Existe uma sinergia difícil de explicar, que rola entre blogs que tratam de temas semelhantes. Isso já conversei com o Jônatas, autor do ótimo Efetividade.blog: às vezes, o que é abordado em um blog, também é pauta para post em outro blog. E isso sem acordo prévio entre os blogueiros. Os assuntos são coincidentes, por um feliz acaso, e esse acaso acaba beneficiando a todos, blogueiros e leitores, que têm a oportunidade de ampliar sua visão sobre determinado tema. Eu acho essa sinergia, sincronia, ou sei lá o quê, que rola entre os blogs, simplesmente fantástica. E o assombro é maior ainda quando se trata de sinergia com blogs de outros continentes. Mais especificamente com blogs norte-americanos.
Pois agora há pouco, ao atualizar minha leitura de feeds (calma, Willy Fog, ainda hei de fazer um giro pelos blogs norte-americanos), me deparei com um excelente texto do Trent, do aclamado The Simple Dollar, abordando justamente o tema que tratei no dia de ontem: a formação do colchão de segurança. No artigo intitulado Fearing the Unknown… Perhaps a Bit Too Much, Trent Hamm aborda a importância de formar uma reserva de emergências, para cobrir necessidades básicas e indispensáveis, que podem ocorrer em momentos de crise.
Até aí, tudo bem. O grande lance do artigo é que o próprio Trent foi mais fundo na questão, abordando sobretudo qual deve ser o tamanho desse colchão. E ele exemplifica com sua própria situação pessoal. Trent tinha até então guardados o equivalente a 10 meses de despesas mensais em seu colchão de segurança. Ele considera 2 meses de despesas para cada membro da família. Como ele é casado e tem três filhos, são 5 pessoas em casa: 5×2 = 10 meses. Ele é autônomo – vive dos rendimentos do blog – e sua esposa é professora da rede escolar de ensino.
O que vem a calhar é que Trent chegou à conclusão de que não precisava de tanto colchão assim:
“What sort of future am I envisioning in which ten months’ of living expenses will be needed? Can I even envision emergencies that will require such a chunk of cash?
I certainly can. I can imagine a long period of unemployment. I can imagine various disabilities and long-term illnesses.
In each of these scenarios, however, I still can’t realistically conceive of how ten months’ worth of emergency fund will be needed.
The only possible scenarios where such a large emergency fund would be needed are ones that involve a long series of simultaneous incidents. Frankly, these types of scenarios border on paranoia when I step back and look at them realistically”.
O resultado de suas reflexões foi a diminuição do colchão de 10 para 6 meses de suas despesas mensais:
“Thus, I’ve decided to pare down my emergency fund to six months’ worth of living expenses and put the rest into our investment account, which is being used to save for a piece of land in the country (although, of course, it might be used in other emergencies if absolutely needed).
Being practical and having an emergency fund is a good thing. Being paranoid and having an excessive cash emergency fund merely means that you’re leaving other opportunities on the table”.
E ele tem razão. Como o colchão de segurança deve ser, por definição, alocado num investimento que priorize a liquidez, em detrimento da rentabilidade, para pessoas que possuam um excelente planejamento financeiro, ter uma quantidade excessiva alocada em investimentos conservadores pode representar um custo de oportunidade, que pode fazer diferença negativamente lá no futuro, em virtude dos efeitos dos juros compostos, sobre os investimentos mais rentáveis, que normalmente estão localizados em aplicações que requerem um sacrifício da liquidez, como Tesouro Direto, debêntures, LCIs, CDBs escalonados, fundos imobiliários, ações e fundos de índice passivo.
A solução é simples: deixar de ser paranóico, e ajustar o nível de colchão de acordo com as circunstâncias de vida da pessoa. Ser excessivamente cauteloso às vezes significa ser excessivamente paranóico, e isso não é bom. Achar que uma série de acidentes pessoais irá acontecer simultaneamente, e viver com medo desse futuro, não faz sentido, ainda mais se você tiver seguros e assistências cobrindo as emergências que normalmente podem custar mais caro na vida de uma pessoa: estou me referindo, obviamente, às despesas com planos de saúde, seguro por invalidez permanente, seguro residencial e seguro de vida, dentre outros. Essas despesas, que você paga para não usar, podem lhe economizar um bom dinheiro (que seria gasto com cirurgias e tratamentos), fazendo com que você redimensione melhor o colchão de segurança.
Repito: ter um colchão de segurança é essencial, mas se deve tê-lo em proporções que não prejudiquem seus investimentos de médio e longo prazos, mas, por outro lado, que seja suficientemente adequado a ponto de lhe trazer conforto e segurança, em situações de emergência. Encontrar o ponto de equilíbrio é fundamental, e para isso não há receita padrão, conforme afirmei ontem: varia de acordo com as circunstãncias de vida de cada pessoa.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
…Ser excessivamente cauteloso às vezes significa ser excessivamente paranóico, e isso não é bom. Achar que uma série de acidentes pessoais irá acontecer simultaneamente, e viver com medo desse futuro, não faz sentido. Concordo plenamente!
Meu colchão é de 5 meses, mas esse tema é longe de ser uma ciência: fica a cargo de cada um escolher o tamanho com o qual esteja confortável.
Feliz 2011, meu caro!!
Guilherme,
Até ontem eu tinha todo o valor do colchão na caderneta de poupança, valor para três meses de despesas. Ontem peguei 70% desse valor e comprei LTN com vencimento em janeiro/2013, rentabilidade bruta de 12,28% ao ano.
Um dúvida. Ano passado bateram no meu carro e fugiram. Acionei o seguro, gastei 1400 reais. Valor vindo do colchão e já reposto. O valor para tal realmente deveria ter saído do colchão?
Gui, valeu pela citação do Efetividade.blog.
Abraço!
Também quero saber a resposta!
O problema americano é que o colchao de segurança deles não rende praticamente nada. No Brasil temos opções com boa liquidez e rentabilidade razoável como um fundo DI ou CDB. Uma boa opção também é deixar uma parte em um fundo DI/poupnça/CDB e outra parte no Tesouro Direto em uma LFT.
Abs
Gisely, obrigado!
VdR, ótimo colchão! Um 2011 absurdamente excelente pra vc tb, meu caro!
Jônatas, ótimo investimento! Quanto ao dinheiro do conserto do carro, eu concordo: se eu estivesse na mesma situação, tiraria o dinheiro do colchão. Isso porque os investimentos em renda fixa de longo prazo seriam prejudicados pelo pagamento de uma maior alíquota de imposto de renda.
IF, ótimas observações. Concordo plenamente. Há inclusive, no mercado, LCI com liquidez diária (após 2 meses), o que proporcionaria o benefício adicional da isenção de IR.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
guilherme, sempre acompanho seus post, vc nao poderia escrever algo sobre CRI, como funciona, quem vende, liquidez, seguranca , enfim uma aula sobre esse assunto? acho que muitos vao se interessar pelo assunto….abraco
von bach, eu penso em escrever sobre esse assunto sim, juntamente com as LCIs.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Fala Guilherme
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Voltando aos poucos as atividades do mundo virtual. Fora as resenhas de livros, o “Giro pelos Blogs” é o tipo de artigo que mais gosto aqui no blog. Mas posso esperar por este que trata de blogs de finanças em língua extrangeira. Só nós espera, não tem pressa, paciência deve ser uma virtude do bom investidor hehehe.
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E um Próspero 2011 pra você também.
Willy, novas ideias fervendo e borbulhando na mente, como diz nosso amigo Investidor Defensivo……….rsrsrs
Pode deixar, que o giro pelos blogs seguirá firme e forte nesse ano!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Tenho uma dúvida: a reserva para as despesas anuais (tal como descrito nesse artigo ), prática que já adoto, deveria integrar o colchão de segurança? Ou o colchão de segurança seria, no orçamento, uma categoria intermediária entre os investimentos e a reserva para as despesas anuais?
Carlos, eu entendo que a reserva para as despesas anuais devem integrar uma categoria à parte, diversa da do colchão de segurança. Exemplificando com um caso prático (o meu 🙂 ): a reserva para as despesas anuais relativas ao carro vai para a poupança; ao passo que o colchão de segurança está alocado no CDB.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!