Não obstante o início das campanhas de vacinação contra o coronavírus, no âmbito da economia o cenário ainda é incerto e, talvez pior do que isso, potencialmente perigoso para os orçamentos domésticos de milhões de famílias brasileiras.
O governo continua com um monstruoso problema fiscal para ser resolvido, o Banco Central continua teimoso em sua política de manter os juros artificialmente baixos com a Selic a 2% ao ano, e o Congresso acena com a possibilidade de imprimir mais dinheiro na economia via novos auxílios emergenciais.
O mercado, obviamente, não está gostando nada disso, e o resultado é o que temos visto nos indicadores econômicos e financeiros dos últimos dias: Bolsa saindo do patamar de 125 mil pontos para o nível de 117 mil pontos; dólar caminhando a passos largos para R$ 5,48, depois de belicar os R$ 5,0x entre o final do ano passado e o começo desse ano; e o pessoal que tá na renda fixa vendo seu dinheiro (com a manutenção da Selic a 2% a.a.) continuar perdendo de valor a cada dia que passa.
Nesse contexto marcado por volatilidades e incertezas, uma das coisas que mais tem preocupado os brasileiros nos últimos tempos tem sido a inflação. Não “aquela” inflação do IPCA, que “só” subiu em torno de 4% ano passado, mas sim a inflação que verdadeiramente pesa no bolso da maioria dos brasileiros no dia a dia: o aumento do custo dos combustíveis, o aumento do custo dos alimentos, o aumento do custo dos materiais de construção, o aumento do custo das mensalidades escolares etc. Isso sem contar nos aumentos nos planos de saúde, que chegam a absurdos 70%.
Pense, ainda, no aumento dos aluguéis, com o IGP-M subindo mais de 20% só ano passado.
Em praticamente todos esses itens acima se verificou um aumento bem considerável nos gastos, muito acima dos 4% do IPCA, o que, por sua vez, comprime cada vez mais o orçamento das famílias brasileiras, já que o salário, obviamente, não aumentou na mesma proporção.
O que fazer, diante de um cenário que é ruim no presente, e se mostra ainda mais tenebroso para o futuro?
É preciso, antes de mais nada, tomar consciência dessa nova realidade.
Podemos estar caminhando para um cenário parecido com os anos de 2013 e 2014, em que o governo segurou os preços de vários itens (combustíveis, energia elétrica etc.) visando as eleições de 2014, para, nos seguintes (2015 a 2016, principalmente), a bomba estourar no colo dos consumidores, com taxas de inflação assustadoramente altas.
E a tomada de consciência começa com a imperiosa necessidade de agir visando conter o excesso de gastos, ou melhor, agir visando o estabelecimento de novas (ou velhas) prioridades.
É preciso assumir as rédeas de sua vida financeira e admitir que não dá pra ter tudo. Que o momento é de temperança, e não de bonança; de cautela, e não de euforia; de contenção, e não de exageros; e que, portanto, cortar gastos e manter uma robusta reserva financeira são condições essenciais para enfrentar os mares turbulentos que podem ser aproximar na linha do horizonte.
Não dá pra tapar o sol com a peneira, e continuar viver gastando que nem um louco, achando que essa fase crítica da pandemia poderá passar. Não!
É preciso ter os pés no chão, talvez até com mais afinco do que no ano passado, pois o tal choque inflacionário que o Banco Central acha que é temporário pode se prolongar por muitos e muitos meses. E aí, de que lado você preferirá estar numa hora dessas? Do lado das pessoas que estarão entupidas de dívidas que não param de crescer, e boletos a vencer, ou do lado das pessoas previdentes, prudentes e cautelosas, que fizeram o dever de casa, resolveram cortar na própria carne, e passaram a viver uma vida de menos luxos e mais sóbria, visando a atravessas esses tempos sombrios com mais caixa, mais reservas financeiras e, portanto, mais tranquilidade?
Alinhe seus comportamentos a seus valores…. e meta o facão nos gastos!
Sabe qual é a beleza das finanças pessoais e da educação financeira? É que ela não é uma ciência exata. É uma disciplina que trata do comportamento humano.
Acima dos cálculos para ver se é mais interessante investir nisso ou naquilo, obter a maior rentabilidade com o menor risco, ou mesmo saber qual é a porcentagem de rentabilidade esperada em determinadas carteiras de investimentos, está a necessidade de você adotar comportamentos financeiros que não lhe deixem em apuros, tanto no nível matemático da coisa, mas principalmente no nível subjetivo da questão, ou seja, em sua paz de espírito.
É por isso que eu já disse, em outras ocasiões aqui no site, que em matéria de finanças pessoais saber matemática é o de menos.
O que mais importa é você aprender a cultivar os princípios certos para ter uma vida de equilíbrio financeiro, e um desses princípios consiste justamente em saber lidar com imprevistos caso a inflação comece a ameaçar de forma mais intensa a corroer sua vida financeira.
Para atingir tais fins, é preciso, dentre outras atitudes:
- Começar ou continuar a controlar rigidamente seus gastos, sabendo para onde está indo seu dinheiro;
- Adiar despesas que podem ser adiadas nesse momento de perigo inflacionário. Por exemplo: viagens, reforma de casa, substituição de aparelhos antigos, mas que ainda estejam funcionado bem etc.;
- Talvez diminuir a alocação em investimentos de risco, caso você precise de caixa para bancar despesas de curto prazo. Isso evitará ter que pedir dinheiro emprestado a bancos;
- Espaçar mais no tempo as idas ao salão de beleza e ao cabelereiro, por exemplo; usar menos o carro para economizar combustível etc. Tudo o que pode significar redução de gastos pode ser feito, ou ao menos deve ser tentado.
- Fazer estoques inteligentes de produtos, caso você compre em promoções realmente boas, sabendo que poderá efetivamente ter uma grande economia a médio e longo prazos. Mas aqui é preciso cuidado para evitar estoques em excesso, para evitar o desperdício e ter que jogar fora produtos que você acabou não usando;
- Livrar-se de bens que dão mais gastos do que benefícios no atual momento, e exigem manutenção periódica com gastos recorrentes, como, por exemplo, o segundo carro da família, aquele apartamento para alugar que só tá dando problema com inquilino etc. (aproveitando agora que os preços dos imóveis subiram em geral).
Enfim, tudo que é gasto variável pode ter seus valores diminuídos, e tudo o que é gasto fixo também pode ser diminuído ou eliminado. O importante, nessas horas de aperto monetário, é ampliar seus poderes de controle sobre o dinheiro gasto.
Conclusão
É preciso, portanto, ter os instrumentos mentais financeiros apropriados para enfrentar os potenciais desafios de uma volta da inflação, ainda que essa potencialidade não se concretize.
Procure, por exemplo, em seu orçamento doméstico, caso não tenha feito isso ainda, estabelecer a meta de viver com sobras orçamentárias no final do mês, ou seja, gastar menos do que ganha; aumentar as reservas financeiras de curto prazo; rever certos gastos fixos ou variáveis que estão gerando mais custos do que benefícios propriamente ditos etc.
Sim, é difícil, ainda mais num momento em que muitas famílias tiveram perda ou reduções parciais de salário, mas é preciso ir pra guerra disposto a vencer, e, para tal, encarar esse desafio – viver com sobras orçamentárias – como uma meta tão importante quanto, por exemplo, praticar exercícios físicos.
Isso porque a inflação é um fato que não pode ser desconsiderado, principalmente se você visualizar sua vida financeira em termos de longo prazo. Pode ter a certeza de que os reais economizados e poupados agora, ainda que não sejam investidos “nos supostos melhores investimentos do mercado”, serão fundamentais para você ter as reservas financeiras que, afinal de contas, lhe darão a tranquilidade financeira desejada e esperada.
Lembre-se: estamos falando aqui de ampliar sua tranquilidade financeira. É sua paz de espírito que está em jogo.
Portanto, tenha pés no chão em sua vida financeira, e continue agindo de modo cauteloso e prudente sobretudo nos próximos meses, que serão decisivos para você reorganizar sua vida financeira. Quanto menos você se deixar levar pelas emoções no trato do seu dinheiro, maiores serão as chances de a inflação afetar sua vida no presente e no futuro.
“O mercado não está gostando”. Até quando o Brasil vai ficar tratando o “mercado” como o dono do país? Até quando vamos achar que o que é bom para o mercado financeiro é bom para o pais? NÃO É! E a economia real, ninguém se importa, só se importam com o mercado financeiro? Estamos no meio de uma pandemia e tem brasileiro que insiste em tentar aplicar a mesma lógica e as mesmas regras de uma situação normal…. os governos do mundo inteiro estão aumentanto os gastos, mas no Brasil se fala de austeridade,um discurso que economias mais avançadas já abandonaram há tempos… É claro que o auxílio emergtem que voltar,ou em nome do mercado vamos deixar milhões pessoas morrerem de fome? Vc realmente acha que a taxa de juros tem que aumentar, numa economia totalmente destruída por causa da pandemia? A inflação que está ocorrendo não é por demanda aquecida, longe disso, aumento nos juros não vai resolver nada, a não ser dar dinheiro para quem tem títulos do governo… o debate econômico no Brasil é de uma superficialidade desesperadora, começando pela imprensa e se espalhando por todos outros meios. Estamos em pleno 2021, em uma situação excepcional, vamos pensar fora da caixa, vamos ver o que acontece no mundo! O Brasil está atrasado uns 20 ou 30 anos!
Interessantes, argumentos, Ricardo.
Quais medidas você sugere para melhorar o país?
O que países civilizados fazem (o que, infelizmente, é extremamente improvável que aconteça no Brasil dada as atuais circunstâncias, já que parece que nos acostumamos com a barbárie): aumentar investimentos públicos, garantir uma renda básica universal (e isso até mesmo quando a pandemia passar, daqui alguns anos), taxar grandes fortunas e dividendos, manter estoques reguladores de alimentos e outros produtos básicos.
Guilherme,
Excelente post para o momento atual.
Precisamos ter mais cautela, mais prudência, pensar muito antes de comprar algo, pois o poder aquisitivo está sendo a cada dia mais corroído pela inflação, que como você disse, dá sinais claros de retorno.
Além disso, temos que lidar cada vez mais com as diminuições da capacidade dos produtos: 1 litro tornou-se 800ml, 500 gramas foi aos poucos sendo transformadas em 251 gramas, 200 gramas também sutilmente chegaram a absurdas 126 gramas.
Em relação aos estoques inteligentes de produtos, eu já costumava fazer, mas agora aumentei minha atenção a essa questão.
Aliás, a o creme dental que era de 90 gramas também passou para 70 gramas… Mas como encontrei uma super promoção leve 3 pague 2 de uma boa marca que costumo usar, comprei logo 12 unidades, já que o vencimento é só para o final do ano que vem.
Enquanto isso, comprei alguns pacotes de arroz de 5kg por volta de setembro ou outubro do ano passado a 13,99, logo que os preços começaram a aumentar. Quando procurei na semana seguinte, não havia mais. E na semana subsequente já custava mais que o dobro: 28,99! Jamais imaginei que os preços continuariam altos por tanto tempo. Fico até pensando se algum dia voltarão aos patamares anteriores. Espero que sim, mas acho que provavelmente não voltarão.
De qualquer forma, mais uma lição que preciso reforçar em minha vida: aproveite a oportunidade quando ela surge. Pois pode ser que seja sua única chance.
Boa semana!
Interessante Simplicidade e Harmonia,
eu observei isto em um pacote de café, geralmente vendido 4,20 a 4,50.
certo dia encontrei por 3,99, parece pouco, mas quem toma diariamente, comprar uns pacote a mais gera um bom desconto. é só um exemplo simples.
Realmente, as empresas estão fazendo isso às claras.
E exemplos não faltam, dos produtos de limpeza aos produtos alimentícios, passando pelos de higiene bucal.
Não é fácil lidar com mais esse problema à nossa volta.
Rafael,
Imagine essa economia durante um ano e em vários produtos. No final, fará uma boa diferença.
Excelentes comentários, Rosana!
Aliás, eu lembro que você havia publicado, lá no S&H, um tempo atrás, sobre essa questão da diminuição do peso dos produtos, que é o aumento dos preços praticado por vias transversas.
Boa semana também!
Sem gastos, sem despedícios.
Bj e fk c Deus.
Nana
http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com
Ótimo lema, Nana!
Notifique-me sobre novas publicações
Orientação pertinente e ponderada.
Todos nós temos opinião sobre a politica economica, e sobre o que deveria ser feito em nível macro. Mas como essas decisões definitivamente não estão em nossas mãos, vamos atentar ao que podemos fazer, nós mesmos. Vamos à decisões que só dependem de nós, e tem um enorme impacto em nosso futuro.
Percebo que depois de tanto tempo de pandemia, as pessoas estão cansadas e tendem a se auto-presentear de alguma forma. Se não podem viajar, então não há problema em alugar aquele chalé na cidade próxima, todo charm0so e caro. Se não podem ir ao cinema, então vamos comprar aquelas cervejas especiais/carésimas e beber em casa mesmo. Enfim, há muitas maneiras de nos sabotarmos.
Fundamental buscar prazeres e alegrias que não estejam tão diretamente ligados a consumo.
Excelentes observações, Vania!
Gostei particularmente da última frase:
“Fundamental buscar prazeres e alegrias que não estejam tão diretamente ligados a consumo.”.