A frase acima é do cientista francês Michel Desmurget, autor do excelente livro A fábrica de cretinos digitais, que estou lendo no presente momento, e que, apesar de estar ainda no começo da leitura, recomendo fortemente a qualquer pessoa, independentemente de ter filhos ou não.
Como diz a BBC, esse livro apresenta, “com dados concretos e de forma conclusiva, como os dispositivos digitais [televisão, videogames, tablets, celulares etc.] estão afetando seriamente – e para o mal – o desenvolvimento neural de crianças e jovens.”
O presente trecho (p. 88-91) faz uma introdução dos efeitos nefastos especificamente da tela digital do celular sobre a mente humana das crianças e adolescentes.
Confiram:
“Recentemente, pesquisadores também começaram a se interessar pelos aparelhos portáteis, entre os quais, é claro, o onipresente smartphone. Essa plataforma de distração em massa concentra a integralidade (ou quase) das funções digitais recreativas.
Ela permite acessar todos os tipos de conteúdos audiovisuais, jogar videogames, surfar na Internet, trocar fotos, imagens e mensagens, conectar-se às redes sociais etc.; e permite tudo isso sem a menor restrição de tempo ou lugar. O smartphone nos segue o tempo todo, sem fraquejar nem nos dar trégua.
Ele é o graal dos sugadores de cérebros. O derradeiro cavalo de Troia de nosso embrutecimento cerebral. Quanto mais os aplicativos se tornam “inteligentes”, mais eles substituem nossa reflexão e mais nos ajudam a nos tornar idiotas.
Eles já escolhem nossos restaurantes, selecionam as informações que nos são acessíveis, separam as publicidades que nos são enviadas, determinam os trajetos que devemos seguir, propõem respostas automáticas a algumas de nossas interrogações verbais às mensagens que nos são enviadas, domesticam nossos filhos desde a escola maternal etc. Com um pouco mais de empenho, eles acabarão pensando no nosso lugar.
O impacto negativo do uso do smartphone se exprime com clareza no desempenho escolar: quanto maior o consumo, mais os resultados despencam [seguem citações de pesquisas empíricas a respeito].
No fundo, para ser perfeitamente claro, seria possível reformular as observações precedentes desta maneira: o desempenho escolar se degrada em proporção ao tempo oferecido ao despotismo do senhor smartphone; quanto menos o aluno é parcimonioso, mais seus resultados caem.
[…]
O mesmo problema se coloca para os computadores domésticos. De um lado, estes oferecem acesso quase ilimitado a todos os tipos de conteúdos recreativos cujo caráter nocivo sobre o desempenho escolar acabamos de citar (televisão, séries, videogames etc.). Ao mesmo tempo, porém, ninguém poderia contestar razoavelmente que essas ferramentas permitem também o acesso a um inesgotável espaço de recursos educativos, ainda que não se deva confundir disponibilidade com explorabilidade: uma coisa é poder acompanhar, online, um curso na universidade de Harvard ou do MIT; outra coisa é possuir as competências de atenção, de motivação e acadêmicas necessárias para a assimilação dos saberes expostos”.
Conclusão
Diminua sua exposição às telas digitais e, se você tiver filhos crianças e adolescentes, faça o mesmo com eles.
Como eu disse acima, ainda estou no começo da leitura do livro, mas as evidências científicas, coletadas a partir de inúmeros casos estudados, são avassaladoras e impressionantes, sob qualquer perspectiva que se analise.
Aliás, você não precisa conhecer nada disso: faça um teste usando você mesmo como um laboratório de experiência. Desafie-se a ficar uma semana usando o menos possível seu celular. Há uma ferramenta do próprio sistema (Android ou iOS), chamada “tempo de uso” ou algo assim, que permite avaliar quantitativamente (por semana, por dia, e até por aplicativo) o tempo que você gasta com sua tela digital.
E veja e conclua, por si próprio, se, na semana em que você menos usou o celular, você viveu mais: melhorou sua concentração, melhorou sua atenção, dormiu melhor, controlou melhor suas emoções, se distraiu menos e fez e produziu mais. É praticamente certo de que todas essas vantagens ocorrerão se você diminuir o tempo de exposição às telas digitais. 😉
Boa reflexão
É uma tarefa difícil mas necessária
a redução do tempo de tela
Obrigado
Obrigado, Marcos!
Muito pertinente esse texto, uma verdade que as pessoas precisam saber, acredito que quanto mais off-line uma pessoa consegue ficar, mais saudável (física e psicológica) ela vai ser. Vejo um problema em nossa sociedade que qualquer um que não siga a maioria (em qualquer parte da vida), é taxado de algum adjetivo negativo, somos pressionados todos os dias a seguirmos o efeito manada e seguir a multidão. Abraços!!
Certamente, Paulo, é muito difícil não seguir a manada nos dias atuais.
Abraços!
uso meu celular no modo branco e preto…incrível como o tempo de uso diminuiu. abs!