Em tempos de pandemia de coronavírus, isolamento social, calamidade pública e economia em crise, é inegável que a situação de milhões de pessoas e famílias brasileiras piorou.
Milhões de pessoas perderam o emprego, outras tantas milhões tiveram os salários reduzidos, inúmeras empresas quebraram ou entraram em regime especial de recuperação judicial ou extrajudicial, enfim, o cenário, como um todo, é bastante desolador, e não há perspectivas de curto prazo para que essa situação venha a se resolver de uma maneira tão rápida.
Diante das inevitáveis perdas financeiras, as pessoas que sofreram os piores efeitos da crise devem, primeiramente, agir, no plano financeiro, não por emoção, no calor dos acontecimentos, mas sim guiados pela razão.
Primeiramente, é necessário ter o domínio e o controle das emoções e dos sentimentos, e evitar que problemas financeiros desencadeiem problemas de ordem emocional, espiritual, psicológica etc. Ter frieza no agir, e cautela no executar, são ingredientes e atitudes extremamente válidas em momentos de alta volatilidade econômica e até social, como os que estamos passando.
No particular âmbito das finanças, o que temos visto é o chamado “canto da sereia”, ou seja, algumas empresas querendo tirar proveito da situação de necessidade dos cidadãos que perderam emprego e renda. Em geral, as pessoas mais debilitadas emocionalmente são também as mais fáceis de serem manipuladas pela propaganda, e, quanto mais fácil o uso de determinado meio para conseguir dinheiro, mais alta costuma ser a taxa de juros.
Sabe aquele empréstimo que a administradora do cartão de crédito oferece na primeira página da fatura do seu cartão de crédito, oferecendo a você a “facilidade” de parcelar a fatura do cartão em, sei lá, 12 vezes, 18 vezes, 24 vezes?
Pois é: esse negócio aí é o “canto da sereia” de que falei acima. É uma armadilha, pois as taxas de juros embutidas em tal operação financeira são as mais altas possíveis. Você deve fugir dessa tentação o quanto antes, se possível, rasgando essa folha de papel onde consta essa proposta indecente do banco.
O recado de hoje é muito simples: evite ao máximo parcelar contas e boletos.
Tente pagá-los sempre à vista.
Você pode até não ter o dinheiro para comprar à vista, seja porque perdeu o emprego, seja porque sofreu redução pesada de renda. Mas não facilite as coisas pro banco: se a fatura chegar, ela precisa ser paga à vista.
O mote do artigo de hoje é baseado num excelente comentário do leitor Marcel no Twitter, em que ele respondeu a uma mensagem que eu havia publicado sobre a orientação de nunca parcelar compras recorrentes (post aqui).
Eis o que o Marcel disse:
Hoje em dia, o que não faltam são apps de pagamento de contas oferecendo “facilidades” de parcelamento de boletos e faturas de cartões de crédito.
Lembra-se do que eu disse acima, a respeito da relação entre facilidade do meio e custo da dívida? Pois ele se aplica diretamente ao caso em questão.
Não há maneira mais fácil de contrair uma dívida do que usando o celular, afinal, ele está onipresente em nossas vidas.
Mas justamente por ser um empréstimo de dinheiro oferecido pelos bancos (que estão por trás desses apps), sem nenhuma garantia por parte do devedor (o usuário do app), é que o custo do dinheiro, ou seja, a taxa de juros, é tão alto.
Eu sempre recomendo evitar a todo o custo a tomada de dívidas, porém, reconheço que a situação fico muito grave para famílias que tiveram queda abrupta da renda familiar, ou mesmo perda total de renda.
Nesses casos, se for tomar um empréstimo, que ele seja feito então com as menores taxas de juros possíveis, e, nesse caso, o valor da taxa de juros costuma ser proporcional à qualidade e segurança da garantia oferecida, e esse procedimento exige o uso da força de vontade, de negociar taxas e prazos indo até um banco, seja fisicamente, seja virtualmente.
Isto é, quanto maior for a segurança, principalmente a segurança jurídica, oferecida pela garantia do empréstimo, menor tende a ser a taxa de juros – aliada, é claro, a uma série de outros fatores, como o histórico de inadimplência do devedor, patrimônio líquido, inexistência de protestos e inscrição no SPC/Serasa etc.
O que eu quero dizer é o seguinte: não parcele contas e boletos, principalmente por meio desses apps. Não vale a pena, e o resultado pode agravar ainda mais sua vida financeira.
Conclusão
Cabe a cada um analisar o que deve ser feito para quitar as dívidas pendentes, mas uma coisa é certa: evitem a todo custo criar uma bola de neve de dívidas.
Ajam de forma racional, colocando todas as dívidas no papel, planejando estratégias para quitá-las da forma menos onerosa possível e, é claro, ter um fortíssimo controle de gastos mensais, ou seja, do seu fluxo futuro de caixa.
Parcelar contas como as de boletos vencidos e faturas de cartões de crédito não resolvem o problema do adimplemento das obrigações: eles apenas adiam o problema, e os adiam ao custo de uma elevada taxa de juros.
Evitem ao máximo usar dessas supostas “facilidades” dos meios digitais, pois elas podem lhe tirar o sono e complicar ainda mais a sua vida financeira.
Bacana o artigo… contudo… Acho que seria interessante apresentar formas de como o endividado poderia buscar (efetivamente) o crédito mais barato! Como dia o artigo: “se for tomar um empréstimo, que ele seja feito então com as menores taxas de juros possíveis, e, nesse caso, o valor da taxa de juros costuma ser proporcional à qualidade e segurança da garantia oferecida, e esse procedimento exige o uso da força de vontade, de negociar taxas e prazos indo até um banco, seja fisicamente, seja virtualmente”. Talvez seja esse mesmo o caminho!!! Mas vejo (pelo menos entre alguns conhecidos) essa dificuldade… E as vezes acabam negociando (renegociando) uma taxa (aparentemente) não muito boa! Talvez num próximo artigo poderia falar dessas taxas especificamente ou indicar como peneirar por melhores! Grande abraço!!!
O endividado não deve procurar crédito mais barato, ele não deve procurar crédito nenhum, ele deve reduzir drasticamente seu custo de vida e tentar fazer uma renda extra. A mulher ou filhos precisam buscar renda com empregos ou também renda extra. Nada de mais crédito. Crédito é dívida com juros.
Exato, Diego, cortar gastos é fundamental!
Olá, Leonardo, ótima sugestão de tema!
Abraços!
Guilherme,
Excelente post.
Parcelar compras recorrentes só torna a bola de neve ainda maior, pois nem sempre pode-se contar daqui a alguns meses com os mesmos proventos recebidos hoje devido a alta taxa de desemprego como você citou.. Além disso, verificar os hábitos de consumo tornou-se praticamente essencial, pois ninguém sabe como e quando o país conseguirá sair dessa crise.
Vejo esse como um momento de cautela, no qual todos os gastos devem ser bem analisados. Época de manter os pés no chão.
Boa semana,
Com certeza, Rosana, é preciso fazer sempre um checkup permanente da vida financeira.
Boa semana também!
O desemprego realmente está galopante. Quem ficou desempregado, precisa fazer render as verbas rescisórias, fazendo-as cobrir o maior periodo possivel de gastos.
Quem está empregado, precisa poupar o maximo possivel, e se preparar para um futuro imprevisível.
Tempos duros.
Sem dúvida, Vania, tempos muito difíceis esses que estamos vivendo!
Belo arigoy
Valeu, Marcos!
*Artigo
Bom artigo, mas no meu caso eu parcelo tudo pra poder adiantar a parcela e ganhar desconto, maaaaaaassssss eu tenho um ótimo controle financeiro da minha vida, logo, não recomendo.
Isso mesmo, EI, controle é fundamental!
Muito bom artigo.Vamos ver se todos aprendemos a viver mais simplistas com algo tao terrivel como este Covid.Gostaria que a sociedade aprendesse que nao precisamos viver naquele ritmo de consumismo frenetico que imperava antes se endividando por status e modinha.Que as pessoas aprendam a parar de idolatrar Jogador de bola,Pseudo artistas e cantores,BBBs que nao nos ensinam nada de util e nem acrescentam nada.Que as pessoas aproveitassem este tempo que estavam/ao paradas para ler mais livros,blogs como este e outros em que adquirimos nao so Educaçao Financeira,mas muitas verdades e dicas p/ nossa Vida .
Excelente depoimento, Ricardo!
Acredito que a pandemia provocará muitas reflexões sobre os hábitos de consumo e de vida de milhões de pessoas, no Brasil e no mundo!
Pior do que iniciar um empréstimo na pandemia é já ter diversas compras parceladas no cartão em 6, 8, 10, 12x!
Eu já tive 28 compras parceladas simultaneamente! Imagina… A fatura do mês já começava o mês com 6k. Isso ao longo de 10 ou 12 meses.
Aí chega na crise, vem o desemprego e o cidadão tá com esse monte de compra nas costas.
Caramba, BMG, 28!!!
Realmente, é complicado gerenciar a vida financeira com tantos débitos.
Daí a importância de sempre ficar vigilante no estoque de passivos a cada mês, pra evitar a montanha da bola de neve!
Bom dia, Guilherme
Ótima postagem, abraços.
Obrigado, Luci!
É uma boa dica para o controle financeiro, porém se eu tiver condições de pagar a vista e não tiver juros para parcelar, prefiro parcelar no máximo de parcelas possíveis e “adiantar as parcelas” pelo Nubank, ou deixar o dinheiro rendendo enquanto pago as parcelas.
Nessa estratégia o dinheiro fica rendendo enquanto só vai se pagar depois. Com a SELIC a 3% ao ano o retorno acaba sendo pequeno, mas acaba sendo melhor que nada.
Mas se tiver juros na parcela o melhor é pagar a vista, sem dúvidas.
Ótima dica essa do Nubank, JP!
Ótima reflexão, Guilherme.
E como estamos neste momento de alta volatilidade econômica fiquei inseguro quanto a venda de um lote. A cinco anos venho tentando vendê-lo e só agora apareceu um comprador. Fiquei em dúvida porque não tenho perfil investidor e penso que talvez é mais seguro manter este bem valorizando do que ter que começar a me preocupar onde investir o dinheiro da venda nesta hora de tanta instabilidade. Se resolver vender, posso diminuir meu custo fixo mensal, quitando o financiamento do um apartamento onde moro e o restante posso aplicar. aumentando minha reserva que hoje chega a apenas 10 meses sem trabalhar.
Você acha que essa minha insegurança quanto a venda do lote é pertinente?
Desde já agradeço sua atenção.
Obrigado, Fernando.
Quanto à sua dúvida, sim, sua insegurança é pertinente, tendo em vista o atual cenário econômico.
E isso ocorre porque, nos momentos de crise, nós tendemos a reforçar a nossa segurança, o que inclui venda de ativos.
No seu caso específico, a venda do lote poderia diminuir o custo fixo de despesas, porém, se você segurar mais um pouco a venda, poderá vendê-lo quando as condições financeiras ficarem mais favoráveis.
Então, se você está conseguindo manter os gastos fixos sob controle, faz sentido manter o lote no seu patrimônio, e esperar ele se valorizar um pouco mais. Lá na frente, você poderá vendê-lo por um preço maior, e consequentemente, também abaterá um valor maior do financiamento.
Obrigado pelo retorno, Guilherme.
Estas decisões são complicadas porque as variáveis são complexas. Fica difícil até de perguntar.
Mas sei que a incerteza é uma condição de todo processo de decisão. E não fazer nada também pode ser uma estratégia.
Seus argumentos são sempre bem-vindos.
Saudações
Exato, às vezes o melhor a fazer é simplesmente não fazer nada.
Sds