Essa é a segunda parte da resenha do livro Value Averaging: The Safe and Easy Strategy for Higher Investment Returns (Wiley Investment Classics). A primeira parte pode ser lida aqui.
9. Profiting from Overreaction
Estudos recentes têm comprovado que o mercado não registra tantos passeios aleatórios quanto antes se imaginavam ocorrer. Há fortes evidências de que os preços tendem a retornar às médias, num fenômeno conhecido como “regressão às médias”, ou “retorno às médias”, ou ainda “reversão às médias”. Ou seja, o mercado pode até reagir de forma exagerada no curto prazo, mas em geral ele “corrige a si próprio” no longo prazo. É como se houvesse uma lei da gravidade no preço das ações. O mercado tem ultimamente sido ancorado em fundamentos, de tal forma que qualquer movimento irracional nos preços que os distancie daqueles fundamentos de valor sofre uma correção para retornar às médias.
Os estudos expostos nesse capítulo não provam que os exageros dos mercados retornam à média, mas sim que há fortes probabilidades de isso ocorrer.
Então como tirar proveito dos exageros do mercado? É aqui que entram as fórmulas passivas de investimento, sobretudo o VA. De acordo com Edleson, se os mercados de fato exageram, e depois retornam às médias, então uma fórmula estratégica, que trabalhe temporariamente contra a acentuada sobrevalorização (fazendo o investidor vender), ou a forte desvalorização (fazendo o investidor comprar mais), pode exceder os retornos de outros métodos de investimentos, inclusive – e principalmente – os métodos de gestão ativa de carteira de ações.
Ancorado nessa ideia central, o autor constrói diversas simulações de frequência de uso do VA, DCA e CS – diário, a cada 5 dias, mensal, quadrimensal, anual e a cada dois anos -, usando dados coletados de 1926 a 1991, para o mercado norte-americano, chegando à conclusão de que as maiores taxas de retorno são obtidas com o VA, usando a frequência quadrimensal, ou algo próximo disso, a cada 3, 4 ou 6 meses.
Isso até pode desanimar os investidores, exigindo deles ainda mais paciência. Afinal, se já é difícil investir uma quantia fixa todo mês, imagina fazê-lo a cada 4 meses, sem fazer nada durante 3 meses consecutivos! Mas essa é a proposta de Edleson, se o investidor quiser retornos que se aproximem do “ponto ótimo” detectado nas pesquisas por ele realizadas. Um investimento realizado com menos frequência poupa tempo e energia.
10. Details: Getting Started
Onde implementar o VA: em ações individuais ou em fundos indexados de ações? O autor diz que o melhor caminho é aquele onde há o investimento indireto no mercado de ações, ou seja, nos fundos, por dois motivos básicos: minimização dos custos de transação, e diversificação facilitada (controle de risco).
São expostos, também, os veículos de investimentos para testar o VA em sua carteira: as vantagens de se montar um fundo paralelo (side fund) ao seu fundo de investimentos principal, numa conta de aposentadoria (IRA, 401(k) etc.) e assim por diante.
Um dos bons alertas do autor é considerar que, no mundo das finanças, há sempre mudanças. Ou seja, é preciso ficar atento aos índices de inflação, para evitar que o investimento seja corroído de valor ao longo do tempo, bem como reajustar continuamente o plano à medida que novas informações aparecerem.
Outro detalhe importante é não esquecer de que os investimentos de risco devem constituir apenas parte de sua carteira geral de investimentos. Esse é um ponto que gostei, principalmente porque foi abordado em dois outros artigos aqui no blog, a saber: os cuidados com a liquidez nos investimentos, e as reflexões acerca de uma estratégia de alocação de ativos na prática.
Nas notas de atualização do capítulo, Edleson dá ênfase aos ETFs, considerando-os boas alternativas para diversificar os investimentos, dentro da conta de uma corretora.
Muitos outros detalhes são descritos nesse capítulo, principalmente aqueles com que se depara o investidor numa situação prática, de modo que o considero uma das melhores partes do livro.
11. Examples: Strategies at Work
Esse é outro excelente capítulo, pois trata da implementação de uma estratégia de investimentos na prática, com tanta riqueza de detalhes, frente às mudanças que podem ocorrer no meio do caminho, que o tornam um exemplo muito bom e ajustado às diversas realidades com que se pode deparar um investidor pessoa física.
Trata-se da história de Larry, que, em dezembro de 1981, quer comprar um terreno para construir uma cabana de férias. Nada extravagante, apenas um ponto nas colinas perto de um lago em um Estado próximo. Seu plano de investimentos é projetado para durar em torno de 10 anos, e o seu sonho custa, para valores de 1981, US$ 58 mil, e ele crê que o preço das terras irá acompanhar a inflação do período.
São simuladas duas estratégias de investimentos: uma, usando o DCA, e outra, o VA. As grandes lições que ficam desse capítulo são expostas na conclusão do capítulo (p. 225):
“Ser flexível é bom, mas ser flexível com um plano é melhor. Não é divertido pensar sobre impostos, mas você desejará trabalhá-los em seu plano, ou então terá uma surpresa extremamente desagradável que separará você de seu objetivo. A mesma coisa em relação à inflação. Não tenha medo de fazer suposições (chamamos-lhes ‘previsões’ e ‘expectativas’), mas esteja preparado para reavaliá-los regularmente”.
12. A Final Word
As palavras finais de Edleson soam oportunas. Ele diz que as vantagens inerentes do VA, em termos de rentabilidade, não o tornam a melhor estratégia de investimentos para todos, pois é um pouco mais complexo e exige custos implícitos para alguns investidores, custos estes expressos tanto em termos de tempo quanto de energia.
Ademais, fórmulas de investimentos não sobrevivem com veículos de investimentos sofríveis, é preciso escolher bem tais veículos – daí a recomendação do autor em usar fundos indexados. Ademais, não há garantias absolutas de que o investimento em ações apresente resultado final positivo, embora haja fortes probabilidades de que isso ocorra, para estratégias fundadas em longo prazo.
O VA não é uma fórmula para ficar rico rapidamente, porém, é um mecanismo interessante de acumular riqueza sem bola de cristal, uma vez que contém em sua fórmula a regra de “comprar na baixa, e vender na alta”.
Conclusão
William Bernstein, cujo livro sobre alocação de ativos resenhamos domingos atrás, disse, no prefácio (com destaque no original):
“Este é o melhor guia sobre a mecânica da implantação de um fluxo constante de dinheiro em uma carteira. Eu vou além: este é o único livro que descreve perfeitamente como qualquer investidor pode aproveitar plenamente esta disciplina poderosa”.
Eu fecho com o Bernstein. 😀
Para mim, as lições mais importantes deixadas pelo livro nem se referem tanto à fórmula do valor médio em si (que já é, em si, impactante, pela simplicidade de uso e óbvias vantagens em relação ao DCA), mas sim a dois outros aspectos que devem ser considerados por qualquer investidor que use fórmulas passivas de investimento. Tais aspectos consistem em fazer reajustes periódicos nas quantias fixas investidas, a fim de que se leve em conta tanto a taxa de inflação – para que o investimento não perca valor no tempo – quanto a taxa de crescimento do mercado de ações – para que o valor investido acompanhe e tire proveito desse crescimento.
Somados a isso temos o controle efetivo que investidor deve ter em relação ao seu plano. Ou seja, ele precisa aprender a lidar com números. Edleson dá grande ênfase ao estabelecimento de projeções, estimativas, expectativas de retornos, bem como o desenvolvimento de planos de investimentos que estejam de acordo com essas expectativas.
Exemplificando: se você investe R$ 500 por mês no seu fundo de ações, qual é a quantia final que você quer alcançar? R$ 10 mil? R$ 50 mil? R$ 100 mil? R$ 1 milhão? Você precisa estabelecer metas claras de acumulação de patrimônio, pois, se você não as estabelecer, vai ficar parecendo com o que disse o Gato Sorridente para Alice, no filme Alice no País das Maravilhas (frase destacada pelo Jônatas no Efetividade blog):
“Para quem não sabe aonde quer chegar qualquer caminho serve”.
Talvez essa tenha sido a lição mais marcante do livro: você precisa saber aonde quer chegar investindo suas quantias fixas, numa estratégia de acumulação de patrimônio. Mais do que isso, você precisa saber usar as ferramentas necessárias para tal, ou seja, fazer cálculos, projetar estimativas, usar instrumentos de diversificação de investimentos, à medida que se aproximar no tempo do valor-alvo pretendido.
O Value Averaging é uma dessas fórmulas mecânicas de investimento passivo que contém, em seus aspectos intrínsecos, essa possibilidade. Daí a razão do livro ter agradado tanto.
Portanto, eis aqui mais uma leitura recomendada do site! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guilherme, parabéns por mais uma resenha!
Esses tipos de investimentos passivos são importantes para quem está montando um patrimônio em determinada classe de ativos, correto?
Agora, para quem já possui uma carteira balanceada, deve-se dar prioridade aos percentuais pré-detereminados alocados nessa carteira, não? Vc vê como possível usar alocação de ativos junto com estratégias como VA?
Abraço!
Obrigado, André!
Correto, André: o VA é super útil para quem monta um investimento focado em ações, por exemplo, pensando num montante fixo a conseguir no futuro, por exemplo, R$ 50 mil.
Para quem já possui uma carteira balanceada, creio sim, priorizar os percentuais de cada classe de ativos no total da carteira. É possível usar a alocação de ativos simultaneamente com o VA, embora requeira mais estudos técnicos de como encontrar o equilíbrio ideal entre essas duas táticas de investimentos.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Parabéns pela resenha!
Eu ainda não conhecia este método e acabei lendo o livro.
Gostaria de saber se você, ou algum leitor, tentou fazer alguma simulação com o ibovespa?
Gostaria de trocar idéias com alguém a respeito disso. Tentei executar uma simulação com dados de 2000 pra cá para períodos mensais, bimestrais e trimestrais, e gostaria de compará-los para verificar se estão corretos.
Aparentemente aportes bimestrais são mais interessantes para o caso brasileiro. Mas, repito, não tenho certeza sobre fidelidade dos resultados
um grande abraço
Vinícius, obrigado!
Eu ainda não tentei fazer a simulação com dados do IBovespa. Os seus resultados se aproximam daqueles preconizados por Edleson, ou seja, aportes a intervalos medianos (bimestrais), tendem a produzir resultados melhores.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!