“Quem faz pode cometer falhas, mas a maior de todas as falhas é não fazer nada”. – Benjamin Franklin
Reflexões sobre dois comentários escritos na semana passada me incentivaram a discorrer sobre o tema em pauta.
O primeiro foi da Rosana:
“Gostei das 3 palavras chave: poupar, conservar e multiplicar, pois as 3 se complementam.
Para que a pessoa sejam bem sucedida nesse caminho, acredito que antes de poupar é necessário refletir sobre os hábitos de consumo, pois com frequência é o consumo desnecessário que prejudica as finanças ao longo da vida”.
Ou seja, muitas pessoas prejudicam suas finanças porque, antes de poupar, falham em refletir. Simplesmente não refletem. Não pensam antes de agir. E, consequentemente – e até de forma previsível – falham.
O segundo comentário foi da Vânia:
“Um excelente resumo, bem objetivo, das ações fundamentais para ter tranquilidade financeira.
Ultimamente, tenho me deparado com muitos casos de falha no Conservar. Pessoas que fazem um orçamento, não tem dividas, conseguem poupar, tudo certo. Mas ficam sempre buscando um uso para o dinheiro poupado”.
E isso não é verdade? Quantas pessoas simplesmente desistem de conservar porque não conseguem controlar suas próprias mentes?
E o pior é que a falha na conservação do dinheiro impede justamente a sua multiplicação, pois não haverá matéria-prima suficiente para pavimentar o caminho rumo à prosperidade financeira.
Você irá cometer falhas
Sejamos francos: por mais que você se eduque financeiramente, lendo livros, assistindo vídeos, praticando os verbos indicados no texto da semana passada e evoluindo em seu patrimônio financeiro, tenha em mente uma coisa: você, assim como eu e todos as outras pessoas, irá falhar. Irá errar.
E isso não deve ser motivo de tristeza, pois é algo absolutamente normal e inerente a nós, seres humanos, pois não somos máquinas.
Somos seres vivos dotados não apenas da capacidade de agir racionalmente, mas também somos muito influenciados por nossas emoções e sentimentos, que interferem em nossos processos decisórios financeiros.
E não, não pense que isso é ruim, pois as nossas escolhas financeiras são feitas levando em conta também virtudes e valores que, por definição, escapam do âmbito puramente matemático. Exemplo simples, mas sintomático dessa questão: seria muito mais econômico para seu bolso não jantar sábado à noite, mas se você está comemorando um evento especial (p.ex., aniversário, um negócio bem sucedido etc.), por quê não festejar?
A grande questão, portanto, não é tentar ser perfeito e imune a falhas, mas aprender com os erros de modo a retomar o curso de sua vida financeira.
Ou seja, utilizá-los como um norte para o seu aprimoramento pessoal – exatamente o título do artigo de hoje. 😉
Exemplo prático: atire a primeira ação quem nunca investiu numa empresa cuja cotação estava no TH (topo histórico), ou quem comprou ações, ou quaisquer outros ativos, motivado unicamente pela “recomendação” dos especialistas de plantão, sem fazer uma análise independente e autônoma dos ativos à disposição?
Todos nós já fizemos isso, e todos nós seremos tentados a fazer isso novamente, pois é da natureza humana.
O mais importante não é não falhar, mas aprender com as falhas, fazer de novo, acertar, e seguir no jogo.
Utilizando o mesmo exemplo acima, talvez você nunca tenha investido em ações antes, por medo, e resolveu iniciar sua jornada na renda variável comprando ações sem fazer muito estudo prévio, mais com base em “achismos”, opiniões alheias, e botando uma “fezinha” de que as ações iriam explodir… e deu no que deu.
Como eu disse antes, não tem problema. Você não é máquina. Você é um ser humano, sensível às notícias e às emoções (ganância, ansiedade, depressão, raiva etc.) que afloram em matéria de dinheiro.
Portanto, errar faz parte do jogo, mas tomar consciência dos erros de modo a não repeti-los no futuro faz igualmente parte do jogo.
Acostume-se com essa ideia: tentativa – erro – tentativa – acerto. Você pode até acertar de primeira, mas fatalmente irá errar no meio do caminho, e irá cometer muitos outros erros ao longo de sua jornada financeira. O grande desafio para você é tirar lições dos erros, de modo a usá-los como ferramentas para redirecionar sua vida financeira nos trilhos corretos.
Educação financeira: a sua ferramenta de monitoração permanente das falhas com o dinheiro
Avançando um pouco mais no tema, o que é a educação financeira senão uma ferramenta de monitoração (e correção) permanente de falhas com o dinheiro?
Quanto mais instruído você estiver mentalmente com as finanças, mais útil e eficiente será esse processo.
Vamos a outro exemplo prático para demonstrar que o problema não está exatamente nas falhas, mas nas lições que você tira delas. No tópico anterior abordei as falhas nos investimentos. Agora, tratarei das falhas no orçamento doméstico.
Por mais perfeccionista que você queira ser na montagem de seu planejamento de gastos para esse ano de 2019, algumas falhas na execução dos gastos você irá cometer. Pode ter a certeza disso. Ninguém é infalível. Aliás, certamente isso aconteceu em 2018.
Pode ser uma viagem onde você extrapole os gastos inicialmente orçados, a Black Friday onde você tenha comprado por impulso acima do inicialmente orçado, ou uma sequência de passeios e jantares fora de casa que excederam a conta. Os erros serão cometidos, mas se você tiver um orçamento doméstico, fruto da aquisição de educação financeira, saberá exatamente onde falhou no controle de gastos.
Como bem disseram a Rosana e a Vânia semana passada, ausência de reflexões sobre as finalidades de se gastar/investir, combinada com a busca incessante de um uso para o dinheiro previamente poupado, acabam resultando em falhas que comprometem o equilíbrio nas finanças pessoais.
Portanto, o estudo constante sobre o tema é atitude fundamental para que você monitore permanentemente sua relação com o dinheiro. Respeite-o. Controle-o, ao invés de ser controlado por ele.
Onde a lição é maior
Eu escrevi no título do artigo que os erros financeiros não devem ser vistos apenas do lado negativo, já que eles fazem parte de nosso dia a dia e temos que conviver com os erros.
A grande questão é que os erros devem ser vistos sobretudo da perspectiva de funcionarem como uma bússola para você ir melhorando sua relação com o dinheiro.
Se eles são inevitáveis, no sentido de que ninguém é perfeito, e se eles são meios para a correção de rumos, a pergunta natural que vem é: onde eu posso aprender mais com os erros cometidos? De onde eu tiro as maiores lições?
E a resposta é: pela intensidade da dor. A resposta é quase instintiva. Intuitiva. Quanto maior tiver sido a dor, maior terá sido a lição, e provavelmente – se você tiver refletido sobre as falhas financeiras – esses erros terão ficado no passado, sendo menores as chances de você cair novamente neles.
Um forte exemplo disso – verificável inclusive na quantidade de textos na blogosfera financeira sobre o tema – é a famigerada compra de carros sem planejamento.
Aliás, o exemplo clássico é o sujeito que, recém-formado, ou recém-empregado, já gasta os tubos comprando um carro incompatível com sua renda, financiado em “n” prestações, e depois tem dificuldades em mantê-lo, perdendo muito dinheiro em todo esse processo, e resolve tomar uma atitude dali pra frente: gastar o menos possível com veículos.
Outras fontes de forte aprendizado por meio de falhas ocorrem quando envolvem excessos com dinheiro dos outros, ou seja, compras financiadas (ou parceladas) mal planejadas – o que, no fundo, não difere muito do exemplo acima.
A intensidade da dor também se revela em investimentos mal sucedidos, pois ele, tanto quanto os passivos mal adquiridos, resultam em perdas financeiras “inesquecíveis”, que fazem o investidor pensar duas vezes antes de fazer novamente um investimento errado.
É por isso, aliás, que muitas pessoas não investem em Bolsa: porque investiram uma vez no passado, se deram mal, e resolveram nunca mais voltar. Mas essas pessoas talvez não tenham completado o processo de educação financeira, ou seja, não tenham aprendido com os erros, e, portanto, não tenham utilizado as falhas cometidas anteriormente para se prepararem melhor no investimento em ações. E agora, com a Bolsa perto dos seis dígitos de pontuação (cem mil pontos) se lamentam por não terem entrado mais cedo…
Conclusão
O importante é não falhar nunca? Não.
Eu digo que o importante é ter a mentalidade certa: saber que erros irão acontecer, tanto do lado da aquisição de passivos, quanto do lado da aquisição de ativos, e que, diante dessa inegável realidade, você ter as condições de pensar, agir e refletir conscientemente sobre suas escolhas financeiras, a fim de que possa navegar pelo mar das finanças pessoais da forma mais segura possível.
A educação financeira é um processo que não se esgota na aquisição e leitura de livros, e montagem e execução de um orçamento doméstico e de um plano de investimentos.
Pelo contrário, ela é um processo que se amplia para a vida toda, pois ela é uma ferramenta de monitoração (e correção) permanente de falhas com o dinheiro.
Que você possa, portanto, conviver bem com os erros, utilizando-os como bússolas para te fazer evoluir nas suas finanças pessoais. 😉
Guilherme,
Apesar de ninguém gostar, a dor é uma grande professora. Se soubermos aprender com ela, podemos evitar muitos aborrecimentos. Além disso, se a dor vier acompanhada de grande carga emocional, nosso cérebro registrará o evento de forma privilegiada, de forma a não cometermos o mesmo erro outra vez.
Um exemplo: na infância, provavelmente você se queimou.
Ou levou um choque ao colocar um dedo na tomada.
De forma consciente você fez isso outra vez?
Não, pois a sua memória não deixará que isso ocorra outra vez.
Isso ocorre com tudo na vida e quanto maior a carga emocional do evento, melhor o resultado. Mesmo assim, com eventos não tão intensos, podemos aprender muito. Acredito que basta estarmos dispostos a isso.
Agradeço pela citação! 🙂
Oi Rosana, gostei muito da sua explicação sobre a carga emocional da dor, e como isso reflete no aprendizado.
Concordo com tudo o que você disse: termos uma mente receptiva ao aprendizado facilita tudo.
Abraços!
É verdade Guilherme! A forma de encarar nossos erros será determinante para nosso futuro nas mais diversas áreas, inclusive a financeira.
Os erros são uma das maiores dádivas de nossa existência, pois com eles, corrigimos rumos, principalmente em virtude da dor, como você e a Rosana citaram.
Seria melhor se usássemos a experiência de outras pessoas para fazer tais correções, mas nem sempre isso é possível. Nós, como seres imperfeitos, muitas vezes enfiamos o pé na água (quando não os dois de uma vez só) para testarmos nossos limites e aprendemos da pior maneira.
Mas convenhamos, acho que ter a “skin in the game” consolida mais os aprendizados, não?
Abraço!
Oi André,
Você complementou muito bem o post, ao ressaltar que podemos aprender com os erros dos outros.
No final das contas, os erros – tanto os próprios, quanto os dos outros – nos ajudam no aperfeiçoamento nessa caminhada.
Abraços!
Muito feliz em ter meu nome citado num de seus ótimos posts! 🙂
Sim, todos nós erramos, seja na ponta dos passivos, seja na ponta dos ativos. Mas com certeza blogs como o seu ajudam muita gente a errar menos. Desde que o leitor esteja disposto a colocar em prática, há um farto material para ajudá-lo.
Oi, Vânia, eu é quem agradeço de tê-la como leitora sempre assídua e participativa aqui nos comentários! 🙂
Obrigado pelas palavras!
Muito bom! não Procuro me organizar na administração financeira pessoal e familiar de forma que me traga tranquilidade e sempre consultando explicações como está. Me pergunto: Devo adquirir isto? Estou realmente necessitando disto? Preciso? Como planejar este gasto? Assim por diante .. Obrigada pela importante orientação. Me ajudou mais e mais…
Ótima essa técnica, Ivanda.
Fazer as perguntas certas é uma excelente maneira de conduzir a estratégias mais eficazes no controle financeiro pessoal.
Abraços!