O hype do momento (em que este artigo está sendo publicado: 24 de julho de 2023) é o filme da Barbie.
Lançado nos cinemas na semana passada (e rivalizando com outro filme largamente esperado, Oppenheimer, o pai da bomba atômica, sobre o qual espero escrever um post em breve), o filme sobre a Barbie tem gerado inúmeras matérias e conteúdos em redes sociais.
Não é objetivo do texto de hoje entrar nos pormenores do filme, ou tecer considerações sobre questões ideológicas (“moda” da atualidade) ou relativas à indústria do consumo que se criou em torno da marca.
O objetivo do post de hoje é aproveitar o gancho proporcionado pela Barbie para falar de um tema mais profundo: a importância dos brinquedos lúdicos na infância, e a perda irreversível que muitas crianças estão tendo em função da ausência de atividades lúdicas durante esse período tão importante para o seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social.
É inegável que o filme esteja sendo aguardado por muitas pessoas que tiveram essas bonecas na infância: mulheres nascidas nos anos 90 e anos 80 para trás. Mas será que o mesmo filme está causando o mesmo impacto em meninas que estão vivendo agora a sua infância?
Muito provavelmente o impacto está sendo menor nas meninas de hoje, e isso por um motivo bastante elementar: a infância mudou. E infelizmente para pior.
As brincadeiras lúdicas de correr ao ar livre, jogar bola, brincar de pega pega ou com brinquedos lúdicos, como carrinhos, bonecas, Banco Imobiliário, estão desaparecendo e dando lugar a…. (você já sabe, mas não custa reforçar): telas.
As crianças de hoje já não têm mais tanto interesse por atividades lúdicas e interações sociais e presenciais com outros amiguinhos da mesma faixa etária. A maioria delas querem e desejam só uma coisa: telas.
É impressionante o fato de, se você entrevistar uma criança ou adolescente dos dias atuais, perguntando o que eles querem ganhar de presente, uma boa parte vai dizer: iPhone.
É lamentável ver, andando em shoppings, restaurantes, aeroportos e outros locais públicos, famílias onde os pais dão às crianças telas para elas se entreterem.
É triste ficar sabendo que, em muitos lares, crianças e adolescentes prefiram ficar trancadas em seus quartos em frente a telas do tamanho de um cartão de crédito, ao invés de interagirem com pais ou com amigos.
Onde isso vai parar?
As perspectivas são sombrias – muito sombrias.
Em fevereiro desse ano de 2023, alertamos, no artigo as telas digitais destroem os três pilares mais essenciais do desenvolvimento das crianças, sobre os danos neurofisiológicos causados às crianças e adolescentes sobre o uso das telas digitais, com base em argumentos científicos de alta qualidade desenvolvidos pelo francês Michel Desmurget, no fabuloso livro A fábrica dos cretinos digitais.
A boneca Barbie foi lançada em 1959. Hoje estamos em 2023. Portanto, do lançamento do brinquedo até o lançamento do filme, temos um intervalo de 64 anos.
Será que, daqui a 64 anos – ou seja, em 2087 – teremos o lançamento de um filme sobre um brinquedo que cause um impacto semelhante ao que o filme da Barbie está causando?
Dificilmente (ou mesmo impossível), pelo simples fato de a maioria esmagadora das crianças não estarem mais interessadas em brinquedos lúdicos. Elas querem outra coisa: telas.
Mas deixemos os brinquedos – objetos materiais – um pouco de lado. As próprias brincadeiras lúdicas que não dependem de brinquedos, como as que envolvem simples socializações entre seres humanos, estão ficando em segundo plano, em prol, você já sabe: de celulares, tablets, computadores, televisores e tudo o mais que envolve um componente de tela.
Contudo, nos últimos anos, uma pequena parcela de pais preocupados com esse estado de coisas tem se movimentado para evitar o estrago provocado pelo excesso de tecnologia em crianças e adolescentes.
E um exemplo vivo e real disso ocorreu no domingo retrasado, durante a final do torneio de tênis de Wimbledon. Ali, transmitido para o mundo inteiro, durante uma partida de mais de 4 horas de duração, o mundo inteiro testemunhou algo ocorrido fora da partida de tênis: as crianças do casal Príncipe William e Princesa Kate, bem como o filho do Djokovic, durante o tempo inteiro, foram flagrados sem interação alguma com uma tela digital. Será que os pais dessas crianças estariam errados? Ou estariam certos? O que será que os pais dessas crianças sabem que a maioria dos pais não sabem?
Conclusão
A infância está, infelizmente, se transformando para pior.
E isso está se refletindo em inúmeros campos e estudos, como no célebre estudo que identificou que, pela primeira vez na história, o QI das crianças ficou inferior ao dos pais (link).
Mas o problema não é apenas o fato de a inteligência cognitiva ter piorado. Outros tipos de inteligência – como a social e a emocional – também estão sofrendo deteriorações significativas.
É inegável que a infância precisa ser resgatada, mas se trata de uma luta muito difícil para pais, professores e todos os demais envolvidos na educação de crianças e jovens, sobretudo porque significa “remar contra a maré” e enfrentar uma indústria cada vez mais poderosa, que é a indústria da tecnologia digital.
Mas isso precisa ser feito, cada um dentro de seu raio de alcance e influência, como, aliás, já tem acontecido com algumas famílias.
É nossa tarefa fazer o alerta e indicar os caminhos para uma melhor educação das novas gerações, pois ainda há tempo de reverter processos que, uma vez materializados, podem ser impossíveis de serem desfeitos. Vamos fazer a nossa parte. 😉
Vamos lá… vamos fazer uma brincadeira, lúdica, diga-se de passagem com este artigo..
Ludicamente já vou discordando de alguns parágrafos do texto, com por exemplo, este aqui:
“…As brincadeiras lúdicas de correr ao ar livre, jogar bola, brincar de pega pega ou com brinquedos lúdicos, como carrinhos, bonecas, Banco Imobiliário, estão desaparecendo e dando lugar a…. (você já sabe, mas não custa reforçar)….”
– crianças continuam a correr sim, só que não ao ar livre, mas sim ao ar preso (e poluído) e restrito dos seus imensos “apertamentos” de 45 m2 com 4 quartos (sendo 2 suítes), 2 salas, copa e cozinha.. correm sim…. correm dos pais na hora de fazer o dever de casa, idem na hora tomar banho….
– continuam jogando bola, quer dizer “bolas”, pois precocemente estão experimentando o acesso ao jogo de “2 bolas.”….
– brincar de pega pega… nossa, praticam diariamente quando saem com seus Iphone´s 48 TBytes, 6G, 2 GbRAM… acabam que os “miguinhos” que gostam de tomar uma “cervejinha”, ou fumar um “orégano”, adotam a filosofia do “bearded frog”, hero of the evil bunch, e que vão lá tentar “pegar emprestado” na mão grande… a esses jovens, filhos da elite branca dominante não resta outra opção a não ser participar da brincadeira e sair correndo pra não ser pego…. a única coisa é que o nome da atividade mudou para “pega não pega”…
– não estão brincando com brinquedos lúdicos ?? não.. isso é uma mentira deslavada… continuam sim brincando com seus carrinhos e bonecas… as meninas com os carrinhos (com os quais podem atropelar os machos alfa) e os meninos com bonecas, com as quais podem ter uma maior convivência e identificação….
– como que não estão brincando de banco imobiliário ??? ora, meu caro, brincam sim… só que a coisa evoluiu… agora a coisa é pra valer… veja quantos meninos de 17 anos estão aí na internet vendendo mentoria de como ficar rico aos 30 anos… como ter seu milhão antes dos 18 anos….como se aposentar aos 28 anos…..
Agora, falando sério… (se alguma ainda não percebeu, a “discordância” era uma sátira…..)
Sim…. crianças estão perdendo algo muito importante em suas infâncias: o contato humano, físico, real.. onde nem todos são tão “bonitos” como na internet… onde as pessoas são reais o que significa que você tem que negociar espaços, opiniões, convivência etc etc…
Se vc ofende alguém na internet, raramente isso tem implicações… se você ofende alguém no mundo físico e real, a implicação talvez venha na hora, principalmente se o ofendido for o “fortão” da parada… com isso, você aprende respeito a opiniões, a espaços, você acaba se educando…
O mundo real é menor… sua turma é menor.. provavelmente ali você não achará gênios, até porque não existe fraude, photoshop etc etc…
E, para não perder o hábito, vamos a uma última ironia..
O texto fala que se perguntar a uma criança qual presente ela quer, o texto informa que ela vai dizer “… um Iphone”…
Eu discordo.. . ela não vai dizer “apenas” um Iphone, e sim “…. um Iphone 15, com 2 Tbytes, ecard etc etc etc…”…
Ela não vai te obrigar apenas a ralar muito pra comprar a geringonça… ela vai te obrigar a ralar muito mais para ela ter nas mãos uma tecnologia que é milhões de vezes mais potente que a tecnologia que os astronautas da Apolo XI tinha e que foram à Lua….
gostei
Ótimas reflexões, Sérgio!
Esse tal de instagram, tá acabando com muita gente pelo efeito da comparação com os outros, tem muito perfil passando sucesso e perfeição sem igual.
Concordo, Raf.
E o pior é que, muitas vezes, a vida dos holofotes que essas pessoas ostentam em nada se assemelha ao que acontece em suas vidas reais.