Na contracapa do livro “Investimentos inteligentes”, do Gustavo Cerbasi, é feita uma interessante metáfora do investimento como se fosse um pé de dinheiro, e o investidor, como se fosse um agricultor. Assim, da mesma forma que o agricultor cuida bem de sua plantação a fim de ter uma boa e farta colheita, o investidor também deve se cercar de cuidados, vale dizer, ser zeloso, para que seus investimentos cresçam, frutifiquem e possam ser colhidos numa boa safra, servindo aos propósitos não-financeiros do plantador.
As ações se encaixam com perfeição nessa metáfora, pois elas produzem tanto ganho de renda quanto ganho de capital, isto é, é possível ganhar dinheiro tanto com o recebimento dos frutos – lucros distribuídos na forma de dividendos e juros sobre capital próprio – quanto com a valorização, vendendo-as e embolsando a diferença entre o valor da venda e o valor da compra.
Em outros termos, quando você compra, digamos, um lote de 100 ações de uma empresa qualquer, vamos exemplificar, com o Banco Itaú, é como se você comprasse 100 árvores (ou sementes que viram árvores) do banco. Cada árvore tem a possibilidade, se a empresa for boa, de crescer e se valorizar no mercado, se tornando vistosa e grande. Caso isso ocorra, evidentemente, o preço da árvore também crescerá, abrindo a você a oportunidade de vendê-las com lucro. Mas também existe o outro lado da equação, que são os frutos. Por cada ação da qual você é titular, ou seja, por cada árvore registrada em seu nome, são gerados frutos, frutos esses na forma de dividendos e juros sobre capital próprio, que nada mais são do que os lucros da empresa. Uma macieira produz frutos em forma de maçãs, uma laranjeira, laranjas, e um pé de ações, frutos de dinheiro (= lucros).
O bom desses pés de dinheiro chamados de ações é que, quanto melhores forem essas árvores, mais frutos eles gerarão, ou seja, mais dividendos (além do natural crescimento das árvores). Nesse ponto, é importante destacar que o investidor não deve escolher a ação apenas com base em sua capacidade de gerar frutos, mas também na sua perspectiva de crescer e se fortalecer. O crescimento da arvore, assim, se reflete no crescimento das ações. Aliás, sobre os riscos de se montar uma carteira focada exclusivamente em dividendos, recomendo a leitura do excelente artigo do Investimentos e Finanças publicado aqui.
Vamos ao exemplo anterior: as ações preferenciais do Banco Itaú (ITUB4), pagaram, no dia 1º de março desse ano, cerca de R$ 0,49 por cada pé de dinheiro, ou seja, por cada ação titularizada pelo investidor.
O movimento de pagamento de dividendos depende da política de cada empresa: há empresas que pagam dividendos mensalmente, ou seja, todo mês o pé de dinheiro dá frutos ($$$), e há empresas que pagam dividendos a cada semestre, ou a cada trimestre, o que significa que o pé de dinheiro dá frutos em certas “estações” pré-definidas do ano.
É importante, mais uma vez, alertar o leitor que a escolha das ações não deve se basear apenas na quantidade de frutos, mas também na capacidade dos pés de dinheiro de se valorizarem. Eu diria até que, no momento de acumulação de capital, o mais importante é o pé de dinheiro crescer do que dar frutos, para lucrar na futura venda dos pés de dinheiro, embora um histórico de regular e consistente distribuição de frutos (lucros = dividendos + juros sobre capital próprio) ao longo dos últimos 10 ou 15 anos, seja um critério importantíssimo na hora de escolher uma empresa.
Vale lembrar ainda que a empresa pode parar de gerar frutos, parar de crescer, até diminuir e vir até a morrer, em consequência do apodrecimento de suas raízes. Não há garantia alguma de que empresas que hoje distribuem frutos regularmente venham a continuar mantendo essa política para o futuro. E isso vale inclusive para as denominadas blue chips, já que muitas blue chips do passado hoje já não as são mais – algumas até faliram e não existem mais, como falamos nesse tópico. Nesse ponto, é impossível não mencionar a Telebras, uma blue chip do passado que hoje virou papel puramente especulativo. O problema é que o volume negociado está tão grande ultimamente – por conta dos boatos que rondam sua possível reativação dentro de um projeto de banda larga estatal – que a Mara Luquet comentou, em seu programa na CBN, recentemente, o perigo de ela vir a integrar novamente o Índice Bovespa, o que obrigaria os gestores que comandam fundos passivos ligados ao Índice de comprarem os papéis dessa empresa.
Bom, mas voltando ao tema do tópico: e os fundos de índice, como o PIBB e o BOVA? Os dividendos das empresas que compõe tais índices são reinvestidos no fundo, o que vale dizer que os frutos são usados para comprar mais árvores de PIBB ou de BOVA, fazendo tais pés de dinheiro ficarem cada vez maiores e mais valorizados no mercado.
E, para finalizar, como bem disse o Viver de Renda, nos comentários ao post do Investimentos e Finanças sobre carteira de dividendos:
“O foco, como você bem disse, tem que ser no retorno total, seja ele através de dividendos ou apreciação. Levar em consideração apenas um deles é de uma miopia ímpar.”
Outros pés de dinheiro disponíveis no mercado
Na verdade, muitos outras árvores de dinheiro existem por aí. Os imóveis produzem frutos, que são os aluguéis, e também crescimento de capital, proporcionada pela valorização de seu preço. Como são investimentos que geralmente demandam uma alta quantia em dinheiro, uns pés mais “baratos” (= que demandam menos dinheiro aplicado) de se investir nessa “horta imobiliária”, digamos assim, são os fundos imobiliários, cujas cotas são negociadas em Bolsa, gerando para seus titulares o direito à aquisição dos frutos, que nada mais são do que os rendimentos proporcionados pelos aluguéis dos imóveis gerenciados pelos fundos.
Qualquer que seja o seu pé de dinheiro, cuide bem dele, pois são eles que lhe proporcionarão a construção de um patrimônio capaz de lhe dar conforto e segurança. Quanto mais cuidada for sua plantação de árvores de dinheiro, quanto mais regada for, e melhores forem as qualidades das sementes e técnicas de plantio e de colheita, mais cedo você alcançará a sua independência financeira e melhor será sua capacidade de lidar com as diversas situações na vida em que os frutos e a valorização do dinheiro investido possam ser úteis.
Boa plantação! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
belo texto. Um colega da comunidade “buy and hold” do orkut – se puderem dêem uma visitada lá, pois tem muita coisa interessante – diz que qdo compra um lote de ações compra na verdade escravos que o levarão à independência financeira. Prefiro enxergar as ações como árvores. rsss
valeu
Ôpa, grande Gustavo, interessante a perspectiva do seu colega, eu tb prefiro enxergar as ações como pés de dinheiro….rs! 😆
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Ótimo texto Hotmar!
Grande Abraço!
Grande Henrique, obrigado pelo comentário!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Nossa, ÓTIMO artigo, um dos melhores! Eles deveriam ensinar assim nas escolas se tivesse a matéria de educação financeira. Ou os pais poderiam explicar assim para seus filhos também! Parabéns!!
Hotmar,
Ótimo texto. Vamos plantar com sabedoria para que nossa plantação não morra, devido as “pragas” que eventualmente assolam nosso país.
Abs
Thaís e Investimentos, obrigado! 😀
Aliás, Thaís, há possibilidade de modificar a sistemática de comentários do seu ótimo blog? É que eu não consigo postar comentários por lá. Não tenho a Google Account, e toda vez que tento postar com OpenID do WordPress, dá erro. Como o seu blog fica hospedado no Blogspot, que é o mesmo do Investimentos, e como nesse último blog eu consigo postar, acho que é possível modificar essa opção. 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Hotmar, hoje a mídia está destacando em seus veículos de comunicação a notícia de consumidores comemorando a compra de um novo produto da Apple (IPAD). Sem entrar no mérito do produto, que deve ser muito bom, como os outros produtos que a empresa desenvolve, podemos verificar qual é a mensagem que está sendo transmitida. Pegando carona no nome do seu blog e na sua mensagem acima, a mídia deveria transmitir os verdadeiros valores reais. Quando é que teremos a divulgação de investidores e poupadores comemorando um bom investimento que lhe dará frutos.
Abraços.
Flávio, oportuno o seu comentário.
Nada contra o iPad, como vc bem disse, mas haja grana pra conseguir se manter atualizado com tantas novidades do mercado: iPhone, iPod, iMac, iBook…assim quem vai acabando levando um “ai” é o bolso do cliente – iMeuBolso.
Uma coisa rara na mídia é reportagem falando sobre bons investimentos do passado que geraram frutos. Espero que esse tipo de reportagem comece a ganhar corpo um dia. Quem sabe…
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Muito bom.
Na minha opinião, comparar dividendos/JCP/rendimentos de FII com aluguéis/juros de títulos-renda fixa-poupança é pura falácia. Vamos supor que todos esses ativos paguem 0,80% a.m líquidos de IR. Se eu aplico R$ 1000 em renda fixa, terei R$ 1000 + 8 no final do mês, ao passo que se eu tiver o mesmo valor em FII, terei R$ 992 (valor ex-direito) em custódia + 8 a receber em poucos dias e, no final das contas, os mesmos R$ 1000. Ou seja, enquanto os juros se acumuluam ao principal na renda fixa, os rendimentos representam um SAQUE no patrimônio e não um valor adicional. Logo, o que valoriza a renda fixa, são os juros, e o que valoriza os FII, são as negociaçãos no mercado. Reinvestir rendimentos/JCP/dividendos, reprensenta um depósito de um saque eu fiz, isto aumenta a quantidade de cotas/ações mas não trará valor adicional se a cota não se valorizar.
Cleber
Cleber, muito interessante seu raciocínio, bem como os argumentos utilizados para sustentá-lo. É uma outra perspectiva de se analisar os investimentos!