A resenha de diversos livros norte-americanos atualizados pós-crise, como All about asset allocation, de Richard Ferri, The Intelligent Asset Allocator, de William Bernstein, e A dose certa, de John C. Bogle, bem como a assinatura e recebimento mensal, nesse último biênio igualmente pós-crise 2009/2010, da revista norte-americana Kiplinger´s, me impressionaram particularmente em um ponto: na selvageria da indústria financeira.
E não estou usando um eufemismo no emprego do termo “selvageria”. Você certamente se deparou, em algum momento nesses últimos dois anos, com notícias sobre os escandalosos bônus pagos aos executivos e CEOs de algumas das maiores corporações financeiras de Wall Street. Pois bem. Raciocina comigo: depois que mais de 100 bancos norte-americanos foram à falência, milhões perderam seus empregos, e outros milhões tiveram que adiar suas aposentadorias, tem alguma lógica continuar remunerando de forma astronômica executivos que não produziram retorno positivo algum para seus clientes? Não.
Apesar de estarmos falando do ambiente norte-americano, a essência do raciocínio se aplica, em sua integridade, à indústria financeira no Brasil. Você deve proteger seu dinheiro de itens como:
– Títulos de capitalização;
– Fundos de investimentos que cobrem mais que 1% a.a. para renda fixa e 2% a.a. para ações;
– Fundos de investimentos que cobrem taxa de performance;
– Taxas de corretagem para ações superiores a R$ 20;
– Taxas de custódia para o Tesouro Direto superiores a 0,5% a.a.;
– Produtos financeiros que não estejam com regulamentos e prospectos acessíveis;
– Instituições financeiras não autorizadas pela CVM;
– Bancos que cobrem tarifa pela manutenção de conta;
– Dentre outros.
O nível de sofisticação do mercado financeiro brasileiro ainda não chegou – e provavelmente nunca chegará – ao nível de sofisticação do mercado financeiro norte-americano.
Porém, ele está crescendo, e, com ele, a quantidade de produtos e serviços oferecidos. Cabe a você escolher adequadamente os produtos que melhor atendam aos seus interesses. Opte pelos serviços e produtos mais simples e mais baratos. Evita ser seduzido pelo “canto da sereia”, ou seja, por produtos que apresentem prospectos com rentabilidades fantásticas obtidas em anos anteriores. Isso porque rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura.
Existe uma outra coisa que você deve examinar com cuidado: os rankings dos “melhores fundos para você investir”, publicados pelas revistas de economia. Se você analisar bem, esses rankings mudam ano após ano, embutem altas taxas de administração, são de difícil acesso, vale dizer, exigem altas somas para aplicação mínima, e, sobretudo, só apresentam a rentabilidade dos últimos 12, 24 ou 36 meses. Ademais, nada dizem a respeito dos retornos futuros desses fundos.
Um fundo de investimentos deve ser avaliado como se analisa uma ação: o retrospecto mínimo deve ser de 5 anos, porque é onde se pode avaliar como o fundo de investimentos se comportou em diferentes cenários de investimentos. Nesse sentido, o único estudo de qualidade que eu conheço sobre os melhores fundos de investimentos diz respeito a um excelente trabalho elaborado pelo Henrique Carvalho, para o blog HC Investimentos.
O que será que o John Bogle, William Bernstein e Richard Ferri, para ficar só nos medalhões, diriam se vissem uma tabela de fundos de investimentos brasileiro com taxas de administração que passam fácil fácil dos 3% a.a.!!!???
A resposta:
The money is *NOT* on the table!!!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Faltou você mencionar que essas taxas, assim como a rentabilidade, multiplica-se compostamente, tendo efeitos desastrosos no longo prazo.
O rendimento dos últimos 5 anos (ou 10, ou 20) de um fundo nada diz sobre a rentabilidade futura dele.
Para mim qualquer coisa acima de 0,5% a.a. é um assalto. Para uma retirada de 4% a.a., 1% significa uma taxa de 25%!
Abraços!
Oi Guilherme,
Em resumo, não podemos ser passivos com nossos investimentos. Devemos conhecer, se não a fundo, pelo menos superficialmente, onde depositamos nosso dinheiro.
Ainda é bem comum as pessoas confiarem plenamente no gerente do banco, mas o gerente está ali para analisar o melhor para a instituição que ele trabalha, as pessoas esquecem disso. Eu nunca coloco meu dinheiro em algo que eu não entendo o funcionamento.
Abraço.
Fica com Deus!
Olá Guilherme,
bom dia. Tenho conta na Título Corretora, mas estou pensando em trocar para a Spinelli.
Esta última oferece taxa de R$ 5,90 para compra/venda de ações no fracionário (só compro no fracionário) e compra/venda de opções. Aparentemente não cobra (ler FAQ) nenhuma taxa de custódia. Taxa de manutenção de conta também não tem.
Alguém conhece alguma corretora de renome mais vantajosa?
Abs,
Deuteron
Muito bom colega Guilherme! Hoje em dia confiar cegamente no gerente do banco é suicídio financeiro.
Abcs
Prezado Guilherme,
sempre leio seu blog e admiro muito o trabalho que você tem feito aqui.
fiquei com uma dúvida. Porque você recomenda que fujamos de Fundos de investimentos que cobrem taxa de performance? Pergunto isso porque sempre olhei com bons olhos esses fundos em que eles ganham mais se eu ganhar mais. Nesse caso, queria ouvir sua opinião sobre o assunto.
Ótimo texto Guilherme!
Devemos tomar cuidado pois sempre associamos um valor mais caro a qualidade. Perfumes, carros, casas são assim. Entretanto, no mercado financeiro é justamente ao contrário. Quanto menor as taxas, melhor. Raramente um fundo consegue justificar sua alta taxa de adm ou performance através de rentabilidade.
Obrigado pela referência ao blog!
Grande Abraço!
Já vi fundos de renda variável que cobravam taxa de performance sobre o que ultrapassasse… o CDI.
Vamos refletir: taxa de performance tem que ser cobrada sobre um benchmark que reflita a média do mercado onde se está investindo. Se o fundo é de renda variável, o benchmark pode ser o Ibovespa, IBrX50, IBrX100 ou algo parecido. Se o fundo é de renda fixa, o benchmark pode ser o CDI. Agora, usar o CDI como benchmark para fundos de renda variável, pra mim, é picaretagem.
Recomendação: sempre leia o regulamento do fundo onde está pensando em investir. Se a instituição financeira não disponibilizá-lo , pode-se baixar do site da CVM (mas neste caso desconfie, pois eles são obrigados a fazê-lo).
Em fundos de investimento em cotas de fundos de investimento (FICFI), leia também os prospectos dos fundos nos quais os fundos investem. Fundo que investe em fundo que cobra taxa de administração é furada: você paga a taxa duas vezes! A dica da CVM também vale nesse caso.
Caro Guilherme,
Acho que seria interessante um post sobre o mercado de opções: como operar, riscos, vantagens e desvantagens. Bem assim para os iniciantes. 😉
Não sei se estou fugindo do tema do post, mas não encontrei o assunto no blog.
No mais, parabéns pelo blog e um grande abraço!
Viver de Renda, ótimo complemento! É o famoso caso dos “custos compostos”, que fazem um estrago enorme no longo prazo.
Jônatas, disse tudo. Ter consciência de seus próprios investimentos é fator fundamental para ter sucesso na gestão da carteira de ativos.
Deuteron, a Spinelli de fato é uma das mais baratas para operar, por todos os motivos citados. Semelhante a ela na questão do baixo custo, temos a Link Trade e a Socopa.
Willy, com certeza.
Lucas, os fundos com taxa de performance fazem o investidor receber menos dinheiro do que teria, se o fundo não tivesse essa taxa. Apesar de criar um estímulo para que o gestor tenha rentabilidade melhor do que o benchmark, essa taxa de performance não garante que ele tenha um desempenho superior. Ademais, há fundos de gestão ativa que não cobram essa taxa, tornando o investimento ainda menos atraente.
Henrique, perfeita a metáfora.
Flávio, exatamente. Isso ocorre em muitos casos. Fundo de renda variável ter rentabilidade de 240% do CDI é uma coisa. Ter uma rentabilidade de 240% do Índice Bovespa é outra, totalmente diferente.
Arthur, bem lembrado. Está anotado na pauta.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Olá Guilherme,
Mais um ótimo post, realmente disse tudo. Concordo com você em genero, número e grau.
E exatamente assim que me comporto em meus investimentos e também a forma como ensino os outros a fazerem.
O problema é que infelizmente ainda vivemos em um pais de analfabetos financeiros. Veja que normalmente as pessoas procuram seus gerentes na hora de uma indicação de qual forma de investimento seguir. Coitados, grande ingenuidade, é como o Jonathas disse, o gerente trabalha para o banco e irá sempre lhe indicar o que é melhor para o banco não para você.
Mas quem sabe né, com o trabalho de sites como o seu, o do Jonathas, da Thais Aux e o meu também porque não! não consigamos ensinar a alguns a importancia de se informar e de buscar sempre o melhor para seu dinheiro.
Abraços
José, ótimo comentário!
O desafio de vencer o analfabetismo financeiro é uma das grandes atribuições que temos que lidar, você abordou o ponto exato.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Otimo post, estou a procura de uma conta PJ que não cobre mensalidade, tenho no Itau que me cobra 21 por mes, mesmo tendo a iConta pra PF que é isenta de tarifas de mensalidade.
Obrigado, Fabio!
Sobre a conta PJ que não cobre mensalidade, eu não tenho a informação, mas assim que eu souber de algo, eu posto no blog!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guilherme,
“O nível de sofisticação do mercado financeiro brasileiro ainda não chegou – e provavelmente nunca chegará – ao nível de sofisticação do mercado financeiro norte-americano.”
Eu acho que na verdade estamos cada dia mais nos distanciando desse mercado tão maduro…
Abraços,
Rosana
Concordo, Rosana.