Não é segredo para ninguém que a inflação chegou com muita força nesses anos de 2021 e 2022, fazendo com que o custo de vida de milhões de brasileiros aumentasse de maneira muito acima dos indicadores oficiais (IPCA, IGPM etc.).
Materiais de construção, passagens aéreas, alimentos e bebidas, comidas em restaurantes, remédios, serviços de profissionais liberais… houve aumentos expressivos de preços em praticamente todos os setores de consumo.
Mas teve um segmento, em especial, cujos preços dispararam sem a menor cerimônia: o segmento dos automóveis, em particular o dos denominados carros “populares”.
No final do ano passado, a revista Auto Esporte publicou uma matéria cuja manchete chamava bastante a atenção: “Onix, HB20, Polo e outros compactos chegam aos R$ 100 mil e carros populares estão em extinção”.
E, no subtítulo, constava a seguinte chamada: “entre janeiro e dezembro, hatches compactos ficam até R$ 25 mil mais caros e reduzem opções de modelos abaixo dos R$ 100 mil.”
A situação chegou a tal ponto que as versões mais recheadas desses carros outrora populares (ou seja, as que contêm mais equipamentos e acessórios) chegam a custar quase o mesmo preço de alguns SUVs zero quilômetro.
A necessidade de atenção total na compra de um carro novo
O tema dos carros é frequente no blog, e por uma razão muito forte: eles são itens que consomem grande percentual do orçamento doméstico das famílias brasileiras.
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Além de ser normalmente o segundo item de consumo (= passivo) mais caro em termos de compra – só perdendo para o imóvel residencial – o carro ainda tem outro problema: alto custo de despesas mensais recorrentes.
Isto é, todo mês parcela significativa de seus gastos precisa ser reservada com gastos em itens como:
- Combustível;
- Lavagem;
- Estacionamento;
- Parcela mensal do IPVA;
- Parcela mensal do seguro;
- Provisão para manutenção anual.
Dá pra estimar que o custo mensal de um carro varia entre 5% a 30% do orçamento doméstico de uma família brasileira. Ou seja, não é pouca coisa!
O que fazer, diante desse cenário?
O cenário não é nada animador: os custos estão aumentando tanto para quem pretende comprar um carro novo, quanto para quem mantém seu carro atual. O desembolso de dinheiro pode ser significativamente ainda maior se os gastos não forem realizados com planejamento, pesquisa e muita conscientização financeira.
Nesse contexto, duas dicas são muito válidas num momento em que rondam incertezas sobre a própria economia mundial, ainda mais com os Estados Unidos dando sinais de que entrará numa recessão em breve.
A primeira é: prolongue ao máximo a vida útil de seu atual carro. Evite comprar num ambiente cheio de ofertas de crédito fácil e rápido para comprar um passivo. Sempre é possível esperar mais um pouco.
Embora seja bastante difícil os preços dos carros novos diminuírem (é até bom não contar com isso), sempre é possível ganhar tempo a fim de aumentar as suas reservas financeiras no planejamento de um carro novo.
E isso por uma razão elementar: sempre é melhor comprar um carro com um dinheiro que você tem, evitando-se, assim, os custos inerentes a uma alienação fiduciária (= compra financiada), ainda que não haja margem para descontos significativos.
Outra alternativa é a compra de um carro usado, mas desde que se conheça minimamente a procedência (origem) e se tomem os devidos cuidados quanto à análise da documentação e na revisão técnica do estado mecânico e elétrico do carro (chamando um profissional mecânico de sua confiança, por exemplo).
A segunda dica está diretamente ligado ao tema central desse post: já que os carros em geral – o que significa os carros dos outros, de terceiros – estão aumentando tanto de preço, vale a pena aumentar as proteções e seguros de seu próprio carro, principalmente nesse item: aumentar o valor da cobertura de indenização contra terceiros.
A esse respeito, uma matéria publicada na revista Quatro Rodas, em dezembro de 2020, e atualizada em abril de 2022, intitulada “Bateu? O seguro do seu carro pode não cobrir todo prejuízo”, e com o subtítulo “O mercado tem praticado valores baixos de indenização para terceiros, fazendo com que o segurado precise cobrir os prejuízos de um acidente de trânsito”, alerta para a importância de ter um substancial valor para cobrir indenização contra terceiros.
Leia também:
- [Dica do leitor] Faça um booooom (e sub$stancio$o) seguro contra terceiros: cobertura indispensável no aluguel de carros (e também no seguro de seu próprio veículo do dia a dia) (blog Meu Milhão de Milhas)
Imagine que você se envolva numa acidente que resulte em perda total de outro carro, que custe R$ 200 mil, mas o seguro de indenização contra terceiros de seu carro cubra até R$ 50 mil… você teria reservas para bancar os restantes R$ 150 mil?
Como até os carros dito populares estão saindo de fábrica com versões que chegam aos cem mil reais, certamente pode compensar – no sentido preventivo do termo – pagar alguns reais a mais para ter a tranquilidade financeira em caso de eventuais sinistros trafegando com seu carro. Pense nisso!
Conclusão
Os aumentos generalizados dos preços também chegaram ao mercado de automóveis, fazendo com que tenhamos que repensar muitos de nossos hábitos de consumo.
A inflação é um fenômeno real que exige de nossa parte a tomada de atitudes proativas e adequadas ao momento atual.
Diante das inevitáveis escaladas de preços dos carros ditos populares – que, diga-se de passagem, constituem apenas um reflexo de um cenário macro de aumentos de preços de todas as demais categorias de veículos – faz-se necessário valorizar e respeitar seu próprio dinheiro, nesse âmbito.
As medidas de prolongar ao máximo a vida útil de seu atual carro, bem como de aumentar o valor da cobertura de indenização contra terceiros, certamente lhe ajudarão a evitar uma dilapidação precoce de suas reservas financeiras líquidas.
Aja com muita cautela, parcimônia e planejamento financeiro responsável nessa categoria de gastos, a fim de viver em paz e com tranquilidade financeira. 😉
Coisa de louco isso e defícil de entender do ponto de vista matemático e racional. Com tantas opções de aplicativo de transporte, varejo online, entretenimento online e trabalho remoto entre outras coisas, a procura por carros particulares e individuais continua como nos velhos tempos. Como dizia o antigo comercial: O brasileiro é louco por carro!
Sem dúvida, Anônimo. É uma tal de exuberância irracional mesmo.
Em um pensamento racional e pragmático é muito mais sensato a adoção de outros meios de transporte e locomoção. Mas em algumas situações o carro se faz importante também. Ano passado estava refletindo para me desfazer do meu atual. Mas o utilizado 3 vezes na semana para chegar a praia e surfar em jaguaripe (salvador-Ba). Fiquei 5 dias com o carro em oficina para reparo de pequena colisão e utilizar transporte alternativo, não foi nem um pouco prático. Logo ponderei e arco com os custos. Antecipando, planejando e gerenciando os gastos, despesas e custos atrelados ao bem.
Arrisco dizer que as montadoras no Brasil estão explorando a falta de educação financeira do consumidor, que não percebe o problema de financiar um bem com valor tão alto.
Ou seja, aumentaram os valores sabendo que a maioria financia mesmo, e vão continuar comprando.
Por exemplo, tenho 2 amigos que ganham menos que 5k/mês mas a cada 2 ou 3 anos trocam de carro num eterno financiamento a prestações na faixa de 1,5k! Basicamente trabalham pra manter o carro, e não percebem ou se importam.
Noutro exemplo, há uns 3 anos eu fui roubado e recebi a indenização do seguro. Com o valor em mãos, fui em várias concessionárias tentando obter desconto para comprar um zero KM pagando a vista, mas nada… Ninguém parecia se importar, todos me empurravam um financiamento pra eu usar o valor como entrada e comprar um carro “melhor”.
Acabei comprando um usado mais equipado, à vista.
Abraços!
JP
Do ponto de vista da concessionária, financiar um carro ou vender a vista é praticamente a mesma coisa, visto que ela vai receber o valor total com a diferença de alguns dias.
Além disso, essas montadoras tem financeiras também. Ou seja, pra concessionária tanto faz receber a vista ou financiado (que pra ela é a vista também), e pra financeira é obviamente melhorar que o cliente financie, já que assim a montadora ganha tanto via concessionária quanto via financeira.
Por isso não há nenhum incentivo pra pagar um carro a vista. Pra ele, na verdade, é melhor que você financie mesmo…
Isso só vai mudar se você for comprar um carro usado numa garagem, aí nesse caso normalmente o dono do carro quer é pegar o dinheiro logo, então acaba aceitando alguma oferta.
Eu acredito que as concessionárias também ganhem algum “incentivo”, seja na loja ou até o mesmo o vendedor para que o cliente financie. Mesmo no mercado de usado, as lojas sempre tentar te empurrar o financiamento.
Pelo menos vejam pelo lado bom , são esse tipo de pessoas que mantem o dinheiro circulando , se todo mundo tivesse a mentalidade dum psicopata financeiro , prestadores de serviços como eu morreriam de fome .
https://blogderasratel.blogspot.com/
Tudo dentro do plano da agenda 2030: “Você não terá nada, e será feliz”.
Comprar um carro nessas condições é uma insanidade total. A renda da maioria da população não chega a R$3000. Necessita juntar dinheiro por 3 anos para dar entrada em um financiamento, depois financiar o carro por 5 anos, ao final desse tempo terá pago ao todo dois carros e meio e terá na mão um populixo (agora já desvalorizado para venda). Bela fórmula para escravizar os ignorantes,
O índice de preço dos imóveis começou a acelerar também a partir de 2020.
Ótimas observações, Mendigo.
A maioria das pessoas insiste em viver nessa insana corrida dos ratos. Armadilha pura.