Loja de roupas. Você vai determinado(a) a comprar uma camisa social que está em liquidação por R$ 50. Faz a habitual negociação com o vendedor, chama o gerente, e consegue fechar um preço final em R$ 40. Aí, ao invés de se dirigir para a boca do caixa, para finalizar a compra, o vendedor te insiste em levá-lo(a) para o departamento de meias, perguntando se você não quer aproveitar também a promoção das meias, que são as últimas peças à venda, e aquela conversa toda de vendedor. Com duas palavras, você pode dar fim ao papo.
Restaurante. Você leva toda sua família para jantar, escolhem um bom prato, com preço atraente, bem como as bebidas para acompanhar. A comida vem, em quantidade substanciosa, e todos se deliciam com a acertada escolha para a refeição. Já na hora de pedir a conta, antes de o garçom se dirigir ao caixa para pegar a nota fiscal, ele lhe pergunta se vocês não desejam aproveitar a “ótima” seleção de sobremesas disponíveis. Duas palavras, e você economiza tempo e dinheiro.
Banco. Você conversa com seu gerente, solicitando a retirada de dinheiro dos CDBs que pagam míseros 77% do CDI, a fim de investir tais quantias em títulos do Tesouro Direto. O gerente tenta lhe convencer em manter a aplicação no investimento do banco, mas você – pessoa informada que é – apresenta poderosos argumentos em favor do investimento em títulos públicos. Sabendo que não haverá jeito, o gerente tenta uma última cartada: lhe oferece um fundo DI com taxa de administração de (absurdos) 1,5% a.a. E, com duas palavras, você encerra essa conversa mole.
Seja na escolha de produtos de consumo, seja para fugir de más alternativas de investimentos, a lição é muito simples: você precisa aprender a “dizer não, obrigado”. É uma frase que pode parecer chata para seu interlocutor, seja ele o vendedor da loja, o garçom do restaurante, ou o seu gerente de banco, mas ela precisa ser pronunciada para evitar que seu dinheiro seja mal utilizado em itens de consumo que você não planejou comprar, ou opções de investimento que não trarão retorno significativo para você. Lembre-se de que o real tem que valer mais na sua mão do que na mão do vendedor, portanto, não se deixe seduzir por aspectos emocionais na hora de lidar com seu dinheiro, como ocorre quando você tem os seguintes pensamentos: “mas o vendedor é tão educado”, ou “o gerente sempre liga para mim”.
O tratamento é sim um aspecto a ser valorizado nas relações comerciais, porém, ele não deve conduzir suas escolhas de consumo. Aquilo que você compra deve ser guiado por aquilo que você necessita, aquilo que você quer fazer, e não por aquilo que nada tem a ver com o produto em si considerado. Observe que o fato de o gerente ser persuasivo e sempre lhe dar um atendimento correto não tem nada a ver com o fundo de investimento que cobra 1,5% a.a de taxa de administração. Você não deve comprar algo só para agradar a quem te vende: você deve comprar algo para agradar a si mesmo em primeiro lugar. Se o vendedor não ficar contente ao ver recusada sua intenção de comprar o produto, paciência (para ele, claro).
Mas por que ficamos tão propensos a comprar alguma coisa que nos é oferecida de surpresa, ainda mais se o vendedor é simpático?
Porque muitas vezes fatores emocionais interferem no nosso ato de comprar. E aqui é que está o grande erro, pois quando a emoção supera a razão que aumentam as probabilidades de se fazer uma compra errada. Para corrigir essa postura, a dica é: a decisão sobre o que comprar deve anteceder ao ato de comprar. Daí a importância de se fazer lista de compras antes de ir para o supermercado, daí a importância de selecionar investimentos antes de ir para o banco, e assim por diante.
Seja chato com o seu dinheiro. Você se esforçou para obtê-lo, trabalhou várias horas para ter o direito de tê-lo caindo em sua conta, planejou o que iria fazer com ele. Enfim, ele custou caro para entrar em sua vida. Logo, é justo que você seja criterioso na hora de decidir para onde ele vai. Se ele custou caro para entrar em seu bolso, também cobre caro para fazê-lo sair. Portanto, nesse mundo cheio de oportunistas e armadilhas que pipocam a cada esquina, treine bem essa frase, uma frase que é um presente para você, são apenas duas palavras, mas que te farão economizar muitos e muitos reais: “não, obrigado”.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Caro Hotmar:
Como sempre, estimo absolutamente pertinentes as suas palavras, nessa sua recomendação de considerar bem antes de comprar qualquer coisa, e recusar categoricamente as ofertas de última hora.
Ah, se esse exame de consciência que V. nos sugere, previamente ao ato de comprar, fizesse parte da nossa rotina, quantos dissabores evitaríamos, de quantos gastos extraordinários nos livraríamos?!
Quantas vezes, ao chegarmos em casa, percebemos que uma compra efetuada, principalmente aquela que veio atrelada a outra (compra casada?), foi motivada por impulso imediatista e não pela real necessidade?
Uma curiosidade etimológica: a palavra «considerar» vem da expressão latina «cum sidera», sendo «sidera» procedente de «sidus, eris», que quer dizer astro, estrela. A ideia existente no verbo «considerar» é justamente a de refletir, ponderar. Para os latinos, «considerar um fato» é o exercício de descobrir a posição e a significação que ele tem em relação ao universo inteiro. Outra interpretação dessa expressão «cum sidera», mais prosaica, seria a de ir dormir com uma ideia, para ter tempo de refletir sobre ela durante a noite (daí, a referência aos astros, estrelas). Se essa intenção (duma compra, por exemplo) perdurar até o dia seguinte, ela pode ser executada. Senão, descarte-a, sem sofrimento.
Certamente quem faz esse exercício não compra por impulso.
Saudações,
puigllum
puigllum, mais uma vez tecendo ótimos comentários, e adicionando valor ao texto. Obrigado! 😀
A pesquisa da origem das palavras, tão bem trabalhada por V. Sa., nos oferece importantes pontos de reflexão – lembro-me do comentário em outro post sobre a origem da palavra “trabalho”.
As compras por impulso certamente estão entre os principais “vilões” do orçamento doméstico de muitas famílias, e saber controlá-las, com exercícios simples mas muito eficazes como os sugeridos por V. Sa., sem dúvida proporcionarão mecanismos para diminuir os impactos das compras impulsivas no bolso das famílias.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Estas duas palavras eu realmente aprendi a falar… pratico estas palavras com maestria e desenvoltura… hahahahhahahahaha
Guilherme,
Frase, embora gentil, difícil de dizer, não? rsrs Lembrei-me do evento que descrevo abaixo. Você provavelmente vai achar interessante. Assim espero. 🙂
Certa vez, creio que por volta do ano 2.000 , a minha gerente de conta esteve na empresa aonde eu trabalhava e ofereceu-me um crédito de 100 mil reais por “meros” 110 % ao ano. Eu disse a ela: “Muito obrigado pela gentil oferta. Mas façamos o seguinte, como no momento não preciso e tenho disponibilidade financeira, vamos fazer ao contrário? Eu empresto ao banco 200 mil e você me pagam a metade dos juros que estão me querendo cobrar. Que tal? A gerente, uma mocinha de pele bem branca, mudou a cor da face de levemente ruborizada até um vermelho intenso e devolveu-me um sorriso amarelo e palavreado gaguejante. Fiquei (só um pouco) com dó dela. Nunca mais ofertou-me nada. E escrevendo isto agora lembrei-me de uma frase que era muito citada na época do finado Banco Nacional: “Um banco é um estabelecimento que nos empresta um guarda-chuva num dia de sol e nos pede de volta quando começa a chover”.
Grande abraço fraterno, 🙂
Carlos
Grande Carlos, excelente anedota essa! Mostra bem como atuam os gerentes de banco, sempre pensando no bolso do patrão, e não do cliente. 🙂
E essa frase do guarda-chuva mostra bem como é difícil lidar com instituições financeiras……rs 😀
Abç!