“Avô rico, pai nobre, neto pobre.” (autor desconhecido)
Uma situação que vem se tornando cada vez mais comum, não só no Brasil, mas também em diversos outros países do mundo, é o de famílias em que gerações mais novas são inteiramente sustentadas pelas gerações mais velhas.
Não se trata, obviamente, da normal e natural situação de pais sustentando filhos menores, mas sim da atípica situação de pais idosos – de sessenta anos ou mais, por exemplo – sustentando filhos adultos saudáveis, de trinta anos ou mais, que teriam plenas condições de obter trabalho.
Além disso temos as situações de avós sustentando financeiramente netos adultos saudáveis que também teriam plenas condições de obter trabalho.
O problema se torna ainda mais grave na medida em que, em muitos casos, as despesas na velhice aumentam, ao invés de diminuírem, contrariando o senso comum.
Com efeito, o senso comum diz que na aposentadoria as despesas diminuiriam, pois haveria menos gastos com transporte até o trabalho, roupas de trabalho, etc.
Porém, há inúmeros outros custos que aumentam – e em alguns casos até de forma dramática. Talvez o retrato mais evidente disso seja aquele representado pelos custos com planos de saúde.
Não é de hoje que muitos idosos são obrigados a conviver com mensalidades de planos de saúde muito caros, sendo que algumas dessas mensalidades chegam a ultrapassar a casa dos cinco mil reais.
Se for um casal de idosos, o custo mensal só com o plano de saúde pode atingir a faixa dos cinco dígitos de reais (dez mil reais, no mínimo, somando dois planos de saúde – e isso só do casal de idosos).
O problema é que não apenas os custos com os planos são caros: os custos com remédios também são maiores, os custos com eventuais tratamentos não cobertos pelo plano, também aumentam etc.
Como lidar com toda essa situação?
Por ocasião do post A importância da educação financeira para servidores públicos, o leitor Jessé Mineiro fez um comentário muito pertinente que adentra nessa temática.
Ele escreveu o comentário no contexto de como melhorar as finanças para a aposentadoria dos servidores públicos, logo, o comentário tem a virtude de prover múltiplas soluções para uma vertente de potenciais problemas que aposentados ou quase aposentados estejam enfrentando, principalmente aqueles vinculados ao serviço público:
“Para os servidores que estão há 10 anos ou menos da aposentadoria as providências a serem tomadas devem ser mais drásticas e urgentes, principalmente se contam apenas com os valores que serão pagos pelo governo e possuem dívidas.
Deve-se, urgentemente, criar a reserva de emergência e pagar as dívidas. A quitação (ou a sua contestação judicial) deve ser o foco principal, de modo que, ao se aposentar, não existam mais dívidas .
O custo de vida tende a aumentar com o passar dos anos, majorando-se os gastos com plano de saúde, medicamentos, cuidadores etc. Já os proventos tendem a diminuir, por conta da inflação.
Observa-se que existe uma tendência de que servidores públicos sirvam como pronto-socorro financeiro da família. É muito comum que aqueles na faixa de 50 – 60 anos sustentem filhos e netos saudáveis, que se comportam como parasitas.
A exploração de familiares que são saudáveis e sugam os recursos dos pais/avós deve ser repensada. Logicamente, uma situação viciada há décadas não pode ser resolvida instantaneamente, mas de forma gradual, com a criação de ultimatos progressivos.
Por exemplo: servidora de 60 anos paga as parcelas do financiamento de um carro que o filho comprou. Ela deve estabelecer um prazo para que ele próprio assuma os custos da aquisição. Se não pagar, deve vender o bem. Ora, se o filho não tem condições de pagar a prestação, então não pode ter o carro.
Outro exemplo: servidor de 65 anos dá mesada para filho de 40 anos. Deve fazer a redução gradativa deste valor, estipulando de antemão as quantias e prazos. Continuando a sustentar filho adulto, criará dois problemas: para si, pois não terá reservas para os últimos anos, e para o filho, que não aprenderá a ter responsabilidade financeira.
Encontrando-se em situação de dívidas e sem patrimônio acumulado, outra providência a ser tomada é postergar a aposentadoria, fazendo uso do abono de permanência.”
Em outras palavras: educação financeira. Ou melhor, ações comportamentais baseadas em educação financeira.
A mudança da mentalidade, somada com a aquisição de conhecimento e a implementação de novas ideias, constituem elementos essenciais para a mudança de paradigma.
E é somente a partir desse conjunto coordenado de ações é que se poderá resolver o problema atualmente enfrentado por muitas famílias brasileiras: a dependência de netos e filhos adultos por pais e avós, criando um círculo vicioso de dependência.
E esse círculo vicioso pode gerar inúmeros problemas à medida que o tempo passa e os pais e netos não conseguem viver por conta própria, tornando as gerações seguintes cada vez mais pobres, que tendem a buscar, então, a ajuda governamental para sobreviverem, criando, pois, um ciclo de empobrecimento maior a cada nova geração de pessoas.
Conclusão
É necessário incentivar os filhos e netos adultos a terem autonomia na condução de suas vidas financeiras.
Ficar na zona de conforto financeira, se no curto prazo pode proporcionar um alívio momentâneo para remediar problemas temporários, como desemprego e eventuais problemas familiares (conjugais, por exemplo), tende a ter efeitos deletérios permanentes a longo prazo, se não for sucedida de medidas concretas destinadas a eliminar a situação de dependência econômica dos mais velhos da família.
Parafraseio aqui o que eu disse em outra oportunidade.
É urgente que os filhos e netos adultos busquem assumir a responsabilidade pelas suas finanças, a fim de torná-la mais equilibrada, através da busca de trabalho e renda próprios, redução de gastos excessivos, início da execução de um plano de autonomia financeira, e montagem de um planejamento financeiro que os façam depender menos – ou melhor, não depender em hipótese alguma – dos cofres dos pais idosos ou dos avós.
A educação financeira, assim, serve não apenas para anular os vícios decorrentes dessa zona de conforto; mas serve, principalmente, para edificar essa mesma zona de conforto em bases mais sólidas, construídas e alicerçadas em comportamentos financeiramente mais saudáveis e responsáveis.
Nesse blog, já publicamos mais de 1.100 artigos ao longo dos últimos 11 anos, que podem ser conferidos nesse link aqui, que certamente ajudarão a todos os que se encontram em situação difícil a darem uma guinada em suas finanças. Nunca é tarde para começar.
Vejo isso na minha própria família onde o desfecho foi que essa prima adulta após viver anos dependendo da aposentadoria da mãe hoje se vê em uma situação extremamente precária a pós o “beneficio” cessar quando os pais morreram, hoje de tempos em tempos ela pede ajuda aos outros familiares e se deixar vai conseguir outra pessoa para parasitar.
Realmente, triste a situação…
Pois é, Guilherme. Por essas e outras que acredito que os pais, antes de sustentar filhos, devem pensar em IF justamente para NÃO dependerem dos filhos.
Essa a melhor forma de ver a situação. Não sustentando filhos no início de sua juventude, deixa-os mais fortes para o futuro e ao mesmo tempo contribui para a IF dos pais.
Pelo contrário, torna os filhos dependentes e faz com que cheguem à idade mais avançada sem reservas. Daí, a pior situação se instala…
Abraço!
Excelente perspectiva, André!
Concordo com o que disse.
Abrç!
O texto passa a ideia de que sempre a culpa é dos filhos.
Não leva em conta a crescente exigência das empresas nas últimas décadas. São requerimentos cada vez mais obtusos para conseguir a vaga. Do outro lado está o governo que no Brasil sempre dificultou o empreendedorismo. A constituição brasileira é socialista, o que significa que privilegia as empresas de grande porte e massacra os pequenos comerciantes.
Ainda hoje existem pessoas que querem REGULAMENTO em transporte público. Essa é uma das facetas do socialismo. Como se tivéssemos que depender do Estado para nos dizer qual é o veículo que pode nos levar a um destino. Parece até piada a expressão “transporte ilegal de passageiros”.
São tantos regulamentos, tantas leis trabalhistas, tanta burocracia e o resultado é essa economia que vai de mal a pior.
Claro que sempre é possível conseguir um trabalho avulso, mas algumas vezes não é o suficiente para o autossustento.
Se não houver alguma melhoria, a única solução será não ter mais nenhum filho. Deixemos o Brasil do futuro apenas para os ricos.
Essa situação, de filhos já adultos que continuam dependentes dos pais, é tristemente comum. E de fato atinge em cheio os chefes de familia que tem rendimentos estáveis, como os funcionários publicos,
Mas temos tambem que reconhecer que as possibilidades de emprego bem remunerado são hoje muito menores do que já foram um dia. Não é incomum que jovens adultos formados em boas escolas, e dispostos ao trabalho, tenham empregos mal remunerados.
Na minha geração, os pais não tinham nenhuma duvida de que o futuro dos filhos, salvo algum infortúnio, seria próspero. Bastava estudar, se dedicar ao trabalho, e ir progredindo numa empresa. Os filhos conseguiam empregos melhores que os de seus pais, compravam casas melhores que as de seus pais… Hoje, a maioria dos pais não tem essa certeza quanto ao futuro de seus filhos.
Mas, de toda forma, mesmo com todas as dificuldades do mercado de trabalho, os filhos tem que alçar vôo proprio.
Pois é, pensei nisso também quando li o texto.
É claro que sempre temos casos de pessoas folgadas, mas com 13 milhões de desempregados no país não dá pra concluir que é só uma questão de só querer que dá certo. Infelizmente…
Tem muita água passando debaixo dessa ponte.
Verdade, MJC…
Obrigado pela lembrança, Guilherme.
O trecho foi retirado do meu livro “Finanças para Servidores Públicos: do vermelho ao azul”.
Para maiores informações sobre o livro e sobre o tema, acesse o Instagram @financasparaservidores e o site http://www.jessemineiro.com.br (em construção)
Abraços.
Vejo isso na Minha familia irmã com 2 filhas 2 netas ,no final minha mãe estava desgostosa,um salário de quase 4 mil que meu pai deixou, essa pensão à deixaria confortável mais ela só tinha gastos,chegou a ficar com 15 reais do pagamento ,ai teve 2 avc e foi pra cama por 2 anos,morreu dia 22/05/2021.
Tem tanta gente sendo mau criada, e depois os filhos que são os culpados!