Por que é tão difícil economizar dinheiro para investir? Por quê existe uma dificuldade tão grande das pessoas que, ao invés de fazerem sobrar salário no final do mês, acabam fazendo sobrar mês no final do salário? Em outros termos, por quê consumir a grana que entra na conta (aquele azulzinho bonito que aparece na conta-corrente) atrai mais do que aplicá-la numa poupança, num CDB, num fundo de ações?
Eis a resposta: porque isso nos causa incômodo. Tira-nos do conforto que representa a troca de dinheiro por bens e nos coloca na área de desconforto que é causado pelo aparente sacrifício de não consumir. Em outros termos, o fator limitador, na hora de construir patrimônio que nos proporcione independência financeira, é que muitos de nós desistimos ao menor sinal de desconforto. É por isso que muitas pessoas têm dificuldade em poupar e economizar parte do salário e direcioná-lo para investimentos que lhes dê uma vida financeira mais saudável: porque isso significa sacrifício e renúncia a atos de consumo que resultariam em prazer imediato.
Uma pessoa com um histórico de consumo desenfreado ou acima da capacidade orçamentária do salário encontra muitas dificuldades em iniciar um plano de investimentos, desistindo muitas vezes em função do desconforto que o ato de não consumir proporciona. É um tipo de renúncia que causa dor imediata, e queremos a todo custo evitar a dor. É como tomar uma vacina: as crianças têm medo da vacina porque elas não têm consciência dos benefícios duradouros de sua aplicação.
Qual é a saída?
É mudar a relação com o dinheiro. É se conscientizar de que o dinheiro que se gasta hoje com coisas desnecessárias irá fazer falta amanhã para gastar com coisas necessárias. Você está nessa situação? Tem dificuldade em poupar e investir? Pois saiba que, antes de mudar o que se passa na sua ida ao shopping, a você precisa mudar o que se passa em sua cabeça.
Vai haver desconforto? É claro que vai. Mas você precisa internalizar em sua mente que o desconforto é uma condição necessária para que haja uma transformação em sua mente na forma de lidar com o dinheiro.
Vai causar estresse? Sem dúvida. Mas esse é um tipo de estresse positivo, porque, ao provocar desconforto, ele tem o potencial suficiente para expandir a sua força de vontade. Por exemplo, deixando de comprar uma roupa desnecessária na próxima ida ao shopping, você colocará na sua cabeça que isso foi uma vitória, e, na ida seguinte ao shopping, terá mais motivação ainda ao resistir aos impulsos de comprar novamente outra roupa desnecessária, reforçando ainda mais seu “músculo financeiro”.
É claro que esse estresse todo tem que ser seguido da necessária recuperação. E o que é recuperação? É celebrar essas conquistas do dia-a-dia, ou do mês-a-mês. É dar ao dinheiro a utilidade prática almejada. É se permitir, inclusive, pequenos luxos, afinal, “ninguém é de ferro”, não é mesmo? Pois se você conseguiu economizar uns R$ 200 em roupas que antes comprava sem parar, é porque estão lhe sobrando agora R$ 200 a mais na conta. Então é justo se dar um “pequeno luxo” e comprar uma roupa de, digamos, R$ 50, na liquidação, como prêmio pelo esforço de não consumir coisas desnecessárias.
Mais algumas dicas para começar a investir
Outra dica que considero muito boa – e que mudou positivamente a minha própria vida financeira – é estabelecer um registro de gastos domésticos. Pode ser uma planilha Excel, um smartphone, ou um caderno: não importa a ferramenta, importa o objetivo. Mantenha os seus gastos sob controle, a fim de você verificar para onde está indo seu dinheiro. Isso lhe permitirá não só visualizar os gastos que estão sendo feitos de modo desnecessário, como também lhe permitirá visualizar, com a clareza necessária, as despesas fixas que você pode muito bem transformar em despesas variáveis – por exemplo, pode ser melhor e mais barato alugar filmes na locadora do que assinar um pacote pós-pago de canais de filmes na TV por assinatura, ou mesmo fazer um downgrade na mensalidade de sua TV por assinatura, trocando um pacote mais caro por um mais barato, mas com os mesmos canais essenciais que você costuma assistir.
Outra medida muito útil é estabelecer rituais positivos para o ato de investir. Ele deve se tornar um hábito no qual você não precise pensar muito – até porque, se pensar, pode não querer fazer ou até mesmo se esquecer de fazer. Por exemplo, você pensa se vai ou não escovar os dentes antes de dormir? É evidente que não. Isso porque você já sabe dos benefícios da higiene bucal, e de seu elevado valor para a saúde. O mesmo raciocínio se aplica para a “higiene financeira”. Uma medida muito útil é aplicar o dinheiro do salário automaticamente numa conta-poupança, conforme expliquei nesse meu primeiro post de dica financeira do blog, quase há um ano atrás. Outra dica é usar os serviços de investimento automático que muitos bancos oferecem. Por exemplo: investir automaticamente R$ 500 em CDB todos os meses. O home banking oferece essa possibilidade: dá pra escolher o tipo de investimento, o valor a ser debitado automaticamente todos os meses, e o prazo da aplicação.
O nosso estimado amigo (fictício) Arnaldo, da Vale, fazia uso de um ritual positivo: seja em época de bonança, seja em época de crise, lá ia ele todo mês aplicar seus R$ 400 em ações da Vale. Ele não pensava se todo mês aplicava ou não dinheiro: ao invés de pensar, ele colocava o pensamento em ação. E isso fez toda a diferença em seu patrimônio, como pudemos constatar ao fazer uma atualização patrimonial de seu investimento recentemente.
Enfim, quando o assunto for sua independência financeira, não faça escolhas pensando somente como se o futuro não existisse, negligenciando o amanhã em prol do hoje. Pois, como bem diz meu amigo Conrado Navarro, do blog Dinheirama, sobre o futuro temos apenas duas verdades. Ele é incerto. E ele chega. E uma das melhores formas de se lidar com o futuro é se preparar financeiramente, pois o real que se gasta hoje pode fazer falta amanhã.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Gosto muito de receber e-mails de vcs.Gosto muito de ficar informada sobre finanças. Apliquei(pouco) em Letras do Tesouro Nacional(Tesouro direto). Gostaria que sempre informassem sobre essas aplicações.Obr.
Obrigado, Luiza!
Muito bom seu artigo, principalmente por vivermos em uma sociedade tão consumista e àvida pelas “necessidades” criadas pelo marketing agressivo atual.
“O dinheiro que se gasta hoje com coisas desnecessárias irá fazer falta amanhã para gastar com coisas necessárias.”
Excelente frase! Posso usá-la no meu blog?
Abraços,
Valeu, Rosana!
Pode, claro!!!!
Abç!
Obrigada!
De nada! 🙂