Estava eu passeando pela livraria para ver as novidades e últimos lançamentos, quando me deparei com um livro de capa muito bonita, e com um sugestivo sub-título: “use a economia para lidar melhor com seus relacionamentos”. Um livro que mistura casamento e economia parece ser interessante, ainda mais quando enfoca o casamento sob uma perspectiva inteiramente diferente. Mas será que sua leitura vale a pena? É o que demonstraremos na resenha abaixo. Acompanhe-nos! 😀
Informações técnicas
Título: Spousonomics
Autor: Paula Szuchman e Jenny Anderson
Número de páginas: 262
Editora: Campus
Preço médio: R$ 68
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A proposta do livro é convidá-lo(a) a pensar no casamento sob uma perspectiva econômica, ou melhor, das teorias da economia. Nesse sentido, as duas autoras, jornalistas de Nova York, especializadas na cobertura de eventos relacionados ao mercado financeiro, fizeram uma ampla pesquisa de campo, coletando dados a partir de entrevistas com mais de mil pessoas, sobre questões relativas ao casamento, bem como procuraram entender melhor as teorias econômicas, seja em pesquisas na biblioteca, seja por meio de entrevistas com os próprios economistas. Então, a partir dessas informações acumuladas nessas duas “frentes de trabalho”, as autoras vislumbraram como diversas teorias econômicas poderiam ser aplicadas para resolução de conflitos no casamento, a fim de maximizar o retorno nesse investimento de “longo prazo”, digamos assim. 😀
Cada um dos dez capítulos apresenta um problema tipicamente de casal (como a divisão de tarefas domésticas), como a teoria econômica pode ser aplicada a esse conflito de casamento, e, no final, apresenta uma solução, baseada também em lições de economia. Os capítulos são recheados com histórias verídicas de casais que passaram pelos problemas descritos em cada um dos capítulos, e as respectivas soluções encontradas, que “batiam” com as respectivas soluções defendidas pela teoria econômica em foco.
Divisão de trabalho
Um dos problemas mais comuns no interior de qualquer casamento se refere à divisão das tarefas domésticas. Por meio de exemplos práticos, as autoras demonstram que uma das melhores maneiras de se lidar com conflitos conjugais decorrentes desse tipo de situação reside na divisão de trabalho, ou seja, cada “cabeça” do casal deve fazer as tarefas que mais estejam de acordo com suas aptidões. Se, por exemplo, um gasta menos tempo na lavagem de louça que o outro, é aquele que deve ficar encarregado por tal tarefa, e não esse, pois assim, teriam não só menos tempo para aquela atividade, como também liberariam mais tempo para estarem juntos.
Risco moral
O risco moral está relacionado aos comportamentos que tendemos a tomar quando não há consequências para nossas ações. A origem do termo remonta ao século XIX, onde as seguradoras contra incêndio faziam uma distinção entre dois tipos de risco: o risco natural, como curtos-circuitos e raios, e o risco “moral”, que tinha origem no comportamento humano. Todos nós tendemos a ser um “risco moral” quando sabemos que existe uma rede de proteção por trás. Tendemos a ser mais descuidado com a saúde (afinal, o seguro cobre o risco!) ou com o patrimônio (o seguro cobre o risco também!), quando existe uma apólice garantindo a vida ou o patrimônio.
Da mesma forma, existem casais em que um se comporta como o risco moral para o casamento: um cônjuge vai ficando tão relaxado na vida a dois, sendo mimado o tempo inteiro, deixando os encargos do trabalho, sustento da casa e das tarefas domésticas para o outro, achando que o próprio casamento virou um “seguro” contra a preguiça, que chega o ponto em que a relação se torna insustentável, pois o outro cônjuge vai ficando cada vez mais sobrecarregado. Uma das soluções propostas no livro é o cônjuge sobrecarregado fazer incentivos inteligentes, ou seja, fazer com que o parceiro aja de forma responsável, e tome maiores precauções, se envolva mais na vida familiar, no cuidado com os filhos etc.
Trade-offs
Trade-offs são conflitos de escolha, ou seja, situações em que se encontra presente um custo de oportunidade, e custo de oportunidade é aquilo que você precisa desistir para conseguir alguma outra coisa. Traduzindo isso para outros termos, precisamos fazer uma avaliação da relação custo/benefício de nossas decisões, para ver se vale a pena prosseguir com elas. As autoras citam o caso de um casal que vivia em dificuldades financeiras, em que a mulher, insatisfeita com as constantes viagens a trabalho e ausência do marido do lar, estava tentando abrir um negócio próprio, vendendo pequenos doces na padaria mais próxima, para ajudar no sustento de casa. Ela teria menos tempo para ele e para a criança, mas em compensação poderiam ter uma situação financeira menos apertada no futuro.
Na teoria econômica, isso seria como “pensar na margem”, ou seja, pesar os custos e benefícios de mudanças menores, mas incrementais, pois pequenas mudanças podem ter grande impacto no final. A propósito, discorremos sobre essa questão no artigo As pequenas coisas, feitas de modo constante, criam maior impacto.
Informação assimétrica
Muitos casais vivem numa situação em que um não sabe o que se passa com a cabeça do outro. Ou seja, vivem escondendo informações um do outro, e, ao esconder informações, escondem sentimentos, o que pode, no longo prazo, deteriorar a relação. Saber dos desejos, dos sonhos, e das metas do parceiro, do que ele gosta, do que ele não gosta, é fundamental para estabelecer uma relação conjugal sadia e transparente. Muitas brigas de casal ocorrem por simples ausência de informação.
As autoras sugerem o básico, o óbvio, ou seja, conversar abertamente sobre esses pontos obscuros do relacionamento, a fim de que não só as brigas possam ser evitadas, como também haja melhora na qualidade do relacionamento.
Bolhas
Assim como existem as bolhas nos mercados financeiro, imobiliário, acionário e creditício, situações em que parece que os preços dos ativos só tendem a subir, também existem as bolhas nos casamentos. Ou seja, situações em que tudo parece bem, tudo parece bom, tudo parece “muito bom”, que vai durar para sempre. Aí, de repente, o seu cônjuge, do nada, resolve pedir o divórcio, provocando um baque em seu estado emocional. Assim como nos mercados financeiros, as bolhas nos casamentos são provocadas por distúrbios comportamentais, tais como o excesso de confiança (“não se importar com a opinião do outro, afinal, tudo o que eu faço ele(a) aceita”) e o efeito manada.
Para fazer “os bons tempos durarem”, as autores sugerem táticas como a “destruição criativa”, ou seja, no momento em que as crises eclodem, restaurar um antigo projeto engavetado em algum canto da memória, criar um novo empreendimento ou fazer uma atividade que proporcione prazer e bem-estar. Ignorar a opinião dos outros quando o relacionamento não está indo bem, acreditar em si mesma(o) e tentar restabelecer as pazes no relacionamento, nos momentos de crise conjugal, também é uma maneira de aliviar situações de estresse no casamento.
Teoria dos jogos
A teoria dos jogos teria muitos pontos em comum com o casamento: em ambos, há a presença de dois jogadores, cada jogador está fazendo o melhor que pode por si mesmo, mas fica limitado pelo fato de que não está sozinho; há estratégias “cooperativas” (em que as duas partes trabalham juntas para criar uma solução que é a melhor para os dois) e “não cooperativas” (em que cada parte busca a vitória) etc.
A teoria dos jogos, aplicada ao casamento, nos ensina que se relacionar (p. 222):
“Não significa ter tudo, mas ter tudo que você pode, diante das circunstâncias. Em seu casamento, tais ‘circunstâncias’ incluem o óbvio, embora muitas vezes negligenciado, fato de que há outra pessoa envolvida: seu marido – um marido que também está atrás de seus próprios melhores resultados possíveis”.
Dessa maneira, procurar incentivos de comprometimento, que possam reforçar a ligação do casal, funcionam como táticas hábeis a manter uma relação estável e duradoura.
Conclusão
Trata-se de um livro que vai na esteira de outros títulos terminados em “nomics”, tal como o Freaknomics, ou seja, tenta explicar conceitos de economia para o público leigo: no caso do título em questão, o objetivo é explicar que conceitos do campo da economia podem ser úteis para melhorar os relacionamentos. O objetivo, sem dúvida, é louvável, e o livro procura ser divertido e engraçado, uma vez que nem sempre é fácil introduzir a linguagem do “economês” para o público leigo, principalmente quando se tenta aplicá-la na seara do casamento.
O balanço final é mais positivo que negativo: o livro é bem escrito e de leitura agradável (embora com um excesso de palavrões em certos trechos, o que é ponto negativo).
Entretanto, considere seu conteúdo apenas como um passatempo divertido. Para quem leu, em matéria de livros sobre casamento, títulos de qualidade nitidamente superior, como Sete princípios para o casamento dar certo, de John Gottman e Nan Silver (não por acaso resenhado aqui no blog, e com uma avaliação extremamente positiva), pode ficar decepcionado com a leitura da obra. Não sei se estou sendo excessivamente crítico com Spousonomics (na Amazon, a versão original recebeu muitas boas resenhas positivas), mas o fato é que, depois que você se acostuma com leituras de alta qualidade sobre certos temas (ainda que não tenham um trabalho de marketing tão bom quanto os “best sellers”), fica difícil não transparecer essa sinceridade com seu público leitor.
Outro ponto negativo é o preço um tanto quanto salgado da obra: R$ 68. Com esse preço, talvez valha mais a pena ir até uma biblioteca, para solicitar o empréstimo, ou então comprá-lo num sebo.
Enfim, uma boa obra. Mas apenas isso.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Boa resenha, Guilherme!
Acho que eu não me encantaria com esse livro. Seu resumo já foi suficiente! Heheheh!
Obrigado, Mônica!
Realmente, esse livro até tem uma chamada de capa interessante, mas o conteúdo ficou aquém das minhas expectativas.
Que bom que o resumo já foi suficiente….rsrs
Abç!