor estratégia de investimentos que você já conheceu – Como conseguir retornos acima da Bolsa no longo prazo com risco controlado (excelente guest post do meu amigo Henrique Carvalho).
Por fim, desconfiem do que leem na grande mídia. O fato de o Brasil ter perspectivas de apresentar ótimo crescimento econômico não quer dizer que isso levará a uma automática e natural valorização das ações. Pelo contrário, o que tende a ocorrer é justamente o oposto, como registramos no artigo O crescimento da economia – PIB – tem correlação *NEGATIVA* com o retorno no mercado de ações,
Enfim, o futuro é uma incógnita, e esse mês de agosto pode ser tão ruim quanto outubro de 2008 (quando o IBovespa chegou a perder, em determinado momento daquele mês, a bagatela de 36,5% num único mês). Pode ser tão ruim ou … pode não ser. Já que você não pode controlar o mercado, controle apenas aquilo que está ao seu alcance, que é a sua política de investimento. Você não pode controlar a rentabilidade, mas pode controlar o risco. Não aja de forma emocional e irracional no mercado de ações, controle seus impulsos, e certamente você será recompensado por escolhas bem feitas decorrentes da racionalidade, do planejamento e da implementação de uma estratégia sólida em seus investimentos.
Encerro esse artigo com o parágrafo de encerramento do livro The Four Pillars of Investing, de William Bernstein (livro em inglês), no postscript escrito em 2010 (p. 331):
“Consider yourself privileged, then, to have lived through one of history’s most dramatic periods of financial distress. Carry its brutal lesson about the connection of risk and return with you forever. Remember, the capital markets are fundamentally a mechanism that distributes wealth to those who have strategy and can adhere to it from those who either do not or cannot. Know what to expect, develop your own strategy, and stick to it” (destaquei).
Numa tradução livre:
“”Considere-se um privilegiado por vivenciar um dos períodos mais dramáticos da história das crises financeiras. Carregue para sempre com você a lição brutal sobre a conexão entre risco e retorno. Lembre-se, os mercados de capitais são, fundamentalmente, um mecanismo que transfere riqueza para os que têm estratégia e podem aderir a ela, de quem não quer ou não possa ter. Saiba o que esperar, desenvolva sua própria estratégia, e cumpra-a” (destaquei).
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Muito bom artigo, Guilherme. Parabéns.
Iniciei minha carteira (LEN Investimentos) em novembro de 2010, bem no topo do IBOV. Graças a alocação de ativos, estou muito tranquilo com a crise atual.
Grande abraço
Obviamente que não se pode prever o futuro e não dá prá dizer que esse ano será como 2009. Porém novamente estou líquido no momento do início da queda e pretendo permanecer líquido ainda por um tempo (talvez até o fim do ano, pelo menos).
Assim que aqueles papéis maravilhosos, que já estão com o V/VPA abaixo ou próximos de 1, bem como os P/Ls chegarem na casa dos 3 ou abaixo, será o momento de dar o pulo do gato.
Não se garante retornos como os de 2009, mas provavelmente teremos gratas surpresas nesses momentos. É só aguardar. EU, particularmente, ainda não acho que seja hora de comprar, mas numa estratégia de alocação mensal de ativos, quem sabe?
Maravilhoso texto amigo!
Encerrar o artigo citando o grande Bernstein foi demais! 🙂
Nestas horas é muito importante ter uma estratégia de investimentos e não tomar decisões ao calor do mercado.
E a alocação de ativos, como o Tito (voltará com o blog?) lembrou muito bem, é essencial para manter a relação entre risco e retorno adequada.
Quem a pratica está aumentando aos poucos sua alocação em ações com esta queda, assim como a diminuiu quando a relação risco x retorno na Bolsa não estava atrativa em 2010.
Não é preciso nenhum “segredo” nestes momentos. Basta saber dosar sua alocação de ativos e dançar conforme a música.
“You can’t direct the wind, but you can adjust your sails”
E mais uma no estilo Bernstein:
“Um mar calmo não forma bons marinheiros”
Aproveite a alta volatilidade atual para melhorar como investidor!
Grande Abraço!
Antes de tudo parabéns pelo belo texto
Tenho visto pelo blog muitas pessoas dizendo que vão investir quando o IBOV chegar a 30K ou 40K.
Esse pessoal se esquece que o futuro a Deus pertence.
Eu acho melhor se guiar pelos fundamentos das ações.
Comprar porque a ação está barata, ou seja, ir na boa.
Essa história de que a crise vai ser isso ou aquilo NINGUÉM pode dizer com certeza.
Meu amigo,
As quedas de 2008 foram rápidas, este estão mais lentas, exceção a este mês de agosto.
Eu diria para quem tem estratégia para médio ou longo prazo, algo acima de 6 anos: compre boas empresas ou fundos ETFs. Compre, seja paciente e colherá os frutos num futuro não próximo, mas que virá.
E nós realmente somos privilegiados, viveremos duas grandes crises financeiras mundiais e isto acelera o amadurecimento, o aprendizado; o que nos permite ser melhores investidores.
Abraço.
Bacana o post. No entanto, discordo num ponto crucial: acho que o imperativo agora eh VENDER, VENDER, VENDER. Mesmo com prejuizo. Por que? Simples: pode-se comprar a mesma acao por um preco menor mais adiante, diminuindo o prejuizo e/ou aumentando o lucro. Nao ha nenhum motivo, dadas as informacoes disponiveis, para segurar qualquer acao. A queda da Bolsa vai durar por um bom tempo. Eu diria que quase inexoravelmente. Entao, por que nao vender? Por medo da bolsa subir no dia seguinte? Ora, isso nao vai acontecer nas proximas semanas ou, talvez, meses. Ha muito sangue pra ser derramado. Boa sorte a todos e que Deus nos ajude.
Grande Guilherme.
Gostei muito do seu artigo de hoje (ontem), esclarecedor como sempre.
So diria pra acrescentar nas sugestões que: sempre quando o pequeno investidor estiver entrando na Bolsa, que seja disciplinado. Com crise ou sem crise, a disciplina é a regra n.1
Agora, realmente, não venda de forma alguma, a não ser em casos extremos.
Abraços!
PS. A propósito, efetuei uma transferência de recursos hoje e amanhã efetuo as ordens de compra. OBS. Um montante maior do que o habitual.
Minha estratégia me protegeu, stopei minhas ações no rompimento para baixo da linha mm200 e saida do canal de alta e o preju foi minimo ,, isso pq fui teimoso senão fecharia com lucro hehehe. Santo stop e estratégia , agora é esperar no gráfico uma reversão de tendência , uma boa oportunidade de compra sem entrar em desespero, agora no momento estou liquido na carteira e não tenho pressa meu plano é de longo prazo, mas isso não significa perder 7,8,9%… sem mexer uma palha ou seja ficar congelado.
abços
ITM
Muito propício este artigo, melhor momento para escrever sobre o tema.
Disciplina e sangue frio é fundamental nessas horas. Tem que manter a estratégia e aproveitar esta oportunidade que não costuma aparecer com tanta frequência assim. Somos sortudos demais!
Obrigado mais uma vez pela citação!
Abcs e bons investimentos
Tito, é verdade. Eu também aprendi com a alocação de ativos a importância de controle de risco. Agora é caçar as oportunidades.
Leandro, muito bem. Estar líquido é essencial para aproveitar o momento.
Henrique, excelentes conselhos! Complementam de forma magistral o artigo. É nas tempestades que se formam os bons marinheiros, tem toda razão!
Césare, concordo!
Jônatas, de acordo. A escola da vida tem proporcionado grandes lições.
Glauebr, interessante sua posição divergente.
Everton, é isso aí, meu chapa, aproveitando as quedas!
ITM, legal saber que o uso de instrumentos técnicos tem lhe auxiliado na implementação de uma estratégia pessoal de investimentos em Bolsa. Agora é ter sangue frio e não se deixar levar pela manada!
F.I., de acordo!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Com a baixa estou pensando em comprar algumas ações que pagam dividendos como a BBAS3. Os FII continuam caros, portanto estão fora dos meus planos no momento.
Meu perfil é mais conservador mas como Warren Buffet, quero começar a ver a crise como oportunidade e não apenas como um mal momento…
Parabéns pelo artigo, gostei muito!!!
Abraços e sucesso,
Devido à alocação de ativos diversifiquei minha carteira com ações, FII’s, Tesouro Direto e Fundo DI. E, graças a estes três últimos, a queda da minha carteira foi pequena este mês, – 3,5%, em relação ao mês passado. Agradeço as dicas dadas pelo Guilherme e Henrique Carvalho.
Rosana, obrigado! A temporada de caça às pechinchas está oficialmente aberta (se bem que com esse repique de alta ela ficou um pouco atenuada…rsrsrs). O importante é que temos um bom espaço de tempo para poder aproveitá-las.
Muito bem, Ricardo, alocação de ativos funcionando na prática e ajudando no controle do risco da carteira!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!