Sejamos francos: como conseguir fazer todas as coisas que nos vêm à mente se nossos recursos de atenção, de energia e principalmente de tempo são limitados?
Esse é um dos grandes paradoxos da vida moderna: temos acesso fácil a praticamente qualquer coisa, e isso nos move na direção de sempre querermos mais, de fazermos mais, de sermos mais… porém, nós somos seres humanos extremamente limitados, no espaço e no tempo.
O resultado de uma busca desenfreada pelo grau máximo de produtividade e de realização – como se isso fosse o grande elixir para a vida – pode muitas vezes resultar no oposto dos sentimentos de felicidade e prazer: pode resultar em mais estresse, mais desgaste, mais fadiga e mais tristeza.
Veja, por exemplo, aquelas pessoas que querem viajar e conhecer todos os “sei lá” quantos países do mundo. Nada contra tais metas, mas… será que cumprir esse desiderato vai torná-las mais felizes e mais realizadas?
No campo dos exercícios físicos e da aparência, vemos pessoas cada vez mais perdidas em busca do famigerado “corpo perfeito”: gastam-se toneladas de dinheiro e incontáveis horas em academias, tratamentos estéticos etc…. mas a troco de quê?
No trabalho, o lema é “como produzir mais e melhor”. Em muitas profissões, o que governam os resultados são apenas números: metas, projeções, lucros etc. O aspecto qualitativo ficou, muitas vezes, em segundo plano.
Em resumo, o problema parece ser esse: como lidar com demandas e possibilidades infinitas num mundo onde você é, por definição, finito?
Abrace seus limites.
Uma das soluções possíveis para poder viver uma vida mais serena e menos pressionada pela necessidade de ser mais produtivo está aí, no título desse tópico: abrace seus limites.
Li essa ideia ao buscar informações sobre o livro Quatro mil semanas: Gestão de tempo para mortais, de Oliver Burkeman (link).
Ainda não li o livro, mas assisti algumas resenhas no YouTube sobre ele, e uma das ideias defendidas no livro é justamente essa: reconheça suas limitações.
Reconhecer que você não será capaz de conseguir tudo o que lhe vier à mente não deve ser motivo de tristeza, mas sim de alívio e de contentamento.
Mas, mais do que isso, Burkeman utiliza esse princípio – de abraçar suas limitações – como uma espécie de vetor, de diretriz, para que, a partir dela, você experimente o poder libertador que é não precisar agir para ser o máximo em produtividade a todo instante.
Quando você toma a decisão por fazer alguma coisa, pode ter a certeza de que estará abrindo mão de todas as outras coisas.
E isso não é ruim. Pelo contrário: saber que você elegeu certas prioridades lhe dará mais condições de aproveitar o momento, saborear a experiência, curtir a sua prioridade.
Eis um trecho da resenha oficial:
“Quatro mil semanas é uma reflexão inspiradora e realista sobre o caminho alternativo de abraçar seus limites: voltar à realidade, desafiando as pressões culturais para tentar o impossível e, em vez disso, começar com o que é possível. É sobre fazer o que é realmente significativo em nosso trabalho e em nossas vidas, no entendimento claro de que não haverá tempo para tudo, e que nunca eliminaremos as incertezas.
Burkeman discute por que o desafio central da gestão do tempo não é se tornar mais eficiente, mas decidir o que negligenciar; por que, em um mundo acelerado, a paciência ― deixar as coisas levarem o tempo que levam ― é um superpoder; e por que, em condições de escolhas ilimitadas, preferimos fechar as portas a manter as opções em aberto. Ele reflete também sobre como resistir à sedutora atração das indústrias que prometem facilitar nossa vida, quando, na verdade, a pioram; como redescobrir os benefícios de rituais comunitários; por que é tão difícil “estar aqui e agora”, entre outros”.
Conclusão
Quando você reconhece que não pode fazer tudo o que pensa, ou tudo o que lhe pedem, você passa a agir deliberadamente fazendo escolhas mais conscientes, eliminando opções que não fariam sentido em sua vida.
Muito mais do que isso, Burkeman defende – e nesse ponto ele “rema contra a maré” dos gurus de autoajuda – que não há problema algum em realizar algumas tarefas sem dar 100% de seu potencial.
Isto é, algumas atividades podem ser realizadas perfeitamente no modo “standard”, digamos, com 80% do nível ótimo de capacidade, que já estarão cumprindo seu papel. Por exemplo: tarefas domésticas, controle de contas, o modo como você seleciona seus investimentos etc.
Não é preciso ser especialista em cada coisa que você fizer: às vezes, fazer o básico já será suficiente.
Abrace seus limites. Reconheça suas imperfeições. Faça apenas o que é humanamente possível.
Não tem problema você não conseguir dar 100% de si 100% do tempo. O problema é você viver numa espiral de angústia e estresse por não conseguir dar conta de todas as demandas ilimitadas da vida. 😉
Guilherme,
Precisamos aprender a nos cobrar menos e a priorizar o que é mais importante. Ainda mais em um mundo no qual as distrações e ilusões estão cada vez mais presentes em nossas vidas.
Seu post me fez repensar em alguns aspectos da minha vida. Agradeço por compartilhar!
Excelente, Rosana.
Uma auto cobrança interna menos rígida é bem vinda também, nesse mundo que já nos cobra tanto.
Obrigado!
gostei da feflexão
Grato, Gracia!
Gostei bastante da reflexão e concordo com boa parte dela. Acho que temos, em alguns momentos da vida, que darmos 100% em tudo para que possamos aprender quais são nossos limites e quais processos nossos esforços máximos desencadeiam. Só após esse autoconhecimento, que pode levar, anos, que julgo mais adequado atividades propositais no modo standart.
Curioso é que estava pesquisando sobre o livro e encontrei esse seu post!
Abraço