Ok, você já tem seu plano de independência financeira, faz contribuições periódicas para o fundo de pensão de sua empresa, investe em ações visando o longo prazo etc. Até aí, tudo bem. O dinheiro está sendo plantado para os frutos serem colhidos daqui a 15, 20 ou 30 anos. Mas… e o dinheiro para os projetos e sonhos que você pretende realizar durante esse jornada, você está investindo também? Em outras palavras, você está construindo um pé de meia para custear os projetos que quer realizar até a chegada de sua aposentadoria financeira? Ou sua vida só vai “começar” a ser usufruída quando você enfim tiver completado os 15, 20 ou 30 anos de investimentos, de uma hora para outra?
O problema de montar planos de investimentos visando o longo prazo é que muitas pessoas arquitetam e executam muito bem os planos que visam a futura e distante aposentadoria financeira, mas se esquecem completamente – ou não tão completamente assim – dos eventos que ocorrem durante esse intervalo que separa o dia de hoje, do dia da aposentadoria financeira, os quais também necessitam de dinheiro, e, portanto, de investimentos, para serem realizados.
Considerando o dinheiro como um meio para realizar metas não financeiras, e não um fim em si mesmo, você provavelmente se deparará com alguns desses objetivos na sua caminhada até chegar “lá”:
– Compra da casa própria;
– Reforma da casa própria (acreditem: a reforma, dependendo do tamanho, custa também um bom dinheiro);
– Upgrade em algumas partes da casa, como sala de estar, cozinha, quarto…;
– Troca do veículo a cada 3, 5 ou 7 anos, e sua respectiva manutenção;
– Viagens de férias com a família, anualmente, ou a intervalos maiores (se for para comemorar uma data especial, por exemplo, aniversários de casamento);
– Educação universitária dos filhos (o que pode incluir programas de intercâmbio);
– E assim por diante.
Se você tem algum desses objetivos a conquistar até a sua aposentadoria financeira, é muito recomendável que sua carteira de investimentos não seja destinada somente a um plano de aposentadoria, porque a penalidade para resgatar esse dinheiro costuma ser muito alta. E não falo apenas dos planos de previdência privada do tipo PGBL, mas também de qualquer outro plano cuja liquidez seja diminuta.
Mesmo que você não tenha nenhum dos objetivos acima listados, em sua mente, ainda assim você não pode investir como se fosse viver só no futuro, da mesma forma que não pode economizar como se estivesse prendendo a respiração debaixo d´água, levando uma vida de miserável e de privações até lá, simplesmente porque uma das maiores certezas dessa vida é que as coisas mudam. Não dá para supor que nossas vidas sejam lineares, como se pudéssemos prever como estaremos daqui a 5, 10 ou 15 anos. Fazendo um exercício básico: você imaginava, dez anos atrás, estar hoje no seu trabalho, tendo o que você tem, hoje? Mais: você imaginava, há 10 anos atrás, estar interessado em finanças pessoais lendo um site como esse? As prioridades mudam com o decorrer do tempo, e essa é uma verdade que você precisa assimilar em sua vida.
Você pode se deparar com muitas boas surpresas e novos desejos de consumo durante o seu caminho até a independência financeira, e é altamente recomendável que você se prepare também para realizá-los sem que haja comprometimento do seu plano de aposentadoria.
Eu já vi gente em banco pedindo para sacar o dinheiro da previdência privada – PGBL – antes de completar os 10 anos necessários para a obtenção do benefício fiscal. E esse resgate não era para cobrir uma necessidade imprevista, mas sim para realizar um outro projeto de vida. Esse tipo de atitude não só compromete seu investimento para o futuro, como também demonstra a falta de capacidade de lidar com as situações do presente, nas quais existem tantos sonhos quanto aqueles que habitam o futuro dourado de sua aposentadoria.
De que adianta fazer investimentos para viver uma vida de abundância no futuro, se você vive uma vida de privações no presente? Não é mais inteligente aproveitar o momento presente para se preparar para futuro de abundância almejada, vivendo pelo menos alguns momentos de abundância no presente, para saber pelo menos como é que é, como é que o negócio funciona? Como diz o Mauro Halfeld, precisamos comer algumas cenouras nessa nossa jornada rumo à independência financeira, até para a vida ter algum sentido.
Dentro desse contexto, a qualidade de vida deve ser uma conquista progressiva, realizada gradativamente, e não uma conquista repentina, que só pode ser saboreada quando você, economizando o máximo no presente, completar seu plano de investimentos. O choque de realidade pode ser muito grande, e você pode não saber o que fazer com tanto dinheiro no bolso e nenhuma ideia de como usá-lo, se não colocou pelo menos algumas dessas ideias em prática enquanto tinha tempo.
Pergunto: o que você pretende fazer quando sua renda passiva cobrir as suas despesas mensais?
Ouço de muita gente a resposta de que gostariam de aproveitar essa fase dourada da vida para viajarem. Esse também pode ser o seu caso. Pois bem, você tem planejado viagens para sentir o “gostinho” do que será sua vida na aposentadoria? Ou você só vai começar a viajar quando se tornar financeiramente independente?
“Deixar tudo para depois” pode ser um risco muito grande, causador de sérios prejuízos, pois você pode se dar conta de que não viveu o que poderia ter curtido antes.
Depois que atingimos um certo grau de conhecimento em educação financeira e investimentos, passamos a ser zelosos até demais com o futuro, a ponto de inviabilizarmos muitas das legítimas escolhas que poderiam ser feitas no presente, sob a desculpa de que estaremos nos preparando para o futuro. Isso é um erro! O que é o futuro senão uma soma de pequenos presentes?
É preciso encontrar um ponto de equilíbrio: investir para o futuro, sim, mas investir e ter dinheiro para os diversos “futuros” que estão à nossa frente. Não só o futuro distante da aposentadoria, mas sim o futuro mais próximo da reforma da casa, da compra do carro, da viagem comemorativa de sete anos de casado, até da compra daquela hiper mega TV… por quê não!?
E, para cada “futuro”, é preciso reservar um dinheiro à parte, ou seja, ter um plano de investimentos específico e apropriado para atingir aquela meta, e que faça você dispensar o uso da reserva de emergência, bem como de financiamentos.
Essa atitude sem dúvida fará com que você seja mais conservador em seus investimentos, ou seja, alocando uma fatia menor de seu patrimônio em ativos de risco (ações) e/ou ativos sem liquidez (fundos imobiliários, imóveis…). Não tem problema. O importante é que você se arme de todos os instrumentos necessários para saborear o que a vida tem de melhor durante a caminhada até a independência financeira, e não somente após ela. Com escolhas inteligentes e metas factíveis, essa jornada será mais suave, mais prazerosa e quando você chegar lá poderá dizer, cheio de orgulho: “sim, eu aproveitei a vida até chegar aqui”. 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Oi Guilherme,
Por isso a importância do planejamento, e não só para o longo prazo, para o curto e médio prazo também.
Equilíbrio em todos os sentidos da vida é o que traz alegria e felicidade.
Abraço!
Fica com Deus.
É como o Jônatas disse:
“Equilíbrio em todos os sentidos da vida é o que traz alegria e felicidade.”
Muitas vezes, na ânsia de um futuro melhor, acabamos não vivendo o presente, não apenas em relação às finanças, mas à vida em geral.
“precisamos comer algumas cenouras nessa nossa jornada rumo à independência financeira, até para a vida ter algum sentido.”
Gostei muito do comentário do Mauro Halfeld, simples e direto.
Abraços!
Verdade, Rosana, li uma vez em algum lugar que as pessoas, em média, gastam 50% do tempo remoendo o passado, 45% do tempo pensando no futuro, e só 5% do tempo vivendo o presente.
Não sei se isso tem algum fundamento estatístico ou científico, mas parece que muitas pessoas que conhecemos distribuem o uso do tempo de acordo com essa proporção!
Sobre o comentário do Halfeld, é isso mesmo, trata-se de aproveitar a jornada durante ela, e não apenas no final.
Abç!
Interessante essa proporção, infelizmente parece bem real.
Vivemos entre a ânsia de ter e o tédio de possuir, como disse Schopenhauer.
Abraços!
Exato, Rosana!
Abç
Olá Guilherme,
Excelente artigo. Precisamos planejar para o futuro mas a vida é agora. Então achar este ponto de equilibrio é essencial.
Abs
Olá, Guilherme.
Você cita os comentários do Mauro Halfeld em vários dos seus artigos. Desta vez parece que foi ao contrário, ou pelo menos indiretamente. O comentário dele de hoje (30/07) na CBN foi praticamente sobre o mesmo assunto deste seu artigo publicado ontem (29/07). Enquanto eu ouvia o comentário no rádio, tive a clara impressão que ele havia lido seu artigo ;). Pode ter sido pura coincidência, mas eu achei muito bacana.
Apenas para registro: leio sempre o seu blog, e como este é meu primeiro comentário, gostaria de deixar registrado que fico muito admirado com a quantidade, frequência e qualidade dos seus artigos, sempre muito bons e de assuntos relevantes. Parabéns.
Abs,
Henrique
Jônatas, Investimentos e Henrique, valeu!!! 😀
Aliás, Henrique, acabei de ouvir o programa de hoje dele, e realmente, o conteúdo é bem parecido com o artigo de ontem. Eu também achei bem bacana. 🙂
Devo dizer, ainda, que alguns dos temas que abordo aqui tiveram inspiração os comentários do M. Halfeld.
Obrigado pelos comentários e continue frequentando o blog!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Excelente post. A maioria de nós conhece alguem rico (ou melhor, que tem muito dinheiro, já que riqueza é outra coisa) e que não desfruta da vida, sempre poupando pra um amanhã que nunca chega. Com o tempo poupa-se por poupar, e não se desfruta dos benefícios que o dinheiro oferece. É o pé de dinheiro que cresceu muito mas cujos frutos não são colhidos.
David, obrigado!
Você acertou em cheio: “É o pé de dinheiro que cresceu muito mas cujos frutos não são colhidos.” As árvores não existem para serem contempladas, existem para serem consumidas!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!