O primeiro resumão da semana do ano de 2020 comentará os altos e baixos que movimentaram o mercado financeiro nos últimos dias. Confiram!
Taxa SELIC cai para 4,25% a.a.
Dando continuidade ao ciclo de cortes na taxa de juros, o Banco Central brasileiro anunciou nova redução da taxa SELIC, de 4,50% a.a. para 4,25% a.a.
É o décimo sétimo corte consecutivo na taxa SELIC desde quando atingiu o estratosférico pico de 14,25% a.a.
O mercado já esperava essa redução, de acordo com a Exame:
“Justificada pela queda da inflação, à baixa dos preços das commodities e da desaceleração do ritmo de atividade econômica. “Produção industrial e inflação mostram que a temperatura da economia está baixa”, explica Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante.”
Ou seja, a economia ainda ruim está permitindo espaço para tais patamares de juros.
Como se tudo isso ainda não bastasse semana passada tivemos a divulgação da inflação medida pelo IPCA para janeiro de 2020, e ela ficou em 0,21%. Trata-se de outro recorde: trata-se da menor taxa de inflação para janeiro desde a criação do Plano Real.
A taxa SELIC menor tende a favorecer a atividade econômica, já que o custo do capital fica menor para as empresas. Contudo, para os investidores em renda fixa, ela vem perdendo cada vez mais atratividade, obrigando-os a escolherem alternativas de maior risco para buscarem uma maior remuneração de seu capital.
Sim, pois com uma taxa SELIC de 4,25%, e um CDI girando em torno de 4,14% a.a., teríamos uma rentabilidade, para investimentos de renda fixa atrelados à SELIC (Tesouro SELIC) e ao CDI (como fundos referenciados DI e CDBs DIs) pagando aproximadamente de 0,30% a 0,35% ao mês brutos.
Esses baixos rendimentos na renda fixa, aliás, têm sido um dos grandes motivos para o ingresso de novos investidores na Bolsa de Valores.
Esse movimento, embora seja ótimo para o desenvolvimento do mercado brasileiro de capitais, deve vir acompanhado de um evidente incremento de educação financeira, já que é preciso separar um tempo para adquirir conhecimento e entender que Bolsa é bem diferente da renda fixa, ou seja, não dá, por exemplo, para você aportar dinheiro em ações hoje esperando resgatar daqui a 30 dias com uma rentabilidade positiva.
Outro recorde: dólar a R$ 4,32
Se no campo da renda fixa temos a taxa SELIC atingindo sua mínima histórica, no campo do câmbio temos o dólar atingindo sua cotação nominal recorde, indo para R$ 4,32.
Antigamente, associávamos a alta da moeda norte-americana a crises de pânico dos mercados, aumento do (e aversão ao) risco na economia do Brasil, fuga em massa de capitais provocada por movimentos de estresse e volatilidade etc.
Contudo, a alta da moeda americana verificada na última sexta-feira não é um fato isolado: ela se insere dentro de um contexto de tendência de alta, verificada, por exemplo, desde janeiro de 2019, quando a moeda americana chegou a oscilar um pouco abaixo dos R$ 3,70, e foi lentamente aumentando seu valor em face da moeda brasileira.
Dito isto, não há motivo para pânico: a alta da moeda americana tem tudo a ver com a notícia que comentamos acima, acerca da trajetória de queda da SELIC. O investimento em títulos públicos brasileiros acaba se tornando pouco atrativo para o investidor estrangeiro – o chamado “carry trade”.
Com isso, havendo menos dólares circulando no Brasil, acaba havendo uma pressão no preço da moeda americana, fazendo a cotação dela subir em face do real.
Além disso, outro fato que tem contribuído para o fortalecimento do dólar é o consequente fortalecimento da economia norte-americana, que continua mostrando números robustos e forte crescimento.
Ou seja, a alta do dólar não tem a ver com a percepção de aumento de risco no Brasil, como acontecia no passado, mas sim com outros fatores econômicos.
Como tudo relacionado a investimentos, ela favorece a alguns (quem tem investimentos no exterior, por exemplo, vê seu patrimônio em reais aumentando), e prejudica a outras pessoas (principalmente quem tem dívidas atreladas à moeda norte-americana, ou gastos para viagens no exterior).
Bolsa “de lado”
O IBovespa fechou a semana passada nos 113.769 pontos, acumulando queda de -1,56% até agora no acumulado do ano de 2020 (até 7 de fevereiro).
No curto prazo, temos notado um aumento de exposição das notícias sobre a epidemia do coronavírus, a qual poderia repercutir na economia, o que, por tabela, pressiona os preços dos ativos de renda variável para baixo.
Nada mais natural, já que o mercado, no curto e curtíssimo prazo, é irracional e balança (forte) ao sabor das notícias. Quanto mais “bombástica” a notícia (mesmo que nada tenha a ver com os fundamentos das empresas), maior tende a ser a repercussão sobre os ativos da Bolsa de Valores – e geralmente é uma repercussão que aponta para baixo.
Investidores de longo prazo (como creio ser a maioria do público desse blog) já estão acostumados com esse tipo de comportamento irracional do Sr. Mercado, e não devem tomar atitudes precipitadas, tais como vender as ações em momentos de queda repetina, nem se deixarem dominar pelo pânico dos mercados, já que epidemias vão e vem, e mais cedo ou mais tarde esse surto será devidamente controlado e dissipado.
O que você, investidor na Bolsa de Valores, deve fazer então?
Continuar agindo normalmente. Estudando sobre os investimentos, fazendo seus aportes regularmente, e averiguando possíveis pontos de entrada caso algum ativo tenha apresentado uma distorção relevante entre preço e fundamento nesses movimentos de curto prazo.
Isso porque as perspectivas das ações brasileiras para o longo prazo continuam muito boas, dado que estamos provavelmente no meio de um ciclo longo de alta.
Quem for leitor mais antigo do blog deve se lembrar do Poster Eletrônico IBovespa da Enfoque, sobre o qual publicamos um artigo no remoto ano de 2010.
Felizmente, esse poster continua sendo atualizado até hoje, e, embora a Enfoque não tenha atualizado seu pôster com os últimos canais de baixa e alta, muita gente do mercado considera que houve o quarto ciclo de baixo se encerrando em 2016, e o quinto ciclo de alta se iniciado logo a seguir:
Portanto, diferentemente do contexto de 2010, em que havia dúvidas se estávamos num longo ciclo de alta ou iniciado um longo ciclo de baixa (inclusive naquela época eu achava, de modo acertado, que estávamos iniciando um ciclo de baixa), no momento atual já se pode afirmar com um pouco mais de claridade que estamos dentro de um longo ciclo de alta.
Estar dentro de um longo ciclo de alta não significa, contudo, que daqui pra frente as ações só vão se valorizar. Não é nada disso.
Desde 2016, mesmo, a Bolsa tem passado por muitos movimentos de quedas momentâneas: Joesley’s Day, greve dos caminhoneiros, eleições de 2018, coronavírus… repare que em todos esses momentos a Bolsa oscilou para baixo.
Porém, estar dentro de um ciclo estrutural de alta fornece vantagens inegáveis para os investidores em ações, já que eles podem se aproveitar desse ciclo para o dinheiro render mais do que normalmente já renderia por estar investido em ações.
Conclusão
Por último, mas não menos importante: mesclem conhecimento com ação. Adquirir educação financeira sem praticar torna o conhecimento inócuo. Investir sem ter o prévio conhecimento fará você perder dinheiro. É a mistura entre teoria e prática que fará de você um investidor de sucesso.
Contudo, na seara das ações, é necessário ainda um terceiro ingrediente que só vem com a prática: domínio emocional, diante dos altos e baixos da Bolsa.
Portanto, batalhe para estudar bastante, implementar uma estratégia, ter sangue frio nos momentos de baixa, saber vender e realizar o lucro, e compatibilizar seus objetivos financeiros com suas metas não financeiras.
Vejo muita gente desistindo da Bolsa porque não consegue aguentar os inevitáveis solavancos de curto prazo. E depois teima em voltar depois que os ativos se valorizaram tantos por cento mais que a renda fixa.
Ser um investidor de sucesso não requer apenas inteligência financeira, requer também inteligência emocional. O seu maior inimigo para ganhar dinheiro na Bolsa pode ser você mesmo. Portanto, treine, pratique, estude, invista, reflita e analise. E repita o ciclo. A evolução será certa e você se aperfeiçoará cada vez mais na arte de investir. 😉
Ótimo texto parabéns.
Obrigado, Iossef!