Marta é uma executiva bem-sucedida de uma multinacional estrangeira. Por conta de sua extensa lista de atividades, Marta, que mora no Rio de Janeiro, faz freqüentes viagens para a cidade de São Paulo, a fim de manter contato com a equipe de vendas, fechar acordos e promover novos produtos. Apesar dessa vida bem agitada, Marta se preocupa muito com o bem-estar de seus dois filhos pequenos, um de 3 e outro de 5 anos. Por isso, os fins de semana são sagrados e inteiramente dedicados a projetos de família. Apesar de saber que a viagem de carro sairia mais barato – afinal, é a empresa que patrocina os custos de transporte pela via terrestre – Marta faz questão de utilizar a ponte aérea. Ela lê regularmente o blog Aquele Passagem, usa as milhas com sabedoria e aproveita as promoções de passagens aéreas. Com isso, ganha muito mais tempo para ficar com a família, apesar de pagar mais viajando de avião do que de carro.
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Eduardo é um jovem empreendedor que aceitou a missão de sair de Florianópolis, sua cidade natal, para trabalhar em Belo Horizonte, onde desenvolve um projeto de sistemas industriais em uma grande empresa do ramo. Motivado pelas perspectivas de crescimento na carreira, dentro da empresa em que atualmente desenvolve suas atividades, Eduardo, que, no começo de sua jornada em Minas Gerais, estava morando em um hotel, decide alugar um apartamento. Como as atividades na fábrica exigem uma grande concentração de esforços e de tempo, Eduardo resolve contratar uma emprega doméstica, a quem delega todas as funções inerentes aos cuidados domésticos. Sairia mais barato, sem dúvida, ele próprio fazer as rotinas do lar, porém, devido às boas perspectivas da atividade que ele exerce, a qual desenvolve com verdadeira paixão, ele prefere gastar um pouco mais de dinheiro em troca de chegar em casa e já ter tudo pronto e arrumado.
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Ambas as histórias, embora fictícias, trazem em seu bojo uma lição verdadeira acerca do que o dinheiro compra, e o que ele é, afinal de contas. Aqui está o primeiro segredo: o dinheiro compra tempo. Com ele, Marta consegue gerenciar melhor suas atividades a fim de chegar em casa mais cedo, e desfrutar de tempo de qualidade com seus filhos. Eduardo, por sua vez, com o dinheiro gasto com a empregada, economiza tempo na arrumação de seu apartamento, e preparo da comida: tudo é feito pela sua competente empregada doméstica.
Se você mora em prédio, provavelmente deve ter um elevador ou dois. Os custos de construção e manutenção do elevador foram incorporados na construção do empreendimento, repassados aos compradores dos imóveis, e certamente também estão precificados na taxa mensal de condomínio. O elevador é uma comodidade, e você pagou por ela, em troca de um serviço que é bem claro: possibilitar que você chegue até o andar onde se localiza seu apartamento de uma forma mais rápida.
O raciocínio aqui empregado é que justifica o seu trabalho no emprego atual: uma vez que o emprego retira o seu valor intrínseco do fato de ser pago, o dinheiro que você ganha por trabalhar permitirá a você usufruir de uma série de benefícios que lhe pouparão tempo, trazendo-lhe não só a comodidade daí resultante, mas também uma série de outras vantagens que agregarão utilidade e facilidade à sua vida. Pense no carro que você comprou: o dinheiro utilizado para adquiri-lo faz você ter muito mais tempo para ir ao cinema, visitar parentes, sair com amigos etc. Da mesma forma, ir ao trabalho de ônibus ou metrô ao invés de ir a pé representa a opção que você fez de utilizar o dinheiro de uma forma que não se desgaste tanto fisicamente. Mais alguns exemplos do tempo que o dinheiro compra: pagar pelo Sedex ao invés da encomenda normal, para fazer o produto chegar mais cedo em casa; utilizar o serviço, em rodovias pedagiadas e estacionamentos pagos, que permite passar direto pelos pedágios e estacionamentos conveniados, pagando apenas no fim do mês, comprar um computador mais veloz para você realizar com mais produtividade as tarefas do seu dia-a-dia, e assim por diante.
Ampliando o raciocínio para o campo da independência financeira: o desejo das pessoas de se aposentarem o quanto antes nada mais representa do que a vontade sincera de terem tranquilidade financeira para usufruir do máximo de tempo de vida possível para fazer outras coisas, além do emprego remunerado. Em outros termos, o seu investimento em busca da independência financeira fará com que você se aposente mais cedo e, por via de consequência, tenha mais tempo para usufruir em uma aposentadoria antecipada. Te interessa? 😀
Se o dinheiro compra tempo, e se tempo é um bem tão precioso para nós, o que é o dinheiro, afinal de contas?
Voltemos para os casos dos nossos amigos Marta e Eduardo. Para Marta, ter dinheiro representa a tranquilidade de poder passar tempo de qualidade com seus filhos, mais disposta (em virtude do menos cansaço das viagens de avião, que também são mais rápidas), e com mais vitalidade, portanto. O dinheiro traz a proteção necessária para conseguir valorizar os bons momentos em família. No caso de Eduardo, o dinheiro que paga a empregada faz ele receber em troca tranquilidade e conforto para se concentrar no desenvolvimento de seus projetos profissionais. Ele sabe que não se preocupará com problemas típicos “de casa”, já que todos foram resolvidos mediante a atividade remunerada de sua empregada. O dinheiro constrói, assim, uma rede de proteção para que ele possa ter segurança e focar em seus projetos profissionais.
Veja que, em ambos os casos, o dinheiro foi uma ferramenta, um meio, para que cada um tivesse aprimorado o alcance das metas e realização de sonhos de suas respectivas vidas. Daí, a segunda conclusão importante: o dinheiro nada mais é do que uma ferramenta para melhorar a qualidade de sua vida. O dinheiro constrói a proteção dentro da qual as pessoas podem valorizar e mesmo curtir os bons momentos em que optam por gastar seu tempo.
Dimensionar corretamente o conceito e a finalidade do dinheiro lhe abrirá novas perspectivas sobre seu próprio trabalho. Considerando que o dinheiro é apenas uma ferramenta que visa a uma finalidade maior, e partindo da premissa de que você alcançará a independência financeira antes mesmo do que você imagina, se adotar um estilo de vida financeiramente saudável – onde todos os aspectos de sua vida são igualmente importantes para o alcance da independência financeira – você chegará à conclusão de que vale a pena trabalhar para ganhar mais dinheiro agora. Por quê? Ora, porque, trabalhando para ganhar mais dinheiro agora significará não ter que trabalhar para mais ganhar dinheiro depois.
Há muitas pessoas que se preocupam tão-somente em acumular dinheiro – o meio, a ferramenta – e vivem em função disso, que se esquecem completamente de acumular outros valores, se esquecendo, portanto, de viver em função de suas paixões, sua família, seus relacionamentos, seus sonhos, sua saúde. É fato que o dinheiro em si é inútil, e só passa a adquirir algum sentido na medida em que passa a ser usado – ou potencialmente usado – por alguma coisa em troca.
Que você tenha sabedoria e inteligência no uso correto dessa ferramenta, e que faça dela uma boa ferramenta para incrementar e alavancar a sua qualidade de vida.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Show! Parabéns pelo belíssimo post!
Muito bom o post!
Infelizmente hoje em dia são poucos os que sabem ver realmente o que significa o dinheiro…assim como aqueles que conseguem fazer um uso sensato dele..
Lucas e Curitibatrades, obrigado! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Muito bom seus exemplos. Permite complementar sua conclusão? Não busquem o poupar somente pelo poupar. Dê um significado ao seu dinheiro pois “Mais importante do que aquilo que você obtém quando atinge um objetivo é aquilo em que você se torna”. obs: ainda não descobri o autor dessa frase, se alguém souber me fale, rs.
Abraços,
guilhermeazevedo.com.br/
Também não sei quem é o autor dessa frase, mas vi um vídeo de uma palestra do Jim Rohn no YouTube em que ele fala exatamente disso. (Dentre várias outras coisas, é claro. É uma palestra longa.)
Excelentes complemento e frase, Guilherme!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Maravilhoso esse post! Eu nunca consegui entender essa gente que só fica atrás do dinheiro pelo dinheiro e não aproveita quase nada que ele poderia proporcionar…
Estou com o Guilherme Azevedo, poupar tem que ter um sentido claro na sua vida, e não simplesmente acúmulo de papel.
Parabéns pelo post.
Obrigado pelas palavras, Ana!
Concordo MUITO com isso e até vou um pouco além, fugindo um pouco do tópico. Vejo muitas pessoas perguntando “como faço pra ganhar dinheiro”, sendo que o foco deveria ser “como faço algo de utilidade pras pessoas”.
Assim como vc diz com muita propriedade que o dinheiro é apenas uma ferramenta, ele também é uma mera consequência de fazer algo útil (e bem feito).
Quanto mais a gente colocar o foco nas coisas certas, melhor nossa qualidade de vida. Abraço, Guilherme!
Olá Seiiti Arata,
É uma satisfação vê-lo postar por aqui, considero o seu projeto, assim como o Valores Reais, excelentes sites.
De fato, o dinheiro acaba por se tornar, na grande maioria das vezes, apenas uma outra face de algo realmente de valor, útil para a sociedade.
Como fazer algo útil para as pessoas similar à “Ganhar dinheiro”
Como fazer algo útil para nós mesmos similar à “Gastar dinheiro”
Em ambas combinações, a face utilitária (e não a financeira) possui um papel um pouco mais preponderante. O financeiro é sempre a consequência.
Abraços, Renato C
Olá pessoal, concordo com o Renato C, é um grande prazer e um privilégio receber comentários do Seiiti aqui no blog, sempre pertinentes e enriquecendo os debates!
Disseram tudo, dinheiro deve ser consequência, e não o foco principal!
Guilherme,
Muito interessante a visão de que o dinheiro não só compra coisas, experiências, e neste caso “tempo”. Muito bacana, essa visão! 🙂
E isso lembrou-me de um raríssimo conto de ficção científica do Lee Falk (criador do Fantasma e do Mandrake) escrito originalmente para a revista Playboy (americana) no ano de 1975. No ano seguinte foi publicado em uma revista masculina brasileira quando o li pela primeira vez. Depois de muita procura, achei o podcast desse conto e que segue abaixo. É um conto com tonalidade fantástica, “weird”, e ao mesmo tempo um tanto assustador de como seria a moeda de transação em um futuro não determinado. Não vou entrar em detalhes mas somente dizer que tem a ver com que falei no primeiro parágrafo: Troca de tempo por tempo. Espero que goste. 🙂
Grande abraço!
http://podespecular.com.br/podcast/archives/date/2010/06
PS.: Pode achá-lo escrito, no original, no sítio abaixo.
http://tinyurl.com/oatvnbe
Olá Carlos, vou assistir ao podcast! Obrigado pela dica! 🙂
Além dos benefícios em termos de tempo e qualidade de vida que você expõe muito bem nesse texto, também é interessante ter em mente que os outros valores que você aborda são importantíssimos pra se reguardar das consequências indesejáveis de se ter muito dinheiro.
Talvez seja um grande clichê, mas não deixa de ser sedutora a ideia de que a melhor parte de ter dinheiro é basicamente a de não se preocupar com isso. Embora não esteja nem de longe nesse nível, não deixo de ter em mente isso que o Nassim Taleb chama de “fuck you money”.
obs.: espero que ter escrito um palavrão não seja demasiado ofensivo pra vc, levando em conta a sua religiosidade. de qualquer forma, vou entender perfeitamente caso você decida não publicar esse comentário por causa disso.