Quando o tema é investimento financeiro, logo você pensa nas opções para tornar mais rentável o dinheiro aplicado, em como conseguir as menores taxas de administração, quais são as melhores ações, e assim por diante. Tais objetivos não são, por óbvio, desimportantes ou secundários, mas eles às vezes escondem a real finalidade de um investimento financeiro.
Em primeiro lugar, é preciso destacar que, para os fins aqui propostos, qualidade não tem a ver com rentabilidade, mas sim com compatibilidade. Compatibilidade de seus investimentos financeiros com objetivos não-financeiros. Ou seja, a qualidade de um investimento tem mais a ver com sua adequação ao uso, do que propriamente à sua rentabilidade.
Nesse sentido, gosto muito de um dos conceitos de qualidade atribuídos pelo blog Efetividade:
“Qualidade é a adequação ao uso”.
Porém, ao contrário da definição de Juran (que é a definição adotada pelo Augusto, autor daquele blog), onde a adequação é definida pelo consumidor (já que o contexto lá é de produtos de consumo), aqui a definição de adequação é definida pelo investidor, que deve entender que o investimento financeiro, assim como o próprio dinheiro, é um meio, e não um fim em si mesmo. Se ele é um meio, é um meio para alguma coisa, para algum objetivo, para algum sonho.
Exemplificando: a pessoa quer fazer um investimento de seis meses para sua viagem de férias, dispondo de R$ 5 mil. Ela está em dúvida se aplica em ações ou em poupança. Nesse caso, como o objetivo é de curto prazo, certo e definido no tempo, o investimento de qualidade é a poupança, pois é o mais adequado ao uso que os R$ 5 mil se propõe. Nada impede que ela aplique os mesmos R$ 5 mil num fundo de ações, porém, as inevitáveis incertezas da Bolsa poderão fazer com que esse dinheiro possa tanto aumentar de tamanho (para, digamos, R$ 6 mil), quanto diminuir de tamanho (para, digamos, R$ 4 mil, como é o caso de quem tinha ações da Petrobras, por exemplo, que já se desvalorizaram mais de 20% desde o começo do ano), o que comprometeria sua viagem de férias.
Vamos agora utilizar outro exemplo. A pessoa dispõe de R$ 5 mil, mas quer investir visando a uma aposentadoria daqui a 13 anos. O que é melhor: poupança ou ações? Aqui, diferentemente do exemplo anterior, o horizonte de aplicação é maior, o que sugere a escolha pelas ações, já que, no longo prazo, elas tendem a ganhar não só da poupança, mas também da inflação e da renda fixa.
Foram utilizados, nas duas hipóteses, os mesmos exemplos de investimentos, só que as recomendações foram diametralmente opostas. Qual é a conclusão disso tudo? A conclusão é a de que a qualidade de um investimento não reside na sua melhor rentabilidade, mas sim na sua capacidade de proporcionar o alcance de seus objetivos de uma forma mais segura e previsível.
Um investimento será tanto mais qualitativo – ou tanto mais adequado ao uso – quanto mais proporcionar meios para a realização das metas do investidor. Nesse sentido, aderimos ao entendimento de Gustavo Cerbasi, que, no livro “Mais tempo, mais dinheiro”, diz que:
“O melhor investimento não é aquele que rende mais, mas sim aquele que o conduza a seus objetivos de forma mais segura e previsível”.
A grande questão que alguém poderia levantar aqui é a seguinte: mas quem garante que as ações são meios mais seguros e previsíveis de realização de sonhos? Bom, volte e leia de novo: eu não disse que as ações seriam meios seguros e previsíveis, mas sim que são capazes de proporcionar tais benefícios. No longo prazo, elas têm uma probabilidade maior de oferecerem mais patrimônio do que o investimento totalmente alocado em renda fixa. Por isso, tendem a apresentar também uma qualidade maior.
E é oportuno considerar aqui que a capacidade de um investimento de proporcionar qualidade está diretamente relacionada não apenas com os aspectos intrínsecos do investimento – e aí sim se inclui a rentabilidade como um dos fatores a serem considerados – mas também a aspectos extrínsecos, como prazo de cumprimento e a forma de utilização do investimento.
Ou seja, a qualidade do investimento não pode ser avaliada apenas estudando o produto em si, mas também o contexto em que ele será utilizado – lembre-se de que as prioridades mudam com o decorrer do tempo. A rentabilidade é sim um componente útil, mas não essencial, na avaliação da qualidade de um investimento. Quem tem que pagar os impostos de começo de ano está mais preocupado, no final do ano anterior, com a preservação de capital do que com eventual rentabilidade extra, e vai preferir investir o dinheiro num fundo de renda fixa ou referenciado DI do que num fundo cambial ou multimercado com renda variável.
O processo de seleção de um investimento de qualidade demanda, assim, um conjunto de ingredientes, como esforço, dedicação e disciplina. Isso ocorre principalmente porque há variações de qualidade dentro de uma mesma categoria de investimentos. Por exemplo: dentro da categoria de ações, há ações de empresas boas, de empresas ruins, ETFs com taxas de administração mais cara, outros mais baratos, e assim por diante; na categoria renda fixa pós-fixada, existem as Letras Financeiras do Tesouro negociadas no Tesouro Direto, as debêntures que remuneram um percentual do CDI, os próprios CDBs pós-fixados dos bancos, e assim por diante.
Seja qual for o seu investimento, procure sempre olhá-lo da perspectiva de seus objetivos, levando em conta também o horizonte de aplicação. Quanto mais criterioso você for na seleção de seu investimento, maiores serão as probabilidades de ele ser útil ao fim a que se destina, ou seja, realizar seus objetivos não-financeiros. 😉
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Falou tudo. Perfeito.
Abraço.
Fica com Deus.
Valeu Jônatas!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!