É possível viver de sua paixão, mesmo começando com pouco dinheiro (menos de mil reais)? Chris Guillebeau responde a essa pergunta com um estridente “sim” nesse livro empolgante e cheio de orientações práticas e casos reais extraídos de suas “andanças” pelo planeta Terra – sim, Chris viajou por todos os países do mundo e coletou histórias incríveis de pequenos empreendedores do mundo inteiro que, mesmo tendo um orçamento inicial bastante limitado, mas uma motivação enorme, criaram o negócio de seus sonhos e hoje se sustentam graças às suas habilidades e competências pessoais em fazer o que gostam. Mas será que o livro tem utilidade para nós, brasileiros? É o que descobriremos nessa resenha. Acompanhe-nos! 😀
Informações técnicas
Título: A Startup de $ 100 – Abra o negócio dos seus sonhos e reinvente sua forma de ganhar a vida
Autor: Chris Guillebeau
Número de páginas: 240
Editora: Saraiva
Preço médio: R$ 35
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A obra de Chris Guillebeau pode ser chamado de “um guia para o empreendedor com pouca grana”. Com uma linguagem fácil e sem rebuscamentos, escrito como se o autor estivesse conversando com você numa Starbucks, o livro não foi escrito para aqueles que sonham em criar o “próximo Facebook, Instagram ou Twitter”, nem se restringe ao nicho dos empreendedores digitais da Internet (como o título, com a palavra “Startup”, poderia sugerir).
Pelo contrário, o autor narra histórias de sucesso também no mundo offline, como os casos de: um sujeito que resolveu abrir um negócio de importação inglesa de alimentos espanhóis; de um jovem que trabalha com vendas de cafés especiais; e de uma arquiteta que trabalha com serviço de design de interiores, dentre outros.
Os casos são realmente numerosos, afinal, o autor fez uma extensa pesquisa com mais de 1.500 pequenos empreendedores, que precisariam preencher cumulativamente 3 requisitos:
– Ganhar pelo menos 50 mil dólares anuais com seu negócio (o equivalente a 100 mil reais anuais, o que dá uma renda líquida mensal média de mais de 8 mil reais);
– Ter começado o negócio com pouco dinheiro: o custo médio do investimento inicial dos empreendedores incluídos no livro foi de U$ 610, o equivalente a pouco mais de R$ 1,2 mil;
– Estar disposto a exibir seus dados financeiros e demográficos para a pesquisa.
Chris começa o livro trabalhando com dois conceitos-chave: liberdade e valor. Ambos se correlacionam, pois a busca por um trabalho que proporcione liberdade pessoal depende, fundamentalmente, de você gerar valor para os outros, ou seja, de ajudar outras pessoas. Para que você possa viver de sua paixão, é preciso que você encontre pessoas dispostas a pagar por isso, e arranjar um jeito de ser pago. Por exemplo: sua paixão pode ser comer pizza, mas isso dificilmente irá trazer lucro para você. Deve haver, portanto, uma convergência: entre aquilo que você ama fazer, e o que as pessoas estão dispostas a pagar.
Para que essa convergência ocorra, você precisa satisfazer as necessidades de outras pessoas, bem como saber promover seu produto ou seu serviço. E isso se faz não mostrando características ou recursos desinteressantes, de forma mecânica, mas sim relacionando o seu produto ou serviço a benefícios atraentes, uma vez que a maioria das necessidades das pessoas são emocionais: elas querem amor e reconhecimento. O autor cita 25 estudos de caso para mostrar isso, e vou descrever aqui dois. A empresa de Scott McMurren trabalha com “livretos de cupons para visitantes independentes no Alaska”, que custa a “bagatela” de U$ 99. Mas ele não apresenta seu produto ao público dessa forma, como um mero livreto de cupons. Ele o apresenta através de uma promessa emocional: “você recuperará todo o investimento usando apenas um de nossos cupons – o que lhe deixa com mais de 200 cupons para obter os melhores descontos”.
A empresa de Jonathan Pincas trabalha com importação inglesa de alimentos espanhóis. Mas ela não vende o seu produto ao público se apresentando como uma empresa que simplesmente importa comida da Espanha. Ele relaciona seu produto a um benefício emocional específico para seus clientes, e o faz dessa forma: “Viva España! Celebre o estilo de vida Mediterrâneo sem precisar sair de casa”.
Em suma, para seu negócio prosperar, você precisa descobrir o que as pessoas querem, e encontrar um jeito de lhes dar isso. Como diz Karl Marx:
“Pesque um peixe e você pode vendê-lo a um homem. Ensine um homem a pescar e você arruinará uma maravilhosa oportunidade de negócios”.
Outra dica de Chris é não procrastinar, e isso se resume numa única frase: “a ação supera o planejamento”. Não adianta nada gastar horas e dias no planejamento de um negócio, mas demorar muito para colocá-lo em prática. Não importa se sua primeira venda render apenas R$ 3,84, dê um jeito de fechá-la o quanto antes. Fora isso, trabalhe para melhorar o que está dando certo, ao mesmo tempo em que abandona o que não está funcionando mais. Além disso, você precisa saber promover seu produto, elaborando, por exemplo, um evento de lançamento, para provocar alarde e expectativa junto ao seu público. Outras importantes orientações mencionadas por Chris:
– Conecte-se com as pessoas regularmente. Criar produtos e serviços é somente uma parte da equação. É preciso também ter uma rede de relacionamentos e promover a própria imagem em seu meio de atuação;
– O lucro é mais importante do que tuítar. Independentemente da sua área de atuação, o negócio só irá pra frente se você ganhar dinheiro com ele. E garantir a saúde do negócio envolve não somente saber estabelecer um preço adequado para seu produto ou serviço, mas também só gastar em coisas que tenham relação direta com as vendas.
– Avalie se vale a pena terceirizar o serviço ou continuar fazendo tudo sozinho. Esse é um ponto onde houve grande polêmica entre os pesquisados, pois alguns optaram por terceirizar parte de seus negócios, a fim de ganharem mais tempo e expandirem a empresa, ao passo que outros, principalmente aqueles que optaram por “continuar pequeno” preferiram manter o controle de todo processo. Aqui, não há uma resposta definitiva, nem um consenso, valendo a máxima: cada caso é um caso.
– As pessoas exageram a importância do fracasso. É fato que no meio do caminho você cometerá erros e que muitas pessoas desistem no meio do caminho. Mas você pode muito bem ser um sucesso imediato. Por quê não? Não se sinta desencorajado pelo que os outros dizem: vá atrás daquilo que você acha que é seu destino verdadeiro, e trabalhe muito para conquistar seu lugar ao sol. Mais cedo ou mais tarde você chegará lá.
Conclusão
O Brasil é um país de contrastes. Ao mesmo tempo em que é o terceiro país do mundo com a maior quantidade de empreendedores, é também um dos países em que a cultura do concurso público ainda tem muita força. Entre esses dois opostos, e considerando ainda as dificuldades de se conseguir capital para abrir um negócio próprio, será que as dicas contidas nesse livro seriam de bom proveito em terras brasileiras?
A resposta é afirmativa. Chris Guillebeau mostra, com exemplos reais e dicas práticas, que é perfeitamente possível viver de sua paixão, tendo liberdade para fazer o que mais gosta, e ainda gerar valor para a sociedade, ajudando outras pessoas com suas competências, naquilo que você mais gosta de fazer, e tudo isso com um orçamento inicial reduzido. É claro que nem tudo caminha como um mar de rosas, e você precisará se preparar bastante para conseguir sucesso em sua atividade, aprendendo com os próprios erros, e tropeçando no meio do caminho.
E para quem não se destina esse livro? É importante responder a essa pergunta, pois nem todos poderão tirar proveito do conteúdo da obra, e, assim, gastarão um tempo desnecessário lendo-a. Dessa forma, após concluir sua leitura, eu não recomendo esse livro para quem quer passar sua vida sendo funcionário público, ou fundar uma grande startup de Internet, ou ainda ser um empregado de uma grande empresa.
Agora, se você deseja começar um negócio numa atividade pela qual você é apaixonado, e se, por consequência, você deseja ter uma remuneração atrelada ao seu mérito (mais mérito = mais renda), então eu recomendo fortemente esse livro, que lhe dá o be-a-bá de como trilhar o caminho para ser o seu próprio patrão, fazendo aquilo que você mais gosta, com mais liberdade, e ainda por cima gerando valor para outras pessoas.
Como diz o autor da obra (p. 221):
“Mais do que a concorrência ou outros fatores externos, a maior batalha é contra o seu próprio medo e inércia. Felizmente, isso também significa que temos o mais absoluto controle sobre esses fatores. Lembre-se das suas vitórias: essas experiências são poderosas e o ajudarão mais tarde, quando estiver diante de dificuldades. A lição mais importante de todo o livro: não desperdice o seu tempo vivendo a vida de outra pessoa”.
Boa leitura!
Muito boa a resenha!
Vou comprar o livro. Estou passando por um momento assim hoje: pouca grana, mas muita vontade de fazer a diferença na vida das pessoas. E sobre crise do país hoje? “Enquanto uns choram, outros vendem lenços”.
Obrigado, Humberto!
E gostei da sua disposição! Vá em frente! 😀
Abç!
Também gostei muito da resenha, é bastante instigante a adquirir o livro. Mas não tem nenhuma menção do nome do autor(versão mobile). Na imagem deste comentário acima também não fica claro de que se trata do mesmo, pois tem uma sigla que também não faz referência ao nome do blog.
Estou louco para ler esse livro, foi para minha lista.