Um artigo publicado recentemente no blog do Cal Newport me chamou a atenção, dado abordar um problema que vem crescendo cada vez mais em nossa era altamente digital e que, ao mesmo tempo, valoriza o trabalho de produção de conhecimento.
Trata-se da maneira como nós em geral agimos para resolver problemas.
Temos uma tendência a buscar por solução aditivas, isto é, que adicionem componentes na resolução do problema, em vez de buscar por soluções subtrativas, ou seja, que tratem o problema por um viés mais simplificado, eliminando camadas.
Isso está, aliás, presente nos mais variados setores da vida, desde, no âmbito dos investimentos, da escolha das ações; até quando vamos ao médico e ele receita ações interventivas, ao invés de ações subtrativas.
Investimentos
Veja o campo dos investimentos, especificamente o mercado de ações.
Todos procuramos obter a seleção das melhores ações que possam produzir os maiores retornos. Na busca desenfreada por tal desiderato, optamos por solução aditivas, isto é, tendemos a selecionar 5, 10, 15 ou 20 ações de diferentes empresas, de modo a construir uma carteira equilibrada e diversificada, que diminua os riscos e proporcione uma melhor relação custo/benefício.
Qual é o problema dessa estratégia aditiva?
É que ela demanda muito tempo e esforço. Tempo na análise das ações, esforço na energia mental para seleção daquelas que podem performar melhor. Analisamos balanços trimestrais, notícias, compramos relatórios de recomendações, vemos vídeos no YouTube etc., quando, na verdade, existe um meio muito melhor de obter o retorno do mercado de ações, sem gastar tanto tempo… que são os fundos de índice passivo, os chamados ETFs.
Os ETFs são uma solução subtrativa, pois eles proporcionam um resultado ótimo eliminando componentes ou camadas na busca pela solução sobre como melhor investir na Bolsa de Valores.
Medicina
Outro setor da sociedade que pode muito bem se beneficiar de soluções subtrativas é a Medicina.
No ramo médico, soluções que prescrevem evitar algo podem ser tão ou até mais eficientes que soluções interventivas, que requerem ação humana, ou cirurgias, ou medicamentos, ou tratamentos.
Pense nos males causados pelo cigarro. Simplesmente parar de fumar é muito mais eficiente do que usar drogas para corrigir, atenuar ou eliminar os males do uso do cigarro.
Pense, ainda, nos males causados pelo açúcar. A solução subtrativa de evitar o consumo do açúcar já é, por si só, fonte de muitas soluções para melhorar a vida dos diabéticos ou pré-diabéticos.
Mas por quê os médicos continuam a insistir em soluções aditivas? Segundo Nassim Taleb, é porque o reconhecimento pela atuação profissional deles muitas vezes provém daquilo que eles fazem, e não daquilo que eles não fazem, ou ordenam os pacientes a não fazer.
O dilema da sociedade atual – e como resolvê-la.
Na nossa atual sociedade, predomina um viés de busca por soluções aditivas. E por quê isso ocorre?
Segundo Cal Newport, isso ocorre pelo cruzamento de duas características de nossa sociedade atual: de um lado, pelo fato de estarmos nos tornando, cada vez mais, uma sociedade do conhecimento, e, com o conhecimento, vem a irresistível tendência de fazer mais, ou de querer fazer mais.
E, de outro lado, pelo fato de estarmos nos tornando, cada vez mais, uma sociedade digital, onde o acesso à informação fica cada vez mais fácil a um clique de distância do Google.
A pergunta que se coloca então é: existe solução para esse dilema?
Sim, existe. E ela exige que façamos menos, o que, aliás, está em absoluta sintonia com as soluções subtrativas, que reduzem componentes na resolução dos problemas. Lembre-se do caso dos investimentos em ações por meio de ETFs, ou fundos passivos de ações, que seguem determinado indicador.
E junto com o fazer menos vem outra ideia associada de extrema relevância nos dias atuais: melhorar o foco daquilo que fazemos. Não é apenas fazer menos coisas, mas sim fazer menos coisas pondo mais qualidade e atenção nesse número reduzido de atividades.
E tudo isso tem a ver com assumir o controle de sua vida; de filtrar informação a fim de filtrar o joio do trigo mental; de fazer somente aquilo que você é capaz de assumir.
Como eu disse num artigo escrito em fevereiro de 2014, intitulado Não adicione em sua vida camadas que você não é capaz de suportar: retome o controle de sua própria vida. Tenha consciência de que a cada evento a que você se expuser você correrá o risco de se deixar controlar por aquilo que você vê.
Esvazie um pouco o lixo mental que você foi acumulando ao longo dos últimos 5 anos. E esse lixo mental atrapalha muito a sua própria vida em termos materiais. É um lixo mental que gera lixo material. Pense, por exemplo, na bagunça que está seu guarda-roupa nesse exato instante. Ou nos diversos projetos inacabados por falta de tempo (ou interesse). Não estariam essas muitas camadas adicionadas à sua vida roubando esse precioso tempo (e interesse), impedindo-lhe de concluir tarefas que ficaram inacabadas?
Conclusão
A fim de resolver muitos problemas em sua vida, pense em resolvê-los com base na âncora mental do “menos é mais”. Gire a chave da sua mente de forma a buscar uma solução que elimine componentes, ao invés de aumentá-los.
O lema da “fazer mais e fazer melhor” em tudo às vezes não funciona. Às vezes, o que funciona e o que funcionará é “fazer menos e fazer melhor”.
Além disso, faça as coisas no seu ritmo, naquele que você achar melhor. Desde que você consiga realizar a tarefa para a qual se propõe, e fique satisfeito com o processo, é o que basta.
Aprimoramentos do processo podem, é claro, ocorrer durante a jornada, mas antes é preciso você assumir o controle da consciência daquilo que está fazendo.
Reprograme a sua mente a fim de que você a domine, ao invés de ser dominado por ela. 😉
Boa semana!
Guilherme,
Muitas vezes, “menos é mais”. Seu post ilustra bem isso.
Gostei do trecho que trata sobre a Medicina. É exatamente isso o que ocorre!
Um dos exemplos é a Medicina Preventiva.
Você faz todos os exames.
Deu tudo certo? Ótimo! Continue com seus hábitos normalmente.
Deu errado? Vamos tomar um remedinho então para controlar o problema.
Porém, controlar não é resolver!
Aliás, muitas vezes as doenças são causadas pelo estilo de vida!
E os médicos nem sempre dão algum “insight” sobre isso. Se você perguntar e insistir no raciocínio, talvez consiga algum esclarecimento.
Por isso, penso que precisamos ter o máximo de hábitos saudáveis que conseguirmos.
Não é fácil, pois são tantas as tentações que encontramos nos supermercados!
Ontem mesmo, bem na entrada do estabelecimento haviam embalagens com sonhos. Pareciam tão macios e apetitosos! Quase comprei. Mas pensei melhor. E sei que fiz a melhor escolha.
Do outro lado da entrada, haviam legumes em promoção. Peguei um pacote de cenouras. Não dá água na boca como os sonhos. Mas qual é melhor para a saúde? Qual sobrecarrega o organismo desnecessariamente?
Só foi uma pena eu ainda ter comprado bolachas recheadas… Esse é o tipo de produto que definitivamente preciso tirar da minha vida.
Parabéns pelo post!
Excelente depoimento, Rosana!
Concordo com suas palavras: ter a autoconsciência de que podemos encontrar soluções menos paliativas, e mais eficazes a longo prazo, muitas vezes de caráter subtrativo, é o primeiro passo para conseguirmos aprimorar na vida.
Quanto ao seu exemplo pessoal no supermercado, parabéns! Seu testemunho me lembrou o poder das escolhas qualitativas, isto é, quando simplesmente não agimos pela abdicação de algum item (os doces de sonhos), mas sim buscamos substitutos equivalentes (o pacote de legumes).
Quanto às bolachas recheadas, realmente é um desafio, mas que logo você também conseguirá vencer, já que identificou a raiz do problema.
Abraços!!!
Menos é mais é um dos meus lemas de vida!
Perfeito, TR!
Genial! Vi um camarada em vídeo no canal do Bastter falando uma coisa parecida, e vivo isso todo dia, ao invés de diminuir o café ou corta-lo completamente, eu adiciono o Omeprazol que é um veneno se tomado por um grande período de tempo.
Obrigado mais uma vez por seu conteúdo de qualidade. Valeu!
Valeu, EI!
De fato, o Omeprazol e todos os “Ols”, a longo prazo, podem se tornar mais veneno do que remédio.
Abraços!
Como sempre, excelente texto: bem escrito, sensato e focado. Sou sua leitora!!!
Obrigado, Sarah!
Conceito muito interessante. Vou refletir sobre ele. 🙂
Obrigado, Vânia!