Semana passada o Banco Central do Brasil realizou novo aumento da taxa básica de juros da economia, a taxa Selic, fixando-a no patamar de 5,25% a.a., aumentando, assim, em 1% em relação à taxa anterior, no que se constitui no ciclo de maior aperto monetário desde 2003.
O cenário fiscal continua preocupante, principalmente por conta da pressão inflacionária e das contas públicas cada vez mais desajustadas. O mercado financeiro já projeta uma inflação em 2021 na casa dos 6,79% a.a.
Na verdade, o que o Banco Central está fazendo é, em poucas palavras, tentando correr atrás do prejuízo.
Depois de uma postura de absoluta inércia e passividade no ano de 2020, quando todo mundo, até mesmo os leigos em economia, já tinham a percepção de que uma taxa Selic de 2% a.a. era insustentável, diante da escalada do câmbio, com o dólar quase chegando ao patamar de seis reais, e de uma inflação que se avizinhava cada vez mais, resolveu agora em 2021 o Banco Central aumentar os juros em doses cada vez mais cavalares, na tentativa de tentar conter a pressão do aumento dos preços, que já causa estragos no orçamento de milhões de famílias brasileiras, principalmente nos itens mais básicos de consumo, como combustível, energia elétrica e alimentos.
É evidente, por outro lado – e analisando-se o aumento da taxa Selic sob a perspectiva dos investimentos – que a renda fixa vai voltando a se tornar cada vez mais atrativa.
Veja, a propósito, os preços e taxas praticados no Tesouro Direto (quadro extraído do dia 7 de agosto de 2021):
Com o Tesouro Prefixado pagando em torno de 0,8% a.m. brutos, realmente fica difícil para os fundos imobiliários e até as ações pagadoras de dividendos conseguirem competir, tendo em vista a segurança proporcionada pelo Tesouro Nacional.
Mas o foco principal do artigo de hoje não é propriamente discutir sobre alocação ou realocação de recursos em carteiras de investimentos.
O objetivo principal do artigo de hoje é colocar em foco o dever de casa que você pode e deve fazer – e que o BC acabou não fazendo.
E qual dever de casa é esse?
Simples: controlar a inflação.
Mas controlar a inflação de modo preventivo e proativo, e não de modo reativo e passivo, como o BACEN andou fazendo.
O controle da inflação não é apenas uma meta institucional: deve ser, antes de tudo, uma missão confiada a cada indivíduo no respectivo espectro familiar. Evitar a corrosão do dinheiro ganho, através de medidas firmes e fortes, é essencial para ter as finanças sob controle.
Abaixo vão algumas dicas sobre como fazer esse dever de casa bem feito.
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Aumente as receitas da família
Com a reabertura gradual da economia – apesar dos temores que rondam acerca de uma nova onda provocada pela variante Delta, que aliás já está fazendo estragos na Ásia (vide esse artigo da CNN: variante Delta está devastando o mundo e levando Sudeste Asiático ao colapso) – é essencial aproveitar esse bom momento da economia para se posicionar visando a um aumento das receitas da família.
Aproveite as oportunidades de fazer um trabalho extra ou mesmo procure um trabalho melhor e mais bem remunerado. Faça seu tempo render e encontra formas criativas de ganhar dinheiro. Candidate-se a uma promoção em sua empresa, empregue-se em trabalhos temporários que oportunizem uma renda extra, dê carga nos finais de semana em um segundo emprego, prepare-se para um novo concurso público: as possibilidades existem, basta querer e ir atrás.
Produzir mais dinheiro como decorrência de seu esforço pessoal é o primeiro e mais importante passo para conseguir habilitar-se a aumentar a renda familiar e, agindo assim, você também fará com que o aumento dos preços decorrente da inflação não pressione tanto o orçamento doméstico familiar.
Evite financiamentos corrigidos pela inflação
Nos últimos anos, surgiram linha de crédito imobiliário atreladas à inflação, cujo principal atrativo é a parcela da prestação mensal ser menor do que no financiamento tradicional, em que há juros prefixados atrelados à TR.
O problema oculto desses financiamentos atrelados à inflação é que o risco do custo do crédito é transferido do banco para você, consumidor, haja vista que os custos da inflação ficam por conta do comprador e não do vendedor.
Diante disso, evite contratar financiamentos atrelados à inflação, ainda mais no momento em que vivemos, em que a pressão inflacionária está atingindo níveis preocupantes, não só no Brasil, mas também em países de primeiro mundo, especialmente nos Estados Unidos.
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Reduza despesas internacionais
Apesar da reabertura da economia estar também permitindo as viagens internacionais, o momento requer cautela, não só por conta da variante Delta, acima já mencionada, mas também por conta do câmbio que continua desequilibrado justamente pelo fato… de o Banco Central do Brasil não ter feito o dever de casa e, consequentemente, ter permitido o dólar alcançar patamares assustadoramente altos.
Como todos sabemos, ano que vem é ano de eleições, e se tem um ativo que oscila de maneira muito forte em anos eleitores esse ativo se chama câmbio.
Portanto, diante de um cenário de incertezas e dúvidas quanto ao dólar, convém ser conservador nesse momento e, logo, não aumentar despesas em moeda estrangeira.
Vale lembrar, como se tudo isso não bastasse, que compras internacionais são acrescidas, se realizadas no cartão de crédito, com o IOF de 6,38%, o que encarece ainda mais o custo efetivo total da operação.
Conclusão
Ao contrário do Banco Central, não adote a inércia como o pilar principal de seus comportamentos nas finanças.
Quem fica com uma postura excessivamente passiva diante dos acontecimentos corre o risco de ter que dobrar os esforços futuramente para corrigir a passividade, de modo tardio… e tudo isso ainda sem ter a certeza de que seus esforços trarão os resultados almejados.
A inflação está vindo com tudo, sendo perceptível em diversas esferas de nosso consumo: alimentos, energia elétrica, combustível, planos de saúde, eletroeletrônicos, material de construção etc.
O momento atual requer muita prudência, aliado a tomada de atitudes construtivas e ativas, visando a atenuar os efeitos da inflação sobre o seu poder de compra.
Só com consciência desse cenário perturbador é que você será capaz de vencer os obstáculos que futuramente virão. O preparo e o planejamento inteligente ainda são suas melhores armas. Não espere a situação se deteriorar para começar a agir. Aja antes que a tempestade de aumento de preços possa lhe perturbar.
Bom tópico, em relação a renda fixa ficar mais atrativa, inicialmente eu também pensei isso, mas quando a gente desconta a inflação… aí complica tudo. No final é manter a diversificação. Abs
Verdade, Bilionário!
Os ganhos reais, ou seja, acima da inflação, vão ficando cada vez mais minguados quanto maior é o índice de inflação.
Abraços!
Falei sobre a inflação no meu blog semana passada também. Acredito que todos estão abrindo os olhos para esse monstro chamado inflação.
Por fim, ótimo tópico irmão. Você falou tudo, devemos tomar atitudes.
Ótimo, PP!
Li seu artigo, concordo plenamente com ele também.
Abraços!
De agora em diante cada um deve agir de maneira muito esperta , especialmente porque ninguém sabe o nível do estrago da nova variante aqui no país , e ainda temos o agravante de ano que vem ser época de eleições .
https://espiritosapucay.blogspot.com/
Sem dúvida, ES, devemos todos estar atentos mesmo!
– “Na verdade, o que o Banco Central está fazendo é, em poucas palavras, tentando correr atrás do prejuízo.
Depois de uma postura de absoluta inércia e passividade no ano de 2020 ….”
Perfeito, Guilherme. Complacencia extrema e autodestrutiva com relaçao as pressoes inflacionarias evidentes crescentes.
E muito bem avisado no seu blog no ano passado! Ter participado neste mesmo espaço apoiando tais conclusoes foi uma honra.
A grau de atraso – junto com a eventual grau de reaçao – deste BC nao faz se lembrar do Tombini? Como eh cruel a repetiçao da historia ….
Abraço!
Obrigado pelas palavras, Michael!
Isso mesmo, desde há muito tempo vínhamos alertando sobre a necessidade de uma atitude mais firme da autoridade monetária. Suas participações e comentários enriqueceram sobremaneira os debates, de modo que as nossas conclusões, à época, se mostravam mais do que acertadas.
E realmente, tudo está a lembrar o Tombini. Incrível a repetição do mesmo tipo de erro pelas diferentes autoridades monetárias brasileiras.
Abraços!
Boa noite!
Conheço o site há pouco tempo e apenas gostaria de deixar registrado a minha opinião. Seu site é maravilhoso, sempre com textos objetivos, muito bem escritos, claros e diretos. Estou lendo o máximo de artigos possíveis dentro da minha disponibilidade de tempo, e obrigado por tanto conteúdo de qualidade!
Muito obrigado pelas palavras, Leonardo!
ótimo artigo. Obrigado pelo Alerta