Dentro do ambiente da Bolsa de Valores, nós encontramos os mais diferentes tipos de investidores: desde aqueles que só operam poucas vezes durante o ano, baseados em análise fundamentalista, até os traders e especuladores, que operam baseados nos gráficos e tendências. E isso sem contar os bancos, fundos de pensão, investidores institucionais estrangeiros etc. A fauna de investidores é bastante grande.
Do público que lê esse blog, constato que a grande maioria é formada por investidores pessoas físicas, que estão no mercado há menos de 4 anos, têm uma atividade profissional que vai das 8 da manhã às 5 da tarde, e que consegue fazer dinheiro sobrar no final do mês. É, portanto, um público diferenciado e altamente qualificado. Qual é a melhor estratégia para operar em Bolsa, para esse perfil de investidores, que não têm e não gosta de perder muito tempo com trades e prefere ver a Bolsa como instrumento de poupança para aposentadoria/independência financeira?
Embora eu saiba que o tema é polêmico, e que não existe uma solução única, pronta e empacotada, eu concordo com o Christian, do ótimo blog CHR Investor, no sentido de que uma carteira de acumulação é o que pode funcionar para muita gente, visando o longo prazo. O artigo do Christian foi publicado em março de 2009, e recomendava a compra de ações após quedas abruptas da Bovespa. Diz ele:
“Na média, a conclusão é que o retorno do investimento em bolsa em momentos de crise tem alta probabilidade de ser elevado no longo prazo. Dessa forma, é recomendado que o investidor pessoa física considere a realocação ou o aumento da sua exposição em ações hoje [março de 2009] ou em algum momento nos próximos meses. O ideal seria aplicar o capital de forma disciplinada ao longo de um período, como, por exemplo, 12 ou 24 meses. Nesse caso, o dinheiro seria dividido em 12 ou 24 parcelas e investido em ações em uma determinada data de cada mês. Dessa forma, o investidor poderia fazer preço médio ao longo de um período de alta incerteza para o mercado acionário”.
A abordagem do Christian se aproxima bastante do que recomenda a metodologia INI, de ver a Bolsa como instrumento de poupança a longo prazo, durante a qual o investidor, com a mesma quantidade de dinheiro – por exemplo, R$ 500 – todos os meses – ou a outros intervalos regulares (a cada trimestre, ou a cada quadrimestre, ou a cada ano…) – compra uma parcela de ações de determinada empresa ou de um fundo de índice, técnica também conhecida como dollar cost averaging. Uma derivação dessa metodologia, o value averaging, foi por nós comentada na resenha publicada no último domingo.
O investidor pessoa física precisa ter muito cuidado, e não se deixar levar pelos embalos da subida de determinadas ações, comprando tudo de uma vez só, principalmente porque ele tende a fazer um aporte único na ação, comprar na alta, e a ficar nisso. Ou seja, mesmo se sobrar dinheiro no mês seguinte, ele tende a manter aquela única aplicação inicial, direcionando as sobras de caixa para outro tipo de investimento, e literalmente torcendo para o preço daquela ação subir.
Nesse sentido, o que eu recomendo para a maioria das pessoas é uma regra que o Bastter e o Leo Babauta já apregoam: opere pequeno. Isso evitará a síndrome do “investidor-torcedor”, que acomete boa parte dos investidores iniciantes.
O investidor-torcedor
Um típico investidor-torcedor é aquele que faz uma aplicação única, geralmente de alto valor, numa empresa, em momento de alta da Bolsa, e fica nisso. A partir daí, ao invés de continuar aplicando as sobras subsequentes de dinheiro na mesma empresa, ele prefere torcer para o preço da ação subir. E, se a ação cair, ele torce ainda mais por uma recuperação, já imaginando vender as ações assim que elas recuperarem o valor inicial, ou seja, “empatarem”.
O investidor-acumulador
Esse investidor prefere fazer aportes pequenos – ou até grandes, no caso do Viver de Renda ou do próprio Warren Buffett (dica de economia do dia: a biografia dele, que já chegou a custar mais de R$ 50, hoje está a “preço de banana”, apenas R$ 9,90, no Submarino, obrigado ao leitor Luís Otávio pela dica!).
Tais aportes são, igualmente, graduais e consistentes, durante vários meses e até anos. Não importa se a ação subiu ou desceu: todo mês, geralmente num dia já pré-determinado, ele acessa o home broker e compra, com uma quantidade fixa de dinheiro, ações de sua empresa, de qualidade e escolhida com base em fundamentos. Se ele for esperto, poderá potencializar os ganhos nas quedas, comprando uma parcela adicional de ações quando a variação dentro de um mês cair a um patamar pré-estabelecido, digamos, 7%. Mas essa queda, é claro, não deve ter correlação com os fundamentos da empresa em questão, ou seja, ela deve ser motivada mais por um comportamento irracional do mercado do que pelos resultados operacionais da empresa.
Quem tem mais chances de manter o equilíbrio emocional?
Verifica-se que é o investidor-acumulador. Ele não só pensa no longo prazo. Ele atua para o longo prazo. Como opera com valores pequenos a cada mês (ou eventualmente com valores altos também), não se preocupa em demasia se o mercado está em alta ou se está em baixa. E ele aproveita melhor as oportunidades de baixa, comprando uma parcela adicional de ações, com uma quantia igualmente pequena, quando o preço da ação cai a um valor pré-determinado. Embora não seja uma atuação “ótima”, do ponto-de-vista grafista, é uma atuação “boa”. E, como já falamos anteriormente, o ótimo é inimigo do bom. Ele pode não comprar exatamente no “fundo do poço”, mas… e daí? Ele está preocupado em gastar seu tempo com outras coisas mais importantes na vida.
Conclusão
Fixadas essas premissas, chega-se à conclusão de que uma carteira de acumulação pode ser a melhor opção de investimento em Bolsa, para muitas pessoas. É claro que investidores preferirão optar por outras estratégias. Cada caso é um caso, e nada substitui a experiência pessoal. É oportuno que você teste diferentes estratégias, e veja qual lhe parece ser mais confortável. Essa será, então, a sua estratégia. 🙂
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Olá Hotmar,
Me defino como um investidor-acumulador. Pequenos aportes, todo início de cada mês. Devagar e sempre é meu lema.
Abraço
Parabéns, Jônatas, pela disciplina!
Em breve você colherá os frutos!
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
sou acumulador total. So escolhendo boas ações. Admito que investi num caso de turnaround, mas pensei muito antes de por dinheiro – inepar. De resto, só boas empresas, as quais permanecerei comprado pela vida toda e viver de dividendos – meu sonho – daqui a 15 anos.
Sonho meu. Abração.
Muito bem, Gustavo, nada melhor do que ter um pool de empresas financiando suas viagens, seus jantares, suas férias… 😀
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Você tá de brincadeira me colocando na mesma frase com Warren Buffet hahahaaha.
Abraços meu caro!
Não estou não! 😀
Quem viver verá! Aliás, e também viver de renda irá……………hahahahahaha 😆
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!
Olá Galera, tudo bem?
A respeito da periodicidade de comprar ações, vocês acham que realmente deve ser mensal ou, por exemplo, pode ser trimestral, quadrimestral? Às vezes é melhor juntar um pouco mais dimdim e assim diluir o custo das taxas envolvidas.
O que vcs acham/sugerem?
Abraços e Deus os abençõe.
Evandro, os intervalos de compras podem ser em qualquer outra periodicidade – trimestralmente, quadrimestralmente, anualmente etc. Os intervalos mensais são os mais utilizados, mas isso não impede outras formas de intervalos. Aliás, acrescentei essa observação no artigo.
Por falar nisso, o Edleson, no Value Averaging, diz que a melhor periodicidade, com base em estudos estatísticos realizados no mercado americano, é a periodicidade quadrimestral, ou seja, a cada 4 meses.
É isso aí!
Um grande abraço, e que Deus os abençoe!