No guest post de hoje, de autoria de Natália Zamprogno, trazemos um texto inédito sobre dois temas que interseccionam Tecnologia e Finanças: bitcoin e blockchain.
Como um sistema tecnológico virou um ativo financeiro negociado globalmente? Quais são as vantagens e desvantagens de se investir em algo tão novo?
O bitcoin esteve bastante em voga há alguns anos, por conta de seu explosivo crescimento, e, no seu rastro, trouxe a criação de inúmeras outras moedas digitais negociadas em nível mundial.
Como até agora o blog não havia publicado nenhum artigo a respeito do tema, o texto de hoje acaba fornecendo os subsídios básicos para a compreensão inicial desse novo nicho do mercado financeiro, sempre baseado na ideia da necessidade de se investir conhecimento e tempo antes de se investir eventualmente dinheiro.
Particularmente não invisto em algo que não conheço, e é por isso, dentre outras razões, que não invisto nessa modalidade de ativos financeiros. É esse, aliás, um dos lemas de Warren Buffett: não invista em algo que você não conheça. Não invista em algo que esteja fora de seu círculo de competências.
Pode ser que eu mude de ideia no futuro, mas, por ora, essa é uma classe de ativos que está fora de meu radar de investimentos.
De qualquer forma, muitos leitores têm pedido, ao longo dos últimos meses, um texto específico sobre as moedas digitais. E, como o bitcoin e a sua plataforma blockchain são os mais conhecidos nessa seara, o texto da Natália irá ajudar aos leitores que têm curiosidade de saber um pouco mais sobre o tema.
O texto trata desde as origens da rede blockchain até o surgimento do bitcoin como moeda digital negociável, passando por uma análise crítica na exposição dos prós e contras que existem na negociação desse ativo, bem como a narração de dados concretos que permeiam essa rede, bem como de suas perspectivas futuras.
Acompanhem!
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“Criado em 2009, o bitcoin se tornou um assunto muito comentado nos últimos anos, principalmente entre investidores. O desenvolvimento dessa criptomoeda teve como base uma tecnologia chamada de blockchain, que surgiu com o intuito de facilitar as transações financeiras, tornando-as mais rápidas e menos burocráticas. A partir do blockchain, seria possível realizar uma transferências para qualquer parte do mundo de forma quase que instantânea, em comparação às transferências bancárias.
Por se tratar de um sistema moderno, o blockchain atraiu curiosos do setor de tecnologia, mas até mesmo para aqueles que lidam com as finanças, é importante entender o funcionamento por trás dos bitcoins.
O que é blockchain?
Blockchain, que podemos traduzir como “cadeia de blocos”, é um sistema descentralizado, seguro e rápido para a realização de transações. Podemos entendê-lo com um livro-razão que é compartilhado entre inúmeros computadores espalhados por todo o mundo. A cada nova transação realizada, isto é, a cada atualização neste livro-razão, todos os computadores da rede são informados, pois eles estão sincronizados.
Quando acontece uma transação, é como se novas informações fossem adicionadas a um bloco, que se liga aos outros, criando essa cadeia. As informações são criptografadas e possuem uma assinatura que se relaciona com todas as transações anteriores, de modo que não é possível alterar uma transação após sua validação. Isso protege a rede contra falsificações, visto que se alguém tenta adulterar alguma transação, logo isto será percebido, e esse bloco será invalidado.
Para que uma transação possa ser consolidada, é necessário que 51% dos computadores que participam da rede do blockchain a confiram e validem, testando sua veracidade. Isso se dá a partir do processamento de cálculos matemáticos muito complexos, de modo que esses computadores gastam muita eletricidade. Por isso, eles recebem em troca uma determinada quantidade de bitcoins, como uma recompensa pelo trabalho que estão fazendo. É a partir disso que novos bitcoins são criados e entram em circulação no mercado.
Esse processo é chamado de mineração, e, atualmente, os mineradores recebem 6.25 bitcoins a cada bloco validado. No início, essa recompensa era de 50 bitcoins. O que acontece é que de 4 em 4 anos o valor cai pela metade. Em 2024, essa quantia será de 3.125 bitcoins. O halving do bitcoin (halving = redução pela metade da recompensa por bloco minerado) acontece no intuito impedir uma quantidade infinita de bitcoins em circulação, buscando evitar a inflação.
Quando dizemos que o blockchain é um sistema descentralizado estamos nos referindo ao fato de que não existe uma instituição superior controlando seus processos. O blockchain é composto por uma rede de diversos nós que trabalham juntos mantendo o sistema em funcionamento. Uma das premissas da criação do bitcoin e do blockchain foi justamente romper com a dependência que temos de governos e bancos em relação a questões monetárias.
Os governos fazem a emissão da moeda, enquanto nos bancos guardamos nosso dinheiro. Além disso, necessitamos de uma autoridade mediando transações entre duas partes. Ao realizar uma transferência, também confiamos no banco para mediar essa relação gerando um histórico e comprovantes.
Logo, o que os desenvolvedores do blockchain defendiam é que dependermos dessas autoridades não é algo seguro. Uma falha técnica ou até mesmo alguma questão política pode afetar o sistema como um todo e causar prejuízos a toda uma população.
É por isso que esses programadores idealizaram um sistema que está distribuído entre vários computadores, ao passo que nenhum deles tem um controle superior. Desse modo, uma falha em algum nó da rede não afeta o sistema como um todo, que se mantém funcionando de forma segura, sustentado por todos os outros computadores.
Bitcoin: como se tornou um investimento?
O surgimento do bitcoin lá em 2009 se deu como uma forma de revolucionar o dinheiro como o conhecemos, modernizando as transações. Isto é, em sua criação, o teor era de uma moeda de troca. O que aconteceu foi que, com sua popularização, o valor do bitcoin começou a passar por grande crescimento, atraindo a atenção de investidores.
Devido a essas variações em seu preço, investidores começaram a observar no bitcoin uma possibilidade de lucro, de modo que a compra e venda de bitcoins passou a se tornar uma prática. Como o valor do bitcoin segue a oferta e demanda do mercado, não existe nenhuma autoridade controlando seu preço.
A partir do bitcoin e do blockchain, diversas outras criptomoedas foram criadas. Hoje em dia o mercado de criptomoedas possui inúmeras novas moedas digitais. Entre as principais, além do bitcoin, podemos citar o ripple, ethereum, litecoin e bitcoin cash. Tendo como base o bitcoin, elas trazem algumas propostas diferentes e alterações no código-base de seu precursor, fazendo melhorias como, por exemplo, uma maior velocidade de transação. De todo modo, o bitcoin hoje continua sendo a criptomoeda mais valorizada entre elas e a maior em volume de negociações.
Para entender um pouco mais sobre os investimentos em bitcoins e suas vantagens e desvantagens, separamos algumas características dessa criptomoeda.
Segurança
A descentralização do blockchain garante que uma falha em algum ponto da rede não afete o sistema como um todo. Além disso, todas as transações são criptografadas e anônimas. As pessoas são identificadas por uma assinatura, que não está relacionada a nenhum dado como nome ou CPF. A não ser que a pessoa informe publicamente que aquela assinatura pertence a ela, não é possível saber quem são os envolvidos.
Isso tem seus pontos positivos e negativos. O sistema é seguro, mas isso não impede que algumas pessoas ajam de má fé. Neste caso, a insegurança vem justamente de golpes e fraudes que se apoiam nos descuidos das pessoas, e não em falhas técnicas em si. E o grande problema é que, justamente por tudo acontecer anonimamente, não é possível identificar o criminoso. Por isso, é necessária atenção dobrada ao lidar com criptomoedas, tomando todos os cuidados cibernéticos necessários, além de usar carteiras virtuais e corretoras confiáveis.
É preciso tomar muito cuidado com o compartilhamento de informações. Entre alguns dos golpes mais comuns está o phishing. Neste golpe, um e-mail em tom de urgência é enviado simulando ser de algum serviço utilizado pela pessoa, como, por exemplo, a carteira virtual. Sem perceber a falsificação, a pessoa acaba inserindo seus dados para fazer login no serviço. Com esses dados de acesso em mãos, os criminosos podem transferir todas as moedas digitais da pessoa para suas próprias carteiras. Devido ao anonimato, não seria possível a recuperação dos ativos.
Tecnologia
A tecnologia do bitcoin e do blockchain é de fato inovadora, porém, por ser muito recente, é também incerta. Não é possível prevermos o nível de adoção desse sistema a longo prazo.
Há os mais otimistas que acreditam naquela premissa inicial do bitcoin, como uma moeda de troca aceita e consolidada em todo o mundo, substituindo o sistema financeiro que temos hoje. Porém, ela tem enfrentado a resistência de alguns governos, além de pouca adesão por parte de diversos setores.
Sendo assim, não temos como saber sobre o futuro do bitcoin e das criptomoedas. Sua tecnologia moderna tem realmente se mostrado eficaz; entretanto, tudo dependerá da confiança no sistema nos próximos anos e sua popularização.
Limite
A quantidade de bitcoins em circulação não é infinita. Devido ao halving do bitcoin (lembremos mais uma vez: halving = redução pela metade da recompensa por bloco minerado), essa quantidade tem a previsão de não ultrapassar 21 milhões. A estimativa é que até o ano de 2.140 nenhum novo bitcoin será criado. Esse processo previsto pelo algoritmo do bitcoin tem o intuito de evitar a inflação. Ao diminuir a oferta do ativo, a ideia é que seu preço seja valorizado.
Nos últimos 3 halvings que aconteceram, realmente vimos um crescimento no preço da moeda durante o mês do evento. Em seguida, vimos uma queda, mas de toda forma a média de preço foi elevada a um novo patamar. Porém, isso também traz algumas questões. Quando o último halving acontecer realmente, não há como saber qual será o comportamento do mercado.
Além disso, também há um receio relacionado aos mineradores e a diminuição do interesse na mineração, o que poderia congestionar o sistema e causar lentidão. Um dos medos é também o aumento nas taxas de transação, já que os mineradores não receberão mais a recompensa de bitcoins, apenas as taxas.
Volatilidade
As oscilações no mercado das criptomoedas são constantes, e os preços podem sofrer grandes variações a cada momento. Com isso, o bitcoin é considerado um investimento de risco.
Conclusão
Na última década, vimos o bitcoin fazer parte da carteira de investimentos daqueles que buscavam diversificar e garantir seus ganhos em diferentes cenários. Também há aquele perfil de investidor mais agressivo, que se sente confortável ao arriscar.
Para investir em bitcoins, é importante estar ciente da possibilidade de perdas, visto que, como explicamos, o preço da moeda oscila constantemente. Quem entra nesse mercado sem a devida atenção e conhecimento, pode acabar perdendo grandes somas.
E você? O que pensa sobre o bitcoin nos dias de hoje?“
Guilherme,
Excelente guest post, ficou muito didático.
Eu penso que a Blockchain e as criptomoedas vieram para ficar. Não todas, mas apenas algumas se consolidarão nesse mercado a longo prazo.
Considero um mercado de alto risco. Não é para amadores.
É necessário muito estudo e uma estratégia bem elaborada para alcançar bons lucros.
Gostaria de destacar um trecho do meu post sobre o assunto: Como eu transformei R$ 600,00 em R$ 23,00.
“Essa máxima é básica, mas de vez em quando surge uma “oportunidade” que parece muito boa, mas que no final acaba trazendo resultados desastrosos aos que não entendem do mercado e por isso acabam comprando na alta e vendendo na baixa, ou seja, o oposto do que seria o ideal – exatamente o que aconteceu comigo e com milhares de pessoas ao redor do mundo.”
Se quiser ler na íntegra, veja a página Arquivo do meu blog. Está em destaque, entre uma das postagens mais visitadas do último ano. (Sempre tenho problemas quando tento colocar links no comentário…)
Sempre lembro da criptomoeda Po.et, que eu acompanhei por um tempo. O gráfico, que também está no meu post, fala por si mesmo…
Boa semana!
Oi Rosana, obrigado!
De fato, o mercado é de alto risco mesmo. Li o seu texto e concordo com cada linha do que você escreveu. A instabilidade e a insegurança ainda são muito grandes nas criptomoedas em geral.
Bom final de semana!
p.s.: o software do blog bloqueia automaticamente os posts com links, mas eu sempre faço uma liberação manual. Se mesmo assim continuar bloqueado, é porque caiu na caixa de spam, mas é só me avisar que eu corrijo e libero.
Uma coisa que poderia acrescentar ao texto de forma didática é como guardar bitcoins de forma segura.
Como adquirir, criar e tranferir os bitcoins para carteiras virtuais.
Ótima sugestão, Ash!