Ontem, o Banco Central, na luta que trava contra o aumento da inflação, resolveu aumentar a taxa SELIC para 12% a.a. De acordo com matéria publicada na Exame:
“Desde o começo do ano, economistas vêm manifestando incessantemente suas preocupações com uma previsão de inflação cada vez mais longe do centro da meta estabelecida pelo BC, de 4,5% ao ano. Agora, a estimativa ameaça, inclusive, ultrapassar o limite superior aceitável, de 6,5%”.
Essa notícia não é nada boa, e por vários motivos.
Primeiro, porque investimento em renda variável – leia-se Bolsa de Valores – vai ficando cada vez menos atrativo, com uma renda fixa dessas que, dependendo do veículo de investimento utilizado, pode render até 1% a.m. líquido de impostos e taxa de administração (na hipótese de uma LCI que remunere 100% do CDI), sem fazer nenhum esforço e sobretudo sem correr grandes riscos. Investidores do Tesouro Direto têm a possibilidade de fazer seu capital dobrar, em termos nominais, em pouco mais de 7 anos, e, em termos reais (isto é, líquidos de inflação e taxas), em pouco mais de 14 anos. Sem correr riscos praticamente.
Segundo, e não menos importante, esses sucessivos aumentos na taxa SELIC são uma clara demonstração do fracasso do Governo em tentar controlar a inflação. Onde a gente vai parar? Se tudo andar nesse ritmo, ano que vem a inflação pode chegar a 8%, 10%.
Eis uma demonstração singela, porém cruel, de como a inflação está me atingindo, pessoalmente. Até mês passado, pagava R$ 224 pela mensalidade do plano de saúde. Nessa semana, tive a ingrata surpresa de receber o boleto com esse valor:
Nada mais nada menos do que 6,7% de aumento!!! Vai conseguir dormir tranquilo com um aumento desses! Se a inflação continuar nesse ritmo galopante, ano que vem o reajuste pode fazer o plano de saúde bater nos R$ 260 (!!!). Sendo que, há menos de 3 anos, eu pagava por essa despesinha nada barata a quantia de R$ 183…
Todas as coisas aumentam de preço. Impressionante. Tarifas bancárias, passagem de ônibus, carne, ovos de Páscoa, conta de luz, gasolina… aff
O que fazer, então, diante desse cenário que se desenha sombrio!? Duas coisas.
Na ponta dos investimentos, você não pode ser louco de concentrar seus investimentos na poupança. Com a SELIC cada vez mais alta, investimentos indexados à SELIC/CDI vão ficando cada vez mais competitivos e, portanto, distantes, da rentabilidade da poupança. Proteja seu dinheiro investindo em CDBs DIs, LFTs, NTN-Bs, LCIs, fundos referenciados DI…até prefixados, como LTNs, apresentam taxas de juros atraentes (para não dizer praticamente o dobro, da taxa de juros da poupança, não esqueçam de descontar os custos, hein!?). Você também deve pensar em maneiras de aumentar sua renda ativa, ou seja, a renda proveniente da sua força de trabalho. Fazer horas extras. Fazer bicos. Procurar outro emprego. Trocar de emprego. Dar aulas. Estudar para um teste seletivo. Empreender. Afinal, esse é o meio mais eficaz de acelerar o plano da independência financeira.
Na ponta do consumo, está na hora de tirar proveito máximo da frugalidade. Você tem que se propor a ser o rei da frugalidade. Ser criativo e arranjar meios e modos de controlar a inflação na sua vida diária. Uma dica que o EvertonRIC sugeriu outro dia foi comprar produtos usados. Por quê não? Outra dica: fazer os produtos duráveis durarem, com o perdão do trocadilho, o maior tempo possível. Evitar que o ciclo de vida útil de seus produtos encurte.
Vamos ver até onde vai essa guerra do Governo contra a inflação. Eu acho que a SELIC continuará aumentando lentamente até o final do ano. Ou seja, meu palpite é que esse ciclo de alta ainda não acabou. E você? Acha que a SELIC vai continuar marchando acima dos 12% a.a. até o final do ano?
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Meu amigo Guilherme, você tocou em um ponto interessante. A renda fixa de longo prazo em 10 anos (de 2001 a 2011) bateu a renda variável (medida pelo índice BOVESPA), basta calcular o índice de renda fixa IRF-M1+, que mede o desempenho dos títulos prefixados do Governo (LTN e NTN-F) com mais de um ano de maturação. Um grande abraço e viva a renda fixa no Brasil. Como disse o Delfim Neto, é o único Peru com farofa disponível fora do dia de ação de graças.
Flávio, muito interessante o seu comentário (como sempre, diga-se de passagem)!
E dei muita risada com essa sua última frase: “Como disse o Delfim Neto, é o único Peru com farofa disponível fora do dia de ação de graças.”
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
O pior de tudo é que além disso há a parte importada da inflação que já pertuba o globo.
É isso que dá o excesso de liquidez para combater crise. Nada foi feito estruturalmente, agora vamos ter que passar pelo pior dos remédios…
Se não a inflação acelerar lá fora, aqui, os efeitos vão ser potencializados e podemos atingir níveis elevados e imprevisíveis no curto prazo.
Guilherme, grato pela citação.
A taxa da Selic está nas nuvens e eu particularmente, não tenho nem comentários. Pois, não tenho nem idéia de onde ela pode chegar….
Fica a dúvida.
Estou preocupado com meus investimentos em renda variável. E o mercado dos imóveis também já estão estabilizando os valores de venda, porém os alugueis estão contribuindo para a inflação. segue o link: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/880931-indice-que-reajusta-aluguel-acumula-alta-de-113-em-12-meses.shtml
Abraços e Feliz Páscoa.
Acho que aqui não é local para discussões políticas, mas esse é o preço que já estamos pagando e vamos pagar por um bom tempo por termos tido um governo populista, que optou por promover o crescimento do país a custa de esmolas aos pobres e ao custo de obras sem qualquer controle. Desculpem o desabafo, mas estamos sentindo o peso da verdadeira herança maldita.
Infelizmente, todo o ganho que tivemos com o árduo trabalho feito no Plano Real está em risco devido à irresponsabilidade do governo.
Tenho lido/ouvido análises projetando a SELIC para 12,5% a.a. até o final de 2011, de acordo com o objetivo do Governo de (tentar) voltar ao centro da meta de inflação (4,5%) apenas no ano que vem, já que esse ano o limite superior de 6,5% já foi estourado. O próprio presidente do Banco Central fala em “ciclo de aumentos” da SELIC, dando a entender que novos aumentos deverão vir, embora o Ministro da Fazenda continue com o discurso de que a inflação deverá começar a cair ainda no segundo semestre.
A questão, então, é saber se as medidas tomadas até agora serão suficientes para desacelerar a economia (até o momento, não conseguiram) e reduzir o volume de crédito no País, sem provocar uma recessão mas apenas uma “leve redução” do crescimento.
O governo reluta em subir mais SELIC, para não fazer o dólar cair ainda mais (embora importados baratos ajudem a conter a inflação), já que os investidores estrangeiros aumentariam ainda mais suas aplicações, atraídos pelas altas taxas do Brasil. Por outro lado, no mercado interno, tudo está aumentando (e não apenas commodities) e uma tendência à indexação da economia já se confirma, com grande parcela de responsabilidade do próprio Governo, que já acenou com o salário mínimo em R$ 612,00 no ano que vem, com base numa fórmula vinculada ao crescimento do PIB.
Para piorar, as obras (de infra-estrutura e de instalações) para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016 deverão aumentar ainda mais os gastos públicos, obrigando o Governo a continuar pagando juros elevados para rolar a dívida pública.
Dentro desse cenário, agravado pela incompetência e pela desonestidade dos governantes e da classe política que o Brasil possui, não dá mesmo para confiar no que o Governo está prometendo, de forma que uma escalada progressiva da inflação é, infelizmente, uma possibilidade concreta. Nesse ano, 7% a.a. já parece inevitável e, para 2012, não me espantaria nada se a inflação saísse definitivamente do controle e batesse nos 8 ou 9% a.a. ou até mais.
Torcendo para que uma nova década de 80 não esteja voltando, com as vergonhosas taxas de inflação de então, concordo com suas recomendações, com relação a investimentos (renda fixa) e consumo (frugalidade). Infelizmente, porém, a grande maioria dos brasileiros continuará endividado, consumindo ainda mais e “investindo” na poupança e em títulos de capitalização.
Sds.
Bruno
O grande gerador da inflação até o Plano Real eram os gastos públicos em excesso. Gastava-se muito e imprimia-se dinheiro para pagar a conta. Como consequência se tinha inflação de vários dígitos todos os meses.
O grande vilão de 2011 é a grande demanda (inflação de demanda no bom economês). Também os desastres naturais que prejudicam a colheita e consequentemente eleva o preço das commodities. Sim, o governo também é culpado, porém menos culpado neste momento. Não vou entrar nos méritos e deméritos políticos.
A principal função do BC é controlar a inflação. Neste momento não havia outro remédio para conter a inflação, na verdade achei tímida a subida de apenas 0,25%, eu acreditava numa subida maior.
Ainda continuo defendendo a educação como melhor forma, no longo prazo, de se fazer uma política adequada. Um cidadão educado gasta com consciência e se endivida menos.
Pensando no hoje, sem dúvida a bolsa de valores perde a atratividade, mas para quem investe pensando no longo prazo, o momento é bem oportuno para a compra de boas empresas com preços descontados.
Abraço!
Concordo com os comentários do Jônatas, aos quais acrescentaria que um cidadão educado, além de gastar com consciência e se endividar menos, também escolhe melhor seus representantes.
Quanto à SELIC, parte dos analistas esperava uma subida de 0,50%, mas, a meu ver, pesou a influência do Mantega, que insiste no “ataque gradual” à inflação, para não desacelerar demais o crescimento. Na verdade, ele é um dos responsáveis pela atual situação, já que, com fins eleitoreiros, para garantir a eleição da Dilma, o Governo Lula deixou as “torneiras públicas” totalmente abertas em 2010.
Assino em baixo nesse artigo!
Apenas para acrescentar mais uma polêmica neste atual cenário. Alguém aí acha que o IPCA realmente reflete a inflação real? Alimentos, transportes, serviços básicos, ou melhor tudo (literalmente tudo e não só commodities) parece estar subindo muito mais rápido do que o próprio IPCA.
Temos que ficar atentos quanto a isso, as coisas não estão caminhando como deveriam…
Abcs,
Já li relatos que o IPCA é meio fajuto (e o governo se beneficiaria por se utilizar deste índice para medir a inflação) e que o IGP-M seria o mais “real”. Contudo, num histórico de 10 anos entre IGP-M e IPCA…. ambos possuem taxas similares.
Em outras palavras, se num ano o IGP-M é maior do que o IPCA… nos outros esta diferença é compensada por um maior IPCA, e num período de 10 anos seria tudo mais ou menos no mesmo valor.
Falow
Obrigado a todos pelos comentários!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!