Uma das melhores formas de ter uma vida equilibrada, sob o aspecto financeiro, é ter sabedoria nos gastos. Não estou falando apenas de gastar menos – pois isso pode levar à privação – mas sim sobre gastar melhor – pois isso é que leva à satisfação. Dentro desse contexto, considerei muito interessante trazer à discussão, para o campo financeiro, uma idéia debatida no livro Envolvimento total: gerenciando a energia, e não o tempo, na parte em que os autores discutem a importância de nossas ações serem fundamentadas em valores.
Com frequência, nos deparamos com situações nas quais somos tentados a tomar uma atitude que proporciona gratificação imediata, para fins de diminuição de um desconforto que nos é temporário. Pense, por exemplo, na seguinte situação: você acabou de chegar em casa, cansado do trabalho, com fome e vai até a geladeira. Lá estão uma banana e um pedaço de torta de chocolate suculenta – mas suculenta mesmo, tão suculenta que chega até a brilhar quando você vê. Também estão lá a caixinha do suco de uva e uma reluzente garrafa de Coca-Cola que sobrou da refeição de ontem. Quais dessas opções você irá escolher?
Se você for movido pela vontade de saciar de modo mais imediato sua extrema fome, irá optar pela torta de chocolate + Coca-Cola. O prazer da gratificação instantânea é quase irresistível, numa situação dessas. Mas até que ponto esse comportamento é válido? Essa atitude, se feita em uma ou outra ocasião excepcional talvez não faça mal à sua saúde – afinal, ninguém é de ferro – mas fazer esse tipo de lanche de forma rotineira, frequente e diária – e em completa substituição a alimentos mais naturais – provocará danos irreparáveis ao seu organismo no decorrer do tempo.
Na nossa vida financeira, ocorre uma situação de fato muito parecida. Você acabou de brigar com alguém, teve problemas com seu chefe de escritório, seu time perdeu a final do campeonato, você foi reprovado no teste seletivo, perdeu “aquela” oportunidade de negócio ou de emprego ou de compra, foi fechado no trânsito. Aí, você resolve “espairecer” dando uma voltinha no shopping pra amenizar as dores de cabeça, ou então percorrer o que tem de bom nas lojas virtuais. O que acaba ocorrendo? Se você for como grande parte das pessoas, acabará comprando algo de que não necessita, apenas para compensar “aquele” problema. Isso não é tolo, não faz de você uma pessoa “anormal”: você estará sendo apenas humano. É que isso vem a ser uma característica quase que inerente aos seres humanos, como afirmam Vicki Robin e Joe Dominguez: tendemos a compensar nossas necessidades psicológicas, nossas necessidades emocionais, com bens materiais. Compensar uma necessidade espiritual com um bem em nível físico. É por isso que acabamos exagerando nas compras e estourando o orçamento doméstico em momentos de crises pessoais.
O problema é que, mesmo quando não estamos em crise pessoal alguma, também acaba ocorrendo esse tipo de comportamento. Mesmo quando estamos “bem”, não resistimos à tentação de comprar uma coisinha na promoção, aproveitar o “pague 3, leve 4”, mesmo você precisando de apenas 1, e assim por diante. E isso apesar de falarmos para nós mesmos que a educação financeira é importante, que valorizamos o nosso dinheiro, que queremos alcançar a independência financeira desde logo…
Mas por quê isso ocorre? Há solução para isso?
A resposta é sim, há solução. E, para que isso ocorra, precisamos analisar que tipo de motivação guia nossas atitudes: se é uma motivação oportunista ou guiada por um valor.
De acordo com Loehr e Schwartz (p. 177),
“É muito comum nossa motivação para um determinado comportamento ser oportunista e não motivada por um valor. Fazemos aquilo que nos faz sentir bem no momento, que preenche uma lacuna ou diminui a nossa dor”.
E não é exatamente isso que ocorre quando estamos com fome e nos vemos diante de um pedaço de torta de chocolate? Ou quando acabamos de receber nosso salário e nos deparamos diante de uma vitrine com aquela camisa pólo em promoção?
A tentação de gastar com coisas desnecessárias é muito grande. E, para vencer a tentação, devemos eliminar, tanto quanto possível, as atitudes oportunistas de nossas vidas.
Aí você pode me dizer: “mas é claro que consigo me controlar. Já gasto menos do que ganho, sou motivado por valores, e, se você me disser agora para não comprar doces no mercado durante esse mês, eu não o farei”.
Ok. Dizer que vai agir de acordo com seus valores quando está diante da tela do computador, do smartphone, ou do notebook é muito fácil. Outra coisa é dizer que vai agir assim quando você está há 6 horas de estômago vazio, e passa diante de uma padaria e diz pra si mesmo: “vou abrir uma exceção” (e o Guilherme nem vai saber disso, hahaha). Isso ocorre porque o comportamento motivado por um valor só é verdadeiramente testado quando estamos diante de situações que nos exijam sacrifícios e renúncias à gratificação instantânea.
Em outros termos: é muito cômodo dizer que você age em consonância com seus propósitos quando está numa situação de conforto. O grande teste ocorre quando você se depara com situações de pressão que exige sacrifício e dizer “não” ao prazer imediato. É nesse momento que conseguimos avaliar se de fato temos um valor, ou se apenas dizemos que temos um valor que rege nossas vidas.
A importância de seus gastos estarem conectados com seus valores mais profundos
Aonde eu quero chegar?
Simples. Você precisa descobrir o que te motiva em sua vida. Você considera o dinheiro um fim em si mesmo ou um meio para alcançar liberdade financeira? Você compra um automóvel porque precisa dele para trabalhar ou o compra apenas para impressionar os outros? Você assina o jornal porque é importante se manter informado ou apenas para ganhar milhas? Você precisa descobrir quais os valores que norteiam suas compras, e mais, se aquilo que você compra tem conexão com seus valores, ou tem conexão com coisa alguma, ou seja, com nada.
Pois aqui está a chave para ter sucesso nos gastos: verifique se aquilo que você gasta tem conexão com algum valor importante para sua vida. Tudo o que você gasta pode ser eliminado. Se não pode, é porque está conectado a algum valor mais fundamental que você considere importante para sua vida.
Você gasta com seguros. Mas é porque você considera importante e necessário ter esse tipo de proteção para você e sua família. Você gasta com aluguel. Mas é porque você acha melhor alugar e investir o dinheiro que resta numa aplicação financeira, consideradas suas circunstâncias de vida atuais. Você gasta com TV por assinatura. Mas é porque você prioriza o lazer com alguns programas que só a TV paga oferece. Você gasta com livros. Mas é porque você acha importante gastar parcela de seu tempo com cultura que promova entretenimento e crescimento pessoal.
Ou não?
Você gasta com um seguro de vida mas é estudante, não trabalha, não tem dependentes. Qual é o valor que está por trás desse gasto? Aliás, por quê contratou o seguro? Só para agradar o gerente de banco que precisava cumprir a meta? Você gasta com aluguel, mas decidiu fixar residência na mesma cidade durante toda a sua vida profissional e por comodidade de não ter que se endividar com um financiamento. Você gasta com TV por assinatura mas não pára em casa nas folgas nem assiste nem gosta do que tem na TV por assinatura. Você gasta com livros mas os deixa intactos na estante, e só os comprou porque alguém indicou ou porque achou bonita a capa, ou porque foi ao shopping e precisava comprar algo pro passeio ter valido a pena.
É por isso que é importante colocar no papel os seus gastos, fazer um registro de todas as suas compras. Você precisa não só controlar seus gastos, mas também descobrir os valores que regem sua vida, a fim de concluir se os gastos são motivados por seus valores ou por situações “de momento”.
Como dizem os autores do livro acima citado (p. 175-176):
“Para ter sentido, um valor precisa influenciar as escolhas que fazemos em nossa vida diária. Professar um conjunto de crenças e viver sob a égide de outras não é apenas hipocrisia, mas também evidência de desajuste”.
Se você acha que viver livre de dívidas é importante, mas parcela no cartão a compra de todas as suas compras de mercado, roupas e eletrodomésticos, é porque viver livre de dívidas não é um valor importante para você. Porque, se fosse, você não teria tido esse comportamento oportunista de parcelar no cartão.
Pense sobre isso.
Viver livre de dívidas passa a ser um valor real em sua vida a partir do momento em que você se compromete a não parcelar sua próxima compra. Os valores exigem comprometimento, comprometimento com um padrão superior de administrar nosso dinheiro.
Sei que é difícil parcelar sua próxima compra no mercado quando você já tem tantas dívidas pra saldar nesse mês, e se pagar à vista pode efetivamente diminuir bastante o saldo de sua conta-corrente. Mas é preciso mudar, se você quiser melhorar.
A mudança exige sacrifício, ela exige ação. E mais, ela requer conexão com o propósito de passar a viver não guiado por atitudes oportunistas, mas sim com a intenção de viver uma vida com mais sentido, ou seja, com mais valores, e menos desajustes entre o que se faz e o que deve ser feito.
Que suas compras sejam motivadas não por atitudes oportunistas, que têm efeito apenas paliativo e não resolvem coisa alguma, mas sim por valores reais, cujos efeitos benéficos são duradouros no tempo e significativos nos resultados. 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Pois é colega Guilherme acho que esses dias fiz uma compra baseada num comportamento oportunista. Não quis acreditar muito porque sou um cara que pesquisa bastante antes de fechar uma compra, e afinal sou um leitor do blog Valores Reais, ora pois.
Essa frase do seu texto explica direitinho o que aconteceu: “Ok. Dizer que vai agir de acordo com seus valores quando está diante da tela do computador, do smartphone, ou do notebook é muito fácil.”
Aconteceu que semana passada estava terminando de ler o livro do Paulo Portinho (O Mercado de ações em 25 episódios) quando reparei que não havia mais nenhum livro sobre o mercado financeiro para ler. Aproveitei o fato de ter que passar perto da livraria saraiva e dar um pulo lá para comprar mais livros.
Na loja fiquei pensando se realmente estava precisando dos livros e se não iria fazer uma compra por impulso. Outra alternativa seria comprar os livros pela internet e esperar 1 semana para receber os livros, e torcer para não receber o produto errado como já me aconteceu. Pensei vou comprar 2 livros no cartão de crédito, assim ganho pontos no programa de relacionamento do banco e ganho pontos no cartão saraiva plus, começo a utilizar o produto agora e vou pagar só mês que vem. Estou fazendo a coisa certa, vou utilizar o que aprendi lendo o blog Valores Reais, sou um cara “esperto”, pensei eu. E se por acaso fizer um mau negócio, o Guilherme nem vai ficar sabendo de nada mesmo, caso contrário o cara vai me mandar ler o blog inteiro desde o início haha.
Pois bem comprei o livro Sobreviva na Bolsa de Valores (R$ 55,90) do Bastter e Formação de Investidores (R$ 46,90) do Rodrigo Puga, total de R$ 102,80. Depois da compra até chegar em casa não parei de ficar pensando no assunto, cheguei em casa fui direto na net pesquisar no site buscape os valores e vi que naquele dia na Americanas o livro Sobreviva na Bolsa de Valores tava por R$ 39,90 e o Formação de Investidores por 29,90, totalizando R$ 69,80. Quer dizer, deixei de economizar R$ 33,00 (R$ 102,80 – R$ 69,80) por não ser capaz de esperar 1 semana pelos livros. Além disso, descobri que ainda tinha uns 4 livros não relacionados a área financeira aqui em casa para ler. Me arrependi da compra pois poderia utilizar este tempo para ler algum destes livros ou até revisar alguns livros que já li.
Na frente da tela do micro é uma coisa, agora a situação é outra quando se está diante do produto que você quer comprar. Espero não dar mais nenhum vexame para o blog Valores Reais hehehe.
Abcs
Hehehe, Willy, muito bacana sua experiência!
Agora vc pode ver a questão sob outra perspectiva. Lembro-me de q vc havia falado, tempos atrás, em uma compra pela Internet em que uma loja havia entregado os produtos errados, salvo engano era a Submarino. Pensando sob outro ponto-de-vista, esses R$ 33,00 a mais serviram para comprar outra mercadoria: o tempo. Vc comprou 1 semana, q seria o tempo de espera pelos livros, caso os comprasse pela Internet. Só que o preço do tempo poderia ser mais barato….rsrsrsrs….mas tudo bem, acredito que são livros muito interessantes.
Às vezes, qdo se está diante de uma livraria física, vale a pena comprar os livros na hora, *desde* que o preço cobrado não seja muito caro. O que eu costumo fazer nesses casos é levar meu smartphone, com acesso à Internet, junto comigo, e, assim que me deparar com o livro que gostaria de comprar, saco o smart e faço uma pesquisa de preços no Bondfaro ou Buscapé.
Compras por impulso acontecem mesmo, somos seres humanos, afinal de contas. O segredo é saber dosar nossos impulsos consumistas. Suas reflexões são importantes e acredito que, como fiel leitor do blog Valores Reais, irá reagir de forma diferente no futuro próximo…..heheheh
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Tens razão, no final das contas, acabei comprando tempo, e comecei a ler o Sobreviva na bolsa de Valores e estou gostando bastante.
E quanto aquele problema que tive com o Submarino quando fiz uma compra há 3 meses pela internet ainda não foi resolvido.
Vou me programar melhor para comprar livros em conta com antecedência, e como você falou, dosar melhor os impulsos consumistas.
Grande abraço!
Oi Guilherme, oi Willy,
Willy, ri muito lendo seu comentário. Adorei sua experiência, é sempre bom poder aprender com a experiência dos outros.
Agora você tem 6 livros para ler. Eu estou com 3 livros que ainda nem mexi, mas até o final do ano lerei todos eles.
Abraço!
Bom domingo gente.
É isso aí, Willy, bola pra frente! 🙂
Jônatas, por falar nisso, eu tb estou com alguns livros pra ler. Estou tentando estabelecer uma regra de só comprar novos livros qdo terminar a leitura dos anteriores, mas eu….er…… eu tb tenho meus impulsos consumistas de vez em qdo……….rsrsrsrs
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!