Você quer ir ao shopping mais próximo. Há duas alternativas possíveis. Uma é pegar um táxi e chegar, assim, mais rápido ao centro de compras. A outra é ir a pé, gastar mais tempo, mas, em compensação, economizar. Existe ainda uma terceira alternativa, que é pegar um ônibus. Você, por conveniência, e já sabendo que uma das funções do dinheiro é justamente comprar tempo, resolve pegar o táxi. Ocorre que, apesar de a corrida ser curta, você e o taxista brigam por causa do trajeto escolhido por ele, o qual teria optado por um caminho mais longo. Você fica com raiva e estressado. A briga chega a durar quase o mesmo tempo que o valor da corrida. E você sai do veículo já de “cabeça quente”, estressado e emocionalmente abalado.
Dentro do shopping, o pensamento não sai da cena da briga com o taxista. E esses pensamentos negativos do passado continuam a ocupar sua mente mesmo quando você já está em casa, após as compras. Na verdade, aquele problema – que não durou mais do que três minutos e quinze segundos – continua a perseguir sua mente nos dias seguintes…
A questão que se coloca é: vale a pena continuar pensando nessa briga? Ela já não faz parte do passado? Por quê insistimos em rememorar lembranças de fatos negativos do passado, que nos causaram e continuam nos causando mágoa? Existe solução para curar essa obsessão pelo pensamento do passado, se sobre ele já não podemos fazer mais nada? Há alternativas para se libertar da prisão de sentimentos negativos de fatos que já ocorreram? Sim, há. E quero ponderar aqui dois pontos para reflexão de meus leitores, na forma de perguntas:
1º) Vai ter alguma utilidade a longo prazo prolongar de forma contínua uma discussão do passado que está ocorrendo exclusivamente na sua mente? (a resposta é óbvia: não).
2º) Reflita sobre o ato que gerou a situação: a corrida de táxi. Você tinha possibilidade de escolha? Você tinha alternativa? Sim, ir a pé. Ou de ônibus. E ir a pé era uma situação sobre a qual você sem dúvida tinha mais controle, ou seja, fazia você depender menos dos outros.
Eis aqui então duas chaves, duas proposições importantes e que podem ser úteis para aumentar a qualidade da vida que você leva, a fazer você ter menos estresse, e que podem fazer você pensar mais a sério na busca de sua independência financeira.
Primeiro, não se prenda a problemas temporários, que não têm poder algum de gerar efeitos benéficos a longo prazo. Como diz David Allen, no livro Faça tudo acontecer, preste atenção naquilo que interfere em sua atenção. E concentre sua atenção, o seu pensamento, o seu foco, em coisas positivas nas quais você tenha a capacidade de elaborar construções e planos visando a objetivos que te realizem, pois elas é que gerarão a força e a virtude necessárias para desenvolver hábitos e emoções positivas em sua vida.
Ao invés de se lamentar pelo problema da forma como ocorreu, tenha uma atitude construtiva: pense naquilo que você poderia ter feito para evitar o problema – e não fez –, mas que você se comprometerá a fazer no futuro caso o mesmo tipo de situação se repita mais à frente. Dessa forma, você estará concentrando sua atenção na solução orientada para guiar sua vida no presente e no futuro, ao invés de focá-la apenas no problema do passado. Ou seja, você estará se preparando para solucionar problemas, e não para ficar paralisado diante deles. Sua atitude passa a ser construtiva, positiva, ativa, e não lamentativa, próprio de quem fica em estado de passividade e inércia.
Por exemplo, se a diarista era para ter vindo hoje, e não veio, pense nos motivos que ensejaram esse fato. Será que não veio por omissão sua, que não lembrou a ela, por meio de um simples telefonema que poderia ser dado no dia anterior, de que ela precisaria estar em sua casa no dia de hoje?
Você resolve fazer suas compras da semana no dia que é véspera de feriado de Páscoa. Então, você resolve ir logo depois do trabalho, às seis horas da tarde. E, quando finaliza as compras e se prepara para entrar na fila do caixa, percebe que a fila é a maior com a qual você já se deparou em sua vida. E você é tomado pelo sentimento de raiva pela demora com que a fila anda – parece que é justamente no seu caixa que falta o troco, que um outro cliente quer pagar uma conta… mas pera lá… não foi você quem, de livre e espontânea vontade, escolheu ir naquele dia, exatamente naquele horário? Ao invés de ficar se remoendo em casa pelo tempo que gastou na fila, tome uma atitude mental construtiva: preencha seus pensamentos com técnicas e táticas para ir ao mercado num dia de menor movimento, num horário de menor movimento – ou, se for mesmo naquele dia e naquele horário, que leve alguma coisa para preencher seu tempo ociosos (smartphone para ler notícias e checar emails, por exemplo). Pense em soluções, e aja de acordo com elas. Como diz um provérbio popular:
“Somos livres para escolher, mas não somos livres das conseqüências de nossas escolhas”.
Em segundo lugar, procure ter uma vida menos dependente dos outros. Uma vida em que você tenha mais capacidade de controle sobre as situações que interfiram em sua realidade, pois são essas situações que têm maior probabilidade de modificarem negativamente seu estado emocional. Certamente faz muito mais diferença positiva você por conta própria estudar as melhores opções de investimento em face de seu atual momento de vida, do que se deixar levar por conversas de gerente de banco mais interessados em vender seus produtos e/ou corretores que têm mais apreço pelas comissões ganhas em cima daquilo que você gira no home broker.
Voltemos ao exemplo do táxi. Você ficou se remoendo o resto do dia pela briga que teve com o taxista – ou com qualquer outra pessoa que seja, um amigo, um familiar… Mas esse problema só ocorreu porque você decidiu ir de táxi. Da próxima vez, vá a pé, e apague a repetição da ocorrência desse evento.
O que é a independência financeira senão uma forma de ter uma vida menos dependente dos outros? Menos dependente do patrão, menos dependente de horários, menos dependente de trânsito, menos dependente de gastos com roupas (realizados exclusivamente em relação ao trabalho)…? E não é liberdade o que você procura a todo instante? Uma liberdade responsável, em que você seja capaz de guiar-se por comportamentos éticos e fundamentados no exercício do caráter?
Ora, você deve estar se perguntando, como ter mais autonomia e independência num mundo cada vez mais conectado e interdependente? Onde dependemos de aviões que cheguem no horário, clientes que cumpram prazos, lojas virtuais e sistemas de correios que entreguem compras sem atrasos?
A resposta é fácil: você consegue mais autonomia e independência tendo uma vida mais simples. Com menos desejos de impressionar os outros. Menos ganância. Menos soberba. Menos ego. Menos status. E mais virtudes. Mais planos. Uma vida mais centrada, preocupada e pensada em você, e menos direcionada aos outros, principalmente ao que os outros vão pensar. Preocupe-se primeiro com o seu bem-estar, e só depois pense nos outros.
Não se trata, como poderiam pensar muitos, de ter uma postura egoísta, mas sim altruísta, na medida em que você só poderá colaborar para ajudar a vida de outros a partir do momento em que você próprio estiver bem consigo mesmo. É até um consectário natural o fato de que, se você não tiver bem, pouco poderá contribuir para dar bem aos outros – basta pensar nos dias em que você esteve doente da última vez. Quando temos auto-estima, nossa tendência natural não é ficar egoísta, mas sim querer distribuir auto-estima para os outros. Dar aos outros um pouco daquilo que nós próprios temos, para mostrar-lhes que o que temos é bom, é útil, e consequentemente, se é bom para a gente, pode ser igualmente bom e útil para outras pessoas também.
Nesse contexto, é impossível não rememorar a história que Stephen Kanitz conta em seu livro Família, acima de tudo, resenhado aqui no blog tempos atrás, acerca da competição de saltos que ele elaborou com seus filhos, à época, com idade entre 3 e 4 anos, visando a desenvolver-lhes coordenação motora e saúde física. O objetivo da brincadeira criada pelo pai foi a de ensinar-lhes a pular, a pular cada vez mais distante.
Logo, como se tratava de uma “competição”, Kanitz deixava seus filhos ganharem, pulando menos. Ocorre que, lá pela sétima ou oitava tentativa, os filhos começaram a deixar o pai ganhar, dizendo: “vai, pai, você consegue” (!). Ou seja, os filhos passaram a ter um reservatório de auto-estima tão abastecido, tão grande, que tudo o que queriam era que o próprio pai também tivesse essa boa emoção positiva, que experimentassem também como é boa a sensação de ganhar. Mas esse sentimento só nasceu nas crianças porque o pai incutiu-lhes a sensação de bem-estar consigo mesmas. E esse não deixa de ser um passatempo simples e gratuito com as crianças, não é mesmo? O que prova que é possível ter uma vida mais simples e também desenvolver emoções positivas sem interferência de objetos e coisas materiais.
Ocupe seu precioso tempo, gaste sua preciosa energia, foque seu sagrado poder de concentração de pensamentos, em coisas, hábitos, atitudes e comportamentos construtivos, que tenham o poder de gerar sentimentos positivos, que exercitem as forças e as virtudes que existem dentro de você, sobre as quais você tenha controle, e que te levem a viver uma vida mais simples.
O desafio não é fazer isso o tempo todo, mas sim caminhar em direção a essa realidade, se esforçar para que isso se torne a sua realidade, para que o contexto em que você viva seja cada vez mais repleto de experiências e emoções positivas e virtuosamente construídas.
Boa sorte nessa jornada!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guilherme, parabéns, texto simplesmente fantástico.
Abraço!
Fica com Deus.
É sempre importante aprender com as nossas atitudes, refletir sobre ações diferentes que poderiam ser tomadas, para quando nos depararmos com situações semelhantes ter uma idéia de como agir, e não ser simplesmente levado pelo impulso para ficar se ressentindo depois.
Jônatas e Thiago, obrigado!
Thiago, vc abordou um ponto-chave: reflexão. Ter consciência dos atos praticados e a praticar é um elemento decisivo que nos conduz a decisões mais acertadas.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Texto muito bom e de grande valia. Eu estava precisando ler isso. Parabéns
Obrigado Artides!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Olá, Guilherme!
Parabéns pelo texto. Nos coloca para repensar atitudes e valores, para moldá-los melhor, sem que eles gerem tantos traumas e sofrimentos, que normalmente são absolutamente desnecessários. Muito bom mesmo.
Você me permite reproduzi-lo no meu bloguinho? Com seu link, claro. Aguardo sua resposta.
Tenha um dia de paz. Abraços fraternos.
Olá, Valerie, obrigado pelos comentários!
Claro, pode reproduzi-lo à vontade, conforme você mencionou, fazendo o link para o texto original!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
É isso aí!Você me lembrou Nuno Cobra quando ele disse que somos “muito egoístas,pois pensamos muito nos outros; e que devemos ser mais altruístas e pensarmos mais em nós mesmos”…Ah, e seu blog é um ótimo investimento do nosso tempo e energia. Virou um hábito bem saudável!
Um Abraço, fique com Deus!
Excelente texto! 🙂
Muito bom o exemplo do táxi. Muitas vezes ficamos remoendo coisas como essa, algo totalmente improdutivo e até prejudicial pois tira nosso foco do agora além de nos deixar irritados e com raiva. Ainda tenho muito a melhorar nesse sentido e a leitura do seu texto foi muito boa para mim.
Gostei da parte do controle e da simplicidade.
Quanto mais independentes, melhor. Menos decepções, menos raiva, menos estresse.
Quanto mais vivermos focados em nós, não deixando nos levar pelo marketing e pelas “necessidades” por ele criadas, mais nos sentiremos livres e satisfeitos com o que temos. Claro que é sempre bom queremos melhorar em todos os sentidos, mas não é bom deixarmos que essa melhoria tenha mais relação com consumo e status do que com nosso equilíbrio interior.
Abraços!
Obrigado, Rosana, e concordo com tudo o que você disse! 🙂
O autocontrole e a necessidade de buscarmos a felicidade dentro da gente são peças-chave que nos ajudam a construir um mundo melhor para nós mesmos.
Não se deixar levar pelos outros é um dos grandes desafios de nossa sociedade atual.
Abç!