Eu vou confessar uma coisa para vocês: eu não gosto de fazer compras parceladas. Não só porque elas embutem juros nas prestações (embora os lojistas sempre neguem), mas também porque, na maioria das vezes, nós já usufruímos do bem de consumo e, no entanto, continuamos a pagar, por uma compra que já foi desfrutada lá meses atrás. Pense, por exemplo, nas viagens de férias do final de ano. Do final desse ano. Você parcelou essa viagem em 12 vezes. As férias foram boas, maravilhosas, deu para descansar… mas a prestação não dá descanso para você! Você vai ficar devendo até outubro do ano que vem!
Você comprou uma roupa em 8 parcelas “sem juros”. Legal, não é mesmo? Não é. Mesmo. Porque a roupa muitas vezes pode ter sido usada umas poucas vezes. Mas a dita cuja da parcela continua te incomodando ao insistir em aparecer na fatura do cartão de crédito: “olha eu aqui, quem mandou não pedir desconto ou não comprar à vista!? Agora, todo mês eu vou aparecer. Até maio. De 2011!”
Ok, em muitos casos não conseguimos mesmo comprar à vista com desconto, principalmente em algumas lojas de Internet, onde não é possível barganhar o preço numa negociação corpo a corpo. É verdade que muitas lojas, como Submarino, Americanas, Saraiva, Fastshop etc., dão um desconto – geralmente de 5% – no pagamento à vista. Mas outras tantas não oferecem o desconto. E, na loja física, pode ocorrer a mesma coisa.
Do ponto de vista estritamente matemático, caso realmente não haja possibilidade de desconto à vista, seria mais vantajoso, repito, do ângulo puramente matemático, parcelar a compra no maior número de prestações possíveis que a loja oferece “sem juros”, do que pagar à vista. A tática seria essa: você faria uma provisão, todo mês, para pagar a despesa, e, com o dinheiro que “sobrasse” do pagamento à vista, poderia investi-lo em algum produto financeiro. Mas isso do ponto de vista estritamente matemático. O problema é justamente esse. Não devemos deixar que a matemática fique governando nossas vidas. Muitas vezes o benefício de parcelar a “perder de vista” não é maior que o benefício de viver uma vida livre de dívidas. Você se sentiria confortável ao pegar a fatura do seu cartão de crédito e constatar:
Compras parceladas:
Casas Bahia………………….. PARC 07/10……..155,40
Farmácia……………………… PARC 01/03………..22,10
Loja de esportes…………….. PARC 02/06……….45,40
Fnac………………………………PARC 09/12………189,90
Mercado………………………..PARC 04/05……….71,12
Óptica do bairro………………PARC 01/09……….125,12
Oficina da roupa………………PARC 05/05……….81,13
Agência de viagens…………….PARC 02/12………250,25
Autopeças………………………..PARC 01/04………90,00
Haja matemática, cálculo e provisões para fazer tantas compras parceladas! Será que a vantagem matemática de poder comprar parcelado compensa o fato de o salário líquido, a cada mês, ser devidamente “vaporizado, conforme já escrevemos em outro post? Não é melhor gastar menos tempo fazendo contas e mais tempo se esforçando em poupar para pagar à vista? Não é melhor investir o dinheiro antes, provisionando uma quantia todo mês, e assim juntar o “bolo”, e pagar à vista, do que antecipar o consumo, e ficar endividado durante vários meses? O que é melhor: consumir antecipadamente postergando as prestações, ou investir antecipadamente, postergar a compra, e ainda por cima ganhar um desconto?
Por isso que eu digo: o melhor presente de final de ano que você pode se dar é um ano novo sem dívidas. Se você ainda tem compras parceladas que vão entrar 2011 adentro, que seja então no Natal de 2011 que você se dê esse presente. Não importa. O que importa é você tomar as rédeas de sua vida financeira, e deixar de ser escravo dessa tentação de fazer tantas compras parceladas. Elas funcionam como um círculo vicioso. Quanto mais você comprar parcelado, mais você vai achar que aquele sonho de consumo cabe direitinho no seu bolso. E vai entulhando cada vez mais seu cartão de crédito com parcelas e mais parcelas. Resultado? Você vai viver com cada vez menos fluxo de caixa no futuro.
É verdade. Cada parcela a mais que você adiciona no seu cartão de crédito significa o sacrifício de um pequeno pedaço do futuro que você poderia construir caso o dinheiro estivesse livre da escravidão das compras parceladas. Ok, talvez eu esteja exagerando, uma vez que a compra à vista sacrifica hoje o que você sacrificaria em diminutas parcelas no decorrer do tempo. Ocorre que, de uma forma ou de outra, você deve evitar o consumo exagerado. E é mais fácil evitar o consumo exagerado pagando (e vivendo) à vista, do que vivendo parcelado e tendo que fazer um monte de malabarismo matemático, não obstante isso apresente também suas vantagens.
Como eu disse em outro post, também aqui não existem respostas certas e respostas erradas. Existe aquilo que é mais conveniente a cada pessoa. Cabe a você analisar o que é melhor, tendo em vista suas peculiaridades e a forma como você consegue controlar seus gastos e planejar seu consumo.
Só quem já saiu do ciclo de endividamento sabe o quanto é indescritível a sensação maravilhosa de não ter mais compras parceladas a pagar. Sabe aquela sensação de olhar para a fatura do cartão de crédito e dizer: nossa, só isso? 😀 Ou tirar o extrato da conta bancária e dizer: ué, sobrou tudo isso esse mês? 😀
Estamos terminando mais um mês – o mês de outubro. Você deixou muitas dívidas, quero dizer, muitas compras parceladas para serem quitadas no mês de novembro? Já vai começar o mês devendo? Dependendo sempre do contra-cheque? Vivendo na corda bamba?
E se você pudesse começar o próximo mês com disponibilidade de 100% (ou quase isso), de seu salário líquido? Você acha que aproveitaria mais o mês? Planejaria melhor as compras? Planejaria melhor seus investimentos, sabendo que terá uma maior quantidade de dinheiro disponível? Muitas vezes, aliás, na maioria das vezes, as compras parceladas não decorrem de um minucioso cálculo da relação custo/benefício dos pagamentos à vista vs. pagamentos parcelados, mas sim da tentação quase irresistível de pagar o mínimo possível em cada parcela, sem pensar nas consequências a longo prazo que isso causa na vida das pessoas. Não seja uma pessoa cujas finanças fiquem descontroladas. Você é o dono (ou a dona) do seu dinheiro. Tenha um futuro menos comprometido com parcelas de cartão, e mais comprometido com seus projetos de vida (= investimentos).
As compras parceladas podem até ter suas vantagens matemáticas, mas nada como olhar para o mês seguinte e dizer: não tenho dívidas! Yes! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Isso aí Guilherme! Estou nesse caminho tb !
abs!
Sim sim…………to fora com compra parcelada. 😛
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Um outro ponto negativo de fazer compra parcelada no CC é caso vc acabe cancelando a compra. Após o estorno da compra, você não recebe o dinheiro de volta, come seria se fosse uma compra a vista, recebe um crédito no cartão, ou seja, depois de toda a dor de cabeça que você teve para cancelar a dita compra, as parcelas da compra cancelada continuaram sendo debitadas no CC……….esculhambação geral nas suas finanças.
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Valeu Guilherme!
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Abcs
Muito bom esse texto. Eu parcelo uma parte pequena de minhas compras no cartão. Porem fiquei com vontade de provar essa situação de não ter contas para pagar quando começar o mês.
Abraços
Eu também evitava fazer compras parceladas, apesar do absurdo de ter que pagar a vista pelo mesmo valor da somatória das parcelas.
Utilizando o Yupee agora eu consigo controlar todos os parcelamentos do meu cartão de crédito, e conciliá-los com o controle dos gastos mensais e do fluxo de caixa.
É surpreendente o que descobrimos quando controlamos as contas e os extratos bancários. É grátis, online e super seguro! http://www.yupee.com.br
Discordo completamente.
Atualmente nenhum comerciante concede desconto ao pagar à vista, no máximo 5% (o que é LEI já, então não tem desconto nenhum). Baseado nisso, não vejo nenhuma vantagem em pagar à vista.
Ainda mais levando em conta o fato de ganhar “rewards” em meu CC (3%).
Repito, basta ter disciplina. Não existem fórmulas mágicas do tipo “querem ser bem-sucedidos, então não façam isso”.
Pense nisso. Um abraço.
Ontem minha esposa comprou uns sapatos (mulheres… ;)). A vendedora começou com um papo de “pode parcelar em 3x no Visa…” e eu já fui logo perguntando: à vista, por quanto sai? Resultado: 10% de desconto!
Eu já acho que que compensa pagar a vista sim. Na verdade quando você compra parcelado e o comerciante não te “cobra” os juros é porque ele já está embutido no preço, isso é certo. Portanto quando você compra a vista ele tem essa margem pra cortar na receita da venda caso o cliente solicite desconto.
Abcs,
3% é menos que 5% 😉
Uso meu cartão de crédito como se fosse um cartão de compras, isto é, tudo em 1x, pro vencimento. O legal de comprar à vista ou em 1x é evitar compras de impulso. Como não dá para comprar tudo de uma só vez, priorizo o que vou comprar no mês e depois percebo que não preciso daquele outro produto que teria comprado se tivesse comprado tudo parcelado 🙂
Claro que há casos e casos. Paguei à vista toda última reforma do apartamento e economizei, pelo menos, 10%, pois pude adiar a obra para realizar o pagamento à vista. Por outro lado, não valerá a pena aguardar um ano juntando o dinheiro para pagamento à vista para reformar um quarto e transformá-lo em um escritório. Prefiro pagar os juros do parcelamento e antecipar o usufruto do novo cômodo em minha residência, que será muito útil para meus estudos neste momento.
Muito interessantes todas as respostas a esse artigo. O debate está sendo bastante produtivo!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Quando não consigo desconto, compro tudo parcelado no maior número de vezes possível sem juros.
De qualquer forma, jamais usei o cartão de crédito parcelando um valor maior do que eu tenha no banco. Ou seja, se eu quisesse quitar meu cartão agora, poderia. Mas não tem pq, a fatura do meu cartão eu não vejo como dívida, apenas estou ganhando alguns centavos de juros no banco ou onde for, além de milhas.
De qualquer forma, preciso aprender melhor a negociar descontos. Ta aí algo que ainda não consigo fazer bem. E pra quem já consegue negociar melhor, os descontos costumam ser aplicados para compras à vista (1x) no cartão??
Valeu!
Desconto só em dinheiro, Luiz.
@Alan
Era o que eu achava, Alan. Dependendo da porcentagem do desconto, é relativo se vale a pena, levando em conta a questão das milhas aéreas.
Algum comparativo do gênero, se vale a pena o desconto ou se vale comprar no cartão pra acumular milhas dependendo da porcentagem do desconto, viria bem a calhar.
Programas de milhas são conseqüência, não o objetivo. Dinheiro na mão é melhor que milhas voando 🙂
O desconto sempre valerá mais que acumular milhas no cartão de crédito para mim. Vale lembrar que não se consegue uma passagem do dia para noite com milhas.
Vou refazer as contas da relação desconto-milhas no meu cartão:
milhas para uma passagem 10.000
cotação do dólar R$ 1,70
taxa de conversão dolar/milha 1,5
desconto à vista 5%
Valor em USD de compra para obter uma passagem
$1,00 1,5 milhas
$6.666,67 10.000 milhas
Valor em R$ compra para obter uma passagem
$1,00 R$ 1,70
$6.666,67 R$ 11.340,00
Valor de desconto que seria obtido à vista em vez de comprar no cartão
R$ 567,00
Se a taxa de conversão for 1,33 e o desconto conseguido for 10%, então o valor do desconto seria R$ 1.278,95
Para mim, não compensa 🙂
Quem quiser fazer outras simulações, utilize a planilha http://www.megaupload.com/?d=WYA1FR3F
Correções:
– Valor em USD de compras para…
– Valor em R$ de compras para…
Ah, não se esqueça de levar em conta o quanto paga de anuidade!
Quando comprei o sofá-cama lá de casa o preço anuncado na loja era R$ 1.900. Chamei o vendedor, disse que ia pagar à vista, regateei e coisa e tal e no fim comprei por R$ 1.200. 😉
Um amigo chamou a atenção para uma situação em que vale mais a pena paga parcelado, no cheque, do que pagar à vista em dinheiro: serviços de marcenaria. Motivo: marceneiros costumam ser enrolados e vivem atrasando a entrega dos móveis/serviços (me desculpe se tem algum marceneiro lendo:)). Pagando parcelado no cheque, se o cara começar a enrolar muito você susta o(s) cheque(s) que falta(m) e fica com um bom instrumento para pressioná-lo a entregar no prazo (o marceneiro costuma passar esses cheques adiante). Esse meu amigo reformou o apartamento recentemente e ficou escolado nesses assuntos. 🙂
Flavio, esse pessoal é chato de trabalhar. Não apenas de marcenaria, mas marmorista, pedreiro, encanador, ou seja, serviços de reforma. O marceneiro que contratei abandonou o serviço pela metade, quando já tinha adiantado 50% do valor combinado. Foi um rolo maior do mundo para acertar os valores. No final, acabei ficando, a contra-gosto, com uma furadeira que o marceneiro havia dado de garantia para a conclusão do serviço, mas não cumpriu a promessa…
Utilizarei a técnica do cheque no próximo serviço. Valeu pela dica!
Alan, ótimo o exemplo da questão das milhas. Eu concordo plenamente com você: milhas é consequência, não objetivo. O objetivo das compras é pagar o menos possível. Se vierem ou não vierem as milhas, isso é uma questão secundária.
Flávio, gostei da técnica do cheque. 🙂
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
@Alan
Muito obrigado, Alan. Boa planilha e muito bom exemplo.
Estou aprendendo ainda mais desde que comecei a participar um pouco aqui nos comentários.
Vocês são 10!
Valeu!
Concordo, Luiz, os comentários nos ensinam muito!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!