De quanto em quanto tempo você troca de carro? É a cada três, cinco, sete ou… dez anos? Suas trocas de carros envolvem compras à vista ou compras financiadas? Em outros termos, quando você compra um carro, você paga somente o valor do carro (compra à vista), ou paga o valor do carro + o valor dos juros? Se você até hoje só comprou carro financiado, que tal mudarmos essa estratégia e, ao invés de pagar o carro e pagar os juros, você passar a comprar somente o carro e, além disso, receber juros, que podem inclusive cobrir despesas como emplacamento, licenciamento e até seguro? 🙂
O carro é, ao lado da casa própria, um dos bens – passivos – mais caros na vida de grande parte das famílias brasileiras. O problema é que o carro, ao contrário da casa própria, é um passivo que normalmente precisa ser trocado de tempos em tempos.
E é aí que vem o problema. Se você não se planejar adequadamente para a compra do carro, ou você terá que entrar num financiamento, pagando juros, ou então terá que fazer um esforço enorme de poupança à medida que se aproximar a época de compra do carro novo, caso você não tenha reservado e formado um fundo específico para tal.
Felizmente, a compra de um carro é um ato que pode ser realizado de forma planejada. A boa notícia é que dá para planejar a compra desse passivo. O negócio é o seguinte: se você valoriza o seu dinheiro, se o dinheiro tem que valer mais no seu bolso do que no bolso da concessionária, é hora de você realizar um plano plurianual para a compra do carro. Ao invés de receber desde já o veículo, e ficar engessado em 72 prestações mensais, faça diferente: comece pagando as prestações para si próprio, e só depois, com a bolada toda em mãos – nas suas mãos – vá até a concessionária/revenda – de preferência depois do dia 20 do mês, que é quando eles mais precisam de dinheiro para fechar as contas – e apresente suas propostas, para pagar à vista, e com desconto.
Então, se você está disposto a fazer com que a compra do carro não cause um rombo no seu orçamento, em determinado ano, o primeiro passo para conseguir ter um orçamento folgado para compra do carro não é separar um dinheiro todo mês para tal finalidade, mas sim ficar com seu carro atual o máximo de tempo possível. Digamos que você consiga ficar com seu carro atual por 5 anos, até maio de 2015. É um sacrifício? Depende. Para alguns, pode ser quase impossível. Para outros, com um pouco de esforço e mudança de hábitos, é possível. Já para outros ainda, é muito fácil cumprir essa meta.
Vamos supor que você queira comprar um carro que hoje valha R$ 40 mil, não importa se novo ou usado – não vou entrar no mérito dessa questão. Bom, R$ 40 mil hoje não comprarão o mesmo modelo de carro daqui a 5 anos. Digamos que, a uma taxa média de inflação de 4 a 6% a.a., esse carro, que hoje vale R$ 40 mil, daqui a 5 anos esteja valendo R$ 50 mil. O desafio, então, é você acumular um patrimônio de R$ 50 mil para comprar um carro, daqui a 5 anos.
Há duas alternativas, ambas dentro da renda fixa, para que você consiga acumular esse patrimônio.
1ª alternativa: Tesouro Direto
A primeira alternativa é o uso do Tesouro Direto, através de compras mensais da NTN-B Principal com vencimento em 15/05/2015, cujo título é corrigido pela inflação. Um título desse naipe está custando cerca de R$ 1.400. Usando o simulador do Tesouro Direto, sobre o qual já comentamos anteriormente, você precisaria pagar “prestações mensais” de cerca de R$ 705,22, considerando uma taxa de custódia da corretora de 0,2% a.a., e um objetivo final de R$ 50k. Os demais dados (inflação, de 4,5% a.a., e taxa prefixada de 6%, foram preenchidos automaticamente pelo programa). Isso corresponde a comprar, a cada mês, aproximadamente 0,6 título dessa NTN-B 2015:
Sacou a diferença? Nesse caso, as “prestações mensais” estarão indo para o seu bolso, e não para o bolso da financeira/banco/concessionária. Mas atenção: tendo em vista que esse é um dinheiro “carimbado” para um objetivo específico, é de suma importância que, pelo menos na minha visão, esse dinheiro aplicado mensalmente seja considerado um item de despesa, e o patrimônio acumulado não seja contabilizado na sua carteira de investimentos – afinal, ele tem data certa para “morrer”, que é a utilização para a compra do carro.
Uma observação importante da simulação é que ela considerou dados atuais de taxa prefixada e inflação, os quais, por evidente, podem sofrer variações durante esses próximos 5 anos, tanto no sentido de fazerem com que você tenha que aportar mais dinheiro, quanto menos dinheiro. Mas o exemplo serve para mostrar que, dadas as condições normais de mercado, é possível realizar um sonho com disciplina e constância.
2ª alternativa: fundo referenciado DI de seu banco, com débito automático em conta-corrente
A segunda alternativa é mais simples: consiste em programar investimentos automáticos mensais no fundo referenciado DI de seu banco. Supondo uma aplicação mensal de R$ 720, com um aporte inicial de R$ 1 mil, e considerando uma taxa de administração de 1% a.a., e com uma alíquota de IR entre 15% e 20%, você também teria algo em torno de R$ 50 mil daqui a 5 anos.
Essa segunda alternativa de investimento tem a vantagem de contar com o débito automático em conta-corrente, isentando você de ter que operar manualmente esse “investimento-despesa”. Por outro lado, tem a desvantagem de o capital acumulado poder não ser corrigido pela inflação, o que poderá redundar em patrimônio menor do que o investimento num título atrelado a um índice de preços, embora eu acredite que, no frigir dos ovos, a rentabilidade seja bem próxima a de um título público vinculado a índice de preços, uma vez que, consoante escrevi em outro artigo, as LFTs não deixam de ser uma proteção contra a inflação no momento presente.
Novamente, valem as mesmas recomendações feitas acima: supomos uma taxa SELIC em torno de 10% a.a., o que poderá não se confirmar ao longo dos próximos anos. No entanto, apesar das imperfeições do modelo – inerentes, aliás, a qualquer modelo teórico – não deixa de ser interessante a observação de que, com perseverança e aportes regulares e periódicos, é possível se livrar do enrosco representado pelos financiamentos.
Conclusão
Essa é uma tática interessante que pode ser considerada na próxima substituição de seu veículo. Ao invés de pagar uma montanha de dinheiro de uma vez só, ou (pior ainda) entrar num financiamento, pague todos os meses prestações de R$ 700 – ou qualquer outro valor – visando a formar um fundo de reserva para a compra desse carro.
Anote esse item como despesa em seu orçamento doméstico, sob o nome “Prestação do carro #1/60”, e não compute o valor acumulado dentro de seu balanço patrimonial mensal – afinal, esse é um investimento atrelado a uma despesa certa. Aposto que, no final das contas, você não só terá dinheiro suficiente para comprar o veículo, à vista, com desconto e com maior poder de barganha, como também poderá ter dinheiro sobrando para pagar despesas acessórias do veículo, como seguro, emplacamento, despesas com despachante etc., apenas com os juros desse “financiamento”.
Mas o melhor vem para o final: a próxima substituição será mais fácil, uma vez que o valor que você receberá da venda do veículo que até então usava poderá entrar no próximo “financiamento”, diminuindo ainda mais o valor das “prestações” mensais que terá que fazer, amortizando, por assim dizer, o próximo “saldo devedor” (que na verdade é saldo credor). E assim sucessivamente! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Muito legal o artigo Gui.
Gostaria de adicionar também que a compra da casa própria sempre deve ser prioridade. Eu comprei um apartamento de 65 mil à vista com 22 anos de idade e meu carro só saiu aos 25 com 50% de entrada e juros de 0.39% ao mês. E ainda consegui mesmo desconto se eu fosse pagar à vista. Pra mim essas duas peças foram fundamentais pra eu chegar onde estou hoje. O apartamento me rendeu dinheiro desde cedo e a depreciação do carro foi protelada pra mais tarde….
É isso aí! abracao
Guilheme,
Simplesmente fantástico.
Vida Boa, também optei pela compra da casa (na verdade construí) antes do carro e depois comprei o carro, quase todo à vista. Apenas 12 parcelas com taxa de 0,2%. É claro que o CEF saiu mais que isso, mas valeu a pena na época (2006).
Gui, acho que vou investir neste NTN-B 2015, mas não para trocar o carro, a ideia é outra….
Grande abraço!
Fica com Deus.
Boa estratégia essa de troca de carro Guilherme!
Atualmente não tenho carro, e pra ser bem sincero, não pretendo ter um nem hoje nem nunca. E não tenho o mínimo interesse por carros, mais nem um mesmo. Só comprarei um se for realmente necessário para o trabalho, e a vista com desconto.
Abcs
É bom comparar com um financiamento.
Fiz uma simulação de financiamento e a diferença de valores é absurda. Para um veículo de R$40mil, você pagaria R$8mil de entrada + 60 x R$1.172,08
Ou seja, o financiamento sairia R$ 37.832,48 mais caro que pelo tesouro direto!!!
Só vale a pena pra quem está no desespero pra comprar um carro imediatamente, sem ter o dinheiro em mãos.
Estou enganado?
Abraço.
Vida Boa, vc está de parabéns! Nada como ser arrojado desde cedo com tais bens patrimoniais.
Jônatas, obrigado! E vc tb fez um ótimo negócio!
Willy, muito bom o seu plano! Carro dá uma despesa impressionante…. é uma bela economiza q vc está fazendo.
Elton, você não está enganado. Vc está certo! O negócio é investir antes, e ter o dinheiro para quitar à vista. Os seus cálculos comprovam a correção dessa assertiva.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Olá Guilherme,
Muito bom o artigo, estou fazendo um trabalho de Matemática Financeira, onde temos que analisar o que vale mais: comprar o carro a vista, parcelado ou aplicar o dinheiro ( é lógico que precisamos apresentar todos os dados e cálculos tambem rsrs ). Legal, esse artigo já me deu uma luz (rsrsrs), vou continuar a fuçar no seu site a procura de mais informações.
Um Abraço,
Obrigado pelos elogios, Siliana!
Essas dicas foram Show de bola! Valeu!
Obrigado, Adonis!