Há quase um ano, escrevemos, no artigo O crescimento da economia – PIB – tem correlação *NEGATIVA* com o retorno no mercado de ações, que o aumento do PIB não significa, necessariamente, aumento no valor de mercado das ações. Pois não é que em 2010 essa profecia se auto-realizou? 🙂
De acordo com a notícia publicada semana passada na Folha.com, o PIB do Brasil deve fechar 2010 com a maior taxa de crescimento desde 1986, ou seja, aproximadamente 7,3%, superando até as expectativas que os economistas tinham no começo do ano passado para todo o ano de 2010 (5%).
E o IBovespa… ah, o nosso querido IBovespinha, rendeu… míseros 1% – e isso ainda devido em grande parte ao “rali de dezembro” (rali bem fraquinho, diga-se de passagem). Engraçado que, no ano anterior, a situação foi exatamente a oposta: em 2009, a Bolsa se valorizou de maneira fantástica, ao passo que o PIB não foi pra frente. Vale lembrar que essa rentabilidade só pôde ser alcançada para quem comprou ou tinha um fundo de índice atrelado ao IBovespa, no começo do ano, e manteve esse investimento até 30.12.2010, sem comprar nem vender nada durante o ano. Para quem foi acumulando ou vendendo ações durante o ano de 2010, o resultado foi, claro, diferente – para mais ou para menos… lembrem-se de que o IBovespa é apenas um índice, um benchmark, de mercado, que pode não se refletir na carteira dos investidores em ações…
Quem acha que tudo isso seria uma exceção, por conta dos efeitos da crise de 2008, está redondamente enganado, conforme as explicações que demos naquele artigo acima citado – e que não vamos repetir agora (leiam o texto que está no link, ora pois! :D). Essa correlação negativa entre crescimento do PIB e o retorno no mercado de ações é uma tendência histórica de longo prazo.
Conforme William Bernstein bem explica em seus ótimos livros – The Investor´s Manifesto e The Four Pillars of Investing – ambos resenhados aqui no blog, a relação risco/retorno também se aplica ao crescimento econômico-político-social das nações como um todo. Isto é, quanto mais estável vai se tornando um determinado país, sob todos esses aspectos, menor tende a ser o retorno futuro das aplicações em investimentos em renda variável nesse mesmo país, como as ações.
É por isso que ele acredita, por exemplo, que o retorno futuro das ações norte-americanas será mais baixo do que em relação ao retorno passado. Investir na economia americana décadas atrás era muito mais arriscado do que é hoje, justamente porque o país como um todo ainda não apresentava toda a estabilidade que tem hoje. O mesmo se aplica, com as devidas proporções, ao Brasil. À medida que as instituições vão se consolidando, menor tende a ser o risco de se aplicar o dinheiro no Brasil, e, quanto menor o risco, menor o retorno futuro esperado.
Existem, é claro, fatores que podem conduzir a um retorno sobre o capital acima das expectativas, como, por exemplo, a melhoria dos fatores de produção, a melhoria no lucro das empresas etc., mas tais fatores não serão discutidos aqui.
O que é preciso ressaltar é, uma vez mais, que vocês não se iludam por manchetes sensacionalistas dizendo que, só porque o Brasil vai ter Copa, Olimpíadas, pré-sal, blá blá blá, blá blá blá, o retorno das ações está garantido. Não, não está. É muito provável que as ações ainda continuem sendo um ótimo investimento para o longo prazo, mas não tanto quanto foram no passado. Meu recado é: tenham sempre um olhar sempre crítico sobre o que andam dizendo por aí. 😉
Mas afinal, 2010 foi um ano bom ou ruim para quem investem em Bolsa?
O senso comum, a sabedoria convencional, a mídia, enfim, diz que 2010 foi um ano ruim para quem investe em Bolsa. Só se for para quem investe na Bolsa pensando no curto prazo. Ou seja, quem investiu no começo de 2010 a fim de pagar uma viagem no começo de 2011. Como eu não canso de repetir aqui no blog, investimento na Bolsa é para o longo prazo. E, em se tratando de longo prazo, o que você deve fazer é torcer, fortemente, para que, na fase de acumulação de capital, venham mais crises como as de 2008. Pois só assim você estará comprando ações a preços baixos, preços de liquidação. E, quando vendê-las, lá, anos à frente, poderá fazê-lo com lucros maiores.
Repito: fase de acumulação de capital é diferente de fase de usufruto de capital. Na fase de acumulação, o objetivo é comprar a maior quantidade possível de ações, a preços os mais baixos possíveis, desde que, passada a crise, elas se recuperem e se valorizem. Dizem por aí que 2008 foi um ano terrível para as ações. Errado. 2008 foi uma verdadeira bênção para quem investe em ações, desde que você tivesse visão e estratégia de longo prazo. Quem acumulou ações lá no final de 2008, e as continuou mantendo, e as continuará mantendo, desfruta e desfrutará de maiores retornos sobre o capital investido. Afinal, em que momento da vida você poderia se dar ao luxo de comprar PIBB11 a R$ 45, BBAS3 a R$ 10, PETR4 a R$ 18, VALE5 a R$ 22!!?? Afinal, você quer ou não quer comprar coisa boa e barata?
Olhando em retrospectiva, é fácil concluir que crises são realmente sinônimo de oportunidades. Em maio do ano passado, quando o IBOV respigou nos 57 mil pontos, houve uma ótima oportunidade de compra de ações. Mas quem realmente conseguiu aproveitar a promoção do lápis vermelho sem entrar em pânico? Só quem tem visão de longo prazo, que coloca em Bolsa o dinheiro que não vai pagar as contas, que é disciplinado e entende que a Bolsa é um mecanismo de transferência de riqueza dos apressados para os pacientes.
Portanto, para quem pensa em se aposentar anos à frente, tem disciplina, foco e estratégia de longo prazo, essa década bem que poderia ser parecida com a década dos anos 00 para o investidor de Bolsa nos EUA (onde os índices tiveram desempenho negativo). “Bear markets” não devem ser temidos. Devem, isto sim, ser aproveitados.
Encerro esse texto com um trecho que Warren Buffett escreveu por ocasião do prefácio à quarta edição do livro “O investidor inteligente”, de Benjamin Graham:
“A capacidade de atingir resultados fora do comum dependerá do esforço e da inteligência dedicados aos seus investimentos, assim como do grau de insensatez do mercado acionário predominante durante sua carreira de investidor. Quanto mais insensato o comportamento do mercado, maior a oportunidade para o investidor de perfil empresarial” (itálico por minha conta).
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guilherme, primeiramente, muito obrigado por ter respondido meu e-mail. Eu fui durante minha preparacao para o mercado (estudei como te disse por conta própria durante alguns meses antes de pensar em investir) um tremendo ”as avessas”. Isso porque me dediquei ferrenhamente à análise técnica ao invés da fundamentalista. Se falando de PIB ( nao sou nenhum analista, é apenas uma opiniao singela), fala-se de um ‘indicador’ anual correto? Sim, há um ponto de partida que estrutura (ou nao) toda a aferição anual; mas na prática, temos um retrato do ano, da variação deste período. Daí (talvez) a razao da nao impactação no mercado de ações, principalmente naquilo que reza a análise fundamentalista – longo prazo. Quanto a análise gráfica, acho sensacional, porém, necessário é ter tempo ( e muito dinheiro). Esqueceram de colocar isso nos livros ou nos cursos que fiz, rssss… Abaços, saude e paz
…nos livros *e* nos cursos…
Guilherme,
Maravilhoso texto. Compartilho de visão também, “crises” são oportunidades para o investidor de longo prazo.
Abraço!
Engraçado que ao ler o post logo ví o Warren e no final… gosto muito quando ele diz que só vai ao mercado quando tem muita gente fazendo besteira… minha meta principal é ter uma reserva financeira pra esses momentos de “liquidação”, uma boa reserva. Até lá, vou me preparando pra enxergar esses momentos, vindo aqui, por exemplo!
Eu so penso em por a mão na grana das açoes , daqui a 10 anos , o meu metodo é comprar qdo aparece a oportunidade de uns 4% de lucro e tambem estou colocando hoje o stop loss 4% para baixo e assim vou indo…
Você disse sim amigo, e todos ouvimos e ainda tem gente que duvida…rsrsrssss
Forte Abraço
Sávio, obrigado, você está trilhando o caminho certo, que é o de educar-se antes de começar a investir. Nada melhor do que a própria experiência para nos ensinar de coisas que devem e que não devem ser feitas. Continue firme em suas metas!
Jônatas, valeu!
Gisely, é por aí mesmo! Uma das coisas das quais mais me arrependo foi não ter tirado proveito da crise de 2008 como deveria, justamente por não ter tido uma boa reserva em renda fixa.
Eduardo, muito bem, pensamento no longo prazo.
Everton, pois é…………rsrsrsrr
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!