O leitor Pedro me enviou um email com a seguinte dúvida:
“Eu gostaria de saber se é possível investir hoje, uma quantia única de R$ 1 mil ou R$ 5 mil, sem aportes adicionais, cujo dinheiro resultante do investimento fosse destinado ao pagamento de uma despesa certa no futuro, após 20 ou 30 anos, como energia elétrica, água ou medicamentos. E qual seria o investimento mais adequado?”
A resposta é: sim, é possível. Qualquer tipo de investimento vale a pena, se for realizado tendo em vista algum objetivo tangível (compra de casa, carro, pagamento de contas, viagem etc.), com disciplina, baixos custos e adequação do prazo do investimento com o horizonte da meta não-financeira. Além, é claro, da escolha de um veículo de investimento que seja confiável.
Um dos melhores investimentos que reúnem todas essas qualidades tem nome e se chama: Tesouro Direto.
Você não precisa aportar necessariamente um dinheiro todo mês (embora seja o mais recomendável, para criar a disciplina), e tem diversos títulos com diferentes prazos de vencimento, bem como diferentes características.
Como o objetivo é de longo prazo, e as despesas mencionadas no email têm, de certo modo, alguma correlação com a inflação, o título mais adequado é a NTN-B, título pós-fixado que acompanha a variação da inflação, medida pelo IPCA. Como é preciso um fluxo periódico de renda, justamente para cobrir tais despesas, optamos pelo título que paga cupons semestrais de juros. Nesse caso, nossa escolha específica é a NTN-B, com vencimento em 15.05.2035.
Na calculadora do Tesouro Direto, colocamos os seguintes dados:
Projetamos uma inflação de 5,50% a.a., e uma taxa de 5,97% a.a. para o papel (já chegou a ser melhor essa taxa, como bem lembrado pelo leitor Flávio em outro tópico). Além disso, embora existam corretoras que não cobrem taxa de administração (tais como Socopa, Banif e Spinelli), optamos por colocar 0,2%, que é um valor que muitas corretoras do ramo cobram.
Clicamos no botão “calcular”, e o resultado apareceu da forma como segue abaixo:
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Ao final dos quase 25 anos de investimentos, você teria para resgate líquido um valor de quase R$ 17 mil, e, durante essa jornada, o Tesouro Nacional lhe pagaria juros semestrais, duas vezes por ano, uma em maio, e outra em novembro, sendo que, na década de 30, esse valor superaria R$ 300 por semestre. O interessante é que, como esses cupons são pagos semestralmente, já nos primeiros anos de seu investimento você os receberia, conforme tabela abaixo:
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Tá certo que o valor dos cupons semestrais, se “mensalizados”, isto é, divididos por mês, provavelmente não seriam suficientes para cobrir uma despesa como conta de energia ou de água. Por exemplo, R$ 100 divididos por 6 meses daria algo em torno de R$ 16.
Outra observação a ser feita é que essa é apenas uma simulação. A inflação pode tanto ser maior do que os 5,5% a.a. projetados, ou até menor, o que, sem dúvida, influenciará no valor líquido a receber.
De qualquer forma, aí está uma solução interessante para quem pretende ter seu investimento corrigido pela inflação.
Qual é a solução para receber mais?
São 3 as soluções, e todas elas devem, preferencialmente, ser feitas de modo coordenado.
A primeira é aumentar o valor do aporte inicial. Isso terá um impacto positivo e consistente no longo prazo, até para efeitos de diminuição do valor do IR a pagar, lá no futuro.
A segunda, e que considero mais importante, é fazer aportes periódicos. Isso aumentará a massa crítica do investimento, e, por tabela, também aumentará o valor líquido a receber, no final do investimento, além de aumentar o valor dos cupons semestrais.
E a terceira, não menos importante, é escolher uma corretora que cobre baixas taxas de administração. E isso por uma razão muito simples: quanto menos você pagar, mais você irá receber.
Boa sorte nos investimentos! 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Guilherme,
Fiz uma consulta no Tesouro Direto e abaixaram novamente a taxa de juros. Isso é normal? Você tem algum palpite porque reduziram de novo?
Olá Guilherme!
Uma outra solução seriam os Fundos Imobiliários, cujo aluguel distribuído é mensal e tendem a ser corrigidos pela inflação (normalmente IPCA).
Ou, adicionando um pouco mais de risco, ações boas pagadoras de dividendos com curta periodicidade, como bancos.
Comentei ontem no meu twitter que as taxas no Tesouro para os títulos pré-fixados estão ruins. A alta prevista na Selic não existe mais. Do mesmo modo que as taxas de 13% a.a estavam exageradas, as taxas hoje de 11,30% parecem um pouco exageradas também.
Se eu tivesse que escolher um título, ficaria com a LFT no momento.
Grande Abraço!
Atualizando os comentários… 🙂
Naê, sim, é normal. O mercado está dando sinais de que o COPOM não irá continuar aumentando a taxa SELIC. Com a diminuição da pressão inflacionária, há rumores até de que a taxa SELIC venha a diminuir. Com isso, as taxas oferecidas pelo Tesouro também tendem a diminuir.
Henrique, excelentes comentários! São alternativas muito interessantes, porque são investimentos lastreados em ativos reais (imóveis e empresas), que, na minha visão, apresentam valor intrínseco, e, portanto, adicionam valor ao portfólio do investidor (embora também embutam riscos), do que simplesmente investir em ativos atrelados a juros.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Parabéns pela matéria, elucidou minhas dúvidas, principalmente ao fato da inflação pois não tinha atentado para ela. Obrigado.
Valeu, Pedro, pela sugestão de pauta! É o leitor também produzindo conteúdo para o site. 🙂
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!