Recentemente, os bancos de varejos passaram a adotar em bloco uma nova medida relacionada ao atendimento presencial em agências bancárias.
Trata-se da diminuição do horário de atendimento ao público: antes os bancos fechavam às 16:00. A partir dessa nova medida, eles vão fechar às 14:00. São duas horas a menos de atendimento ao público.
Certamente essa carga horária de atendimento ao público cada vez mais reduzida terá impactos naquela parcela da população que ainda tem o costume de frequentar as agências bancárias locais para realização de transações bancárias.
Contudo, ela talvez representa um sinal de novos tempos, aos quais todos teremos, mais cedo ou mais tarde, que nos acostumar: a migração cada vez maior para os serviços bancários digitais.
Ir na agência para quê mesmo?
Antigamente, as pessoas precisavam ir para a agência bancária a fim de realizar todas as transações que envolviam dinheiro, desde desconto de cheques, até assinatura de contratos, saques de dinheiro e realização de investimentos.
Contudo, a tecnologia foi facilitando muitas dessas atividades no decorrer do tempo, começando com a criação e uso cada vez mais intensivo dos serviços de home banking, passando pelo massificação do uso dos celulares como dispositivos eletrônicos centralizadores de transações financeiras, e culminando com a revolução do próprio dinheiro, que está cada vez mais digital e cada vez menos físico – e cujo exemplo mais recente foi a implantação do Pix, já objeto de um post específico a respeito.
Paralelamente a tudo isso, tivemos ainda dois fenômenos que contribuíram para um esvaziamento cada vez maior das agências bancárias.
De um lado, a diminuição dos empecilhos para o acesso à Internet, seja pela melhora da infraestrutura disponível, seja pelo barateamento dos custos relacionados.
E, de outro, pelos hábitos desenvolvidos pela própria população brasileira, ou pelo menos de grande parte dela, que viu que não precisava ir para a agência bancária para resolver assuntos financeiros.
O surgimento e popularização dos bancos digitais
Apesar de o mercado bancário ainda estar muito concentrado nas mãos dos 5 grandes bancos de varejo – BB, Bradesco, Caixa, Itaú e Santander – é notável o crescimento exponencial dos bancos digitais, que surfaram nessa onda de popularização do home banking e do fenômeno cada vez mais acelerado da virtualização do dinheiro.
É claro que eles precisavam oferecer algo diferenciado, e ofereceram, atacando algo que fez mexer com as estruturas oligopolistas do mercado bancário brasileiro: custos de tarifas bancárias.
Tarifa zero para manutenção de conta, tarifa zero para saques de dinheiro, tarifa zero para TEDs e DOCs, cartões de crédito com anuidades gratuitas… foram algumas das vantagens para atrair uma boa parcela dos clientes tradicionais dos grandes bancos para os bancos digitais.
Hoje parece inimaginável pensar que isso poderia ter ocorrido algum dia, mas, até há alguns anos, os bancos cobravam tarifa até para impressão de extrato bancário em caixa automático.
Isso mesmo.
Atualmente, por uma coisa que você consegue visualizar em menos de 30 segundos no celular de maneira totalmente ágil e gratuita, antigamente era cobrado. E você ainda necessitava fazê-lo na agência bancária ou num caixa automático, o que, por sua vez, implicava uma série de gastos de tempo – sair de casa, estacionar o carro, caminhar até a agência etc. – e de dinheiro, com o pagamento da respectiva tarifa.
Os bancos digitais caíram no gosto da população, tanto que os grandes bancos tiveram que se reinventar, seja reformulando sua grade de produtos para oferecer também contas gratuitas digitais, seja oferecendo produtos e serviços que os bancos digitais ainda não tem força suficiente para competir, principalmente em produtos ligados a crédito e financiamentos.
A pá de cal – o coronavírus
E não temos dúvida que o surgimento da pandemia do coronavírus só fez esse processo todo de virtualização dos serviços bancários se acelerar ainda mais.
Hoje em dia, conversar com o gerente – para quem ainda necessita disso – não depende mais de marcar uma reunião presencial: basta uma conversa por telefone, WhatsApp ou videochamada para as coisas serem esclarecidas.
Assinatura de contratos? Os apps resolvem praticamente tudo. Além disso, há possibilidade de realização de transações com assinaturas eletrônicas ou digitais que eliminam o atendimento presencial.
Hoje em dia, até abertura de contas e outras transações que exigiam presença física estão sendo migradas para as plataformas digitais.
Diante de tantas mudanças num intervalo tão curto de tempo, não é de se surpreender que tenha havido essa redução de jornada.
A migração dos investimentos de bancos para as corretoras
E como se não bastasse tudo isso, vemos no Brasil um fenômeno que já se consolidou em muitos países lá fora: bancos para serviços de crédito e consumo, corretoras para investimentos (além dos bancos de investimentos, exclusivos para essa função).
É cada vez maior a quantidade de pessoas que reduziu ao mínimo seu relacionamento com o banco, pois viu que o dinheiro é melhor gerenciado quando alocado em corretoras de investimentos, que tendem a oferecer serviços melhores e mais personalizados, bem como produtos mais competitivos, com custos reduzidos e ofertas de investimentos mais baratas, portanto.
Conclusão
Adaptar-se ao mundo dos serviços digitais será cada vez mais essencial para viver nessa nova realidade.
As agências bancárias, num país onde a bancarização ainda não atingiu toda a população, ainda será uma realidade bem viva principalmente nas pequenas cidades, e também naquelas regiões onde se faz necessária para o cumprimento de certos objetivos, como, por exemplo, o atendimento a demandas sociais.
Contudo, há uma tendência inexorável delas ficarem cada vez mais redundantes, sendo reduzidas apenas ao essencial, para tratamento de pontos e necessidades muito específicas.
Para além da simples reflexão sobre a redução de atendimento presencial, o que temos que presenciar no Brasil é uma maior diversificação dos próprios bancos. Mercados muitos concentrados oferecem um leque de alternativas de crédito, consumo e investimentos, pouco atrativa aos clientes.
Enquanto isso não ocorrer, devemos, por conta própria, pesquisar e lançar mão das melhores alternativas de serviços bancários, evitando gastar muito tempo e gastar muito dinheiro em produtos e serviços que não estejam alinhados às nossas necessidades de vida.
E você, se lembra da última vez que pisou numa agência bancária?
Guilherme,
Eu também acredito que a pandemia vai acelerar o processo de digitalização. Até por que, não faz mais sentido ir à agência, exceto em casos muito pontuais.
Porém, acho que nem todos os bancos pensam assim.
Formatei meu computador e mesmo instalando o módulo de segurança, preciso ir até uma agência para que as transações bancárias sejam liberadas. Ainda bem que é apenas uma poupança. Mas em pleno século XXI e no grau de digitalização que nos encontramos, para mim isso soa como um tanto arcaico.
Poderia pelo menos haver algum tipo de confirmação por SMS para liberação da conta. Instalei o app, mas a situação é a mesma: sem movimentações.
O mais incrível é que no próprio sistema aparece como dispositivo ativo, porém quando tento confirmar, o sistema simplesmente não funciona.
Boa semana!
Verdade, Rosana.
Inacreditável que alguns bancos ainda insistam em soluções draconianas para resolver problemas tecnológicos simples.
Boa semana também!
Pago tudo pelo computador. Faz algum tempo que não entro numa agência bancária.
Mas tem um problema que chega a me incomodar, ainda mais agora em época de coronavírus: minha mulher faz questão de pagar as contas dos pais dela num banco. Diz que gosta de conversar na fila do caixa eletrônico, como também de andar. (Antes que apareçam as más línguas, ela vai mesmo.) Tem medo de digitar senhas em celular e computador.
Já faz uns 15 anos que pago boletos pela internet. Explico tudo a ela e não adianta.
Acho que os bancos deveriam fechar pelo menos metade das agências pra forçar esse pessoal a alterar costumes. No ritmo que está, nem daqui a 10 anos será tudo online.
Verdade, Paulo.
Muita gente ainda prefere fazer tudo presencialmente.
Vamos ver quais serão os próximos passos dos bancos nessa questão.
Abraços!
Imaginar que tem um banco aqui em Brasília que no processo de abertura de conta corrente, você tem que assinar “apenas” 5 folhas diferentes, e além disso, nas 5 folhas, você tem que assina 9 vezes…
E esse banco lucro mais de 400 milhões em 2020.
Impressionante como a burocracia ainda reina em certos locais!
Tem coisa que eu prefiro fazer presencialmente, tem coisas que prefiro fazer no celular… é de cada um.
O que eu certamente não vejo com bons olhos é o fim do dinheiro físico, por que aí é mais um passinho rumo à escravidão total – dinheiro 100% digital é mais fácil de ser confiscado, rastreado, e por aí vai, e pode ser que chegue um dia em que sua conta será bloqueada porque você fez um comentário “ofensivo” no twitter ou, pior, porque não deu like em algum selinho azul politicamente correto. Neste sentido, torço para que o bitcoin e as outras criptomoedas ofereçam alguma proteção para as pessoas normais.
O que acha desse assunto?
Concordo que deve haver opções às pessoas. Excluir completamente o dinheiro físico é na prática impossível, dada a precariedade no uso dos sistemas digitais pela grande massa da população, não só brasileira, mas também mundial.
Além disso, há a questão de se prestigiar a liberdade de ação pelos agentes econômicos.
Sempre fui ligado nessas facilidades que reduzem os custos bancarios.
Começando pela conta salário, que já pedi assim que consegui meu primeiro emprego de carteira assinada. Logo após migrei para conta digital e pagamentos por cod. barras no caixa eletronico e depois pelo smartphone, demorei vários anos para convencer meus parentes próximos a fazerem o mesmo. Nunca aceitei pagar anuidade de cartão.
Simplesmente detesto pegar fila, chega a dar pena ver as filas nas loterias e pessoas com conta de água e energia para pagar.
Educação financeira deveria ser metade do conteúdo de matemática das escolas, melhoraria esse país em escala jamais vista, mas isso está muito longe de acontecer, principalmente com políticos corruptos e instituições que não querem perder sua influência e poder.