Semana passada, buscamos encontrar respostas ou os motivos que fazem com que Warren Buffett, prestes a completar 80 anos, ainda continua em plena atividade – e, ao que parece, no auge de sua atividade.
Descobrimos que, dentre várias explicações possíveis, existem dois motivos básicos: primeiro, ele ama o que faz; e, segundo, ele ainda tem energia para fazer o que gosta.
Esse post apresenta um caso diferente. Trata-se de perquirir as razões pelas quais Peter Lynch se aposentou tão cedo, mesmo tendo um perfil tão parecido com o de Warren Buffett.
Quem é Peter Lynch?
Peter Lynch é considerado um dos maiores investidores de todos os tempos. Ele gerenciou o Fundo Fidelity Magellan de 1977 a 1990, período em que o referido fundo cresceu de US$ 20 milhões para mais de US$ 14 bilhões. Mais revelante que isso: o fundo gerenciado por ele bateu o índice S&P 500 durante 11 dos 13 anos, alcançando um retorno anual de impressionantes 29%.
Ele também é famoso por ter escrito diversos livros, incluindo “One Up On Wall Street” (1989) e “Beating The Street” (1993), considerados essenciais para o bom investidor em Bolsa.
Veja que ele tinha os dois ingredientes básicos que eram a receita de bolo também de Buffett: Peter amava o que fazia, e também tinha muita energia para continuar gerenciando o fundo, dada a precoce idade de sua aposentadoria – 47 anos.
Mas a família…
Embora seu trabalho fosse um sucesso absoluto de desempenho, Lynch descobriu que mal conhecia sua filha de 7 anos. Foi então que decidiu se aposentar, dedicar mais tempo à família, e fazer outras coisas. A revista Time o citou como um dos mais emblemáticos exemplos de pessoas que decidiram sair da corrida dos ratos (“rat race”), em busca de uma vida com mais virtudes.
Tal fato não passou despercebido de Joe Dominguez e Vicki Robin, que, no livro Dinheiro e Vida, destacaram
Peter Lynch sabia que, embora tivesse construído um respeitável patrimônio de ativos tangíveis, como dinheiro proveninente de juros dos investimentos, direitos autorais resultantes da publicação de seus livros de sucesso, proventos de aposentadoria etc., seu patrimônio de ativos intangíveis estava indo pelo ralo, e certamente seria aniquilado por completo se ele continuasse vivendo do jeito que estava fazendo.
Ciclo vital completado, by puigllum
Outra maneira de explicar a precoce – e acertada, ao que parece – aposentadoria de Peter Lynch, nos é fornecida pelo ilustrativo exemplo do leitor puigllum, que, ao comentar o texto escrito sobre Buffett, afirma:
Caro Hotmar:
Durante muito tempo, compartilhei desse princípio que V. apresenta em seu texto sobre o Warren Buffett e suas razões para não se aposentar. Porém, recentemente, uma conhecida fez-me mudar de ideia parcialmente, razão pela qual lhe escrevo estas linhas. Ou seja, a questão maior é aposentar-se duma determinada função ou parar de trabalhar definitivamente, sem exercer nenhuma outra qualquer?
Essa minha conhecida, pessoa ainda na flor da idade, com doutorado em Biologia na Inglaterra, decidiu não mais trabalhar… com pesquisa em Biologia. Quando eu soube disso, perguntei-lhe se ela não gostava do que fazia, e por que chegou tão longe para descobrir isso, sempre baseado naquele princípio de que quem desenvolve uma atividade intelectual não precisa nem de força física para trabalhar, haja vista aquele cientista famoso, Stephen Hawking, que sofre uma doença degenerativa, que dá conferências numa cadeira de rodas e continua a escrever livros, com enorme sucesso de público.
Ela respondeu-me, então, que gostava muitíssimo do que fazia e que, a princípio, pensava que não havia vida além da Biologia. Mas, com o tempo, mudou de ideia. Ela percebeu, não sei se sozinha ou com a ajuda dalgum guru, que o seu ciclo vital com a Biologia havia terminado, que era o momento de ir buscar outra atividade (não sei se seria aquela história de passear num parque, de manhã; abrir uma lojinha de artesanato, à tarde). Então, essa senhora, que considero muito sábia, disse-me que a dignidade não está (somente) em trabalhar tantas horas por dia, durante tantas décadas. É preciso saber ouvir essa voz interior, para, no momento mais adequado, mudar de rumo, sem ter a sensação de perda.
Aparentemente, foi isso que a moveu a abrir a tal lojinha de cerâmica marajoara, da qual ela está muito orgulhosa e insiste que era aquilo que deveria ser feito. Ademais, a nossa amiga, dantes, bióloga notável, seguia trabalhando, com a firmeza de que, mais para adiante, quer ter o privilégio de mudar novamente de ideia e dedicar-se a outra coisa completamente diferente.
saudações,
puigllum
Ou seja, é possível que Peter Lynch tenha se aposentado por ter chegado à conclusão de que seu ciclo no mercado financeiro já havia se completado. Daí, foi buscar outra carreira, a de “pai de família em tempo integral” – nobilíssima carreira, diga-se de passagem.
O emblemático exemplo de Peter Lynch nos fornece uma importante lição: o de que a vida é um todo integrado, e de que vivê-la deve ser o nosso principal objetivo, do qual ganhar dinheiro constitui apenas um meio. Não que W. Buffett esteja invertendo os valores, até porque ele não chegou à conclusão de que sua vida financeira estava prejudicando sua vida familiar, e, além disso, o trabalho é a motivação em sua vida.
O fato é que não devemos esquecer nunca de que construir patrimônio nunca pode ter como efeito colateral destruir relacionamentos. São fatos que não se excluem, mas sim que se complementam: é possível construir patrimônio com construção de relacionamentos. Que na sua vida você seja um mestre-de-obras-duplas: edifique tanto um patrimônio que lhe forneça independência financeira quanto um patrimônio de ativos intangíveis que lhe confira significado aos seus valores e ao seu propósito de vida. 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Hotmar,
Talvez o estilo de investimentos no mercado tenha influído na decisão de Peter Lynch. Li certa vez que ele trabalhava praticamente 24h/dia, 7 ias por semana. Seu estilo de investimento ativo e sempre em busca de small caps promissoras fazia com que ele tivesse que acompanhar centenas de empresas ao mesmo tempo. Já o Buffet é amis adepto de nvestir em empresas maiores e mais consolidadas, investindo grande capital em um número relativamente menor de empresas e mantendo-as por décadas; um estilo ativo mais que da menos trabalho
Investimentos, é verdade, o fato de Peter investir e acompanhar literalmente centenas de empresas fez com que se desgastasse muito mais do que Buffett, a ponto de os custos de um trabalho tão ativo assim não compensarem os benefícios que estava perdendo com o tempo em família.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Muito bom o artigo, Hotmar!
É uma questão que eu acredito que muitas pessoas não tem noção, pois muitas vezes procuram ser agressivas no ramo financeiro, e acabam destruindo relacionamentos humanos, gerando uma insatisfação na consciência própria.
Abraços e parabéns pelo blog !
Valeu, Gui! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Meu perfil é mais para Lynch do que para Buffett… não há nada mais valioso do que o tempo… utilizar o tempo para ganhar dinheiro que você não precisa não faz sentido nenhum (para quem já tem mais do que o suficiente para manter um bom padrão de vida até o fim – infelizmente ainda não é o meu caso)… por outro lado, usar o tempo com as coisas que se gosta de fazer é o ideal… e eu gosto de investir… que coisa esquisita e contraditória… 🙂
Rsrsrs….verdade….. 🙂