Em toda época da Black Friday os brasileiros adoram fazer circular diversos memes sobre o evento, que vão desde o fato de muitos não terem dinheiro nem na Friday, nem no Saturday, ou no Monday etc., até aqueles outros conclamando as pessoas a evitar o famoso tudo pela metade do dobro.
Embora nos últimos anos as campanhas terem ficado em geral menos ruins, muito por conta da maior conscientização dos consumidores, que já não caem mais no lenga lenga de antigamente, ainda assim essa data comercial tem potencial para angariar muitas pessoas desinformadas.
E isso por um motivo bastante elementar: há nessa arena pública uma luta confrontando vendedores profissionais, treinados para vender usando táticas testadas exaustivamente, contra compradores amadores, que muitas vezes se encontram em posição de fragilidade emocional e sem um mínimo de alfabetização financeira.
E, nessa luta, diversos fatores, como a assimetria de informações, a falta de educação financeira, as compras por impulso ou dominadas por fatores emocionais etc., acabam levando as pessoas a fazerem péssimas compras, sobre as quais ficam arrependidas tempos depois.
Há muitos produtos interessantes e que possam ser até eventualmente úteis nessas promoções?
Não tenham dúvidas, afinal de contas, muitas vezes nos deparamos com alguma necessidade de compra de algum bem, como um celular, um computador, uma TV, uma roupa, um calçado etc., e essas promoções podem realmente vir a calhar.
Contudo, se você já tiver com todas as suas necessidades e desejos imediatos de consumo atendidos, não dá mais pra viver como um “maria vai com as outras”, comprando apenas porque determinado produto está em promoção, ou oferece descontos ou vantagens associadas que parecem imperdíveis, mas que apenas aparentam isso, sem realmente o serem, na essência.
Nesse contexto, a frase do popular personagem Julius, da série de TV “Todo mundo odeia o Chris”, faz todo o sentido:
Essa frase me veio à mente porque, nos últimos dias, uma determinada marca de celular tem feito agressivas campanhas de marketing na promoção de lançamento da última versão de seu celular ultra mega hiper blaster potente.
Praticamente todas as grandes lojas online de varejo têm oferecido esse produto em promoção, e você mesmo deve ter se deparado com ela recentemente.
Algumas oferecem mil e tantos reais de cashback.
Outras oferecem pontos e milhas aéreas numa quantidade tal que podem ser resgatados por diversas passagens aéreas.
Outras ainda oferecem parcelamentos a perder de vista.
E por aí vai.
A grande questão que deve ser objeto de sua reflexão é:
Por quê raios eu vou precisar substituir meu celular agora?
Será que ele ficou tão decadente e ultrapassado só pelo fato de ter saído um modelo novo?
Será que esse negócio de cahsback, milhas, pontos, e mais não sei o quê, não serve mais para atender aos interesses das empresas (fabricantes de celulares, lojas de comércio eletrônico, e empresas de cashback e de milhagens), colocando você na verdade como um produto deles?
Racionalize suas compras
Valem aqui as mesmas dicas que eu já havia dado em diversos outros artigos do blog, como esse: tenha muito cuidado com as compras de passivos que geram “despesas associadas” e esse: Suas compras são motivadas por comportamentos oportunistas ou por valores reais? ou seja, sempre procure racionalizar o ato de comprar. Isto é, o processo de reflexão deve vir necessariamente antes do processo de desembolso de dinheiro.
Faça a si mesmo(a) perguntas como:
- “O que eu vou ganhar com isso?”,
- “Se eu não comprá-lo, isso vai me fazer falta?”,
- “Eu tenho dinheiro para comprar isso?”,
- “Essa compra pode ser substituída por um equivalente menos caro?”.
Fazer essas perguntas para si próprio trará informações que estavam apenas no seu subconsciente para o seu consciente, para a sua zona de vigília e concentração e foco.
Ao agir desse modo, mais neurônios responsáveis pelo funcionamento do córtex pré-frontal (aquele responsável pela tomada de decisões a longo prazo) serão ativados, aumentando as probabilidades de que você tome a decisão correta.
Pare, pense, respire, reflita e medite. Tudo isso antes de agir.
Quanto mais profundas forem suas análises mentais conscientes sobre o ato de comprar, com certeza mais aliviado você está estará, no sentido de estar fazendo uma compra ou fazendo uma não compra, compatível e alinhado com seus verdadeiros valores, princípios e interesses.
Conclusão
Pense bem, e avalie suas reais necessidades de consumo.
Não vale a pena entrar na pilha das empresas fabricantes de celulares, de venda de cashbacks e de comércio eletrônico, apenas para comprar um produto que você de fato não esteja precisando no momento.
Escrevo tudo isso porque sei que a pressão é grande para que você, consumidor, caia nas armadilhas montadas por eles, e gaste seus preciosos reais em coisas que mal vão ter utilidade para você nesse presente momento.
O recado é bem simples: não compre porque o desconto é bom, é ótimo, é excelente. Você não sente falta de algo que não precisa.
Não deixe essas empresas fazerem sua cabeça.
E, como diz o Julius: “se você não comprar, o desconto será bem maior”. 😉
Guilherme,
Excelente!
Que coincidência: estou escrevendo um post sobre o tema para o Dia do Consumidor.
Com tantas opções, tantas atualizações e embalagens bonitas e chamativas, precisamos pensar muito, muito mesmo se realmente precisamos de novos produtos.
Como você disse: nenhum desconto vale a pena se não precisamos do produto.
Boa semana!
Verdade, Rosana!
Que baita coincidência! Precisamos sempre usar o poder das palavras (lembrei do seu artigo), para repetidamente abordarmos certos temas de interesse de nós, consumidores, pois do outro lado da linha há um batalhão de vendedores inescrupulosos querendo vender a qualquer custo.
Boa semana também!
Eu que o diga rs
kkkkkkk…..