Sob o sugestivo título “Your Work Matters. Build Your Schedule Accordingly“, o que, numa tradução livre, poderia ser algo como “Seu trabalho importa. Construa sua programação de acordo”, Cal Newport, autor do livro best-seller (e recomendado pelo blog) Trabalho Focado, desenvolve a ideia da construção de sua programação semanal de atividades levando em conta suas prioridades.
Utilizando o exemplo concreto de Elizabeth, uma professora de educação que precisa de blocos de tempo semanais atrelados à realização de sua pesquisa acadêmica, Cal Newport demonstra a necessidade de levarmos a sério os compromissos que firmamos conosco mesmo.
Se determinado projeto, atividade, estudo ou trabalho requer a produção de resultados acima da média, não podemos delegar a eles as nossas “sobras de tempo”.
O caso de Elizabeth era sintomático de um dilema que aflige a muitas mulheres que precisam equilibrar todos os pratos na balança: além da atividade de trabalho de pesquisa acadêmica, precisa cuidar dos filhos e da rotina de casa.
Por conta disso, ela tinha pensado inicialmente nas seguintes opções:
- 6:00 – 7:30 am às segundas e sextas-feiras , antes de seu marido sair para o trabalho.
- 17h45 – 18h45 na quarta-feira à noite , quando ela tinha cobertura de creche antes de uma aula noturna.
O problema? Duas horas e meia por semana provavelmente eram ainda insuficientes para produzir resultados satisfatórios em nível de pesquisa acadêmica.
Após novas reflexões em conjunto com Laura Vanderkam, especialista em gestão de tempo, ela foi aconselhada a ser mais agressiva em arranjar tempo para um trabalho profundo.
O resultado foi o seguinte cronograma mais substancial:
- Às quintas-feiras, Elizabeth fazia com que a babá normal pegasse as crianças na escola e ficasse com elas até as 17h. Como Elizabeth não leciona nas tardes de quinta-feira, isso libera um bloco de cinco horas que ela pode dedicar consistentemente à pesquisa.
- Voltando sua atenção para o fim de semana, Elizabeth providenciou para que o marido levasse as crianças das 12h às 16h todos os sábados, liberando outro bloco de pesquisa de quatro horas.
Veja o salto que foi dado, mediante realocação de atividades e priorização das demandas conforme as necessidades do momento: ela saltou de uma programação que reservava a ela duas horas e meia por semana para as atividades de trabalho profundo, para outra que lhe conferia nove horas semanais.
Como acertadamente conclui Cal:
“Este exemplo é importante porque ressalta uma realidade psicológica de produtividade que pode ser perdida entre todas as posturas em torno de sistemas e ferramentas. É fácil achar que é falta de educação priorizar o trabalho que é importante para você acima das demandas de outras pessoas. Foi isso que levou Elizabeth, a princípio, a limitar sua pesquisa apenas aos poucos fragmentos de tempo durante a semana que ninguém mais havia reivindicado.
A produção sustentável de trabalho valioso, no entanto, requer uma pitada de egoísmo. A agenda revisada de Elizabeth estava exatamente correta. Nenhuma pessoa razoável acharia seu investimento em uma babá uma vez por semana, ou pedido de tempo de fim de semana para o pai, excessivo. Esses atos de autopriorização foram, objetivamente falando, pequenos. Mas eles fizeram uma grande diferença na capacidade de Elizabeth de produzir o trabalho de excelência que ela sabia que podia produzir”.
E aqui vem o recado que constitui o núcleo da mensagem do dia de hoje:
“Seu trabalho importa. Não há problema em lutar por isso em sua agenda”.
Conclusão
Repetindo o que eu disse no título desse post, “se o seu trabalho importa, então sua programação deve refletir essa prioridade”.
Mais do que isso: você deve racionalizar o uso dos seus blocos de tempo em sua agenda semanal de trabalho.
Quanto mais pitadas de comprometimento você der ao seu trabalho, pode ter certeza: ele será produzido com um resultado e uma qualidade muito maiores.
A verdade é que a mulher precisa “requerer” esse tempo, mas quando é o homem, parece que já fica implícito a necessidade e ele não precisa requerer nada, a própria rotina se molda a isso.
Essa a grande carga da maioria das mulheres ainda, dar conta de todos os pratinhos rodando sem ficar com ainda mais sentimento de culpa.
Vi uma reportagem a algum tempo de que o Magazine Luiza fez um levantamento sobre porque não haviam mulheres nos cargos gerenciais, já que eram dadas condições de promoção para todos os gêneros, e ficou claro na pesquisa que as mulheres simplesmente desistiam por não terem a rede de apoio dentro de casa. Quando era realizado um workshop de final de semana, quem iria ficar com as crianças? Os treinamentos a noite: idem. A partir daí a empresa passou a adotar o auxílio creche e outras ações para que essas mulheres tivessem a rede de apoio e pudessem se desenvolver (não sei se é a realidade mas foi o que ouvi).
Então vemos que existe ainda um longo percurso para que homens e mulheres tenham igualdade no trabalho e possam focar de maneira adequada em suas carreiras.
Ótimo comentário, Gláucia.
Ótimo exemplo de realocação de prioridades praticado pela pesquisadora. Além disso, podemos somar as técnicas de outras postagens, tais como não cair nas tentações da era da distração, ou focar no que realmente importa para alcançar os objetivos mais importantes, por exemplo.
Uma outra maneira de encontrar “lacunas” de tempo disponível é listar todas as atividades do dia numa planilha, junto dos horários de descanso, café, almoço e afins. Muitas vezes perdemos “só 15 minutinhos” aqui e ali, mas no final do dia são 2h de um projeto que foi deixado de lado por falta de tempo, ou mesmo sequer iniciado.
2h de seg a sex são 10h/semana; 40h/mês ou 480h/ano. Isso é suficiente para trabalhar na realização de muitos sonhos.
Excelente ideia, Pride, essa de encontrar as “lacunas” de tempo!
Abraços!