O surpreendente aumento da taxa SELIC na semana passada colocou novamente sob os holofotes os investimentos em renda fixa. Dessa forma, aproveitando que o tema está em alta no momento, resolvemos fazer um post dedicado ao tema, adicionando também comentários sobre o resultado (muito positivo, por sinal) do bookbuilding das debêntures do Aeroporto de Guarulhos e a regulamentação dos ETFs de renda fixa.
Taxa SELIC em alta: 11,25% a.a.
A taxa SELIC subiu para 11,25% a.a., contrariando as expectativas do mercado, como bem pontuou o nosso especialista do mercado financeiro, o Finanças Inteligentes, que bem resumiu a notícia:
“A taxa básica de juros no Brasil subiu 0,25 ponto percentual, para 11,25% ao ano. A decisão surpreendeu o mercado e pode provocar um choque de expectativas. O Banco Central do Brasil também está mais hawkish. Existe uma lista de motivos para justificar a alta na taxa Selic, dentre as quais pode-se destacar o novo movimento de aceleração da inflação e disparada na taxa de câmbio.
Mas, tão importante quanto apertar as condições monetárias para combater a inflação persistentemente elevada, dar uma resposta imediata ao mercado pode prevenir novos choques na taxa de câmbio, possível fruto de uma fuga de captais ou acentuação do atual movimento de aversão ao risco. O FED surpreendeu nesta quarta-feira, provocando aumento nos prêmios de risco dos títulos da dívida soberana norte-americana. O Banco Central brasileiro não pensou duas vezes, vai combater a inflação e a melhora nos prêmios de risco norte-americanos. Um olho no IPCA e outro no FED, pelo menos deve ser assim até arrumarem a casa.”
Dessa forma, podemos desde logo vislumbrar duas consequências práticas para quem é investidor pessoa física.
Primeiro, os investimentos atrelados ao CDI/LCA, tais como as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), LFTs e fundos referenciados DI com baixa taxa de administração (menos de 1% a.a.) continuam dominando o cenário como opções a serem consideradas pelos investidor conservador.
E, em segundo lugar, a poupança vai na direção oposta, ou seja, ficando cada vez menos atrativa, até mesmo como colchão de segurança.
Só esperamos que essa alta da SELIC não dure muito tempo, pois, como é sabido, taxa de juros em alta significa que a inflação está igualmente em alta, corroendo o poder de compra da nossa moeda.
ETFs de Renda Fixa podem vir já em 2015, sem come-cotas e sem IOF
O leitor Ricardo me enviou uma interessante notícia sobre a regulamentação que vem sendo dada aos ETFs de renda fixa, que está sendo finalizada pelo Governo Federal.
Como todos sabem, considero o investimento passivo – que segue determinado índice – uma das melhores formas de se investir capital no mercado financeiro, pois, dentre outras vantagens, você ganha o retorno do mercado (menos as tarifas e impostos), sem se preocupar em fazer uma gestão ativa do seu portfólio de ativos financeiros.
Defendo o investimento passivo em índices de ações – como PIBB11, BOVA11 etc. – como uma forma consistente de ganhos no mercado de renda variável a longo prazo.
No mercado de renda fixa, ainda não temos ETFs dessa classe de ativos, mas parece que poderemos ter em breve, com a ótima notícia da isenção de IOF sobre os ganhos de capital, conforme notícia publicada no site da Caixa Econômica Federal:
“A negociação de ETFs de renda fixa ficará isenta de IOF, de acordo com decreto publicado ontem no “Diário Oficial da União”. O instrumento foi anunciado pelo governo na metade do ano, como parte de um pacote de incentivo ao mercado de capitais.
“Acreditamos que esse é um mercado que vai se desenvolver. Nos Estados Unidos é de US$ 1 trilhão o portfólio”, afirmou o secretário-executivo-adjunto do Ministério da Fazenda, Dyogo Oliveira. “Indiretamente tem relação com [o financiamento de] infraestrutura, porque esses fundos vão buscar títulos mais longos. Não tem vinculação (…), mas cria-se no mercado uma demanda por ativos mais longos.”.O ETF de renda fixa, em que o fundo tem cotas negociadas em bolsa ou mercado de balcão, também tem regime tributário diferenciado, isentos do imposto semestral que atinge fundos tradicionais, conhecido como come-cotas. Tal benefício foi incluído na medida provisória 651, que ainda carece de regulamentações..A isenção de IOF sobre a negociação de ETFs de renda fixa tende a dar liquidez ao instrumento, segundo o superintendente de gestão de ativos de terceiros da Caixa Econômica Federal, Marcelo de Jesus, para quem o anúncio vem complementar a medida provisória 651 e deixar os termos mais claros para o mercado..“Como é um fundo de investimento negociado em bolsa, pressupõe-se que, para o sucesso do produto, é necessário ter liquidez. E, para que haja liquidez da cota, era necessária a isenção de IOF.”.Segundo o superintendente, resolvida essa questão tributária, o ETF está agora preparado para ser lançado. A Caixa ainda está estudando esse mercado. “Estamos avaliando a possibilidade, mas não há nada definido”, afirmou Jesus..Os ETFs de renda fixa, que contarão com apoio do Tesouro Nacional, vão replicar duas carteiras teóricas da Anbima: uma de títulos públicos prefixados, espelhados no índice IRF-M, e outra de papéis indexados a preços, seguindo o IMA-B. A expectativa é que o governo conclua a regulamentação desses fundos até o início de 2015..Além da Caixa, a BlackRock e a Itaú Asset Management já são gestoras de ETFs de renda variável e manifestaram interesse em atuar na modalidade de renda fixa. A BB DTVM também se prepara para entrar nesse mercado”.
Além disso, também não haverá o come-cotas semestral, tornando-o bastante atrativo em relação aos fundos de investimentos tradicionais, que cobram o imposto de renda semestralmente – vale dizer que o Tesouro Direto também não tem o come-cotas.
Só espero que as taxas administrativas dos gestores também sejam baixas, preferencialmente, inferiores a 0,5% a.a., a fim de tornar esse produto competitivo.
Debêntures do Aeroporto de Guarulhos: investidores conseguem a sobretaxa máxima (0,9% a.a.)
Excelente notícia para quem decidiu diversificar seus investimentos em renda fixa com as debêntures incentivas de infra-estrutura do Aeroporto de Guarulhos, que comentamos aqui: foi obtida a sobretaxa máxima de 0,9% a.a. Segue notícia publicada no Valor:
A GRU Airport, concessionária do aeroporto de Guarulhos, fechou uma captação de R$ 300 milhões com a emissão de debêntures de infraestrutura. Os títulos contam com isenção de imposto de renda para investidores estrangeiros e pessoas físicas. Com a piora nos mercados na semana passada, a demanda dos investidores foi fraca, mas o suficiente para que toda a emissão fosse vendida, segundo fontes de mercado. Com prazo de 12 anos, as debêntures da GRU renderão ao investidor juros equivalentes aos do título público corrigido pela inflação (NTN-B) com vencimento em 2022 mais 0,90% ao ano, no teto definido pela companhia. A oferta foi coordenada por Banco do Brasil, Bradesco BBI e HSBC.
Dessa forma, a taxa final obtida foi IPCA + 6,4% a.a., completamente isenta de imposto de renda. Estimando um IPCA anual médio na casa dos 6,7% a.a., isso significaria um rendimento na casa dos 13% a.a. líquidos (considerando, repito, uma inflação na casa dos 6,7% a.a.), o que é fantástico, mesmo para os padrões do mercado brasileiro de renda fixa, e considerando ainda o baixo risco de crédito desse tipo de investimento.
Como se tudo isso ainda não bastasse, a agência de classificação de risco Fitch atribuiu rating AA a essa segunda emissão, conforme notícia publicada no portal Debêntures, o que indica baixo grau de risco.
Creio que essas debêntures logo serão negociadas com ágio no mercado secundário, dada essa avalanche de boas notícias.
Enfim, parabéns a todos os investidores que aproveitaram a notícia que publiquei aqui no blog em primeira mão, e agora podem desfrutar de uma rentabilidade dificilmente encontrada no mercado brasileiro de capitais!
Boa semana a todos!
Créditos da imagem: Free Digital Photos
Boa tarde, Guilherme!
Estou acompanhando o blog, e fiquei muito feliz em saber que as LCA’s continuam sendo uma boa opção para investidores conservadores!
Muito obrigada pela dica, e continuo seguindo vc! ?
Boa semana!
Boa tarde, Mônica!
As LCAs continuam sim sendo uma excelente opção para os investidores conservadores, ainda mais com esse último aumento da taxa SELIC.
Obrigado por nos prestigiar! 😀
Abç!
Olá Guilherme!
Sobre as debêntures do Aeroporto GRU, aqui no seu blog quando você fez o post sobre essas debêntures (em 2014/10/06), alguns colegas comentaram que seria necessário ser um investidor qualificado para poder comprá-las.
Olhando no prospecto, vi que realmente este era um pré-requisito: “Público Alvo da Oferta Investidores considerados institucionais ou qualificados, nos termos da
Instrução CVM 409”.
Porém, depois li que algumas pessoas compraram pela corretora, mesmo não tendo esta qualificação. Você saberia dizer se quando compramos via corretora este pré-requisito não é mais necessário?
Obrigado.
E quanto às ações do Santander, poderia explicar o porquê da queda recente e se vale a pena investir pensando num médio prazo?
Olá Leonardo!
As ações estão caindo devido às atitudes do banco controlador espanhol, conforme notícias divulgadas na mídia: http://www.santosbancarios.com.br/index.php?det=noticias_det&id=1789
Investir em ações vale a pena no médio prazo, sim, agora, eu particularmente penso ser muito arriscado concentrar posições em poucos ativos, ou poucas ações individuais.
Prefiro a compra de pacotes de ações, na forma de ETFs, tais como BOVA11 ou PIBB11 ou SMAL11.
Abç e bons investimentos!
Olá, Ser!
Na verdade, esse requisito continua sendo obrigatório mesmo quando se compra via corretora.
Abç!
Interessante o ETF de renda fixa, mas não sei se vale a pena. Dificilmente um fundo desses vai sair mais barato do que comprar diretamente no tesouro direto com uma corretora que não cobra nada (ou que cobra muito pouco – existem inúmeras que cobram menos do que 0,5% a.a., que é a taxa normalmente cobrada nos ETFs de ações).
Exato, MJC. Tudo vai depender das taxas de administração a serem futuramente cobradas e, principalmente, da composição da carteira desses ETFs, considerando sobretudo a qualidade dos títulos que serão incluídos em cada cesta.
Como eles vão “perseguir” determinados índices de renda fixa, pode haver uma mistura de títulos pré e pós-fixados na carteira, livrando o investidor de ter que fazer compras individuais de títulos diferentes.
Mas não sei até que ponto isso compensaria a taxa administrativa que será cobrada.
Aguardemos cenas dos próximos capítulos!
Abç
Olá Guilherme. Estou procurando informações sobre essa aplicação 00008 BB Ref DI LP Vip Est e encontrei seu artigo sobre renda fixa. Essa aplicação tem vantagem em relação a caderneta? Sempre que um banco liga e me oferece opções com vantagens, eu desconfio. Afinal, o banco vende produtos, não faz doação.
Olá Rosa, esse produto que você citou possui uma rentabilidade líquida maior que a caderneta de poupança, em virtude sobretudo do atual patamar da taxa básica de juros.
Contudo, é como você bem disse, ele vende produtos, não faz doação.
Dentro do BB mesmo, há opções mais rentáveis que ele, como a LCA – Letra de Crédito do Agronegócio. Temos um post aqui no blog sobre essa letra – vale conferir. 😉
Abç
Obrigada, Guilherme!
O BB ofereceu, mas depois disse que a 1ª aplicação seria a partir de 200 mil reais. Estou fora.
De nada, Rosa!
A informação prestada pelo gerente acerca de o investimento ser a partir de 200 mil, se for em relação à LCA, é errada, uma vez que, para LCA, a aplicação mínima é de R$ 30 mil.
Abç
O Brasil como sempre burocrático e lento.
ETFs de renda fixa já existem há décadas no resto do mundo.
Precisava de ETFs com gestão ativa também, fora o XP Top Dividendos.
A Bovespa é muito devagar. Meu Deus!
Concordo, Investidor, estamos uns 20 a 25 atrasados em relação aos EUA, no que diz respeito, p.ex., à cultura do passive investing.
Abç!