Liquidez é a possibilidade de conversão de um ativo em dinheiro, cash. As diferentes classes de ativos apresentam também diferentes graus de liquidez, e esse é um dos cuidados que o investidor deve tomar. Os cuidados se referem: (a) ao gerenciamento de uma carteira (portfólio) de investimentos, e (b) ao “consumo” desses ativos, isto é, em sua conversão em passivos, através da escolha do produto que menos onere seu patrimônio, principalmente se esse ativo produzir renda.
Do lado dos investimentos, a liquidez assume especial relevância na tática de rebalanceamento dos ativos dentro de uma estratégia de alocação (asset allocation). Por exemplo, caso você tenha uma carteira composta de renda fixa e renda variável na proporção 50/50, isto é, 50% em ações, e 50% em renda fixa, você deve tomar cuidado para selecionar investimentos que permitam com facilidade a realocação, isto é, a transferência de dinheiro de um lado para outro, quando se atingir um percentual pré-fixado de desbalanceamento, um desequilíbrio, ou seja, quando a carteira tiver, digamos, 70% em renda variável e 30% em renda fixa.
Isso para permitir que você venda os 20% excedentes em renda variável, transferindo-os para a renda fixa, de forma a voltar à proporção original 50/50.
Caso você tenha as ações no home broker, ou mesmo num clube de investimentos, essa tarefa não será difícil, uma vez que as ações podem ser vendidas sem restrições de tempo.
Agora, caso elas estejam alocadas num fundo de ações com carência de 60 dias, 3 meses ou até 1 ano para resgates, o objetivo da realocação ficará prejudicado, e você não conseguirá fazer o rebalanceamento a contento.
Da mesma forma, há investimentos em renda fixa que estabelecem um prazo de carência, durante o qual você não poderá solicitar o resgate. São exemplos comuns certas debêntures, alguns fundos multimercado de capital protegido que tenham Bolsa em sua composição, e, principalmente, os planos de previdência complementar do tipo PGBL.
A liquidez também será importante na hora do consumo, principalmente para não prejudicar seu plano de investimentos. Por exemplo: suponha que você, já dono de um imóvel quitado, decida comprar um apartamento novo para morar. Se você tiver pressa em fazer essa aquisição, e tiver no imóvel quitado o seu ativo de maior valor, isso é, que represente a maior parcela de seu patrimônio, você terá que aceitar vendê-lo por um preço provavelmente menor do que ele vale no mercado, uma vez que os imóveis apresentam, em geral, baixa liquidez. Esse é o preço que se paga pela pressa. Normalmente, a falta de liquidez é compensada com alguma espécie de benefício a ser materializado no futuro (por exemplo: planos de previdência privada, fundos de capital protegido etc.).
Vamos então, descrever o grau de liquidez de alguns tipos de investimentos.
Salário
Embora não possa ser considerado propriamente um “ativo”, a sua remuneração é o seu bem mais líquido, uma vez que ele vem, via de regra, 100% em cash. Nos primeiros anos de seu plano de investimentos, ele será a maior fonte de alimentação, de energia, de seu plano, porque é com ele que você investirá em ações, pagará as prestações do imóvel, guardará na poupança, fará compra de títulos públicos no Tesouro Direto etc. Com o transcurso do tempo, e o “trabalho” dos juros compostos, a importância do salário diminuirá, ou seja, o valor dos aportes diminuirá em proporção ao crescimento do patrimônio, uma vez que os juros farão a maior parte do trabalho de fazer crescer o “bolo” (patrimônio) – isso se você for disciplinado e consistente nos investimentos.
No entanto, no estágio inicial de construção de riqueza, é crucial o papel que o salário desempenha para forrar seu pé-de-meia. Por isso, é muito importante você aproveitar o valor das oportunidades enquanto elas estiverem disponíveis, priorizando a construção de sua carreira profissional e investindo em sua educação financeira.
Nesse sentido, é muito oportuna a lição de Julio Sergio Cardozo, que, no livro “O melhor vem depois” (cuja resenha será publicada em breve aqui no blog), afirma que, na faixa etária dos 20 a 30 anos, a prioridade deve ser a carreira, seguida dos cuidados com o dinheiro. Investir na sua qualificação é muito, muito importante, e terá impactos muito positivos em relação ao caixa disponível para os investimentos financeiros. Com efeito, melhora na qualificação (pós-graduação, mestrado, MBA etc.) normalmente se traduz em elevação nos níveis dos contracheques.
Paralelamente, é nessa fase da vida que assume especial importância os cuidados com a educação financeira. Quanto mais cedo você se informar a respeito de assuntos ligados a finanças pessoais e investimentos, mais condições você terá não só de investir melhor, mas também de consumir melhor. E, nessa era de Internet, é perfeitamente possível você se tornar um autodidata no gerenciamento de suas finanças. Afinal, como diz John Bogle, lendário fundador do Vanguard, e um pioneiro dos ETFs nos Estados Unidos, ninguém é melhor do que você para cuidar de seu próprio dinheiro.
Essa mistura de crescimento profissional + gerenciamento eficiente das finanças, ainda na faixa etária dos 20 a 30 anos, gera uma combinação explosiva que tem tudo para turbinar seu plano de independência financeira, e isso independentemente do momento econômico em que o Brasil esteja vivendo. Isso porque você terá todos os ingredientes fundamentais para o plano dar certo: salário compatível com a ascensão na carreira, horizonte largo de tempo, conhecimento técnico especializado, e virtudes cultivadas na prática (paciência, disciplina e controle emocional).
Com o decorrer do tempo, a participação, nos seus investimentos, dos aportes extraídos de seu salário, irá gradualmente diminuir, em face do também gradual aumento do trabalho (ou seria mágica?) dos juros compostos. Isso lhe permitirá, se você viver uma vida com aspectos de frugalidade – entendida essa em seu conceito correto – alguns “luxos”, como, por exemplo, trocar um trabalho mais remunerado por outro com uma remuneração menor, mas que tenha, em compensação, uma jornada de trabalho menos exaustiva. Como corretamente ensinam os autores de Dinheiro e Vida, é melhor se preocupar em ganhar dinheiro hoje, do que em ganhar dinheiro depois.
“Depois” pode ser tarde demais, e o arrependimento poderá bater na consciência, se você, repito, não reconhecer o valor de aproveitar as oportunidades enquanto elas ainda estiverem disponíveis.
O problema, em relação ao salário, é que muitas pessoas simplesmente prejudicam aquele que é a maior fonte de liquidez de seus investimentos. Como? Envidividando-se. Fazendo a maior parte de suas compras a prazo, financiando, em dezenas de prestações, automóveis e outros bens de consumo durável, tomando empréstimos consignados etc. Cada prestação que aparece na fatura de seu cartão de crédito como “Parcela 5/12” é um item que prejudicará o seu plano de construção de riqueza, pois diminui o grau de liquidez de seu salário para planos de investimentos.
Pessoas bem resolvidas não vêem tantas frações nas faturas de seu cartão, porque fazem planejamento. Compram à vista, com desconto, sabem dizer duas palavras quando vão ao shopping, não compram apenas para ganhar um cupom para concorrer ao sorteio de uma torradeira. Do lado dos investimentos, poupam e investem parte de seu dinheiro para quitar de uma só vez bens e serviços que precisam usufruir, e, sobretudo, estabelecem metas de consumo factíveis, realistas, condizentes e coerentes com sua renda, ou seja, que caibam no orçamento.
O seu salário já é muito comprometido com as deduções obrigatórias por lei e outras necessárias para evitar situações de emergência, como o desconto de imposto de renda retido na fonte, com a contribuição previdenciária oficial, com a mensalidade da associação de classe, com seguros importantes para cobrir situações de emergência, com o plano de saúde… de forma que o saldo final líquido que entra em sua conta representa uma parcela bem menor de seu saldo inicial bruto. Em alguns casos, as mordidas do Leão e do INSS, juntas, chegam a comer quase 40% do salário bruto.
Em face disso, não prejudique a si próprio. Não transforme as dívidas – financiamentos, faturas parceladas… – em outra “dedução obrigatória” de seu salário. Liberte-se da escravidão dos financiamentos, e dê uma injeção de liquidez em seu plano de independência financeira! 😀
Planos do tipo PGBL
Se o salário é a fonte mais líquida de investimentos, o PGBL, sem dúvida, é uma das piores classes de ativos em termos de liquidez. Não obstante ele seja talvez o melhor instrumento para restituição do imposto de renda, o dinheiro que você aporta mensalmente no PGBL fica praticamente “imobilizado”. Isto é, você não poderá solicitar o resgate antecipado da quantia lá investida, sob pena de arcar com pesadíssimas alíquotas de IR, que serão tanto maiores quanto mais cedo você quiser resgatar, se você tiver optado pela tributação regressiva definitiva.
A falta de liquidez é o alto preço que se paga por alguns benefícios oferecidos por esse produto, como os de natureza tributária (restituição de IR, isenção de ITCMD) e sucessória (exclusão de inventário). Você tem que ter muito cuidado se pretende incluí-lo dentro de uma estratégia de alocação de ativos com metas de rebalanceamento, pois o custo de tirar algum dinheiro desse plano pode significar prejuízo, ou seja, tirar menos dinheiro do que aportou nele. O rebalanceamento que se pode fazer é o interno, entre os fundos que compõem o plano.
Prefiro encará-lo mais como um seguro de vida, isto é, uma reserva de capital destinada a provisionar renda em caso de sinistro, e instrumento de negociação com o banco por outros tipos de produtos/serviços, como cartões de crédito melhores e mais baratos, e financiamentos a taxas mais competitivas.
Poupança/CDBs/Fundos DI/Renda fixa/Tesouro Direto
Os investimentos conservadores, da categoria renda fixa, de uma maneira geral, apresentam elevado grau de liquidez, podendo com tranquilidade serem incluídos numa estratégia de alocação de ativos com metas objetivas de rebalanceamento.
É preciso só tomar um cuidado com o Tesouro Direto, porque a venda dos títulos ocorre somente às quartas-feiras (e eventualmente também em quintas, quando há reunião do COPOM), o que o torna um pouco menos líquido que as demais classes de ativos dessa categoria.
Outro cuidado importante é verificar se as taxas de retorno estão atreladas a prazos de carência, pois a liquidez pode ficar prejudicada dependendo do tempo necessário para alcançar certa rentabilidade.
Isso está ficando muito comum com os CDBs pós-fixados atrelados ao CDI, que nada mais são do que empréstimos de dinheiro que você faz ao banco, em troca de determinados percentuais do CDI. O que alguns bancos fazem é aumentarem gradativamente o percentual do CDI pago, à medida que aumenta o tempo de permanência do investimento no produto. Quanto mais cedo você resgatar o investimento, menor será o percentual do CDI a ser pago, o que significa menores retornos.
O prêmio do produto está, assim, vinculado de forma inversamente proporcional à medida da liquidez. Ou seja, quanto menos líquido você deixar seu investimento, mais você obterá de retorno. Compensa? Se você pretende se capitalizar para projetos de médio prazo, como fazer uma mega viagem para a Europa daqui a dois anos, ou comprar um apartamento daqui a 4 anos, pode compensar, porque a liquidez não estará afetando seus investimentos.
Agora, se for utilizar esse dinheiro para projetos de curto prazo, como “capital de giro”, para pagar despesas como as férias do próximo semestre, ou mesmo despesas corriqueiras, onde a liquidez se faz mais necessária, aí eu não recomendaria. Nesses casos, o aspecto liquidez deve preponderar sobre o aspecto rentabilidade.
Fundos de investimento imobiliários
Essa alternativa de investimento deve ser analisada sob dois prismas: capital e renda. Sob o ângulo da valorização do capital, os FIIs tendem a acompanhar o crescimento (ou a contração) do mercado imobiliário, na medida em que estão ancorados em imóveis (comerciais, residenciais, hospitalares, industriais). Da mesma forma que os imóveis, os ganhos de capital decorrem da alienação, ou seja, da venda, que, no caso dos FIIs, é a venda das cotas.
No entanto, diferentemente dos imóveis, é possível se desfazer apenas de parte das cotas, o que lhe agrega um diferencial positivo em termos de liquidez. Ou seja, se você tem um FII avaliado em R$ 100 mil, você pode se desfazer de cotas equivalentes a R$ 20 mil, o que seria impossível de se fazer caso você tivesse um imóvel de tijolo avaliado nos mesmos R$ 100 mil. Afinal, não é possível se desfazer de 20% do imóvel, vendendo a sala e a cozinha, e ficando só com os quartos e banheiros. Ou é tudo, ou é nada (obs.: existem situação especiais de condomínio, onde os condôminos são titulares de frações da propriedade e, dependendo das regras vigentes sobre solidariedade e divisibilidade, seria possível alienar frações da propriedade, mas esse assunto é complexo e no momento não tem pertinência).
Além da liquidez diferenciada no caso dos ganhos de capital, os FIIs apresentam uma liquidez mensal proporcionada pelos aluguéis (rendimentos) distribuídos em função da titularidade das cotas. E, como falei anteriormente, esse fluxo de caixa mensal possibilita a montagem de interessantes estratégias de investimento.
Tenha em mente, no entanto, que a venda de parte das cotas diminuirá na mesma proporção a liquidez mensal proporcionada pelo fluxo de rendimentos. Ademais, se ela fizer parte de uma estratégia de alocação de ativos, não recomendo que se concentre a maior parte dos FIIs no portfólio, assim como não considero interessante alocar a maior parte dos ativos patrimoniais, de uma pessoa, em imóveis, ao menos na fase de acumulação de capital (na fase de usufruto de capital já penso diferente, ou seja, considero viável uma carteira focada na produção de renda). Um percentual de 10% a 20/25% em FIIs talvez seja um número razoável para uma alocação sadia. Mas cada caso é um caso, e depende muito dos objetivos e do perfil do investidor.
Ademais, o investimento em FIIs demanda estudo, pesquisa e dedicação, na seleção de ativos que apresentem boas perspectivas de crescimento, para ganhar na valorização de capital, e taxas adequadas de retorno nos aluguéis (com um yield anual próximo ao CDI), para ganhar na valorização de renda, e sem perder a competitividade em relação aos fundos referenciados DI e títulos do Tesouro Direto, principalmente as LFTs e LTNs.
Ações/ETFs
Dentro de uma perspectiva de longo prazo, ter objetivos não-financeiros definidos quanto às ações é fundamental para delimitar o tipo de estratégia que se quer adotar com elas, no tocante à liquidez. Isso porque não se sabe qual será o retorno das ações no futuro. Por exemplo, sua carteira de ações, com investimentos mensais de R$ 1 mil, pode tanto acumular apenas R$ 80 mil até 2015, e daí explodir na rentabilidade até 2020, chegando a R$ 800 mil, ou tanto “explodir” até as alturas nos cinco primeiros anos, e depois estagnar nos cinco anos seguintes. Como é impossível saber o retorno futuro, o que você pode fazer é se concentrar naquilo que está no seu controle: volume, disciplina e consistência dos aportes, e objetivos claros quanto à acumulação de patrimônio. Além, por óbvio, de uma estratégia definida e executada rigorosamente.
O que você pretende fazer: sacar o dinheiro quando atingir um valor pré-estabelecido, ou deixar fluí-lo por mais 10, 15, ou 20 anos?
Ações e ETFs são investimentos, em regra, líquidos, muito líquidos, pois podem ser comprados e vendidos sem interferência de ninguém. No refúgio de seu quarto, ou de sua sala, no confortante ambiente de casa, ou ainda no trabalho, você decide o que quiser: se vende no dia de amanhã, se compra mais…
Essa facilidade na movimentação, se por um lado lhe confere grande atratividade e lhe dá um controle aparentemente maior, na medida em que não existem restrições ou barreiras externas, como cumprimento de prazos de carência (a carência precisa ser auto-imposta), por outro lado, apresenta enormes riscos, tendo em vista que você pode tomar decisões emocionais, querendo comprar mais quando está tudo piscando verde no seu home broker, ou vender tudo quando luzes vermelhas não páram de atingir a tela de seu computador e notícias econômicas ruins afetam as Bolsas mundiais.
O problema maior no gerenciamento de uma carteira de ações não é a falta de conhecimento, mas sim a falta de controle emocional. Há pessoas experts no mercado financeiro que se dão ao luxo de cometer erros bobos na compra e venda de ações, seja porque lhe falta estrutura emocional para lidar com a pressão por resultados de seus clientes, caso se trate de gestor de fundos, seja porque lhe falta paciência para ver os resultados aparecerem, caso se trate de investidor pessoa física.
A liquidez, nas ações, deve observar não apenas fatores operacionais na gestão de carteira, mas também fatores tributários na retirada de portfólio. Esses fatores tributários são, por assim dizer, uma exclusividade made in Brazil, e estão representadas pela isenção de IR nas vendas abaixo de R$ 20 mil (apenas no caso de ações, não de ETFs), e pela tributação-padrão de 15% para todos os ativos negociados em Bolsa (por “todos” entenda-se ações individuais e ETFs, já que os FIIs também são negociados em Bolsa, mas se sujeitam à tributação em 20%), independentemente do tamanho do lucro e do tempo de operação.
Esses fatores tributários funcionam como uma alavanca, que restringe a liquidez.
A restrição da liquidez pode ser melhor explicada através de um caso prático: suponha que você tenha acumulado R$ 100 mil por meio de investimentos cujos aportes totalizaram R$ 40 mil. Caso você queira vender esses R$ 100 mil, de uma só vez, para investi-los num fundo imobiliário, ou mesmo para comprar um terreno/imóvel, você terá que arcar com o pagamento de imposto de renda, de nada modestos R$ 9 mil, que é 15% do lucro de R$ 60 mil.
Existe uma maneira de você economizar esses R$ 9 mil, que é vendendo as ações em parcelas de R$ 20 mil. Durante 5 meses, você retorna R$ 20 mil para a sua conta, até zerar sua posição em ações.
Já conseguiu visualizar o problema, né? As ações estão no mercado de renda variável. Quem garante que, no segundo mês, tenham lhe sobrado R$ 80 mil, no terceiro, R$ 60, no quarto, R$ 40, e, no quinto, R$ 20 mil? É verdade que as ações podem ter se valorizado um pouco, digamos, para R$ 82 mil, mas também podem ter caído para R$ 70 mil. Imagine você vendendo num mercado em tendência de baixa, justamente em tendência de baixa. E daí, o que fazer?
Nesse sentido, a aplicação em ETFs teria menos tormentas. Já sabendo, de antemão, que os ganhos de capital são tributados à alíquota-padrão de 15%, independentemente do valor da venda, o investidor que tivesse R$ 100 acumulados em ETFs poderia vendê-los de uma só vez, sem se preocupar em “parcelar” suas vendas. Afinal, para ele tanto faz vender em parcelas ou vender de uma só vez: há tributação em qualquer caso. E ainda poderia ter o benefício de um retorno maior do que o investimento em uma única empresa, ou conjunto de empresas, porque os ETFs captam o rendimento do índice de referência. Com menos gastos de corretagens e com menor exposição a riscos (principalmente o risco da empresa, embora ainda exista o risco de mercado), em virtude dos benefícios da diversificação.
Porém, o grande “porém”, é que ele sofreria o pagamento do IR, que, no exemplo acima, seria de R$ 9 mil. Seria o preço a pagar pelos benefícios da liquidez imediata, diversificação e baixos custos operacionais, certo? Certo (geralmente depois de uma pergunta que termina em “certo”, você lê um “errado”, e então começa uma longa explanação para justificar a surpresa. Aqui não, é “certo” mesmo).
A liquidez financeira deve ser compatível com o seu contexto não-financeiro
Um fato que deve ser ressaltado é o de que a liquidez dos investimentos deve se ajustar às diferentes fases de sua vida, de acordo com suas prioridades e suas necessidades de consumo, bem como às suas metas de curto, médio e longo prazos.
Como eu já falei em um artigo anterior, as prioridades mudam com o decorrer do tempo, e sua carteira de investimentos deve refletir o cenário no qual que você estiver vivendo. Nesse ponto, se você não tiver liquidez suficiente em seu portfólio para cobrir o alcance de metas não-financeiras, você será forçado a vender ativos em momentos inapropriados, redundando em prejuízo para sua carteira, e atraso no cumprimento dos objetivos de longo prazo, para os quais eles foram destinados.
Por exemplo, suponha que você, com um salário de R$ 3 mil, tenha R$ 60 mil na conta, repartidos em R$ 30 mil em ações (ETFs), e R$ 30 mil em renda fixa, e resolva comprar um carro. Tal carro custa R$ 40 mil. E agora, o que fazer? Se você adiar o consumo, poderá se prejudicar, se o carro for indispensável meio de locomoção e até servir como instrumento de trabalho.
Agora, se você comprar o carro, terá que sacar R$ 10 mil das ações, o que poderá ocorrer num momento desfavorável do mercado. Ou seja, além de desbalancear completamente seu portfólio, você ainda poderá vender suas ações justamente no momento mais infeliz, quando as ações estão em baixa e se desvalorizando.
O que fazer?
A resposta é simples: planejamento.
Não há dúvidas de que as ações no longo prazo vencem, mas elas não podem ser usadas para cobrir objetivos de curto/médio prazo, sob o risco não só de vendê-las com prejuízo, como também o de arcar com o enorme custo de oportunidade, representado pela utilização de caixa disponível para a compra de mais ações.
Na fase de aposentadoria, por óbvio, a necessidade de liquidez aumenta ainda mais, uma vez que o dinheiro (cash) é necessário para as despesas do dia-a-dia, e isso deve ser levado em conta na montagem de uma carteira de investimentos fundada em alocação de ativos, conforme artigo escrito no New York Times.
Discorreremos mais sobre esse último assunto (alocação de ativos vs. necessidades da vida real), em um futuro artigo. Aguardem!
Conclusão
Em geral, investimentos menos líquidos tendem a proporcionar maior rentabilidade – obrigado ao leitor Flávio pela correção! Pense no exemplo da poupança: é o investimento de maior liquidez. Pode ser tirada, reaplicada, novamente sacada, uma infinidade de vezes. Em com segurança. Mas é também a que oferece o rendimento mais pífio.
Já as ações, para fazê-las crescer, de um modo geral, deve-se pensar em mantê-las por um prazo longo. E isso significa tirar a sua liquidez. Por vontade própria. Os riscos são maiores, mas os rendimentos são, em geral, melhores.
Dessa forma, é muito importante você incluir, dentre os critérios de seleção dos investimentos que comporão seu portfólio, a liquidez. Lembre-se de que investimentos muito líquidos podem não ser assim tão necessários, afinal, um dos objetivos de um plano de construção de riqueza é fazer os juros compostos trabalharem, e a liquidez pode interferir negativamente nesse trabalho.
Por outro lado, concentrar seus ativos em investimentos sem liquidez, se por um lado apresentam o benefício da maior rentabilidade, podem prejudicar a concretização de metas de rebalanceamento de portfólio, além de você arcar com penalidades muito altas caso precise de um dinheiro que está ilíquido para custear despesas imprevistas. Investimentos menos líquidos, ou mais “sólidos”, digamos assim, são bons e devem fazer parte da carteira de um investidor, mas com a necessária prudência.
Seja qual for sua estratégia de investimentos, procure manter sempre o equilíbrio, atentando para o fato de que o dinheiro é apenas um meio para outras coisas, e não um fim em si mesmo.
E por último, fuja dos investimentos gasosos. Investimentos que prometem altos retornos, e pouco risco. Porque esses evaporam no ar, sem deixar rastros. E levam consigo o dinheiro do investidor. Fique esperto! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Sem dúvida o melhor (e maior) artigo publicado no blog desde seu nascimento. Explicações claras e objetivas, de fácil percepção e entedimento, parabéns. Gostaria, se possivel em uma outra oportunidade, saber sobre PGBL e a restituição do imposto de rendam (pidão mode: detected).
Abraço, fique com Deus, boa semana,
David
Deu uma zebra e meu avatar não apareceu na mensagem anterior hehe! Abraço
David, obrigado pelos comentários!
Seu pedido é uma ordem: em breve, um artigo inédito sobre a relação entre PGBL e o seu fluxo de caixa anual, na fase de acumulação de capital. 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Obrigado Guilherme! Vou ficar no aguardo do artigo!
Fica com Deus,
Olá! Parabéns pelo blog, sua leitura tem sido muito proveitosa. Apenas uma pequena correção, onde vc diz “Em geral, investimentos menos líquidos tendem a proporcionar maior liquidez”, não seria “proporcionar maior retorno”?
Abraço! E continue com o ótimo trabalho!
Guilherme, muito boa a sua análise. Completa.
Na conclusão, você postou a frase: “Em geral, investimentos menos líquidos tendem a proporcionar maior liquidez”. Eu acho que você quiz dizer que investimentos menos líquidos tendem a proporcionar maior rentabilidade, ou seja, cada investimento oferece um pouco da combinação: rentabilidade, liquidez e segurança.
Mateus e Flávio, correção realizada!
Obrigado pelos comentários!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
otimo texto.
Márcia, obrigado.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Muito legal este artigo Guilherme. Eu ainda não havia lido.
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E valeu por postar este link do NYT sobre asset allocation.
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Abcs
Obrigado, Willy!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Gostei, muito bom mesmo, me fez pensar e não apenas aceitar.
Valeu, Hugo!
Abç!