Há alguns dias atrás, li uma notícia na Folha Online que é de deixar preocupado qualquer um que acompanha o noticiário econômico: segundo reportagem da Folha, a dívida dos brasileiros cresce mais que a renda. De acordo com o jornal:
O total da dívida dos brasileiros cresceu mais do que a renda dos trabalhadores. Segundo especialistas, esse é um cenário de risco e deve levar a aumento nos calotes em 2010 dependendo do crescimento da economia.
Na avaliação do governo, o movimento de maior endividamento se deve a um aspecto positivo. O aumento no crédito para o consumo foi um fator importante para tirar o país da recessão da virada do ano.
Para a economia coletiva, pode até ser um dado positivo, mas para a economia individual, é uma péssima notícia, que pode conduzir ao completo desastre financeiro de muitas famílias. O aumento de crédito pode até ter contribuído para tirar o Brasil da recessão, mas pode contribuir para colocar muitas famílias na recessão individual. Antes de contribuir para o Brasil, o que você deve fazer é contribuir para o bem de sua própria família. Há de se separar o que se deve e o que não se deve comemorar. Por isso, gostei muito do artigo que o Conrado Navarro publicou no Dinheirama, cujas reflexões tiveram como ponto de partida o mesmo texto que serviu de pontapé inicial para esse artigo, onde ele afirma:
Devemos comemorar o acesso ao crédito por uma parcela maior da população, assim como devemos comemorar a democratização do consumo de inclusão social. […] Só não podemos nos ver tão maravilhados com as possibilidades a ponto de esquecer que o mais importante de viver bem uma vida não são as coisas que conseguimos comprar ou ter, mas o legado familiar e o exemplo que deixamos. Viver de posses além da conta representa o desejo de deixar impressões, distorções, enquanto viver a vida como ela é justifica o que realmente se pode ter. Defendo que tenhamos tudo aquilo que desejamos ter, desde que isso seja possível – e, felizmente, quase sempre é.
E como se faz isso, isto é, viver uma vida não de posses, mas sim de valor? Dentre outras coisas, diminuindo as compras parceladas que atualmente você têm no crediário, na fatura de seu cartão de crédito e nos boletos de financiamento que recebe mensalmente em sua casa.
Faça uma comparação, um exercício simples de contas matemáticas.
Pegue o contra-cheque de janeiro desse ano, bem como a fatura do cartão do mesmo mês, e compare-os com o contra-cheque do mês passado e a fatura do cartão do mês passado, respectivamente (não vale o rendimento extra eventual decorrente de remuneração de férias, segunda parcela do décimo-terceiro, bônus etc. Limite-se à comparação salário x salário e cartão x cartão). Se o seu salário cresceu na mesma proporção da soma das compras parcelas, ou em proporção maior, ótimo, não há motivo, em princípio, para preocupação. Agora, caso o total das compras parceladas tenha aumentando em proporção maior que o aumento de salário, piscou o sinal amarelo no semáforo de sua vida financeira. É preciso reavaliar os gastos e tomar atitudes concretas visando a evitar que isso se torne uma bola de neve que conduza ao total colapso financeiro de sua vida pessoal.
Exemplo: em janeiro, a pessoa recebeu um salário de R$ 3 mil, e tinha duas compras parceladas que somavam R$ 500 (prestação de uma TV de R$ 300 mensais + prestação de uma geladeira de R$ 200). Agora, em novembro último, ela recebeu um salário de R$ 3.300,00, mas, em compensação, as compras parceladas estavam somando R$ 1 mil (!), por conta da prestação de TV de R$ 300, a da geladeira saiu, mas, em compensação, entraram a prestação do sofá de R$ 300, a do notebook de R$ 200 e a de viagem de férias (de julho!) de R$ 200.
Em termos matemáticos simples: enquanto seu salário cresceu 10% (de R$ 3 mil para R$ 3.300,00), as suas dívidas cresceram nada mais nada menos que 100% (de R$ 500 para R$ 1 mil). Em janeiro, as dívidas comprometiam cerca de 16% de sua renda mensal, agora, as dívidas estão comprometendo mais de 30% de seu salário!
As dívidas não podem crescer mais que o salário. Se esse é o seu caso, aqui vão algumas dicas simples, mas práticas, que te ajudarão a sair desse círculo vicioso:
Em primeiro lugar, pare de comprar a prazo. As compras parceladas que já estão sendo pagas devem continuar sendo quitadas até serem pagas, evidentemente. E isso sempre pagando o valor total da fatura. Sobre as dívidas que podem ser decorrentes do mau uso do cartão de crédito, recomendo a leitura de um ótimo artigo postado no blog Rumo à Independência Financeira. Se possível, renegocie com o vendedor para ver se é possível quitar à vista o restante das parcelas, e se há algum desconto pela quitação antecipada. Normalmente, as compras parceladas no cartão de crédito não oferecem a opção de desconto pelo pagamento antecipado das parcelas restantes, e nem permitem a quitação antecipada mesmo sem desconto, mas há algumas despesas que podem ser liquidadas de modo antecipado, como a tal da anuidade do cartão de crédito (isso se não for possível, claro, a isenção total).
Ademais, mesmo nessa época de consumo forte, evite olhar para os folhetos de propaganda encartados nos jornais e vire a página rapidamente quando se tratar de páginas publicitárias de revistas. Isso vai evitar que você fique incentivando o seu cérebro a comprar os itens que são ali anunciados, o que o tornará menos propenso a adquirir tais itens ali anunciados. O cérebro age por auto-sugestão, e, lendo esses folhetos freqüentemente, isso fará com que você seja induzido a pensar que precisa comprar essas coisas. Elimine essa auto-sugestão. Pense consigo mesmo: “isso não é interessante, não vai ter utilidade e só vai me endividar ainda mais”. Valorize aquilo que já tem.
O mesmo raciocínio vale para comerciais de TV. Assista menos TV. Ou melhor, não assista TV. Melhor ainda: não compre uma TV nova. Lembra-se do que eu disse no parágrafo anterior? Valorize aquilo que já tem. “Ah, mas ano que vem tem Copa do Mundo, e eu quero assistir a Copa numa TV bem bonita”. Legal, eu também quero. Mas use a inteligência financeira: vá num restaurante/bar/lanchonete para assistir a Copa. Lá tem TV muito bonita, enorme, à disposição de todos que querem a melhor imagem para assistir os jogos. Melhor: vá pra casa do vizinho ou de amigos. Alguém dentre eles certamente tem uma TV que é do seu agrado (que pode ter sido paga, inclusive, em “suaves” prestações…). Além disso, você valoriza as boas amizades, bota o papo em dia, não paga consumação mínima e ainda ganha uma forma de entretenimento sadia e de qualidade. Quer coisa melhor que isso? 😀
Se existir algum item que seja fundamental a sua substituição, a melhor alternativa é o pagamento à vista com desconto. Algumas lojas online oferecem desconto de 5% para pagamento à vista. Ótimo negócio. Aproveite e use também os buscadores de preço, são bem úteis para encontrar os produtos mais baratos. Nas compras em lojas físicas, faça valer o seu poder de barganha. Se o vendedor não concordar em diminuir o preço, peça para falar com o gerente. Se mesmo assim o gerente não lhe der um desconto bom, anote o preço num pedaço de papel e fale que irá até o concorrente verificar se tem o preço mais barato. Um dos segredos da boa compra é saber pesquisar, tanto em lojas físicas quanto em lojas virtuais.
O importante é sempre fugir do parcelamento. Quem foge do parcelamento foge das dívidas. É simples, mas é verdade. E com a vantagem de ter mais dinheiro sobrando no mês seguinte, para fazer outras compras, pagando à vista, gastando menos e tendo mais liberdade financeira. É preciso ter atitude para melhorar sua vida financeira. E vou encerrar o artigo com uma frase inspiradora que li no livro do Conrado Navarro, Vamos falar de dinheiro?, leitura, aliás, obrigatória – e agradabilíssima – para quem deseja se aperfeiçoar ainda mais no processo de educação financeira. O trecho a seguir citado está contido na página 72 da 1ª edição (São Paulo: Novatec Editora, página 79):
Atitude não tem preço. Para os que querem voar, não há peso capaz de segurá-los. Para os demais, basta a lei da gravidade.
Bons voos para todos vocês! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus lhes abençoe!
hotmar,
Parabéns pela matéria.
Uma motivo pelo qual adoro ler suas matérias é que você não envolve apenas dinheiro e sim saúde, educação, planejamento, estilo de vida e etc… Isso é muito interessante e nos faz pensar que a vida não é só dinheiro e sim algumas outras coisas que o próprio dinheiro não compra.
Para finalizar, o trecho citado no final é fenomenal: Atitude não tem preço. Para os que querem voar, não há peso capaz de segurá-los. Para os demais, basta a lei da gravidade.
Abração.
Luís Otávio, obrigado pelos comentários! 😀
Realmente, eu procuro mesclar assuntos de finanças pessoais com temas não-financeiros. Afinal, a vida é um todo, e deve ser pensada – e vivida – dessa forma. 😉
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus lhes abençoe!
Ótima iniciativa de reportar esses artigos mais antigos no Twitter. No meu caso em particular meu salário cresce linearmente enquanto as dívidas tão mais pra exponenciais 😀
Obrigado, Fernando! Com isso mais leitores estarão a par de antigos textos, ainda válidos e de valor atual.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Hotmar, assim como os amigos disseram.
Com certeza seus artigos serão validos por muitos anos, decadas, seculos (se possivel né).
E para servir de exemplo a outros leitores e fãs do blog. Nesse momento eu estou saindo do sinal vermelho graças ao blog do Guilherme (Valores Reais).
Parabéns mais uma vez amigo.
Abraços! =)
Obrigado pelas palavras, Daniel, e te parabenizo também por estar conseguindo sair do sinal vermelho!
Abç!