Responda rápido: por quê quando você vai ao supermercado, principalmente nos finais de semana, geralmente se depara com pessoas com suas listinhas de compras? Ora, para racionalizar as compras. Elas vêem o que está faltando nos armários da cozinha e das despensas, anotam no papel, no caderno ou no smartphone, e, quando vão ao mercado, economizam tempo (e dinheiro) indo direto ao ponto.
Intuitivamente, elas adotam, ainda que parcialmente, um dos passos da metodologia GTD para adquirir controle, qual seja, o ato de registrar. Elas coletam as informações necessárias para, depois, executarem as ações requeridas. E esse é um dos atos que produz os efeitos mais benéficos, pois, conforme David Allen explora em suas pesquisas, o processo de pensar tem que vir necessariamente antes do processo de fazer. E isso se encaixa perfeitamente no ato de ir ao supermercado: as pessoas que têm listas de compras tendem a controlar melhor os impulsos de consumo porque o ato de comprar já estava previamente registrado e pensado.
E esse é precisamente outro benefício real, direto e imediato ao se fazer uma lista de compras: há um melhor controle das emoções. Ao colocar no papel o que precisa ser levado do mercado, a pessoa racionaliza seu processo de compras. E, ao racionalizar o ato de comprar, ela implicitamente elimina as probabilidades de fazer uma compra guiada pelos sentimentos, pelas emoções. Dominar as emoções é uma das tarefas mais difíceis na arte de consumir, e quem tem uma lista de compras já tem uma enorme vantagem competitiva na corrida para alcançar a independência financeira.
Quando a pessoa anota o que ela precisa comprar, geralmente ela reflete sobre se aquilo é importante ou não. Em outras palavras, existe um processo interno de esclarecimento, antes da tomada de decisão de colocar no papel. Por exemplo, para abastecer a geladeira com o consumo de proteína animal, a pessoa precisa refletir sobre se é melhor levar carne ou frango, e nesse processo sua mente é tomada pela análise de diversos critérios e fatores que são levados em conta na decisão (quase) final de anotar: o que é mais saboroso, o que custa menos, qual é a melhor marca, o que dura mais, o que é menos calórico, o que é mais fácil de preparar e assim por diante. Uma infinidade de fatores são levados em conta antes da decisão final de anotar.
O próprio ato de comprar carrega consigo uma série de sub-atos que levam a uma melhor decisão. A pessoa compara preços, vê o estado de qualidade da fruta, vê na embalagem qual é o prazo de validade, geralmente presta atenção no folhetinho de ofertas, usa uma calculadora, raciocina mentalmente se o preço da pasta de dente está mais barato na farmácia ou no supermercado etc.
Se há vantagens para elaborar uma lista de compras de passivos no mercado da esquina, por quê não elaborar uma lista de compras de ativos no mercado financeiro?
Esse é um dos erros mais comuns que acometem as pessoas quando se trata de gerenciar seus investimentos.
Há pessoas que delegam para o gerente de seu banco o ato de ir ao supermercado financeiro. Dão-lhe carta branca e um “cheque em branco” para comprar literalmente o que quiser. E o gerente, evidentemente, só irá escolher os produtos que são de sua seção do mercado, produtos de sua “marca financeira”, produtos geralmente que embutem pesadas taxas de administração. O que ocorre é o seguinte: a pessoa que usa o cheque especial para pagar a compra do mercado é geralmente a pessoa que paga o título de capitalização no carrinho do supermercado financeiro. A calculadora é usada? Sim. Mas nem é preciso esforço para saber se é comprado o produto mais em conta… As histórias são assustadoras. Já imaginou o gerente do banco comprar 10 pacotes de batata frita para uma pessoa que está de dieta? Pois bem, é o mesmo que o gerente recomendar a compra de um PGBL para uma senhora de 90 anos. Irreal? Pois aconteceu. E isso em banco de segmento Private…
E há outras que já têm mais autonomia, mas vão ao mercado sem lista de compras alguma. E aí que começam os problemas. Ela vê a seção de refrigerantes lotada, onde o refrigerante está sendo disputado a tapas. O curioso é que o preço do refrigerante em questão não é o mais barato de todos, mas sim o mais caro. Pode parecer estranho, mas é exatamente isso que ocorre no mercado de ações: a multidão faz questão de comprar a ação mais cara, e, quanto maior a compra, maior o preço. Maior também o tombo, e pior o consumo. Elementar, meu caro Watson. Já aquele refri meia boca, encostado num canto da parede, com uma faixa bem gritante gritando: “me compra, estou sendo vendido por menos do que valho!”, quase ninguém compra. Ou melhor, só compram aqueles que fizeram suas listas de compras.
As pessoas que não têm listas de compras de ativos sabem que está faltando CDB em casa, mas não pesquisam os percentuais de CDI oferecidos. Por conta disso, escolhem qualquer um. E geralmente não escolhem bem. Não pesquisam! Como é que podem escolher bem?
Quem vai para o mercado financeiro sem uma lista de compras dos ativos que precisa comprar acaba comprando tomado por sentimentos emocionais, sem fundamentos lógicos, e as chances de fazer uma péssima compra são enormes. As chances de fazer um investimento ruim jogam contra, e não a favor, da pessoa que não faz lista prévia de compras de seus ativos.
Tá, mas aí você acha que é só pessoa que não tem instrução é que paga mais caro. Puro engano! Vejam esse trecho de notícia do jornal Valor:
Em simulação, estudantes de faculdades e MBAs, portanto pessoas minimamente esclarecidas, investiram em fundos US$ 10 mil tomando por base os prospectos de diferentes carteiras passivas. Verificou-se que 95% dos entrevistados não optaram pelas taxas menores em condições normais de aplicação. Mesmo quando as taxas são destacadas, como testado em um segundo grupo de estudantes, esse percentual caiu apenas para 85%.
No Brasil, nada mais nada menos que 62% dos que investem em fundos de investimento não têm a mínima idéia de quanto é cobrado a título de taxa de administração! Só querem saber da rentabilidade, mas não dos custos. E os custos de investimentos impactam de forma severa o retorno líquido, ainda mais em se tratando de taxas de administração. Essa “cruzada” da educação financeira tem que abordar necessariamente os custos dos investimentos. É por isso que esse blog faz questão de divulgar o trabalho honesto, sincero e bem feito realizado por alguns dos melhores blogs do Brasil, como é o caso do Dinheirama, Viver de Renda e HC Investimentos: o custo do investimento é importante sim, e deve ser analisado na hora de ir ao supermercado financeiro.
A emoção no trato com o dinheiro deve ser uma coisa controlada, e emoção boa deve ser somente a emoção de receber. Você se lembra quando recebeu o primeiro salário “de verdade”, aquele alto salário que você não estava acostumado a ganhar? Não foi emocionante? Geralmente, isso ocorre quando a gente vai conferir o extrato num caixa eletrônico. Às vezes a gente mal espera o dia de conferir o extrato. Outras vezes ele vem de surpresa, alguns dias antecipadamente.
Construção de patrimônio requer gastos sob controle. Quanto menos emotivas forem suas compras, melhores serão suas chances de ter êxito financeiro. Mas não é só sob o ângulo passivo das compras que lhe tornará bem sucedido financeiramente: as compras de ativos também requerem suas “listas de compras”.
E isso ocorre precisamente porque o ato de “pôr no papel” desencadeia no cérebro uma série de reações químicas que favorecem o pensamento racional, as reflexões, as ponderações, e o estudo de melhores alternativas de qual item comprar. Se isso é verdadeiro para compras no mercado da esquina, é também verdadeiro para compras no mercado. O processo de raciocínio é o mesmo, o que diferencia é apenas a natureza do objeto comprado: em um caso, passivo, em outro, ativo.
A pergunta é: como fazer listas de compras no mercado financeiro? Trabalhando a educação financeira! Leia livros, participe de palestras, freqüente cursos, converse com amigos e especialistas, pesquise, estude, estude e estude. Só assim você se aprimorará também na arte de fazer listas de compras no mercado financeiro, e poderá viver uma vida financeira melhor equilibrada também do lado dos ativos.
Boas compras! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Belo texto Hotmar….parabens…Hotmar,quando vc fala em ter cautela no mercado acionário,cai a ficha amigo, vc nem imagina,, fico imaginando a experiencia que eu e a minha familia tivemos em 2007 ao entrar num clube de investimentos com uma aplicação de 28.000,00 investimos toda nossa economia empolgados com as altas da bolsa naquela época, não usamos a diversificação, não estudamos as boas opcoes do mercado,e ficamos no final de 2008 com o saldo de 13.000,00..hoje esta com 25.000,00 depois da recuperação….ainda estou por enquanto no prejuizo,,rs,,rs,,mas aprendi a lição com vc referente aos cuidados com a Bolsa…
forte abraço parabens pelo blog
Luciano
Olá, Luciano, obrigado pelos comentários! 😀
Realmente a cautela é a melhor amiga quando se trata do mercado de ações. Geralmente aprendemos por meio de tentativa e erro, e isso é absolutamente natural, pois faz parte do processo de aprendizagem.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Caro Hotmar:
Essa sua preciosa recomendação de preparar uma lista de compras, antecipadamente a uma visita a um supermercado, fez-me lembrar dum documentário que vi na televisão alemã, sobre as liquidações, muito comuns na Europa, em janeiro e julho.
Descobri, em tal documentário, que há guias de preparação para esse tipo de evento (que move milhões de pessoas, no chamado «turismo de compras»), com orientação aos consumidores, no sentido de dar-lhes uma “visão racional do ato de comprar”. Inclusive, com um conselho muito interessante: recomenda-se ir às lojas alguns dias antes da data marcada para início da venda-relâmpago – o que geralmente ocorre entre 5 e 7 de janeiro, no primeiro semestre -, para examinar as peças que verdadeiramente interessam, se possível, até prová-las, no caso de compra de roupas, para não se perder, em razão do enorme fluxo de pessoas que ali estariam, durante o período da liquidação. Aquela coisa de dizer «eu vou à loja tal, comprar uma calça marca ‘x’, tamanho 48», sem ter que chegar ali e se perguntar se não poderia ser o 46 ou o 50 o número mais adequado, no meio do tumulto, com vinte pessoas na fila do provador.
Então, o documentário recomendava também a lista de compras, já que no meio dessa confusão, TUDO parece ser interessante, o que se constata que não é verdade, ao chegar em casa… ou quando vem a fatura do cartão de crédito.
Saudações,
puigllum
puig, excelente comentário! 😀
De fato, é na hora das liquidações e promoções que as orientações sobre como comprar devem ser mais difundidas, pois é justamente nessas épocas que o ato de consumir sobre bases emocionais tende a ser mais praticado que o ato de consumir sobre bases racionais.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
“Em média, um terço do que compramos em alimentos perecíveis vai direto para o lixo, porque compramos a mais, esquecemos de usar e acaba estragando na geladeira… ”
Para ver o resto dessa dica e muito mais acesse:
http://www.walmartsustentabilidade.com.br/dicas-sustentabilidade/faca-uma-listinha-antes-de-ir-ao-supermercado-e-evite-desperdicio-117.html