Muitas pessoas gostam de estabelecer metas para o ano que se inicia. Não se trata apenas de fazer as tais resoluções de Ano Novo, mas efetivamente de implementarem novos hábitos baseados em disciplina e planejamento.
Especificamente na área financeira, uma das mais importantes metas tem a ver com a reorganização das finanças, muitas vezes bagunçada pelos gastos em excesso (acentuada nas compras de Natal), falta de controle orçamentário e mentalidade orientada a um consumo irresponsável.
Para aqueles que estão muito endividados ou que simplesmente querem aperfeiçoar sua vida financeira, eu proponho um desafio para 2020, que está no título desse tópico: que cada centavo conte.
Isto é, que você fortaleça sua consciência financeira, e passe a pensar e refletir sobre cada gasto realizado, a fim de fazer sobrar mais dinheiro em seu orçamento doméstico ao longo desse ano de 2020, dando não só mais tranquilidade financeira ao seu presente, como também ao seu futuro, por meio da geração de uma massa patrimonial apta a ser direcionada para provisões e investimentos para médio e longo prazo.
Diminua as despesas fixas recorrentes
O primeiro passo é analisar, dentro do seu orçamento doméstico, aquelas despesas fixas recorrentes, isto é, aquele conjunto de gastos que se repete a cada mês, e refletir sobre a adequação desses gastos às suas necessidades atuais.
Isto ocorre porque muitas vezes iniciamos certas despesas lá atrás, ano passado, ano retrasado etc., e elas continuam lá, onerando nosso bolso, apenas pela nossa inércia, ou seja, pela nossa incapacidade de sairmos da nossa zona de conforto e dar um basta a aquele gasto.
Pense, por exemplo, na parcela mensal daquela anuidade do cartão de crédito que você é obrigado a pagar todo mês.
Provavelmente você contratou aquele cartão de crédito num momento de empolgação e euforia, pensando na geração de mais milhas, nos benefícios de viagens, nos seguros da bandeira etc. Mas… pera lá: você está realmente usando todos os benefícios desse cartão de crédito? Você está conseguindo resgatar as passagens do jeito que gostaria? O custo dele está se pagando? Até que ponto vale a pena manter um determinado cartão de crédito apenas pelo status, se você se deu conta de que não está tirando todo o potencial dele?
A mensalidade da academia é outro exemplo bastante comum: você está indo quantas vezes por semana na academia? No seu prédio não tem uma academia, onde você poderia treinar de graça? Perto de sua casa não há um parque ou local onde você também possa aproveitar para a prática de exercícios físicos? Se o seu objetivo for apenas evitar o sedentarismo, pense em alternativas mais baratas e até gratuitas para obter os mesmos fins (manutenção da saúde).
Tem gente que vai dizer: “ah, mas são só R$ 100 por mês, isso nem vai fazer diferença pro me bolso”.
Camarada, pense as despesas, principalmente as despesas recorrentes, em termos anuais: R$ 100 num mês parece pouco, mas, ao final de um ano, representará um gasto de R$ 1.200! Imagine você tendo R$ 1.200 a mais nesse começo de 2020. Já pensou? Se você pagou a anuidade cheia de seu cartão de crédito ano passado que tenha custado por volta de R$ 100 mensais, e não extraiu todos os benefícios que justificassem esse valor, você começou esse ano de 2020 R$ 1.200 mais pobre. Se você gastou R$ 100 mensais no plano da sua academia ano passado, mas ia lá uma ou duas vezes por semana, quando tinha alternativas gratuitas à sua disposição, lá se foram outros R$ 1.200 que, no mínimo, poderiam ser aproveitados para um gasto de melhor qualidade. Cada centavo conta.
Pense em alternativas mais baratas antes de efetuar o gasto
O mal do ser humano com um cartão de crédito no bolso é a mania de não pensar em alternativas mais baratas antes de efetuar um gasto ou pagar uma conta.
Em supermercados, por exemplo, vejo muitas pessoas afobadas e com pressa com seus carrinhos de compra. Arroz? Pegam o primeiro pacote que veem. Feijão? Pegam logo aquele pacote que está na altura de seu campo de visão. Amaciante de roupas? Vai pro carrinho o primeiro que olharem.
Isso é um erro crasso: a pressa não é apenas inimiga da perfeição, pois a pressa impede também uma análise mais cuidadosa dos preços de diferentes produtos e marcas que se prestam aos mesmos fins. Por quê não gastar alguns segundos a mais, e pegar o pacote de arroz mais barato, ou, ao menos, que tenha um custo/benefício melhor? Por quê não pegar o folheto das promoções e ver se não há algum pacote de feijão na promoção? Será que não compensa comprar carne no açougue, em vez de comprá-la no mercado? E os produtos de limpeza, já pensou em comprar pela Internet? Sim, hoje, com tantas lojas online oferecendo frete grátis para produtos de pequeno e médio valor, pode até mesmo sair mais barato comprar itens comuns de supermercado em lojas online do que no supermercado local.
Conferir contas também é de suma importância – afinal, é seu dinheiro que está sendo colocado em jogo.
Restaurantes: você tem o hábito de conferir a conta da comida? Muita gente não tem – e, com isso, pode deixar alguns centavos ou reais, se esvaírem pelas mãos. Assim que o papel da conta chegar em sua mesa, confira item por item, de cima para baixo, usando o dedo indicador para “descer” na visualização dos itens, e verifique se de fato tudo aquilo que está no recibo corresponde ao que foi consumido por você e sua família.
Promoções: todo cuidado é pouco
Quem não gosta de uma promoção? Se for economizar para um item que constitui uma necessidade do dia a dia, então, melhor ainda.
O problema é que nem tudo o que reluz é ouro, e, conforme dissemos ano passado, num post em que dávamos dicas para a Black Friday 2020, você tem que ter em mente o preço que está disposto a pagar para o produto, a fim de a compra valer a pena.
Semana passada vimos algumas lojas online fazerem suas famigeradas liquidações de estoque, já que janeiro costuma ser um mês ruim para o comércio.
Eu verifiquei os preços de alguns produtos, e vi que não havia nada de interessante ou com preços mais baratos do que os praticados no ano passado. Logo, não comprei, nem mesmo para (se fosse o caso) fazer estoque, já que todos os preços praticados estavam acima do preço de referência que eu tinha em mente.
A promoção, para valer a pena, tem que literalmente “casar” com suas necessidades atuais de compra. Nessas situações, caso não haja essa sintonia fina entre uma e outra, simplesmente não compre. Cada centavo não gasto é um centavo economizado, e, com isso, você vai empilhando mais e mais reais em sua conta bancária ao final de um mês.
Conclusão
Controlar os impulsos de consumo é, de fato, uma das tarefas mais desafiadoras dos dias atuais. E isso ocorre não só pela guerra de marketing promovida pelas empresas, que usam variadas técnicas de psicologia comportamental para fazer você gastar sem precisar, como também pelas cada vez mais onipresentes ofertas de crédito, que constituem uma tentação adicional para fazer você gastar com um dinheiro que não tem.
Para enfrentar esses vilões do orçamento doméstico, nada melhor do que fortalecer seu cérebro com aminoácidos financeiros capazes de bloquear os vírus das tentações das compras inúteis, que agem como verdadeiros venenos financeiros em sua saúde financeira.
Diga “não” ao consumo irresponsável, e edifique uma fortaleza mental em seu cérebro.
Esteja disposto a se dedicar ao extremo para economizar o máximo que puder ao longo desse ano de 2020, com equilíbrio, bom senso e controle. Os frutos de atitudes disciplinadas em relação ao dinheiro logo aparecerão, e se traduzirão em paz de espírito e segurança financeira, pilares essenciais para a construção de sua liberdade financeira. 😉
Olá Guilherme!
É sempre bom repetir os pilares básicos da riqueza, principalmente em uma época mais propícia para que as pessoas reflitam em mudar e melhorar suas vidas.
Importante lembrar que, quando insistimos que cada “centavo” conta, a mensagem mais importante é evitar desperdícios (onde centavos são jogados fora) e não usar o seu dinheiro com o que realmente importa. Gastar centavos investindo em você mesmo, é e sempre será importante. Mas desperdiçá-los não.
Um grande ano de 2020 para você!
Abraço!
André, olá!
Gostei de ver essa questão sob o prisma de evitar desperdício. Muito bacana, e reforça a mentalidade de valorizar cada gasto de dinheiro!
Abraços!
Oi Guilherme!! Começando o ano com um excelente artigo, para nos relembrar de mantermos nossos objetivos na linha e chamar a atenção para algo que possamos estar deixando passar. Isso é muito importante, pois meu marido foi hoje ao banco e em conversa com o gerente, o mesmo disse que o número de empréstimos (com juros absurdos) vem aumentado enormemente! Que tenhamos um 2020 mais rico, mais leve e mais minimalista!!
Oi Camila!
Bem interessante esse dado obtido sobre o aumento de empréstimos. Sinal de que temos ainda um longo caminho a percorrer para difundir a educação financeira no Brasil.
Que esse ano seja tudo isso que você bem mencionou!
Abraços!
Época muito adequada para este post! Inicio de ano, todos precisamos mesmo rever e aprimorar nossas planilhas.
Tenho notado que a pressa é de fato um grande inimigo do planejamento financeiro. Com pressa, gasta-se mais, e gasta-se pior.
Certamente, Vania, tudo que é feito com pressa geralmente é feito sem conscientização profunda daquilo que realmente importa. Os estragos depois podem ser grandes.
Abraços!
Essa idéia de que cada centavo conta é um pensamento de escassez!
A longo prazo não traz benefício pra ninguém.
Dinheiro tem que ser usado com bom senso e pronto!
Dinheiro foi feito para comprar PAZ.
O foco deve ser em estudar, evoluir, trabalhar mais e por conseguinte ganhar mais dinheiro e poupar mais!
Interessantes argumentos!
Mas discordo da questão do pensamento da escassez: pelo contrário, é o pensamento de valorizar e de respeitar o dinheiro, trazendo luz e conscientização financeira aos gastos realizados.
Se os gastos forem realizados de forma desmedida, haverá falta de dinheiro, e, com a falta de dinheiro, vem a falta de paz.
Abraços!
Se levarmos a frase ao pé da letra (cada centavo conta), concordo com o Pedro. Não tem porque se preocupar com dinheiro muito pequeno (ou muito insignificante pra renda da pessoa), pois não é ele que vai fazer a diferença.
1 centavo investido a 10% ao ano vai te dar menos de 7 centavos daqui 20 anos. Não vai fazer diferença.
Se a gente se apegar ao dinheiro pequeno, as vezes a gente perde oportunidades melhores.
Seguindo a regra dos 80-20, acho que vale a pena verificar os grandes gastos e, aí sim, atacar esses grandes gastos primeiro, vendo o que é possível diminuir e ir passando pros outros. É possível que conseguir economizar 10% de supermercado mensal de uma família apenas reduzindo o desperdício seja maior que o gasto mensal de netflix dela.
Além disso, o valor do dinheiro em si tem pesos diferentes para pessoas diferentes. É só pensar no valor de 1.000 reais pra gente e pra um bilionário. Jogando pro nosso dia a dia de pessoas comuns: um cafezinho de 3 reais/dia pode fazer uma falta gigantesca pra quem recebe um salário mínimo. Pra quem ganha 5mil/mês e consegue guardar metade do salário, esses 90 reais/mês em café ainda tem um peso relativamente grande no investimento mensal (mas já não é tão absurdo mais). Pra quem ganha 20mil por mês e consegue guardar 10mil, provavelmente não é o café de 3 reais/dia que vai deixar de fazer a diferença no futuro. E por aí vai.
Acho que no final tudo se resume a um balanceamento entre presente e futuro. Guardar pro futuro e aproveitar o presente. Confesso que pra mim, esse meio termo, é muito difícil.
Olá, MJC.
Interessantes suas ponderações, bem como os efeitos do tamanho dos gastos em proporção ao tamanho do patrimônio.
Isto está, aliás, alinhado ao que eu também defendo, como nesse artigo inaugural do ano de 2012: http://valoresreais.com/2012/01/09/mapeie-suas-10-maiores-despesas-anuais-e-trate-de-reduzi-las/
Penso que o pensamento do título do post pode também ter sua serventia em épocas de “ajuste doméstico fiscal”, onde a pessoa precisa reorganizar suas finanças, ainda que com alta renda, mas grandes gastos.
Enfim, acho que tudo se resume em alcançar o meio termo, o ponto de equilíbrio, e o pensamento do título do post (CCC) funciona como um freio de mão, uma âncora mental a nos prevenir de certos gastos altos.
De fato, 90 reais mensais para uma pessoa com renda mensal de 5k talvez não faça diferença. O problema é a mentalidade de que pequenos custos não são nada. São sim.
São 90 reais do cafezinho, 100 na play store, 30 da assinatura daquela revista inútil que você não lê, 200 da academia que você não vai, 250 dos 400 canais de TV que nunca têm nada bom, e quando somados, esses gastos se mostram expressivos.
“Eu trabalho tanto…preciso me dar uns luxos”.
Não afirmo que o problema é o gasto em si, mas a consciência dele frente ao orçamento.
Perfeito, Pride, seu comentário!