Essa frase foi extraída do livro “O milionário mora ao lado”, e, dado o seu denso significado, bem como as reflexões geradas a partir dessa frase, resolvi fazer esse post à parte.
Ela foi pronunciada pelo Sr. Allan, um típico milionário americano: proprietário de duas firmas de manufatura, mora na mesma casa há quase 4 décadas, com a mesma esposa, e é dono de um patrimônio líquido superior em cerca de dez vezes o esperado para sua renda e idade, além de ser um bom cultivador de hábitos frugais: nunca possuiu carros de luxo, não ostenta produtos de status e reinveste os rendimentos de suas aplicações em seus próprios negócios.
A frase completa do Sr. Allan, contextualizada no capítulo do livro que trata dos problemas atinentes à manutenção de status social pelos SAR (Sub-Acumuladores de Riqueza), é essa:
“O dinheiro nunca deve mudar os valores básicos da pessoa…O dinheiro é como um boletim. É uma maneira de dizer como você está indo na vida”.
E é exatamente isso. Quem busca ganhar mais dinheiro para ostentar um padrão de vida ainda mais alto está buscando a motivação errada, porque nunca irá conseguir.
As pessoas devem ter a consciência de que, para atingir a independência financeira, é preciso, antes de qualquer coisa, controlar bem seus impulsos de consumo. Consumir menos, mas com mais qualidade. Não dar às coisas importância maior que os relacionamentos. E, por fim, entender que o dinheiro é apenas um meio para melhorar a qualidade de sua vida, mas apenas nas áreas onde ele é necessário.
Quem adquire hábitos de um estilo de vida abaixo de seus ganhos, ou seja, um estilo de vida frugal, dificilmente elevará seu nível de consumo se passar a ganhar mais, uma vez que a elevação de seu padrão de gastos representará uma violação de um comportamento que a própria pessoa já internalizou como sendo o correto e adequado.
Raciocine comigo: imagine o Sr. Pedro, um empregado de uma consolidada firma de materiais de construção, que ocupa um cargo, digamos, intermediário dentro de sua empresa. Ele aprendeu a viver frugalmente. Ele sabe que ficar gastando tempo excessivo no celular é desperdício (tanto de tempo quanto de dinheiro). Por isso, ele não tem conta de celular. Usa apenas uma linha pré-paga, onde costuma desembolsar, em média, cerca de R$ 30 mensais. E com esses R$ 30 mensais ele consegue facilmente se comunicar com sua esposa e filhos, aproveitando as promoções que as operadoras rotineiramente oferecem, tanto de voz quanto de torpedos. Ele sabe que as propagandas de operadoras de celulares na TV estimulam, de certa forma, o distanciamento dentro da família, pois colocam o pai e a filha falando no celular, separados, ao invés de falarem em casa, na mesa do jantar.
Enfim, o Sr. Pedro vive uma vida frugal (eu até diria sábia!) quanto ao uso do telefone.
Vamos supor que ele receba uma promoção na empresa, por conta da conclusão de uma especialização em sua área de trabalho, cujos estudos foram patrocinados pela empresa na proporção de 50%. Por conta dessa promoção, além de receber um aumento de salário, ele recebe também… tchã tchã tchã tchã…um celular pós-pago da empresa, no valor de R$ 100, totalmente custeado pela firma. Ou seja, além de não pagar nada pelo celular (talvez até seja de interesse dele continuar com o pré-pago), ele ainda tem à disposição um crédito de R$ 100 todo mês, para fazer as ligações telefônicas. O que passar dessa conta, que chegará todo começo de mês, o Sr. Pedro deverá quitar.
A pergunta é: conseguirá o Sr. Pedro utilizar todos os R$ 100 do pós-pago? Dificilmente.
Para quem estava acostumado a usar racionalmente o celular, o acréscimo de disponibilidade de uso, na verdade, em nada interferirá nos hábitos frugais do Sr. Pedro. Por quê? Ora, a resposta está no título desse artigo: porque o dinheiro nunca deve mudar os valores básicos da pessoa. Se o Sr. Pedro se dava por satisfeito consumindo R$ 30 por mês no celular, não é aumentando o valor que ele pode gastar que o fará mudar seus hábitos de ligações, ainda que esses sejam custeados pela empresa, porque isso certamente representaria uma violação interna de comportamento desde há muito tempo enraizado na mente do Sr. Pedro.
Ampliando o tema
Muito se fala no que a pessoa poderá fazer ao se tornar financeiramente independente, quando se aposentar. Alguns falam em viagens para o exterior (inclusive na classe executiva), outros falam em viver à beira da praia, comprando uma casa ali, outros ainda falam em passar a freqüentar bons restaurantes, há quem ainda fale em poder comprar o carro que quiser. Já parou para pensar que muitas dessas alternativas de “o que fazer após a aposentadoria” estão associadas a planos de consumo? Mas será que essas opções realmente cairão no gosto e na preferência dos pós-aposentados?
Em outros termos, será que uma pessoa que, durante a vida inteira, não teve o hábito de viajar para o exterior, vai realmente querer adquirir esse hábito depois de se aposentar? Ou: será que aquela pessoa que tem o dinheiro para comprar o carro que quiser vai realmente querer comprar o carro mais caro, se ela nunca adotou o carro como seu hobby? Ela não vai passar a ser consumista de uma hora para outra se, durante toda a vida dela, ela não foi consumista.
A conclusão é lógica: quem viveu uma vida onde incorporou hábitos frugais dificilmente passará a viver uma aposentadoria não–frugal. Segunda conclusão lógica: em decorrência da conclusão anterior, continuará jorrando dinheiro em sua conta-bancária, de maneira constante e crescente. E, finalmente, a terceira conclusão: quem vive uma vida frugal acaba percebendo que o dinheiro ganho não é para ser todo gasto, mas sim para ser acumulado em quantidade suficiente que lhe permita tranqüilidade para usufruir outras coisas, outros valores (normalmente os valores intangíveis, já mencionados em outro tópico). Pode até ser que ela mude um pouco seus hábitos, se dando alguns “luxos”, mas isso não chega a comprometer seu estilo de vida, afinal, ela já é financeiramente independente.
O que pode ocorrer – com mais freqüência – é a pessoa querer gastar mais tempo com seus hobbies e hábitos que mantinha durante sua vida pré-aposentadoria. Ela só vai querer viajar mais para o exterior se ela de fato tinha nas viagens seu hobby. Só vai querer ampliar sua coleção de gadgets se ela, durante toda a sua vida, gostava de aparelhos tecnológicos. E não há nada de errado nisso: gastar mais dinheiro em seu hobby, investir em sua paixão. Por quê? Ora, porque esse também é componente necessário e absolutamente intrínseco de uma vida frugal. Aliás, essa é inclusive a lei básica da frugalidade, conforme abordamos em outro tópico.
Ou seja, quem tem uma vida frugal tem o foco melhor ajustado: planeja corretamente seu orçamento e investimentos, e vive a vida que gosta de viver, priorizando as coisas e valores que julga mais importantes. Que você também nunca deixe o dinheiro mudar seus valores básicos. Nem agora, e muito menos na aposentadoria.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus lhes abençoe!
Muito bom o artigo !
Valeu, Guilherme, pelo prestígio! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus lhes abençoe!
Boa a ideia do artigo… mas como falei no blog do Clube do Pai Rico, acredito que é sempre melhor pensar em se ganhar mais do que se gasta do que gastar menos do que se ganha…
Parabéns
Obrigado, Leonardo, pela resposta. A priorização da mentalidade em buscar novas formas de ganho, como vc disse, é uma das chaves para alcançar a melhoria da saúde financeira.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus lhes abençoe!
“O dinheiro nunca deve mudar os valores básicos da pessoa…O dinheiro é como um boletim. É uma maneira de dizer como você está indo na vida”.
Essa frase me lembrou da música “For the Love of Money” dos O’Jays que é tema do programa O Aprendiz onde tem uma frase que diz “‘Don’t let money change you!”.
O link a seguir tem um clip da música: http://www.youtube.com/watch?v=Ll3uipTO-4A
Abcs
Interessantes o link e a música, Willy!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guilherme,
Para mim esse é um dos melhores posts do blog!
Achei o estilo de vida do Sr. Allan muito semelhante ao do Warren Buffet.
Uma pessoa que tem hábitos simples dificilmente os mudará após a aposentadoria.
Seu exemplo ficou ótimo.
“Ele sabe que as propagandas de operadoras de celulares na TV estimulam, de certa forma, o distanciamento dentro da família, pois colocam o pai e a filha falando no celular, separados, ao invés de falarem em casa, na mesa do jantar.”
O marketing agressivo leva as pessoas a não refletirem sobre suas compras, ou seja, o que é realmente importante na vida é deixado de lado.
O celular e a televisão acabaram com o diálogo familiar, o que acabou acarretando muitos problemas nas famílias, mais distúrbios psicológicos, violência e uso de drogas legais ou ilegais.
Parabéns pelo post!
Abraços e sucesso,
Muito bom !! Difícil não mexer com o Ego de uma pessoa , as riquezas , só sendo muito rico de espírito pra não ser fraco de carne …