No excelente guest post de hoje do Tiago Reis, da Suno Research, será abordado o estudo dos fatores essenciais para se proceder a uma boa análise fundamentalista na escolha das ações para se investir.
Investir em ações é, essencialmente, investir em empresas, investir acreditando no crescimento econômico do país, que reverterá em benefícios não apenas para o PIB e para a sociedade em geral, mas também para sua carteira de investimentos, em nível individual. É como se você estivesse se apropriando de um pedaço do bolo da riqueza gerada pelas empresas brasileiras, desde que escolha, por evidente, as empresas que estejam igualmente crescendo, faturando e distribuindo lucros para seus acionistas e gerando, por consequência, valor para a sociedade.
Eu já disse aqui diversas vezes no blog – e o Tiago ratifica isso ao longo do artigo – que não existe sucesso nos investimentos sem estudo, sem prática, sem esforço. A pergunta que se coloca, no contexto do artigo, é: o quê você deve estudar? Em quais fatores você deve prestar atenção para a sua tomada de decisão? A taxa de juros maior ou menor importa? Saber se a inflação está sendo controlada faz a diferença para o estudo da empresa em que você está investindo? De que maneira o custo dos insumos afeta o desempenho da empresa que você tem em carteira? A análise da concorrência no setor específico da empresa que você tem em carteira pode ou deve ser um fator a considerar na seleção das ações?
A discussão sobre o tema está na pauta do dia. Julho foi outro mês excelente para os investidores em ações. O IBovespa finalmente retomou a casa dos cem mil pontos (bem antes do que quase todo mundo esperava), e a Selic está no seu menor patamar histórico, de 2,25%. Com isso, e mais a perspectiva de retomada do crescimento econômico, já se antevê no horizonte a possibilidade de que as ações voltem novamente aos radares de mais investidores.
E textos como os de hoje fornecem material de qualidade para que você continue se instruindo e se educando na área de investimentos.
Eu discorro muito sobre a importância de adquirir educação financeira de base, e o texto de hoje é um desses momentos de aquisição de conhecimento.
Boa leitura!
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“Dentre as mais diversas estratégias de investimento do mercado financeiro, a análise fundamentalista é, certamente, o tipo mais utilizado entre os investidores simpatizantes do Value Investing.
Isto posto, compreender com clareza o que é análise fundamentalista é um atributo indispensável para aqueles que desejam apresentar resultados consistentes nos investimentos de longo prazo.
O que é a análise fundamentalista?
A análise fundamentalista é um tipo de avaliação que, através do estudo dos aspectos econômicos, financeiros e demais características qualitativas e quantitativas de um ativo, tenta de medir seu valor intrínseco — ou seja, o quanto, de fato, o ativo vale.
Vale ressaltar que os investidores adeptos dessa escola de investimentos preconizada por ninguém menos que Warren Buffett – o maior investidor de todos os tempos – normalmente estudam qualquer coisa que possa afetar o valor do ativo, incluindo fatores macroeconômicos, a economia global e as condições da indústria, fatores microeconômicos como condições financeiras e também o gerenciamento da empresa.
Qual o objetivo da análise fundamentalista?
Diante disso, o objetivo final desse tipo de análise é produzir um valor quantitativo que um investidor pode comparar com o preço atual de cotação daquele ativo, indicando, com isso, se o mesmo se encontra, naquele momento, subvalorizada ou sobrevalorizada.
Ainda, a ideia desse tipo de análise é diretamente relacionada, também, com o conceito de Margem de Segurança, haja visto que, em muitos casos, investidores costumam estabelecer esses tipos de patamares de acordo com o risco que veem em determinada aplicação financeira.
É interessante mencionar, também, que esses estudos determinam a saúde e o desempenho de uma empresa ao se observar os seus números e indicadores econômicos.
Ainda, normalmente esse tipo de avaliação utiliza dados reais e públicos e, embora a maioria dos analistas utilize esse conhecimento para avaliar as ações, esse método de avaliação pode ser tranquilamente usado praticamente para qualquer tipo de ativo financeiro.
A ideia acima pode ser explicada pelo fato de que, por exemplo, um investidor pode realizar essas análises sobre o valor de um ativo ao analisar fatores econômicos como taxas de juros e o estado geral da economia.
No caso das ações negociadas na bolsa de valores, normalmente esse método se utiliza de indicadores como receitas, ganhos, EBITDA, crescimento futuro, retorno sobre o patrimônio líquido, margens de lucro, análise do balanço patrimonial e outros dados para determinar o valor subjacente de uma empresa e o também o seu potencial de crescimento futuro.
Ainda em relação às ações, a análise fundamentalista normalmente concentra-se nas demonstrações financeiras da empresa avaliada.
O que a análise fundamentalista leva em conta?
Como dito anteriormente, a análise fundamentalista estuda os mais diversos fatores que possam afetar os preços dos ativos.
Esses fatores se dividem em dois tipos: macroeconômicos e microeconômicos.
Geralmente, uma análise fundamentalista costuma focar nos fatores microeconômicos. Ou seja, os fatores da empresa.
No entanto, a análise não ignora os fatores da economia como um todo, ou seja, os fatores macroeconômicos.
Fatores Macroeconômicos
Os fatores macroeconômicos afetam todas as empresas de uma economia.
Por exemplo, se o PIB brasileiro cresce, é esperado um aumento na demanda da economia como um todo.
Portanto, todas as empresas tendem a se favorecer.
Logo, o PIB é um fator macroeconômico.
Obviamente, algumas empresas irão se beneficiar mais, pois são mais sensíveis ao crescimento, como, por exemplo, as empresas de consumo.
Já outras, irão se beneficiar menos, pois são menos sensíveis a estas variáveis, como as empresas de energia.
Porém, o fato é que todas as empresas são afetadas de alguma forma pelas mudanças na economia de um país.
Portanto, é especialmente importante que uma análise fundamentalista considere estas variáveis.
Alguns exemplos de outras variáveis macroeconômicas são:
- Índice de desemprego;
- Inflação;
- Taxa de juros.
Abaixo, será descrito como cada variável pode afetar uma análise com base nos fundamentos de uma empresa.
Índice de desemprego
O índice de desemprego é uma medida muito importante para a economia de um país.
Quando há muitas pessoas desempregadas, o consumo tende a espairecer.
Portanto, muitas empresas sensíveis ao poder de compra da população são prejudicadas.
Por outro lado, quando um país sai de uma situação de alto desemprego e caminha para uma situação de emprego pleno, essas mesmas empresas são as principais beneficiadas.
Portanto, deve se considerar o índice de desemprego e suas tendências ao se realizar uma análise dos fundamentos de uma empresa.
Inflação
A inflação é o processo no qual o poder de compra da moeda constantemente perde o valor.
Muitas empresas possuem os seus contratos corrigidos pela inflação.
Portanto, podem se beneficiar de uma alta desta variável.
Mesmo que, de uma forma geral, a inflação seja ruim para uma economia.
Um exemplo de empresas beneficiadas com um aumento da inflação são as companhias de transmissão elétrica.
Por outro lado, as principais prejudicadas tendem a ser as companhias de consumo.
Pois, uma alta da inflação reduz o poder de compra da sociedade.
Taxa de Juros
A taxa de juros é uma das variáveis que mais afetam as empresas.
Muitas empresas utilizam uma estratégia chamada de alavancagem operacional.
Funciona da seguinte forma: as empresas captam recursos no mercado de dívida a uma determinada taxa, e aplicam estes recursos em projetos mais rentáveis.
Por exemplo, suponha que uma companhia capte dívida a uma taxa de 8% ao ano.
E então, ela aplica estes recursos em um projeto que lhe rende 12% ao ano.
Isto significa que, na prática, a empresa está ganhando 4% ao ano em sua operação.
No entanto, se a taxa de juros básica da economia, a SELIC, subir para 10%, a companhia terá o seu retorno reduzido para apenas 2%.
E isto reflete em um menor valor presente para a empresa.
Portanto, uma análise fundamentalista deve considerar a tendência da taxa de juros.
Ainda, no outro extremo, há as empresas que operam com o que se chama no mercado de “caixa líquido”.
Significa que estas empresas não usam a alavancagem operacional, pelo contrário elas possuem recursos em caixa sobrando para investir.
Portanto, estas empresas costumam deixar esta sobra de caixa aplicada no mercado de juros.
Ou seja, elas são prejudicadas por uma baixa dos juros, e beneficiadas por uma alta.
Tipicamente, estas empresas são grandes geradoras de caixa. Pode-se citar como exemplo a Ambev.
Ainda, alguns setores naturalmente operam com caixa líquido devido à natureza do seu negócio, como as companhias de seguro e do setor de fidelidade.
Fatores Microeconômicos
Os fatores microeconômicos são aqueles que não afetam a economia como um todo.
Portanto, eles apresentam consequência sobre apenas um setor ou sobre apenas uma empresa.
Por exemplo, suponha que o preço do barril de petróleo caia em 50% em um mês.
A Petrobras, obviamente, será muito afetada por isso. No entanto, a Ambev pouco será.
Assim, os fatores microeconômicos são decisivos para o futuro específico das empresas.
A macroeconomia costuma percorrer sempre em ciclos. Existem períodos de crescimento e de decaimento para todas as variáveis.
No entanto, no aspecto microeconômico, as variáveis não costumam passar por ciclos análogos.
Portanto, as melhores empresas a gerenciar as variáveis microeconômicas são as que apresentam sucesso no longo prazo.
Estas conseguem atravessar períodos de recessão com solidez, e crescer mais que as demais em períodos de bonança.
Alguns exemplos de variáveis microeconômicas que são levadas em conta em uma análise de fundamentos são:
- Insumos
- Concorrentes
- Gestão
Abaixo será descrito como cada fator pode influenciar em uma análise fundamentalista.
Insumos
Todas empresas necessitam de insumos para realizar sua produção.
Tipicamente, as empresas mais bem fundamentadas são aquelas que conseguem adquirir seus insumos pelos menores preços.
Pois assim, as margens de lucro das empresas serão maiores.
Para isso, a escala é um componente bastante importante.
Imagine, por exemplo, a situação da Ambev (ABEV3). Esta empresa adquire uma enorme quantidade de insumos, pois vende uma enorme quantidade de produtos.
Sendo assim, ela consegue reduzir o custo médio e elevar a sua lucratividade.
Outro exemplo de como as empresas conseguem reduzir o custo de sua produção é através da verticalização.
Isto é, a empresa passa a produzir os seus próprios insumos.
Um exemplo de empresa que realiza este tipo de atividade é a Grendene (GRND3), fabricante dos calçados Rider e Melissa.
Esta verticalização se traduz em maiores margens e rentabilidade para a empresa.
Concorrentes
Toda boa análise fundamentalista considera o ambiente concorrencial da companhia.
Afinal, os concorrentes servem como uma base de comparação.
É importante analisar os indicadores de uma empresa e comparar com os seus principais concorrentes, de forma a tentar determinar qual a melhor ou as melhores empresas do setor.
Por exemplo, no setor bancário é possível observar que o Itaú apresenta uma rentabilidade superior à média dos demais bancos.
Não por acaso, esta é uma das empresas do setor que mais gerou valor para o seu acionista ao longo do tempo.
Gestão
A gestão é essencial para determinar o sucesso ou o fracasso de uma empresa.
Afinal, ela é responsável pelas decisões que movem a companhia.
Portanto, é essencial que uma análise dos fundamentos considere a capacidade da gestão.
Isto é feito através de uma análise da experiência do corpo gestor, assim como uma análise histórica dos seus resultados.
Por exemplo, é possível analisar o histórico de lucro das empresas para observar se a gestão foi capaz de entregar resultados ao longo dos anos.
Assim como observar a evolução das margens e do market share da empresa.
Importância da análise fundamentalista
É possível concluir, de acordo com o que foi abordado, que para se realizar esses tipos de estudos, é preciso se conhecer bem o mercado e possuir experiência para aplicá-la com eficiência.
Contudo, não há nada melhor que bastante estudo e prática para que possamos evoluir em qualquer que seja o âmbito de nossas vidas.
Isto posto, não restam dúvidas de que, apesar de ser ainda bastante incompreendido por boa parte dos investidores, muitas dúvidas a respeito de o que é análise fundamentalista podem ser esclarecidas com o devido esforço e tempo investidos no aprendizado dessa arte”.
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Sobre o autor: Tiago Reis é formado em Administração de Empresas pela FGV e tem mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro. Foi sócio-fundador da Set Investimentos e é fundador da Suno Research, casa de análise de investimentos independente voltada para investidores individuais.
O que os colegas acham dos relatórios da Suno? Há algum tempo estou pensando em assiná-los. Se alguém puder opinar, agradeço.
Abs!
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Particularmente, eu não gosto de ficar discutindo diariamente sobre o tema e o basster é um fórum, correto?. Gasto em média 1 hora por semana e só. Como o foco é longo prazo (carteira previdenciária), opto por aportar regularmente quase sempre nos mesmos ativos.
Ainda assim seria válido a assinatura do bastter?
Muito. Vale muito. A idéia dele é essa mesmo, análise simplificada.
Abc
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