Os comentários do blog são um rico manancial de reflexões e conteúdo, que geram, não raras vezes, frutos na forma de posts de excelente qualidade, que convidam a mais reflexões, pensamentos e “comida” para alimentar sua mente.
A propósito do post da semana passada, a amiga Rosana escreveu um comentário que vale por um post, e que gera reflexões convidativas sobre o mundo em que estamos vivendo, e de que maneira podemos nos comportar para preservarmos nossas crenças, nossos valores e nossas atitudes.
Confiram!
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“Apesar de não ter falado isso em meu blog, eu também nunca gostei muito dessas comemorações que nos são meio que impostas socialmente. E percebi que com o tempo, tenho gostado menos ainda.
Tentei me adequar, tentei forçar minha natureza. Tentei gostar dos fogos de artifício, da comilança exagerada, pois me sentia estranha, meio “anormal” já que todos gostavam. Só eu que não…
Com o tempo, fui percebendo que não era somente eu que pensava dessa forma. E fui me desligando cada vez mais dessas datas.
O fato é que não gosto dessas comemorações. Não mesmo. E me sinto muito melhor não tentando me adequar ao que não faz sentido para mim.
Gostei das ideias sugeridas nesse post. Além disso, penso que de todos eles, a data comemorativa mais importante do ano é o nosso aniversário.
Seja para comemorar com festa ou apenas para agradecer, para pensar no rumo que a vida tomou e no pode e precisa ser modificado para que melhores resultados sejam alcançados nesse novo ciclo que se inicia – esse sim, o genuíno novo ciclo na vida de cada um.
Boa semana!”
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Não tente se adequar ao que não faz sentido para você
A mensagem dessa semana é exatamente essa: não tente se adequar ao que não faz sentido para você.
E isso pode ser exemplificado em diversas coisas que atualmente ocorrem ao nosso redor, contextualizado para o momento em que estamos vivendo – janeiro de 2022.
Proliferam nas mais diversas cidades brasileiras a moda das “barbearias gourmet”. Suponha que você nunca tenha deixado a barba, bigode, cavanhaque crescer. Faz sentido deixar a barba/bigode/cavanhaque crescer somente para começar a frequentar esses lugares? Ou, mesmo que necessite recorrer aos serviços de uma barbearia, será que dar um trato no rosto na barbearia “do Zé da esquina” que você frequenta há anos e pelo qual paga um valor justo já não seria mais do que suficiente?
Podemos expandir os exemplos para o modismo da “necessidade” que as pessoas têm de documentar a experiência.
Seja em festas, seja em passeios em pontos turísticos, seja ainda em restaurantes, muitas pessoas gastam mais tempo dando um jeito de documentar a experiência, a fim de compartilhá-la em redes sociais, do que propriamente em curtir a experiência. Isso faz sentido para você?
O pior é que tenho recebido depoimentos de pessoas que veem outros sujeitos registrarem a experiência até de ir ao banheiro de restaurantes, aeroportos, shoppings e outros banheiros públicos. Selfies em banheiros públicos já virou lugar comum. Faz sentido?
Há, claro, modas mais antigas, e nesses padrões de comportamento é que conseguimos vislumbrar e sentir como a nossa sociedade em geral “obriga” as pessoas a seguirem o que o restante faz.
Um exemplo clássico é a famosa “troca de carro a cada 3 anos”. Acredite se quiser, muitas pessoas fazem isso, ao custo de seu próprio bem-estar financeiro. É inacreditável a quantidade de pessoas que desperdiçam rios de dinheiro trocando de carro em intervalos de tempo cada vez menores, sacrificando suas reservas financeiras, que poderiam ser direcionadas para melhorar o padrão de sua aposentadoria futura. Outras inclusive sacrificam totalmente a reserva de emergência. Mais importante que isso, na mente delas, é “mostrar que está de bem com a vida através do carro que tem”, mesmo que 9 de cada 10 carros que saem das concessionárias sejam pagos com um dinheiro que as pessoas não têm (são financiados). Isso faz sentido para você?
Conclusão
Um dos grandes desafios de nossa sociedade contemporânea é a preservação de nossos valores e crenças fundamentais. Preservar nossa autonomia e nossa independência de agir em relação aos outros.
Somos bombardeados a todo instante com pressões para fazermos não aquilo que, no fundo no fundo queremos, mas sim para fazermos aquilo que os outros querem que nós façamos. Eles querem subtrair a nossa vontade, subtrair a nossa atenção, subtrair o nosso dinheiro e, com tudo isso, vamos cada vez mais esvaziando as nossas vidas.
Faz sentido para você ficar acordado até às 3h30 da manhã do dia 1° de janeiro, comendo quilos de comida (muito mais do que você está acostumado em seu dia a dia), e se entupindo de álcool, para depois sofrer as consequências de um desarranjo completo em seu sono, em seu intestino e em seu fígado?
Então tome a coragem de tomar a decisão de não se adequar a esse padrão de “virada de ano”, pois isso já deixou há muito tempo de fazer sentido para você.
Só porque todos os amigos ao seu redor ficam postando freneticamente, em restaurantes, shoppings e passeios, fotos e vídeos em redes sociais, é que você se vê obrigado também a fazer isso? Se documentar a experiência não fizer sentido para você, deixe pra lá.
Trocar de carro a cada 3 anos só porque todo mundo faz isso? Viajar pra não sei aonde só pra dizer que tá curtindo a vida? Exibir o relógio, a roupa ou o carro “de marca”, aparentando ser uma pessoa que você não é, para impressionar pessoas que nunca se importarão com você, tudo comprado com um dinheiro que você não tem, a fim de representar um personagem que só habita em seu imaginário, só porque Beltrano, Ciclano e Fulano fazem e continuarão fazendo isso a vida inteira?
Não, não e não.
Aja com independência e autonomia. Preserve seus valores e suas crenças. Não tente se adequar ao que não faz sentido para você.
O estranho aqui não é você. Estranho é o mundo em que estamos vivendo.
Isso sempre aconteceu. São os padrões de comportamento que norteiam a sociedade e que se manifestam de diversas maneiras, desde as mais banais, as mais complexas.
Na realidade, o tentar fazer prevalecer a essência individual frente a comoramentos massificados sempre foi desafiador ao indivíduo e ao coletivo.
A pessoa tem que ter muita certeza e paz de espírito com relação as suas convicções para sair minimamente desses padrões, mas geralmente isso tem preço. E a pessoa deve estar disposta a pagar o preço.
Sem dúvida, Anônimo!
Essa de que 90% das vendas de carros são finaciadas, eu já desconfiava, um vez pude vê claramente a falta de inderesse do vendedor em vender a vista. Já percebia que ele queria ganhar duas vezes.
Certamente, Luke, há um interesse por trás disso tudo.
A sociedade de consumo em que vivemos arranja sempre novas formas de levar nosso dinheiro. Guilherme citou o exemplo das barbearias masculinas moderninhas. Acho que para as mulheres provavelmente se inventam ainda mais coisas : ainda recentemente veio a moda das sobrancelhas mais espessas e escuras, e praticamente todas se sentem na obrigação de ir pagar um valor considerável para “desenhar” essas sobrancelhas com alguma esteticista. O envelhecimento nunca é aceito de forma natural, todas sentem que tem que pagar por botox, preenchimento, procedimentos estéticos que se destinam a deixar mais longe a velhice inevitável.
Quanto aos carros, relógios e outros objetos, minha percepção é que caíram um pouco na lista de objetos de desejo. O primeiro lugar do ranking foi ocupado pelas viagens. Nada contra viajar, claro. Mas infelizmente as viagens viraram status, viraram uma nova forma de exibição. Por isso são tão amplamente divulgadas em fotos nas redes sociais, como bem observou o Guilherme.
Principalmente os adolescentes são pegos em cheio por essa exibição toda, e não é fácil dizer a eles que “eles não são todo mundo”, e não precisam fazer o que todo mundo faz. Dificil, mas não impossível. É preciso ir combatendo com firmeza essa pressão social a favor do consumo. Pelo nosso futuro, pelo nosso equilíbrio financeiro, e tambem pelo equilíbrio ambiental.
Há um livro que sempre recomendo, que é o “Chega de desperdicio!”, que aborda essas questoes de forma bem esclarecedora e completa, muito alem dos chavões já conhecidos.
Excelente depoimento, Vania.
Concordo que o novo objeto de desejo da sociedade passou a ser as tais viagens-status.
Gostei da indicação do livro!
Abraços!