Quando o assunto é “dicas para acabar com as dívidas”, logo vem à mente ideias como: colocar todas as dívidas no papel (ou na planilha); trocar uma dívida mais cara por uma mais barata; renegociar com os credores as taxas de juros e outros encargos contratuais; começar o pagamento das dívidas começando pela dívida de menor valor etc.
Todas essas dicas são importantes e úteis, na medida em que servem para eliminar um mal que aflige e tira o sono de muitas famílias brasileiras, mal esse que as impede de construirem patrimônio, e realizarem sonhos importantes, como uma aposentadoria digna, um futuro mais confortável ou mesmo um presente menos estressante.
Porém, tudo isso ainda não é o suficiente. E por quê digo isso?
Simples: porque não corta o mal pela raiz.
Combater as dívidas apenas as quitando é como eliminar os sintomas de uma doença. É como eliminar o mal apenas cortando suas consequências.
Se você tiver 5 dívidas correndo em paralelo (cartão de crédito, cheque especial, empréstimo consignado, financiamento imobiliário e financiamento de carro), que consomem 70% de sua renda líquida mensal, não tenha dúvidas: assim que quitar somente uma dessas dívidas, e ver que está sobrando R$ 375 reais a mais no mês seguinte, você vai querer logo fazer outra dívida. Não vai querer caminhar rumo à eliminação progressiva de todas as quatro dívidas restantes: vai querer é fazer uma nova dívida.
Veja que estou falando em sair apenas de uma dívida, das cinco que estão correndo, porque chegar ao ponto de ter um mês em que consiga eliminar todas as cinco dívidas é algo, na mente dessas pessoas, absolutamente inimaginável e intangível. Será mesmo?
Não, não é.
E é justamente disso que trata o texto de hoje. Ele aborda uma estratégia poderosa para cortar o ciclo do endividamento de uma forma duradoura, porque ele ataca a raiz do problema. Ataca sua causa, e não seus efeitos. Ataca o seu pressuposto, e não suas consequências. Ataca sua razão de existir, e não o resultado delas. Ataca o principal, e não o acessório. Ataca a raiz, e não seus frutos.
Cortando o mal pela raiz, a árvore das dívidas não produzirá frutos consistentes em R$ 3.478,26 mensais decorrentes de 7 dívidas correndo em paralelo. Eliminando o principal, os acessórios deixam de existir.
Essa estratégia está sintetizada numa frase composta de apenas 5 palavras, mas cuja implementação requer tempo, porque se trata de um processo, e não de algo cujos efeitos ocorram da noite para o dia – embora a ideia propriamente dita surja, sim, num dado instante, mas cujos efeitos precisam se perpetuar ao longo do tempo.
Não, não estamos falando de fórmula mágica. Não estamos falando de receitas prontas. Estamos falando de algo mais profundo, mas que já foi testado e comprovado na prática pelas pessoas que eu já ajudei a sair do atoleiro das dívidas em que se encontravam.
Portanto, o método funciona. Se você começar a aplicá-lo em sua vida, mas o método parar de funcionar depois de 10, 30 ou 60 dias, não culpe o método. Culpe você: se isso ocorrer, é porque você desistiu no meio do caminho. Se você falhar durante a jornada rumo à libertação das dívidas, a estratégia não tem nada a ver com isso: ela continuará lá, intacta, à disposição para novamente ser usada. Se você voltar ao ciclo do endividamento, não há desculpas: foi você mesmo quem enfraqueceu sua mente.
Essa estratégia, portanto, não é para mentes fracas. 😉
Qual é, afinal, a estratégia para sair das dívidas?
Resposta: modifique seus padrões de comportamento.
Modifique seus padrões de comportamento.
Modifique seus padrões de comportamento. Somos governados por padrões de comportamento. Está com sobrepeso? Analise seus padrões de comportamento alimentar. Lá estarão as respostas para esse resultado (sobrepeso). Foi mal no teste da esteira, que examina suas funções cardiorrespiratórias, não conseguindo correr 10 km/h durante sequer 3 minutos? Reflita sobre seus padrões de exercícios físicos – ou melhor, sobre a ausência deles. Lá estarão as respostas. Não consegue passar no vestibular, fica sempre na primeira fase do concurso público, não consegue tirar nota boa nas provas da faculdade? Analise seus padrões de estudos. Lá estarão as respostas.
Está enrolado com 7 financiamentos ao mesmo tempo, não consegue ter sequer 5 mil reais em reserva de emergências, fica boiando quando alguém vem falar de investimentos? Analise seus padrões de comportamento financeiro. Lá estarão as respostas.
Se você tem dívidas, você gasta mais do que ganha. Se você gasta mais do que ganha, você gasta com coisas que estão além do que você pode suportar. E se você gasta com coisas que estão além do que você pode suportar, é porque você tem padrões de comportamento que te conduzem a isso. E você precisa identificar os motivos que estão te levando a fazer isso, e, uma vez identificados os porques, você precisa agir para mudar esses padrões negativos, substituindo-os por padrões positivos de comportamentos.
Exemplo prático
Vamos a um exemplo prático para melhor explicar essa estratégia.
João é um jovem de 29 anos que ganha R$ 7 mil líquidos mensais. Um ótimo salário, não? Mas ele não recebe R$ 7 mil todo mês. Ele recebe R$ 5.500 na sua conta-corrente, pois R$ 1,5 mil já estão comprometidos com um empréstimo consignado que é descontado automaticamente de sua folha de pagamento.
Mas o problema é que ele não tem disponibilidade sobre esses R$ 5,5 mil, pois outros R$ 1.225 estão comprometidos com o boleto do financiamento bancário de seu Tucson zero quilômetro, pago em 60 parcelas mensais – atualmente ele está pagando a parcela nº 27.
Sobram efetivamente em sua conta, então, R$ 4.275. Mas quem disse que ele tem inteira disponibilidade sobre esses R$ 4.275? Ele não tem – e na verdade, não pode sequer gastar – esse valor todo.
É que ele tem 3 cartões de crédito, acumulando dívidas que, somadas, chegam hoje a R$ 1.450,00 mensais, por conta de não ter conseguido pagar as faturas em dia.
Sim, senhoras e senhores, ele entrou no famigerado rotativo do cartão de crédito, e sobra, líquido para ele, na verdade, a quantia de R$ 2.825 mensais. E estamos falando de um rapaz que ganha R$ 7 mil líquidos.
E é lógico que, com tão pouco dinheiro disponível para gastar (pouco!? Pô, o cara recebe salário de R$ 7 mil!), não resta outra alternativa a ele a não ser pagar tudo o que pode e o que não pode na maior quantidade possível de parcelas no cartão de crédito – e isso sem contar o recurso frequente a novos empréstimos.
A bola de neve das dívidas é algo difícil de imaginar para quem sempre foi educado financeiramente, mas é algo assustador quando você se depara com histórias como a de João.
Não há dúvidas de que um plano de reestruturação de dívidas é urgente na vida dele, mas só isso não basta, porque, mesmo que João consiga, após muito sacrifício, quitar todas ou parte das dívidas, dali a algum tempo ele novamente voltará a fabricar outra bola de neve de dívidas… a menos que ele modifique seus padrões de comportamento.
Vamos recapitular o que dissemos lá em cima?
Se você tem dívidas, você gasta mais do que ganha. Se você gasta mais do que ganha, você gasta com coisas que estão além do que você pode suportar. E se você gasta com coisas que estão além do que você pode suportar, é porque você tem padrões de comportamento que te conduzem a isso.
Agora, imagine que você está frente a frente com João. Ele lhe contará os motivos que o fizeram a entrar nesse mar de dívidas. Ouça a história dele, nas palavras dele:
“Comprei o Tucson porque me sentia inferiorizado quando entrava na garagem do prédio onde eu moro. Lá, a maioria dos carros estacionados é composta por Jeeps, HR-Vs, ix35, Mini Coopers e Ford Rangers, de modo que eu me sentia desconfortável quando eu estacionava o meu antigo e modesto New Fiesta.
As dívidas nos cartões de crédito e no empréstimo consignado são decorrentes de gastos em restaurantes, viagens, roupas, relógios e sapatos. Sempre achei que, para ser bem sucedido, tinha que usas roupas sociais de grife e sapatos luxuosos. No shopping, os vendedores sempre me olham diferente por eu portar um Tag Heuer no meu pulso. Nas saídas de final de semana com amigos e colegas de trabalho, sempre vamos para os restaurantes e baladas mais caras, onde a consumação mínima é maior também. Eu sou um cara apaixonado por vinhos, e não gasto menos que R$ 80 numa boa taça de vinho importado, numa refeição fora de casa. Afinal de contas, se você não gosta de vinhos, você tem menos chance de impressionar as outras pessoas.
Quanto às férias, eu sigo um esquema: férias de verão eu aproveito ou para ir em Trancoso, ou para ir no exterior, Estados Unidos ou Europa, e não me incomodo de pagar R$ 5 mil ou R$ 10 mil para viajar em classe executiva. As férias de inverno eu gosto de passar esquiando no Chile ou na Argentina, e procuro sempre me hospedar em hotéis de no mínimo 4 estrelas. Acho que isso compensa, pois as fotos que eu posto no Facebook e Instagram e os vídeos que eu posto no Stories ou no Snapchat sempre rendem boas histórias para contar nas rodadas de happy hour que tenho com os amigos, e também nas baladas de sábado à noite.
A situação financeira saiu um pouco fora de controle, eu admito, mas eu estou confiante de que conseguirei contorná-la. Ainda tenho uma margem no empréstimo consignado, e é provável que eu consiga uma promoção na carreira, o que seria suficiente para quitar pelo menos parte das dívidas, já que me salário subiria 30%, fora os bônus por desempenho.
Não tenho tantas preocupações quanto ao futuro, pois conto com um PGBL da empresa, onde pago 3% a.a de taxa de administração e 2,5% de taxa de carregamento. Além disso, meu gerente no Itaú Personalité é ótimo, porque ele sempre consegue aumentar o limite do meu cheque especial quando eu preciso; aliás, fiquei tão contente com a eficiência dele nesse assunto, que fiz o PIC de R$ 250 mensais em troca desse favor. Acho que vale os R$ 71,90 mensais de pacote de serviços que eu pago, até porque a logomarca do banco estampada na frente do meu cartão de crédito impressiona o garçom e meus amigos quando eu tiro meu cartão da carteira para pagar a conta de um restaurante – afinal, não são todos que podem ter conta nesse segmento do banco”.
Quem é educado financeiramente e nunca precisou recorrer a linhas de crédito para pagar as contas deve ficar assustado com o depoimento de João, mas todos nós sabemos que a situação financeira dele reflete a situação financeira de milhões de brasileiros: uma vida inteira marcada por gastos e mais gastos, sem construção de patrimônio, e sem preocupações quanto ao futuro.
As pessoas pensam que ser bem sucedido financeiramente significa gastar e consumir feito um louco, quando, na verdade, é o contrário que ocorre, e já dissemos isso no blog, no artigo Riqueza não é o que você gasta. Riqueza é o que você acumula.
E como fazer para modificar padrões de comportamento?
Trata-se de um processo que envolve basicamente duas etapas.
Primeiro, é preciso identificar a origem das dívidas. Para isso, é fundamental ter uma planilha de orçamento doméstico, um registro das despesas, organizado e agrupado por categorias. Quanto mais detalhado ele for, melhor.
É a partir da planilha de orçamento doméstico que conseguimos identificar os “vazamentos” de dinheiro, pois a matemática é infalível: ela apontará onde estão ocorrendo os maiores gastos, aqueles que te fazem recorrer a credores com suas taxas de juros exorbitantes.
Você acha que isso soa um tanto quanto óbvio, pois você já faz uma planilha de orçamento doméstico há mais de 10 anos, e não consegue imaginar como as pessoas hoje em dia, tão bem instruídas intelectualmente, não conseguem fazê-la?
Então, seja bem-vindo à maldição do conhecimento. Credo, Guilherme, que isso?
Calma lá, eu explico isso, aliás, Chip e Dan Heath explicam, no livro Ideias que colam, resenhado aqui no blog tempos atrás:
“Quando detemos um conhecimento, fica difícil imaginar como é não ter esse conhecimento. Nosso conhecimento nos ‘amaldiçoou’. E fica difícil recriar prontamente o estado de espírito de nossos ouvintes. Não é possível desaprender o que você já sabe. Na verdade, há apenas duas maneiras de combater a Maldição do Conhecimento de forma confiável. A primeira é não aprender nada. A segunda é verificar suas idéias e transformá-las”.
Se quem é educado financeiramente não consegue imaginar a existência de casos assim pelo efeito da maldição do conhecimento, quem tem dívidas a perder de vista está contaminado, digamos assim, pelo seu oposto: pela maldição da falta do conhecimento. 😉
Na verdade, as pessoas que praticam um orçamento doméstico são como ilhas no meio do Oceano Pacífico: uma pequena porção selecionada de pessoas em meio a milhões de pessoas que não sabem fazer o básico. Estive conversando, no Twitter, no mês passado, com o amigo blogueiro Investidor Inglês, que disse que, ao instruir um curso de educação financeira, ficou surpreendido pelo fato de a maioria das pessoas não fazerem um orçamento doméstico.
Ele me disse que as pessoas não entendem as inúmeras vantagens de organizar uma simples planilha de receitas e despesas, e, ao não fazerem isso, não dão sequer o primeiro passo para cortar o mal das dívidas pela raiz. O primeiro passo…
Esse processo é de fundamental importância, pois permite a você identificar onde está ocorrendo o vazamento de dinheiro. A identificação é ponto essencial no processo de eliminação das dívidas.
O segundo passo é o mais difícil: é o ato de mudar. Muitos até conseguem realizar – a muito custo – o primeiro passo (a identificação das despesas), mas, quando se defrontam com a realidade das dívidas, a primeira coisa que fazem é recuar. É não admitir a existência do problema – ou da raiz do problema, para ser mais exato.
Veja o caso de João: ele comprou um carro mais novo – e completamente incompatível com sua renda e com seu patrimônio financeiro à época – porque, na mente dele, havia uma competição velada na garagem do condomínio onde mora: quando um vizinho comprava um carro novo, outro vizinho logo tratava de comprar um carro mais caro do que aquele, o que, por sua vez, fazia com quem um terceiro vizinho entrasse no “jogo” e comprasse um carro ainda mais caro do que o carro comprado pelo segundo vizinho.
João entrou nesse jogo imaginário, modificando o comportamento dele unicamente em função do comportamento dos outros. Em resumo: ele passou a viver a vida das outras pessoas. E é precisamente esse padrão de comportamento que João precisa modificar: ele precisa viver a vida nos seus próprios termos (os dele), e não a vida das outras pessoas (de seus vizinhos). Ele precisa ter coragem para viver a vida fiel ao que ele é, e não a vida que os outros esperam (ou não) que ele viva.
Enquanto ele não mudar esse padrão de comportamento, não há game over nesse Pac Man das dívidas: assim que terminar de pagar as prestações do Tucson, alguém duvida que o próximo degrau nessa escalada de dívidas será a compra de um carro ainda mais caro?
Se você que está lendo esse artigo, está endividado e quer de fato acabar com as dívidas cortando-as pela raiz, já vou logo lhe advertindo: essa caminhada não será fácil. Será tortuosa. Será penosa. Será difícil. Mas é plenamente possível de ser alcançada, desde que você trabalhe diuturnamente sua mentalidade, a fim de fortificá-la contra os males dessa sociedade que quer controlar sua mente.
É muito difícil modificar padrões de comportamento, porque, muitas vezes, isso implica na mudança de sua própria identidade, e várias pessoas não estão dispostas a levar adiante esse desafio.
Veja o caso de João. Boa parte de suas dívidas tem origem nos gastos excessivos com roupas, relógios, sapatos, vinhos e restaurantes, e ele faz isso com o objetivo principal de impressionar as pessoas, com suas posses, com seus símbolos de status, e com seus objetos de valor. Ele tem uma forte necessidade de aprovação social.
Agora, imagine você falando para ele que ele precisa modificar esses padrões de comportamento. Qual será a resposta dele? Ele resistirá às mudanças, pois a necessidade de aprovação faz parte de sua própria identidade: ele quer ser reconhecido pelas pessoas como bem sucedido não pelas realizações pessoais e profissionais, mas sim pelos símbolos de status que ele possui.
Dizer-lhe que é necessário modificar seus padrões de comportamento é como tocar em sua própria identidade, algo que para ele é inadmissível, mesmo que essa identidade tenha se construído na base de dívidas e acumulação de passivos, ou seja, sobre bases totalmente equivocadas.
Daí decorre outra dificuldade que faz com que as pessoas endividadas, como João, criem ainda mais gastos, em vez de priorizarem os cortes de gastos: porque modificar padrões de comportamento mexe com seu emocional. Mexe com suas emoções.
Imagine você contando para João que a vida dele está de cabeça para baixo, que ele precisa voltar a fazer viagens mais simples, em classe econômica (ou nem viajar, procurando outras formas de lazer mais baratas), porque os gastos com esse segmento do orçamento doméstico dele estão obviamente acima da linha de suas rendas ativas, ou seja, de seu salário. O que ele dirá?
Que a vida é uma só, que se ele não fizer nada hoje no futuro ele se arrependerá das coisas que não fez, que ele tem uma linha de crédito pré-aprovada para suportar essas despesas, que faz bem ao ego dele ficar contando aos seus conhecidos as histórias das viagens. Em resumo: ostentação em sua forma mais cristalina e purinha.
João está cego em sua capacidade de enxergar a longo prazo as consequências do estilo de vida que ele não tem condições de bancar, ou melhor, que é bancado com o dinheiro de seus credores. E ele já disse que vai ter condições de quitar todas as dívidas com um aumento salarial. E se esse aumento vier, ele vai continuar no círculo vicioso das dívidas, porque deixar de ser uma pessoa que ostenta implicaria mudar sua própria identidade, e ele prefere viver essa verdadeira corrida dos ratos, a mexer um neurônio sequer em sua maneira de pensar.
E quantas pessoas você não conhece que agem exatamente como João – ou até pior? Quantas pessoas poderiam dar uma verdadeira guinada em suas vidas financeiras se seguissem esses dois simples passos -(a) identificar seus padrões de comportamento e (b) mudar padrões de comportamento?
Conclusão
Cortar o mal das dívidas pela raiz modificando seus padrões de comportamento é, sim, a estratégia mais poderosa que existe. E por quê falo isso?
Porque ela tem o poder de mudar suas crenças em relação ao dinheiro.
O dinheiro é apenas uma ferramenta, um meio, um instrumento, que potencializa o que você já é. Se você é uma pessoa solidária e que gosta de fazer doações, e acha que o dinheiro, nesse contexto, é uma ferramenta para melhorar a vida de outras pessoas, quanto mais dinheiro você possuir, mais vidas você será capaz de ajudar. Em outras palavras, se você é solidário, com mais dinheiro, você será ainda mais solidário.
Se você é uma pessoa que tem necessidade de aprovação social, e que consome símbolos de status – roupas, relógios, carros e celulares – com esse objetivo, quanto mais dinheiro você possuir, mais símbolos de status você consumirá e gastará. O dinheiro potencializa o que você já é, ele potencializa e aumenta suas características pessoais. Se você é egoísta, mais dinheiro o tornará ainda mais egoísta. Se você gosta de ostentar, mais dinheiro o tornará uma pessoa ainda mais insuportável.
As mudanças de mentalidade não ocorrem de fora para dentro: elas ocorrem de dentro para fora.
O que fazer, então, quando se gasta um dinheiro que não se tem, acumulando dívidas e mais dívidas a perder de vista?
É você se modificar a si mesmo. É você modificar suas crenças. É você mudar de dentro para fora. Mais, ou menos, dinheiro não vai mudar que você é. Mas ter outros padrões de comportamento irão, sim, mudar quem você é. Dinheiro é apenas a ferramenta, é o objeto, é o meio, e não o sujeito, dessa história toda. As mudanças dos valores em reais (dívidas) somente ocorre, num nível mais profundo, quando ocorrem as mudanças dos valores reais. Quando as mudanças ocorrem no sujeito.
A aprovação social é uma ilusão. Viver a vida dos outros é como correr atrás do vento. Jogar um game que habita apenas na sua mente é viver uma fantasia.
A partir do momento em que você decide modificar seus padrões de comportamento, você passa a enxergar a vida com outras lentes. Aquelas compras e aqueles gastos exorbitantes, muito além de sua capacidade financeira, passam a não fazer sentido. Você passa a viver a vida em seus próprios termos, e deixa de ser mais uma marionete à disposição no mercado de consumo. Você não é a carta, do baralho do dinheiro, manipulada desse mercado: você próprio é quem dá as cartas nesse baralho.
Agindo assim, as dívidas, os gastos acima de sua renda, os passivos fúteis e inúteis, vão diminuindo com o decorrer do tempo, pois o próprio significado dos gastos perde gradualmente sua própria razão de existir. E o que é melhor: de forma duradoura, pois você estará atacando a própria raiz de todos os males: o seu comportamento errático e as suas crenças limitantes em relação ao uso do dinheiro.
Como eu disse acima, não é uma tarefa fácil, pois transformar sua identidade, mexer com seu emocional, mudar seus valores, não são tarefas fáceis. Porém, é uma atividade passível de conquista. E você é inteiramente livre para seguir por esse caminho. Vamos lá? 😉
Oi Guilherme, tudo bem? Primeiro, gostaria de agradecer pelo trabalho do seu blog, estou começando e o material que vi aqui é muito bom
Pode me tirar uma dúvida?
Sei que pode não ser o lugar certo, mas queria uma ajuda sua:
Eu tava tentando entender o que ocorre quando o dólar dispara (ou cai) em relação ao real nas empresas.
Por exemplo, digamos que compro empresa XYZ3 e que essa empresa tenha bastante dependência de dólar por ter 80% de suas vendas ao mercado externo e também seja vendida na corretora americana.
Essa empresa XYZ3 está 9 reais aqui e U$3,00 lá na corretora, supondo um dólar a R$3,00…
1 – Se o dólar valoriza e vai a R$ 4,00, o que acontece com o preço da ação no Brasil? Vai a R$ 12 e permanece U$ 3,00 lá fora ou permanece 9 reais aqui e baixa o valor em dólar lá pra equalizar?
2 – Comprar ação atrelada ao mercado externo pode ser uma forma de se proteger da desvalorização do real ou eu seria muito mais “feliz” simplesmente comprando IVVB11 que num caso desses de suba da moeda estrangeira, valorizaria bastante ou melhor, não desvalorizaria?
3 – Ou no caso de proteção ao dólar seria mais simples comprar um fundo cambial desses do BB ou dólar na mão mesmo, ou ainda ficar rolando contratos de mini dólar (se é que tem a ver?
Enfim, me dá uma luz aí, estou começando e queria entender esses mecanismos, bem como ter uma certa proteção da carteira, a impressão que fico é que toda vez que vai trocar presidente aqui a gente passa um risco danado de virar uma Venzeuela, e sinceramente queria algo muito tranquilo pro meu suado dindin.
Oi Marcelo, grato pelas suas palavras!
Quanto às suas dúvidas, eu não sei te responder de forma adequada.
Contudo, a proteção contra a desvalorização do real pode ser feita, sim, pelos instrumentos indicados nos itens 2 e 3 do seu comentário. No caso do item 2, para efeitos de diminuição da exposição ao risco, o mais indicado seria o IVVB11.
Compra do papel é ruim pela diferença (spread) de preço de compra e venda da moeda. Teria que render muito só pra chegar no valor que pagou na compra e ficar no zero a zero.
Ainda não procurei informações nesse tipo de operação, mas achei o curso do Eduardinho de cambio. (www.carteirarica.com.br). Considerando o nível do blog dele e o curso de Tesouro Direto que tenho, o curso de cambio deve valer a pena.
http://carteirarica.com.br/cambio-investimentos-no-exterior/
Guilherme,
Ótimo tema, como sempre! Como você disse existem duas coisas básicas a fazer: Identificar vazamentos e modificar a si mesmo, assumir novos comportamentos. Imagino por si só este seja um passo extremamente difícil, mas claro, não impossível. Mas deixo aqui uma idéia baseada em experiência própria do passado (sou aposentado e 2/3 de minhas entradas mensais vem do rendimento real – fora inflação – de patrimônio financeiro acumulado ao longo de minha vida de trabalho), e que poderá ser o gatilho para a pessoa passar para o derradeiro passo: criar impulso para modificar a si mesmo. Lá vão as sugestões…
1 – Ganho de horas-extras – Jamais incorporar isto ao gasto mensal! A pessoa que fizer isto estará definitivamente armando uma bomba relógio que irá explodir consigo mesma e sua família. Por que? Porque definitivamente estará assumindo novo padrão de consumo com recursos que definitivamente serão suspensos no futuro. Logo, separar este recurso e poupar. E aqui vai a sugestão de onde poupar: Fazer as contas mas creio que inicialmente seria poupança, depois fundos de investimento de varejo e a partir de certo montante, Tesouro Direto (tem que fazer as contas dos custos).
2 – Bônus, décimo terceiro, etc… – IDEM.
3 – Devolução do I.R. – IDEM
4 – Aumentos de salário – IDEM.
Enfim, a partir de um instante “zero”, começar a pegar o recurso “variável” e extemporâneo e usá-lo como treinamento inicial para o próximo passo que seria a mudança comportamental. Entendo que aquele que começar por aqui, e principalmente pelo item 4 pois será recorrente e mensal , vai pegar o gostinho para a mudança maior que virá a frente.
Grande abraço!
Olá, Carlos, excelentes dicas, ainda mais vindas de alguém que pode falar tranquilamente por experiência própria acumulada ao longo de décadas no mercado financeiro!
De fato, as pessoas ficam muito tentadas a incorporarem receitas variáveis aos gastos, naquilo que o Dr. Money falou certa vez na teoria do gás.
Inclusive, esse foi o tema de um artigo escrito no ano passado => http://valoresreais.com/2016/06/27/nao-use-receitas-extraordinarias-para-aumentar-os-gastos-fixos/
Se a pessoa for bem controlada nos gastos, e resistir a essas tentações, a massa crítica de investimentos poderá proporcionar uma antecipação da aposentadoria financeira em alguns bons anos!
Abraços!
O artigo como um todo é perfeito. Graças a Deus a situação não se enquadra à minha realidade. Porém, mais perfeito ainda são esses trechos aqui: “Se você gosta de ostentar, mais dinheiro o tornará uma pessoa ainda mais insuportável.”, e este aqui também “A aprovação social é uma ilusão. Viver a vida dos outros é como correr atrás do vento.”. Como não lembrar do “… estocar o vento …” e dos caçadores de pokemon ??? O Brasil está cheio de pessoas assim, nessa situação. Parabéns pelo artigo. Perfeito como sempre.
Muito obrigado pelas palavras, Fabiano!
Abraços!
Ótimo artigo.
Nos instiga a repensar nossos comportamentos!!
Sucesso
Grato pelos elogios, Marcos!
Abraços!
Excelente texto Guilherme. Além do padrão e básico que é controlar o orçamento, é necessário alterar os hábitos, as crenças, mudar o mindset para se libertar das dívidas.
Um grande abraço.
Verdade, Cleiton!
E muito obrigado pelos comentários!
Abraços!
Te enviei um email referente a esse texto, depois de uma olhadinha lá.
Com certeza, Cleiton! Abraços!
Acho que o João deveria seguir a dica do japonês, “SE MUDAR”.
Se quer viver de aparência vai pagar por isso.
Verdade, Sandro!
Olá Guilherme!
Excelente texto! E muito obrigado por me citar nele!
Valeu, II!
Ótimo texto, Guilherme.
Quando eu li sobre o personagem “João”, achei meio caricatural e simplesmente não acreditei que alguém pudesse ter atitudes tão irracionais assim. Gastar dinheiro que você não tem com um carro para impressionar os outros? Me parece o cúmulo do absurdo.
Aí mostrei para minha esposa e ela disse que já viu vários dos comportamentos do “João” por aí. Por exemplo, mães que fazem festas em buffets caríssimos -parcelado no cartão em N vezes- só porque “as outras mães fizeram” e “meu filho quer”.
Simplesmente não percebem que, quando toma este tipo de atitute em busca da “aceitação” ou “aprovação” do OUTRO, você está gastando rios de dinheiro em busca de algo completamente fora do seu controle.
Exatamente, Gregório!
Infelizmente, boa parte das pessoas, por não ter educação financeira o suficiente, acaba fazendo coisas sem pensar nas consequências e impactos financeiros a longo prazo de suas decisões de curto prazo, e o exemplo das festas infantis é notório a esse respeito.
Abraços!
Se eu pegar um empréstimo para um investimento que possa me tirar das dívidas? encontrei taxas de juros muito baixas por aqui https://www.coolfinance.com.br mas não sei se realmente ta correto. Poderia investir em algo que desse um retorno mais rapido.
Boa tarde
Sou a Mira e estou bastante chocada com a história de João, como passamos bom tempo sem perceber o quanto estamos enganados com nosso comportamento.