Assim com as prioridades mudam com o decorrer do tempo, as coisas mudam de significado de acordo com os contextos em que vivemos.
Como já destaquei em outro artigo, quando eu estava na faculdade, havia uma disciplina chamada Direito Comercial. Era a disciplina mais chata e enfadonha da grade curricular – muito embora tivéssemos aulas com ótimos professores. O fato é que não entravam na cabeça conceitos como aval, títulos de crédito, registros societários e outros “institutos jurídicos”. O cúmulo da “chatice” era ter que estudar a famigerada lei das sociedades anônimas – Lei das S.A. Tanto é assim que alguns colegas que estudavam para concurso diziam que, caso aprovados, pagariam promessa lendo a Lei das S.A. de cabo a rabo… 😛
E o que temos hoje? O meu futuro (pelo menos no aspecto da independência financeira), depende em grande parte do conhecimento das regras que estão… na Lei das S.A. Isso porque ela regula nada mais nada menos do que as sociedades por ações. Ou seja, regula as empresas que estão em minha carteira de investimentos!
De menosprezada, chata e sem sentido, a Lei das S.A. passou a ser a lei mais estudada, pesquisada e cuidadosamente analisada. Por quê? Porque ela adquiriu um significado que, no contexto de minha época de faculdade, simplesmente não possuía.
Lembro-me inclusive de, àquela saudosa época, não entender bulhufas de nada de assuntos como… debêntures. Eu fazia um esforço descomunal para tentar entender o artigo 52 da referida Lei (“a companhia poderá emitir debêntures que conferirão aos seus titulares direito de crédito contra ela, nas condições constantes da escritura de emissão e, se houver, do certificado”), criava macetes, ficava lendo dentro do ônibus, tudo com o intuito de ver se “entrava” no cérebro, nem que fosse por “osmose”.
Atualmente, quem diria, andei fazendo até artigos sobre as tais debêntures… que inclusive, o pessoal gostou bastante. Êêêê….esse mundo dá voltas, hein!!??? 🙂
Outro exemplo gritante de como as coisas mudam de significado de acordo com o contexto – tão ou mais eloquente do que o exemplo da Lei das S.A.: cartão de crédito.
Antigamente, eu abominava essa forma de compras, pelo simplório motivo de que preferia pagar todas as compras no ato, e não deixar para pagar depois (o que, de certa forma, seria um motivo justo, mas de qualquer forma não suficiente para abominar essa forma de pagamento). Tanto é assim que a primeira vez que utilizei o cartão de crédito (que já tinha desde os 18 anos) foi depois dos 25 anos de idade, num pagamento de almoço, e ainda assim depois de (muita) insistência de uma amiga.
Mas o tempo foi passando, passando, e eu fui vendo alguns do benefícios do cartão de crédito, e mais alguns outros ali, e outros acolá… de tal forma que hoje o cartão de crédito, apesar de apresentar vários pontos negativos para que não o usa de forma adequada, é o meu principal meio de pagamentos.
E não é isso, pois atualmente eu escrevo uma série no Aquela Passagem, justamente sobre… cartões de crédito! Olha as voltas que o mundo dá!
Quais coisas você achava que nunca iria se interessar/fazer/usar, e, passado algum tempo, agora, fazem você prender a atenção e/ou mudar de atitude?
Você dizia para si mesmo que nunca iria ter filhos, e agora cá estamos, com a criançada fazendo a festa na sala de estar. Você jurava de pé junto que nunca iria morar/estudar longe de casa, e agora mora num local distante do que você planejava, quem sabe até no exterior, e está… gostando da experiência. Você não dava bola para quem prestava concursos, achava que seria a última das últimas opções, que o serviço seria somente burocrático e hoje… você é concursado (ou está prestes a se tornar um)!
Você achava “sujo” falar/ler/ouvir/conversar sobre dinheiro, sobre finanças, achava que era “pecado” discorrer ou saber mais sobre esse assunto, que não iria entender bulhufas de nada…e hoje você não perde um feed do Valores Reais (aham!).
Qual é a lição principal disso tudo? É essa: as coisas mudam.
Se há alguma certeza nessa vida, é a certeza da impermanência. Não ache que sua vida será estática, e que o seu futuro daqui a 5, 10 ou 15 anos será exatamente aquele que você planejou, porque não será. Nós vivemos em uma realidade dinâmica, que é alterada a todo instante, inundada por novidades e descobertas que nos fazem revisar nossos gostos, nossos valores e nossas atitudes diante dos fatos. Essa realidade é tanto modificada por fatores externos – novidades tecnológicas, comportamentos, conhecimentos – como por fatores internos – nossa percepção de mundo diante dos fatos. Às vezes, o que muda não é nem a realidade externa, mas sim nossa visão sobre essa mesma realidade: vide o exemplo meu da Lei das S.A. Ela existe há quase 40 anos, mas eu só me dei conta de sua importância, para o meu contexto, recentemente.
Não há problema em relação a você voltar atrás em uma determinada questão ou situação, a qual você achava que já tinha consolidado o seu ponto-de-vista, desde que essa revisão seja feita com uma boa intenção.
Por isso, esteja sempre aberto e receptivo a novas ideias, projetos e valores, mesmo que isso implique revisar conceitos que já haviam sido incorporados em seu estilo de vida e modo de pensar. Dê o benefício da dúvida, pois experimentar faz parte do processo, e, à medida que angariamos novos conhecimentos, maiores campos de exploração nos são abertos. Faça uma escolha qualitativa quando tiver diante de uma múltipla escolha.
Afinal, como dizia o comercial da Fiat, às vezes, para progredir, “precisamos rever nossos conceitos”. E agir de acordo com essa nova mentalidade. 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Bela reflexão. Com relação ao cartão de crédito, tbém deixei de usar durante algum tempo , porque sou ex-endividada. Hoje, uso de maneira consciente, mas o que me incomoda é a maneira como este instrumento é tratado, acho absurdo receber um produto em casa , sem tê-pedido. Acho que de uma maneira geral o consumidor não sabe lidar com o cartão de crédito. Mas… Adoro novas percepções. É como ouvir um CD, depois de 3 anos e descobrir uma música que estava lá , mas não nos dizia nada e agora sim descobrimos que é linda.
Um abraço e até mais.
Luciene, excelentes seus comentários! De fato, o contexto em que estamos inserido muitas vezes determina nossa perspectiva em relação a temas. Dessa forma, mudar de opinião acaba sendo uma coisa até natural.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Eu acho até meio engraçado essas voltas que a vida dá. Isso acontece com mais frequência do que percebemos.
Gostei do que a Lucilene disse sobre as músicas, isso acontece muito comigo também.
Sim, Rosana, acontece mesmo.
O importante é ficar “ligado” e termos autoconsciência das coisas que acontecem em nossas vidas.
Abç!
Excelente texto!! Além de bem escrito, traz uma reflexão muito importante e inspiradora. Vou arquivá-lo para lê-lo sempre. Parabens!!
Obrigado, Valter!