Em julho de 2010, portanto, há cerca de 8 anos, escrevi um artigo no Dinheirama sobre uma das regras mais importantes das finanças pessoais – se não for a mais importante.
Trata-se da regra de gastar menos do que se ganha. Uma regrinha simples, que até uma criança de 8 anos é capaz de entender, mas que é diuturnamente desobedecida por milhões de famílias, no Brasil e no resto do mundo, que preferem fazer o oposto. Ou seja, gastar mais do que se ganha, criando, com isso, dívidas que a cada dia ficam mais difíceis de serem controladas e eliminadas.
Mas evitar dívidas é apenas um dos muitos passos que você deve dar para ter uma vida financeira equilibrada e saudável.
O texto de hoje trata de outra regra tão importante quanto aquela, uma vez que trata da formação de patrimônio, envolve a criação de hábitos positivos de investimentos, e faz você pensar – ou repensar – seus planos quanto ao futuro.
É a tática do pague-se primeiro. Funciona assim: quando o dinheiro do salário cair na sua conta, imediatamente transfira uma parte dele para a corretora. Imediatamente invista.
Não deixe que o ato de investimento seja feito depois que você pagar todas as suas contas, faturas de cartões de crédito e outras obrigações financeiras, porque “depois” pode ser tarde demais. Pague-se primeiro, não por último. Pague-se a si próprio antes, como se fosse outra obrigação financeira qualquer, mas que é a mais importante de todas: o pagamento para a construção de seu futuro financeiro.
Restabelecendo a ordem natural das coisas
A primeira grande vantagem dessa tática é inverter a ordem de prioridades. Ou melhor, restabelecer a ordem natural das prioridades em sua vida. Ao fazer isso, ao separar uma parte do salário para investimentos, assim que o dinheiro do salário cai na conta, você passa a ser a sua prioridade número 1.
Quando a primeira coisa que você faz com o salário é pagar os juros dos empréstimos, e pior, costuma fazer isso com certa regularidade, você dá prioridade ao enriquecimento dos banqueiros. Você prioriza o bem-estar e o fortalecimento dos agentes do sistema financeiro. Ou seja, você deixa em segundo plano você próprio, ao destinar, como prioridade, os recursos que são fruto do seu trabalho, para enriquecer terceiros, estranhos e completamente alheios à sua vida.
É preciso mudar esse estado de coisas, de modo a priorizar aquilo que de fato irá fazer a diferença na sua vida, que são seus planos e metas para o futuro. O seu futuro.
Mas você não pode fazer isso – pagar-se primeiro – somente quando recebe um bônus salarial, décimo terceiro, terço de férias, ou uma verba salarial extra qualquer. Você deve fazer disso um hábito, ou seja, pagar-se primeiro todos os meses do ano, ainda que no mês você só receba o salário normal.
Com isso, você adquire a habilidade de investir com regularidade, que é um atributo indispensável de todo investidor de sucesso.
Quanto pagar?
Mas qual percentual da renda você deve separar para os investimentos?
Se você nunca fez isso antes, comece com uma quantia tal que não afete sua capacidade de pagamento pontual das demais obrigações financeiras, que precisam ser liquidadas com o salário do mês corrente.
Por isso, parto da premissa de que você já segue a regra de ouro primordial, que é a de gastar menos do que ganha. Se você costuma economizar 10% do seu salário todo mês, comece separando exatamente esse percentual.
Se você ganha R$ 1.500 todo mês, separe R$ 150 para investir, assim que o dinheiro do salário cai na conta, e se force a se virar com os restantes R$ 1.350 nos próximos 30 dias.
A tática de pagar-se primeiro, além do óbvio efeito de colocar você, ou melhor, seu futuro financeiro, em primeiro plano, também lhe dá a oportunidade de sair da zona de conforto, ao limitar os gastos do mês a um montante menor que o seu próprio salário.
No exemplo acima, ao separar desde já R$ 150 para investimentos, você se obriga a se virar os próximos 30 dias com 90% do salário, ou seja, R$ 1.350.
Essa é uma situação bem diferente daquela em que o sujeito começa o mês com disponibilidade sobre a integralidade do salário, ou seja, com os R$ 1.500,00, pois a tentação de consumir todo o salário é bastante grande, o que aumenta as probabilidades de você chegar ao final do mês gastando integralmente essa quantia.
E onde aplicar esse dinheiro?
Se você está começando sua jornada de educação financeira, a resposta atende por três palavras: reserva de emergências. Colchão de segurança. Nesse artigo aqui, eu expliquei 5 bons motivos para você ter também seu colchão de segurança financeira.
Agora, caso você já tenha sua boa reserva em renda fixa, as opções de investimentos dependem essencialmente dos seus objetivos com o dinheiro, pois planos distintos requerem diferentes tipos de investimentos. Por exemplo, quem pensa na aposentadoria irá pagar-se primeiro investindo em planos de longo prazo, alocando seu dinheiro, por exemplo, em ações, fundos de previdência complementar, Tesouro Direto, fundos imobiliários etc.
Programe os computadores para pagar por você
Finalmente, uma dica extra importante é aquela relacionada com a automatização do seu plano de investimentos. Isso é, quanto mais automático ele for, menores serão as chances de você cair na tentação de se autossabotar, e burlar a regra.
Isso pode ser feito de várias maneiras. Por exemplo, se o seu salário cai na conta todo dia 2, você pode programar débitos automáticos todo dia 4, em fundos de investimentos escolhidos para custear seus planos de aposentadoria.
Muitas corretoras também permitem agendar planos programados de investimentos completamente automatizados em ações e Tesouro Direto, facilitando muito a vida do investidor. Dá pra você programar um TED mensal todo dia 4 do banco onde você recebe o salário para a corretora, e também uma aplicação mensal programada na corretora todo dia 7.
A automatização tem a sua relevância na medida em que o ato de investir não passa pelo centro de sua vontade. Assim, faça chuva ou faça sol, quer você queira ou não queira torrar o dinheiro assim que cai o salário, você não precisa fazer nada: os sistemas computadorizados dos bancos e corretoras se encarregam de fazer os atos de investimentos propriamente ditos, poupando você de preciosos recursos de tempo e de energia mental.
Conclusão
Uma das maiores queixas das pessoas é a dificuldade de fazer sobrar dinheiro no final do mês. O controle de gastos do dia a dia muitas vezes não deixam margem para a existência de sobras orçamentárias capazes de serem direcionadas para aplicações financeiras, ao final de um ciclo de 30 dias. Qual é a solução para isso?
Fazer o dinheiro sobrar no começo do mês, assim que o salário cai na conta. Pagar-se primeiro.
Ao realizar esse simples ato, você modificará a dinâmica do orçamento doméstico, recolocando seu futuro financeiro no centro de suas prioridades. Além disso, como efeito colateral, essa tática de pagar-se primeiro lhe dará o desconforto imprescindível para ter que se virar, no restante do mês, somente com uma parcela do seu salário (por exemplo, 90%).
A estratégia de pagar-se primeiro, portanto, faz parte do processo de educação financeira. Não existe processo de educação sem dor, sem correção de rumo, sem aprendizado. Se a ideia de viver com 90% ou 80% do salário dói para você, então assuma e enfrente essa dor, pois ela é inerente à sua educação financeira.
Esse ato, como se pode deduzir da mensagem acima, não pode se realizar de forma esporádica, apenas quando o fluxo de caixa é reforçado com alguma verba salarial extra. Pelo contrário, ele deve ser feito de forma disciplinada, todos os meses.
Se você ainda tiver dificuldades psicológicas em fazê-lo, então não faça: delegue o ato de pagar-se primeiro para os computadores e sistemas informatizados dos bancos e corretoras, programando: (a) débitos automáticos de investimentos; ou (b) transferências mensais de dinheiro (TEDs e DOCs programados mensalmente) do banco para a corretora, e, na corretora, agendamentos de compras mensais automatizadas nos seus ativos prediletos.
A regra de pagar-se primeiro é uma regra simples, mas bastante poderosa, uma vez que tem, dentre seus principais atributos, criar em você o hábito positivo de investir sempre, e com regularidade, facilitando o processo de criação e acumulação de riqueza, e contribuindo para tornar não só o seu futuro, mas também o seu presente, muito melhor e mais responsável. 😉
Pagar-se primeiro é umas das regras mais importantes para se construir um bom patrimônio financeiro.
Abraço e bons investimentos.
Pura verdade, DIL!
Guilherme,
Essa é uma estratégia muito boa.
Se colocada em prática, proporciona excelentes resultados. Além disso, é de grande importância para que não haja consumo sem reflexão, pois não haverá dinheiro “sobrando” na conta para compras desnecessárias.
Abraços,
Verdade, Rosana, e o consumo sem reflexão é um dos maiores malefícios financeiros dos dias atuais.
Já sigo essa regra a algum tempo, ótimos resultados. Sigo outra também, só compro alguma coisa (gastos pessoais não obrigatórios) usando o dinheiro dos rendimentos, nunca o principal, e mesmo assim quando rendem o dobro do necessário. O bolo está crescendo bem.
Disciplina é tudo.
Excelente, Sandro, é por aí mesmo, disciplina é um ingrediente fundamental para a construção da riqueza.
Eu fiz isso durante 35 anos. Se hoje tivesse que viver apenas de minha aposentadoria da área privada, estaria na miséria, pois me aposentei com 7 salários mínimos e hoje recebo 2,5 SM, embora sempre tenho contribuído pelo teto. O que o governo fez com os aposentados da área privada, ao longo dos últimos 20 anos é um verdadeiro massacre. E pretende piorar a situação para aqueles que irão se aposentar, caso passe a Reforma da Previdência. Por isso, é importante uma conscientização de que as pessoas devem poupar ao longo de suas vidas produtivas, para evitar o caos na velhice, como tenho visto ocorrer com muitos idosos.
Excelente depoimento, Paulo. O seu exemplo demonstra bem a necessidade de todas as pessoas, de construírem um plano paralelo, autônomo e particular, de aposentadoria.
Abraços!
com essa regra de ouro, já salvei umas vidas financeiras por aí
Muito bom, Marcelo!
Regra simples, poderosa e infalível!
Verdade, Vânia!
Guilherme, boa tarde! Sou servidor público, e como todos os brasileiros, estou incrédulo no futuro da previdência. Tenho a opção de migrar para o regime complementar de previdência, e com isso fazer parte de um fundo patrocinado, ou aplicar o excedente da minha contribuição atual como eu quiser. O que vc acha mais confiável?
Fernando, ambas as opções são válidas, com vantagens e desvantagens em cada uma delas, sendo que a escolha depende essencialmente de suas convicções quanto ao futuro, bem como à sua visão quanto à melhor maneira de operacionalizar seu plano de aposentadoria.
Vale destacar que a opção por um fundo patrocinado dá algumas vantagens que um plano individual particular não oferece, tais como: aportes paritários feitos pelo patrocinador, garantia de uma renda por sobrevivência, caso você ultrapasse a expectativa de vida do plano (estou falando especificamente nesse caso do Funpresp, não sei se é o seu caso), e diversificação dos ativos de aposentadoria.
A opção pela aplicação da contribuição como quiser, por outro lado, dá a você provavelmente um salário líquido maior, além de mais flexibilidade quanto aos investimentos a serem feitos, mas lhe imputa a responsabilidade pela boa condução do plano.
Se quiser, posso escrever um artigo a respeito.
Uma regra simples no qual a maioria da nossa sociedade não sabe aplicar. Não tem reservas para emergências, vivem atoladas no cartão de crédito, trabalham para pagar contas e não conseguem atingir seus objetivos se não for parcelado, o que em algum momento também vira uma bola de neve.
As pessoas precisam parar de se endividar para poderem se pagar, precisam pensar mais no futuro (depender de governo não é algo acessível no nosso país), e planejar para alcançar os sonhos. Viver de impulso não faz ninguém sair do lugar.
Isso mesmo, Nádia. É a famosa corrida dos ratos, onde a maioria das pessoas estão presas.
Excelente texto. Sigo essa regra, logo que o salário cai na conta, já calculo tudo que preciso pagar no mês e faço a transferência para a corretora. Interessante que no final do mês quase sempre ainda sobra alguma coisa.
Estou lendo o livro “O milionário mora ao lado” e eles comentaram essa estratégia do “pague-se primeiro”. 🙂
Obrigado, Adriana!
Verdade, o fato de invertermos a regra, nos faz, de alguma forma, agir de tal maneira que conseguimos economizar ainda mais no final do mês. 😉
Abraços!
ótimo artigo.
Adoto o pagar-se primeiro de forma regular desde 09/2014.
iniciei separando 5% renda liquida para aplicações longo prazo (td2035)
objetivo: complemento de renda futuro.
A partir de 2015 iniciei aplicação de 15% renda líquida para me possibilitar a chance
de um compra de um carro seminovo caso as circunstancias fossem propicias.
É difícil mas persistir é necessário!!!
Minha renda liquida se aproxima de seu exemplo