Um dos posts mais discutidos do blog é aquele em que comentamos o caso de um sujeito fictício chamado Arnaldo, que investia cerca de R$ 400 mensais em ações da Vale, religiosamente, desde o ano de 1996, e cujo patrimônio se multiplicou de forma considerável após 13 anos de regulares investimentos, conforme destacamos em outro tópico, ao fazer sua “atualização patrimonial”. Ele usou a fórmula estratégica do dollar cost averaging, sobre o qual inclusive já discutimos anteriormente.
Pois bem, essa estratégia de investimentos não está imune às críticas, e talvez a principal delas seja referente à ausência de diversificação. Investir em apenas 1 empresa, por melhor que ela seja, não quer dizer, em absoluto, sucesso no longo prazo, mesmo que tal empresa seja uma blue chip, conforme destacamos em outro artigo.
Por isso que nós recomendamos, com as cautelas de praxe, que no frigir dos ovos um dos melhores investimentos em mercado de ações consiste na compra de um pacote bem diversificado de ações, que cobre, de preferência, baixas taxas de administração.
Mas vamos mais além. Com base nos estudos do excelente livro Value Averaging, vamos destacar aqui duas críticas construtivas a aquela crônica do Arnaldo e suas ações da Vale.
1ª Crítica: investimento de quantia fixa, que não acompanha a inflação
Sabe quanto valia o salário-mínimo em 1996, ano em que o Arnaldo começou a investir no mercado de ações? R$ 100. Isso mesmo. Então, naquela época, o Arnaldo investia o equivalente a 3 salários-mínimos em ações da Vale – R$ 300. O problema não é investir cerca de 3 salários mínimos em ações, o problema é investir a mesma quantia fixa de dinheiro durante todo o período de acumulação de capital.
Em 2008, o salário mínimo valia R$ 415, e o Arnaldo continuava investindo…a mesma média de cerca de R$ 400 de aporte. Esses valores se diluem muito após certo período de tempo, após uma alta valorização das ações.
Ademais, não faz muito sentido você manter uma “quantia fixa” de dinheiro investido, durante longo período de tempo, se sua própria carreira profissional avança durante esse mesmo período, o que significa aumentos salariais crescentes. A sua capacidade de investir deve acompanhar seu aumento de receita, e isso só irá acelerar seu plano de independência financeira. Se hoje você ganha R$ 4 mil, e investe R$ 1 mil, no ano que vem, ganhando, hipoteticamente, um aumento salarial, indo para R$ 4,5 mil, é natural que seus investimentos também aumentem em proporção equivalente.
O importante, aqui, é fazer com que seus aportes nos investimentos acompanhem o crescimento das taxas de inflação. Quem tem plano de previdência privada já deve ter observado que, anualmente, o valor das contribuições mensais sofre um reajuste automático, que é justamente para compensar o incremento da variação da inflação do período.
2ª Crítica: investimento de quantia fixa, que não acompanha o crescimento do mercado de ações
Mas acompanhar a inflação não é suficiente para fazer o investimento ter rentabilidade adequada. Isso porque o crescimento do mercado de ações é muito mais forte que o crescimento da inflação, no longo prazo. Basta dizer que a Bolsa brasileira tem rendido, historicamente, 8% a.a. acima da inflação.
Logo, seus investimentos não podem seguir a regra da “mesma quantia fixa” ao longo do tempo, pois eles serão insignificantes e diluídos devido ao crescimento do mercado de ações. Citando Edleson (p. 35):
“Due to its lack of growth, the dollar cost averaging strategy gradually ‘fades away’ over time, as the new moneys invested become more and more meaningless with respect to how much value they can buy in the fast-growing stock market”.
Numa tradução literal:
“Devido à sua falta de crescimento, a estratégia do DCA ‘desaparece’ gradualmente ao longo do tempo, com o dinheiro novo investido ficando cada vez mais insignificante no que diz respeito ao valor que pode comprar no mercado de ações em franco crescimento”.
A estratégia do DCA não “cresce” com o mercado, e isso é um problema. A lição aqui é simples: mesmo com uma estratégia simples como essa, você deve aumentar periodicamente sua quantia investida para manter seus investimentos com o crescimento esperado do mercado.
Mas talvez o maior problema do DCA seja a inexistência de orientações sobre quando vender as ações. Sem orientações precisas quanto a isso, há sempre o risco de vendas indiscriminadas motivadas pela acumulação excessiva de ações. E, se as vendas ocorrerem durante períodos de crise – e isso frequentemente ocorre – o resultado da política de investimentos pode ser desastroso.
Isso foi o que poderia ter ocorrido com o Arnaldo. Em 2007, ele chegou a ter mais de R$ 1 milhão em patrimônio de ações da Vale3. E, em 2008, seu patrimônio caiu para R$ 600 mil. A adoção de uma estratégia baseada em orientações de como vender as ações, como o VA, ou então a simples inclusão de uma estratégia de alocação de ativos, já permitiria a criação de direções e critérios objetivos quanto à venda das ações.
Em suma: se você é adepto da estratégia do DCA, lembre-se de aumentar periodicamente as “quantias fixas” de investimento, não só para acompanhar as taxas de inflação, como também a de acompanhar o crescimento do mercado. E, sobretudo, estabeleça critérios objetivos para a venda das ações.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Bom dia Guilherme,
Por isso que eu defendo a separação de porcentagem do salário líquido para investimentos e não valores fixos.
Ótima analise, parabéns!
Boa semana, fica com Deus.
Abraço!
Ótimas críticas Guilherme!
Planejamentos de longo prazo (10+ anos) devem levar em conta estes 2 aspectos citados, senão os aportes não tem muito efeito…
E concordo com o Jônatas. Devemos guardar uma porcentagem (acho saudável sempre guardar mais do que 20% do salário) e não um valor fixo. Assim, podemos acompanhar nosso crescimento salarial.
Grande Abraço!
Ótimo post! Mas creio que, embora seja mais difícil, é mais interessante guardar 20% do salário bruto.
Abs!
Guilherme,
ótimo post, como os que sempre aqui leio!
Gostaria de te propor dois temas pouco discutidos, já que não tenho blog e se for do teu interesse aí vão:
A) O uso da venda coberta de opções como remunerador de parte de uma carteira de ações (PETR4, VALE5 e BVMF3). Há um estudo que vem sendo feito no marketlog do usuário “Struggle” dentro do site “basster.com” desde janeiro de 2009. Ao meu ver, mesmo considerando o pouco tempo do estudo, ficou provado que a estratégia de obter mais papel funcionou. Na estratégia VCM (Venda Coberta Moderada) o “pesquisador” tinha, no início, 1000 PETR4, 1000 VALE5 e R$ 1.500,00 de financeiro. Hoje ele tem 1100 PETR4, 1000 VALE5 e R$ 3115,00 no financeiro. Detalhes: sem fazer qualquer aporte e enfrentando um dos maiores bull markets em curto espaço de tempo da história (março/2009 em diante), o que é ruim para a VC! Veja em http://www.bastter.com/Mercado/Marketlog/ExibirTopico.aspx?ID=1814&voltar=default.aspx. É necessário se cadastrar no site.
B) Apesar de não ser considerado um investimento (não gera renda) mas especulação, acho que não dá para tapar os olhos diante de tamanha evidência no futuro promissor da especulação em metais, principalmente prata. Veja o video: http://www.silver-investor.com/. Além desse há o famoso Crash Course que vai no mesmo sentido: http://www.chrismartenson.com/crashcourse. Ainda o livro sobre o assunto: http://www.terremoto.com.br/showthread.php?t=94.
Espero poder suscitar um contraditório sobre esses assuntos, pois o debate é sempre saudável.
Abs,
Deuteron
Boa reflexão colega Guilherme!
Abcs
Valeu, pessoal!
Concordo com a tática de guardar um percentual de nossas receitas ativas, é uma fórmula que acompanha melhor o crescimento da massa salarial através dos tempos.
Deuteron, suas dicas já estão anotadas. Inclusive, o do artigo sobre opções também foi sugestão de outro leitor, recentemente.
E a questão dos metais também pretendo abordar, ainda mais com o ouro atingindo cotações recordes (espero que ninguém aqui tenha entrado nessa euforia nos últimos dias…)
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Caro Guilherme:
Ótimo post, gostaria que colocasses em debate as estratégias de vendas de ativos no caso da realocação, especialmente critérios de vendas,principalmente das ações.
Ab., Cláudio
Olá Guilherme! Primeira vez que estou comentando aqui, mas costumo ler seu blog de vez em quando.
Primeiramente parabéns, o blog é muito bom! Quanto ao post eu concordo que devemos aumentar o aporte ao longo dos anos, mas não concordo com a venda das ações. Gosto de avaliar cada ação individualmente e caso a empresa esteja bem, com boa perspectivas de lucros e seu preço não esteja sobreavalido eu não venderia! Mesmo na crise de 2008, aproveitaria para comprar mais empresas boas e baratas.
Abraços!
Cláudio, oportuna dica de pauta! Ainda mais agora com o IBOV rompendo os 70k.
Renda Passiva, obrigado pelas referências! A venda de ações é de fato um ponto polêmico, e eu mesmo confesso que tenho dificuldades em visualizar a venda de ações que estão indo muito bem, sobretudo porque isso é contra-intuitivo.
Daí meu aprofundamento nos estudos sobre alocação de ativos, como forma de entender melhor o tema.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Olá Guilherme,
Só não entendi como a correção do valor investido é feita se baseando no ‘crescimento do mercado’. Se o mercado cresceu 8% a.a. você corrige 8% no seu investimento MAIS a inflação?
Obrigado
Denis, nesse exemplo, corrige-se o investimento em 8%, porque a inflação já está incorporada no cálculo.