Por ocasião das transmissões esportivas relativas ao torneio de tênis Grand Slam Aberto da Austrália, o ex-tenista Fernando Meligeni escreveu um texto magnífico que serve de forma integral para todos os que vivem foram das quadras: o saber se perdoar.
Algo tão raro nos dias de hoje, o perdão para si mesmo abre espaço para que possamos reconhecer que não somos infalíveis, que erros fazem parte da vida, e que devemos, ao invés de ficarmos nos culpando por eles, reconhecê-los, internalizá-los e… seguir adiante.
Segue abaixo o texto do Meligeni:
“A arte de se perdoar by Nadal
Fiquei pensando como eu abordaria o jogo de hoje. Ele foi espetacular em todos os sentidos.
Pela emoção, pela competitividade, pelo lado mental, físico ou tático foi maravilhoso.
Quando conheci o Nadal com 15 anos dento de um vestiário e fui surpreendido ao me dizer o que ele achou de um jogo meu como se tivesse 30 anos, não imaginava que vinte anos depois ele continuaria me ensinando e surpreendendo.
Hoje ele me fez perceber a forma linda e perfeita que ele lida com o jogo. A forma que ele se perdoa dentro da quadra.
Tênis é um duro esporte onde erramos quase todos os pontos. Em mais de um momento escolhemos errado, fazemos besteira e nossas escolhas nos fazem perder. Tão parecido com o que vivemos no dia a dia.
Vamos ao jogo.
Ele entra em quadra nervoso e com a tática que não dá certo. Percebe que precisa mudar. Ele reclama? Se culpa? Não. Se perdoa, pensa e executa. Sua luta, sua atitude o coloca no jogo. Saca para o segundo set e falha. Joga errado e mal. Ele abaixa a cabeça? Não. Se perdoa pelo erro que “poderia” ter acabado com o jogo.
Entra no terceiro diferente e muda o jogo. Vence o terceiro sendo mais agressivo e o quarto também. Cometeu erros? Sim. Menores. Mas cometeu. Não baixou sua intensidade.
No quinto tinha a chance de ganhar seu 21 Grand Slam. Joga muito e vai sacar para o jogo. Erra, sente a pressão. Qualquer jogador reclamaria, brigaria, abaixaria a cabeça. Se culparia. Não. Rafael Nadal entende que é do jogo errar. É da vida. Ao invés de chorar, buscar culpado. Olha para fora, se perdoa e continua pensando em como, onde, de que forma.
Nadal vence. Nem sempre o faz. Muitas vezes perdeu, errou, sentiu. Sempre se perdoou. Sabe por que?
Simplesmente porque erramos. Não somos perfeitos. E se ficamos no erro já era. Aceitar que erramos querendo resolver o que aconteceu é a chave de um grande esportista que hoje e sempre nos mostra que sempre existe o próximo ponto.
Gracias Rafa.”
E como tudo isso se aplica em sua vida pessoal?
Em primeiro lugar, saiba admitir que erros irão acontecer, que você não é perfeito, e que o fundamental é que você estava agindo com a intenção de fazer o seu melhor.
É evidente que, nessas horas, quando se tem mais conhecimento, quando se tem mais maturidade, a primeira coisa que vem à mente é: “…. eu poderia ter feito isso de forma diferente no passado…”.
Mas o passado já se foi.
Você pode ter a certeza de que fez as escolhas certas, considerando as circunstâncias da época, e seu conhecimento da época. Não tinha como ser diferente… àquela época.
Hoje, com outra cabeça, outra mente, outra visão de mundo, com muito mais conhecimento, muito mais sabedoria, e muito mais discernimento, você provavelmente não faria coisas que fez no passado.
Mas o ponto é exatamente esse: saiba se perdoar.
É como diz aquela famosa frase atribuída ao Chico Xavier: “você não pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas você pode começar agora e fazer um novo fim”.
Esse é ponto.
Aprenda com os erros do passado para quando, defrontando-se com situações inéditas aqui e agora, você aja de modo diferente – e melhor.
Na vida, assim como no tênis, sempre existe uma próxima oportunidade. Um próximo mês. Uma próxima semana. Um amanhã. Um hoje. Recheado de possibilidades para ser preenchido com novas atitudes e novos comportamentos.
Conclusão
Já dizia o poeta:
Tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Errar faz parte do jogo da vida. Perdoar-se também faz – ou deveria fazer.
Não seja tão rígido consigo mesmo.
Leve a vida de forma mais leve, carregando menos sentimentos de culpa, e mais sentimentos de gratidão – gratidão por estar vivo, gratidão por ter consciência de novas possibilidades em sua vida, gratidão por continuar a percorrer essa estrada que se chama vida.
Agindo assim, tudo se tornará muito mais tranquilo e mais proveitoso.
Aproveite e leia também o texto publicado pela amiga Rosana – Seja gentil com você mesmo – que aborda uma temática muito semelhante a aquela versada no texto de hoje!
Bom dia, Guilherme
Que postagem edificante. Amei a frase: “Leve a vida de forma mais leve, carregando menos sentimentos de culpa, e mais sentimentos de gratidão”. Eis o segredo: aprender a perdoar a si mesmo. Estive no blog de Rosana e achei a reflexão espetacular, ela escreve demais. Bjs querido.
Excelente, Lucinalva!
Concordo contigo, a Rosana é uma escritora de mão cheia!
Bjs
Guilherme,
Vivemos em um mundo de críticas, um mundo que torna os erros muito pesados e como se errar fosse algo vergonhoso.
Mas o fato é que erramos. E erramos muito. E precisamos aprender a lidar com tudo isso de forma mais leve, procurando soluções em vez de mergulhar de vez nas justificativas e na falta de ação.
Gostei do texto do Meligeni, pois mostra de forma bem clara como uma pessoa de sucesso age: sem críticas, mas com perdão. E já pensando em como consertar o que não deu certo.
Agradeço por colocar o link do meu post aqui. 🙂 Vou colocar o seu link no meu blog também.
Abraços,
Excelentes comentários, Rosana.
Você tem razão: a autoconsciência é o primeiro passo rumo a uma jornada existencial que tenha mais significado e que possa iluminar a própria vida, e das que estão ao redor.
Obrigado pelo link!
Abraços!