Nessa série “aprenda com meus erros de investimentos”, mostrarei a vocês os erros que cometi com diversos tipos de investimentos, bem como os caminhos para que você não incida nos mesmos erros, e tome decisões acertadas acerca de seus investimentos no mesmo tipo de produto narrado na história. O objetivo é evidenciar que o erro está menos no investimento e mais no comportamento do investidor.
A história
Aprender com os próprios erros é uma coisa. Aprender com os erros dos outros é outra. E bem melhor, desde que você não cometa os mesmos tipos de erros. Existe uma dificuldade, que vejo em muitas pessoas, de admitirem os próprios erros, e só falarem – tanto na Internet quanto no mundo real – de seus acertos, geralmente magníficos e que renderam 800%. O problema é que esses acertos ocorrem no singular, ou seja, “esses acertos” se reduzem a “um” acerto, ocorreu só uma vez. E esses 800% de rentabilidade foram sobre um capital de R$ 100 (ou algo muito próximo desse valor). Ou qual é a razão de eles esconderem o valor aplicado?
Pior, tal acerto espetacular ocorrido uma só vez, sobre uma quantia irrisória, não foi devido a alguma habilidade: derivou da pura sorte.
Isso é natural, é um traço da personalidade falar aos quatro cantos sobre as memoráveis conquistas, e com orgulho. Bem, eu não tenho orgulho algum dos erros que estão sendo mostrados nessa série. Mas a intenção não é exibir traços da personalidade humana, mas sim demonstrar, de forma objetiva e sincera, erros meus no que tange aos investimentos, com uma finalidade bem clara: evitar que você também os cometa. Conhece aquele ditado: “quem avisa amigo é?”
“Não participe de IPOs”, é um mantra repetido por 10 entre cada 10 (bons) especialistas em finanças e investimentos. Dos Estados Unidos. E isso por uma razão muito simples: se investir em ações individuais de empresas já é arriscado, imagine investir em ações individuais de empresas que não têm relatórios para serem analisados…
Na minha época de habitante das cavernas do mercado de ações, eu resolvi aportar meu capital numa IPO, que na verdade nem era uma IPO, mas uma nova capitalização de uma empresa que já estava no mercado, a BR Malls, aparentemente uma ótima empresa, do ramo de shopping centers, cujo setor vem experimentando excelentes rentabilidades nos últimos tempos (aliás, vale dizer que a BR Malls está na comissão de frente das small caps).
Por quê eu resolvi entrar na IPO da BR Malls?
Porque, por acaso, eu estava assistindo o canal Bloomberg (na época em que ainda havia programação brasileira), e um entrevistado disse que a BR Malls era uma boa empresa para investir, tanto é que estava fazendo uma nova capitalização. O problema não é a BR Malls ser ou não uma boa empresa (tanto que esse ano já rendeu quase 50% e, desde que emergiu do fundo do poço, seu valor em Bolsa se multiplicou por sete). O problema é eu ter feito o investimento baseado numa opinião num programa de TV!!!! Arrghhhhhhhh………………..
O mercado não perdoa quem faz coisa tão errada, pelos motivos mais errados ainda. Entrei na IPO em outubro de 2007, com a ação cotada a R$ 25 na época (equivalentes a R$ 12,50, pelos valores atuais, pois houve um split posteriormente). E fiquei atuando como um autêntico investidor-torcedor, já comentado em outro artigo. Pior: algum tempo depois, precisei do dinheiro para cobrir uma despesa de curto prazo.
Como é que é? Usar o capital da Bolsa para pagar contas? Pois é. O que a falta de educação financeira não faz nas pessoas……..
Resultado: vendi as ações quando estavam cotadas a R$ 9,45 (hoje, equivalentes a R$ 4,72, devido a um split). Um retumbante prejuízo de 62,69%. Aportei no mercado R$ 3 mil (120 ações), e recebi de volta, desse mesmo mercado, pouco mais de R$ 1.100,00…
Hoje, essa mesma ação estaria valendo mais de R$ 30 (como houve um split, ela está sendo cotada a mais de R$ 15, e subindo que nem um touro). Ou seja, se realmente eu tivesse segurado a ação, poderia vender a ação, comprada pelos motivos errados, comprada na hora mais errada possível, com… lucro.
Os erros
O primeiro erro foi participar de IPO. Não entrem nessa. Lírio Parisotto diz que IPOs são lixos. É uma visão um pouco radical. Não dá para generalizar, mas a maioria é realmente lixo. Poucas são as que se sobressaem. E as IPOS geralmente são lançadas com o preço inflado lááááááááááááá em cima, e ocorrem justamente em épocas de festa na Bolsa. Alguém aí lembra a farra de IPOs que ocorreu entre 2007 e 2008 pré-crise?
O segundo erro foi investir baseado em TV. Não façam isso em casa, crianças! Nem baseado em TV, nem em Internet, nem em jornais. Invistam com um grau de conhecimento tal que não dependam de opinião de terceiros. Vocês podem até buscar opiniões de terceiros, inclusive se recomenda isso como forma de ter mais embasamento para decidir, mas não colocá-las em substituição à sua própria opinião. Eu acho que não preciso dizer mais nada, não é mesmo?
E o terceiro erro, para dar um gran finale nessa história toda, foi investir com o dinheiro da conta. Bolsa é para longo prazo. Se precisar do dinheiro no curto prazo, fiquem longe do mercado de ações.
Lições para o investidor
Façam o dever de casa. E o dever de casa inclui, primeiro, conhecer aquilo que se vai investir. Se você não conhece aquilo que vai investir, da mesma forma que não conhece aquilo que vai consumir, você não pode “investir por impulso”, que foi algo que eu fiz.
Estude a empresa em que irá aportar seu capital, veja se ela tem um histórico consistente de lucros e resultados operacionais. Isso não é garantia de que irá continuar a apresentar boas perspectivas no futuro – aquela velha história de o futuro ser imprevisível – mas diminui bastante a margem de risco.
Outra coisa: não invistam em momentos de festa, com as ações lá em cima, e fique só nisso. O que vocês podem fazer é adotar a tática de compras mensais, para diluir o risco por meio de uma diversificação temporal (termo que aprendi lendo o livro Value Averaging, do Michael Edleson).
Como regra geral, o meu conselho, portanto, é fugir das IPOs. Bem como ficar longe da TV. 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Leia também os outros artigos da série:
Aprenda com meus erros de investimentos #4: apostando altas quantias na Bolsa. Sem conhecimento.
Aprenda com meus erros de investimentos #3: Comprando, no home broker, uma ação. Literalmente.
Aprenda com meus erros de investimentos #1: CDB a 85% do CDI!? Uauuu…
Bom dia Guilherme,
Destaco essa parte:
“Invistam com um grau de conhecimento tal que não dependam de opinião de terceiros. Vocês podem até buscar opiniões de terceiros, inclusive se recomenda isso como forma de ter mais embasamento para decidir, mas não colocá-las em substituição à sua própria opinião.”
Eu não invisto dinheiro algum em algo que eu não entenda o funcionamento. É fria.
Abraço, fica com Deus.
Oi Guilherme,
Que fria hein!
Realmente aqui, conforme você citou, você cometeu dois erros que os iniciantes (como eu por sinal) sempre cometem que é o de achar que IPO´s são legais e são boas oportunidades e também a de tomar decisões baseadas e TV.
Felizmente para mim aprendi antes de fazer “mercadoria” que IPO´s são uma roubada, quem sabe até um lixo como descrito no seu texto. Agora tomar decisões baseadas em TV, páginas de economia de sites, analistas de corretora, vixi já fiz várias vezes até aprender que cag… estava fazendo. Mais não tem problema, aprendi então tá valendo.
Agora o que achei o maior erro, e que também acho que é a maior lição que você passa através desse texto é o de informar que Ações é mercado de longo prazo. Nunca, nunca mesmo deve-se investir dinheiro que você pode precisar no curto prazo em Bolsa. Ou melhor, na bolsa o certo é investir dinheiro que você nem vai precisar em prazo algum.
É isso aí. Ótimo post, realmente é díficil reconhecer os erros, mas é através deles que a gente aprende. Sorte de quem consegue aprender com os erros dos outros.
Grande Abraço.
Jônatas, de acordo!
José, ótimos comentários!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Ótima série Guilherme!
É uma virtude reconhecer seus próprios erros e ainda alertar o pessoal para não cometê-los.
Existe um estudo que até mesmo relaciona a quantidade de IPOs com o nível sobre valorizado da Bolsa. Quanto mais IPOs mais cara a bolsa está.
2007 e início de 2008 não parava de chover IPOs em ações…deu no que deu…
Abraços!
Interessante esse estudo, Henrique!
Pois é, e aposto que, se a Bolsa der um galope mais tarde, novas IPOs surgirão…..
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Gente,
Não considero todo IPO ruim. Sei lá, pode haver bons negócios. Nunca participei de um, mas não sou avesso a eles.
Abraço!
É verdade, Jônatas. Agora, é preciso dizer que a maioria das IPOs são lançadas com preços inflados, havendo uma correção natural pelo mercado. Mas há algumas poucas que podem se converter em bons negócios.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Na verdade quando sai uma IPO e ela dá certo (papel sobe no primeiro dia) o mercado faz uma propaganda absurda e quem fica de fora pensa… “putz, perdi essa bocada”. Eu não sou a favor de IPO, a não ser que a empresa já tenha ações negociadas em bolsa e vai emitir novas ações, aí sim o investidor poderá analisar os números da empresa e decidir se vai participar ou não. Agora entrar em IPOs de empresas novas, que ainda soltam propaganda na mídia pode saber que é fria, o risco não compensa.
Abraços,
Muito bom seu blog! Ganhou mais um leitor
Ótimo comentário, Finanças Inteligentes!
E obrigado pelo apoio!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
IPO to fora!
Muito bom artigo, parabéns!
E pensar que começamos praticamente na mesma época a investir na bolsa, acho que não preciso citar o tamanho da trolha que tomei também, não em IPO, mas nos MICOS (não sei o que é pior.
Ahhh se todo dinheirinho que “investi” em GTPB3, PTBL3, MILK11,TECELAGEM SEI LÁ O QUE, CAFÉ BRASÍLIA, FANTASMA (OPS, QUIS DIZER, COBRASMA) e outras tantas voltasse, já estaria rico, e se arrependimento matasse, já estaria morto.
De qualquer forma, consegui sobreviver e hoje colho bons frutos no mesmo mercado que um dia me “escapelou”.
De novo, parabéns pelo artigo!
Obrigado, Elson!
Realmente, “nada substitui a experiência”. 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Bacana o post, Guilherme! Não tinha lido ainda!
Falando em IPO, lembrei o do facebook, que deve ter “pego” muita gente.rs
Abs!
Valeu, ID!
E realmente, essa IPO do Facebook como sempre inflando o preço inicial. Tem até gente que já está processando a empresa nessa história toda….rsrs
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guilherme,
Que pena isso que aconteceu… De qualquer forma, acho que a lição valeu para você e para todos os leitores do blog.
Gostaria de comentar esse trecho:
“Porque, por acaso, eu estava assistindo o canal Bloomberg (na época em que ainda havia programação brasileira), e um entrevistado disse que a BR Malls era uma boa empresa para investir, tanto é que estava fazendo uma nova capitalização. O problema não é a BR Malls ser ou não uma boa empresa (tanto que esse ano já rendeu quase 50% e, desde que emergiu do fundo do poço, seu valor em Bolsa se multiplicou por sete). O problema é eu ter feito o investimento baseado numa opinião num programa de TV!!!! Arrghhhhhhhh………………..”
Você conhecia esse entrevistado?
Se eu visse qualquer coisa na tv sobre o assunto, primeiro pesquisaria sobre o produto, se é adequado aos meus propósitos de investimentos. E pesquisaria também sobre a pessoa que deu as informações, para ver se é alguém que entende mesmo sobre o assunto, se sabe realmente do que está falando ou se é apenas um bom vendedor, como muitos gerentes bancários que oferecem produtos ruins aos clientes.
Digo isso hoje, pois também cometi muitos erros. Um deles foi investir em fundo de ações em 2008, por ver outras pessoas que se deram bem, em uma época em que as revistas sobre o assunto comentavam muito sobre as vantagens sobre isso.
Hoje, tenho muito mais cautela, pois com tantos interesses escusos por aí, a informação é a melhor precaução…
Abraços!
Oi Rosana, pois é, não conhecia o entrevistado, eu fui no puro impulso mesmo!
Eu acho que era apenas um bom vendedor, pois não busquei mais referências sobre ele.
Vivendo e aprendendo…
Interessante que esses erros pelo menos nos permitem reflexões, de modo que nunca mais caiamos nos mesmos problemas, assim como seu caso do fundo de ações de 2008.
Ter informação e saber usá-la com certeza continua sendo a melhor precaução!
Abç